É comum termos personagens que marcam ou marcaram nossas vidas. Quem nunca se imaginou sobrevoar os arranha-céus das cidades como o Super-Homem, ou subir pelas paredes como o Homem-Aranha e até combater o crime usando um laço mágico como a Mulher-Maravilha? Eu também tenho os meus personagens, mas nenhum, por mais poderes que poderia ter, me falou tão profundamente quanto um específico, e olha que nem poder ele possui, a não ser sua inteligência… Engana-se quem pensou em Batman! O meu herói, sim, pois acabou por se transformar em um herói para mim, não era bravo, valente, nunca salvou ninguém de perigos, a não ser a mim que fui salvo do não saber das coisas, do não gostar de ler, de não conhecer histórias e mitologias, filósofos e inventores. O meu personagem é, e sempre foi um sábio sabugo de milho feito pelas mãos talentosas e generosas de Tia Nastácia, colhido em um milharal no Sítio do Picapau Amarelo: Visconde de Sabugosa.
Desde criança, Visconde povoa meu coração de sonhos e viagens inesquecíveis. Quantas vezes fui à lua em um foguete, ajudei Teseu a vencer o Minotauro e quase morri de susto ao ficar a poucos centímetros da boca do Boitatá! Sim, vivia as aventuras do Sítio como se fossem reais e, embora admirado com a coragem de Pedrinho e sua música que quase me fazia chorar, como faz até hoje (ela é, inclusive, o toque do meu celular), diferente da maioria dos meninos da minha idade, era o Visconde que eu queria ser. Na minha imaginação, passava horas na biblioteca e os meus poucos livros reais se transformavam nas enciclopédias e compêndios lidos e estudados pelo sábio sabugo. E os pregadores de roupa da minha mãe que se transformavam em máquinas e equipamentos moderníssimos capazes de nos transportar pelo tempo? Tampinhas de garrafa, alfinetes, papéis laminados de bombom, tudo eu levava para o meu quarto, ou melhor, para o meu laboratório, e ficava lá inventando coisas. Afinal, eu era o Visconde!
Este personagem é mais do que um gosto de criança, uma simpatia infantil que depois que a gente cresce desaparece. Visconde permanece em mim como uma entidade real, lúcida. Em todos os momentos da minha vida ele esteve presente, e sempre da melhor forma, silencioso, introspectivo, cúmplice… Inclusive, poucas pessoas sabem disso (até agora). Até a minha história do pé de ameixa que não me canso de contar e que hoje se transformou na Árvore das Letras, Visconde estava lá. Era nele que eu me transformava ao subir na árvore e fazer de seus galhos as estantes dos meus livros. Hoje tenho uma filha já moça, e é uma das poucas que sabe da minha “identidade secreta”… Ela faz com que os meus sonhos permaneçam acordados. Sou muito grato a ela, pois, apesar dos tempos modernos, ela permitiu que eu a apresentasse ao meu mundo, às minhas aventuras e, mais do que conhecer, ela entrou neles, compactuou com meus personagens, estendeu-lhes a mão e acolheu-os em seu coração. Não tenho dúvidas que Yasmin é uma daquelas princesas contadas pela Dona Benta que fazia com que eu, Visconde, pesquisasse a respeito nos livros de história. Mas me faltava uma coisa: faltava, além de ser o Visconde por dentro, ser também o Visconde por fora, deixar que ele se mostrasse em mim assim como eu sempre me mostrei nele. E mais uma vez, foi ela, minha filha, que me permitiu isso. Em seu aniversário de 11 anos onde todos podiam se fantasiar de alguma coisa, resolvi fazer o contrário… Quando todos colocaram suas máscaras, resolvi tirar a minha…
Quero terminar este exto fazendo um agradecimento mais do que especial a uma pessoa que não está mais entre nós, uma pessoa que não conheci pessoalmente, mas que foi responsável por proporcionar tudo o que contei: o ator André Valli, o verdadeiro Visconde, único, insubstituível. Tenho certeza que de onde ele está deve estar feliz com um profundo sentimento de missão cumprida. Obrigado, Visconde, por todas as nossas aventuras. Elas ainda não acabaram…
Este sou eu que, mesmo depois da festa, foi difícil voltar à fantasia da vida… Mas qualquer dia eu volto à realidade.
E você, qual é o seu herói ou heroína, aquele ser maravilhoso que mexeu com as suas emoções? Adoraria saber! E acredite: é tão bom libertá-los…
Tencionava descer à Terra e finalmente dar-se a conhecer aos homens. Foi assim que Deus deixou de ser mulher, e de uma forma tão brutal, que esta história virou lenda para que nunca mais fosse tida como verdade…
Fala-se de um tempo onde tudo eram fragrâncias; fala-se da chuva e do sol – harmonia perfeita das estações; do calor e do frio, da maciez das flores, das sementes que germinam em tempos de esperas. Para que a pressa? Não há pressa; há lucidez, e tudo basta. Assim era a vida no mundo: sem embates, sem crimes contra a íntima Natureza. Durante muito tempo, as mulheres viveram na mais absoluta bem-aventurança. Eram as senhoras de todos os saberes. Conheciam, pelo cheiro, os segredos das ervas, e por suas infusões cantavam a essência dos sentimentos. Não havia terra que não pudessem cultivar, nem animais que não pudessem domar. Na escala da Natureza, a mulher reinava, mas sem armas; seus instrumentos eram feitos de fragilidade, pois não conheciam impetuosidades e tinham na humildade o regaço de sua beleza. A terra, também feminina, entendia o trabalho e se deixava fecundar pela semente da mulher, pois não conhecia varão e, sendo assim, nunca fora aberta, em suas partes, chagas violentas, mas sulcos com total respeito e devoção onde a vida continuava a crescer ininterruptamente.
Mas eis que um dia, as mulheres ficaram atônitas. Um fruto diferente, de uma beleza incomparável surgira de entre as folhas de uma macieira. Como tendia a crescer a cada mês diferente dos outros frutos, as mulheres o esconderam por nove meses, quando de dentro de seu invólucro vermelho surgiu uma criança tão bela como um anjo. As mulheres, hipnotizadas pela beleza da criança, viram que a sua anatomia era diferente, mas como todo o resto era tão igual, porém de uma beleza nunca vista, não deram a importância que o caso merecia. Estava acontecida a invasão original.
A partir daquele dia, algo mudou. As mulheres, antes tão altruístas, viram nascer um sentimento desconhecido, pois lhes doía ter que dividir entre elas a criança, desejando-a só para si. Sabedoras de que o desequilíbrio fortuitamente fazia morada em suas almas, foram ter com a Deusa que pressentira a quebra da harmonia, mas a sabia inevitável. Faltava-lhes um ensinamento e era chegado o momento do grande dilúvio, tão grande e medonho que a história não o mencionou…
O menino cresceu resguardado pela Deusa e a beleza crescia junto dele, mas crescia também, mesmo veladamente, os sentimentos de ciúme, inveja e discórdia. O menino, agora homem feito, logo entendeu que a origem do infortúnio era ele mesmo e se sentiu poderoso, tão poderoso que se estabeleceu como o senhor das mulheres. A Deusa, em sua compreensão, sabia que o ponto do conflito era exatamente onde haveria de existir o equilíbrio entre as polaridades que agora, à sua vontade, se misturavam entre homens e mulheres que passaram a dividir a mesma terra. Como as mulheres eram filhas do céu e, sendo assim, possuidoras das verdades, e os homens filhos da terra maculada e por isso, cegos pelo véu da ambição, a Deusa se fez Deus para ter aceitação nos corações vaidosos de quem se achavam, agora, donos do mundo. Muitos anos se passariam, muitos conflitos aconteceriam até que entendessem – homens e mulheres – que não eram mais dissociados; um se completaria no outro como o dia e a noite, o sol e a lua, o fogo e a água. Até lá, as mulheres se recolheriam em suas sabedoria e verdade que só elas possuíam, só elas sentiam, ao ponto de realizarem o que desejassem tendo nos olhos a morada de seus mistérios. Os homens, por suas vezes, se revelariam na força e na coragem, mas mediante o barulho que criariam na fantasia de seus domínios, revelariam suas fraquezas e seus medos daquilo que ainda não conheciam. Mas o tempo chegaria e, quando chegasse, o verbo, que havia se feito carne, entenderia que antes existira algo muito maior que lhe gerara: a palavra, alma feminina em sua natureza divina. E o tempo se refez…
Por Leandro Bertoldo Silva – do livro Entrelinhas Contos mínimos
Sexta-feira. Os carros avançam os sinais na hora da Ave-Maria. Na verdade, as horas todas foram tensas, de uma tensão de espera. É hoje o grande dia! Multidões caminham de um lado para o outro e ninguém se olha, ninguém se percebe nas ruas, nos ônibus lotados, nos sinais fechados. Esbarrão.
— Oh, seu moço, desculpe! Eu…
— Seu filho da…
Fui percebido, afinal. Melhor não ter sido… Por que tudo isso? Para que tanta correria? Seja como for, sinto que estou a descobrir o que move e o que moveu, neste dia, a vida de tantos Joões e de tantas Marias. Chego à minha casa e não me dou conta de nada. “Em que planeta eu vivo?”. Vivem me perguntando isso… A Renata! Sempre tão bem informada… Pego o telefone.
— Alô, Renata! Como vai? Você…
— Agora?! Daria para ligar depois? Hoje é o grande dia!
— Mas é isso mesmo que eu quero saber! Dia do quê?
— Dia do quê?! Em que planeta você vive? Ligue a televisão, rápido! Não vai querer perder o último capítulo da novela, vai? Depois a gente se fala, tchau!
Tu… tu… tu…
Desligo o telefone. Absorto em meus pensamentos e num misto de tristeza e alegria por, enfim, saber a resposta, vou até o grande quadrado de sonhos e desejos e, ao invés de ligá-lo, desconecto o cabo da tomada na garantia de continuar no meu planeta…
Há tempos venho construindo uma identidade literária que seja realmente minha, e venho buscando isso com muita dedicação, escrita, leitura, pesquisa, experimentos. Com a publicação do meu terceiro livro – Relicário Pessoal – haicais – pela Alforria Literária, através da máquina “Paula Brito”, consegui alcançar uma independência de trabalho que justifica essa busca pelo que venho chamando de publicação sustentável sob demanda.
Associar um estilo próprio a uma linha editorial ecológica, dando ao livro uma outra “cara” e função é um grande desafio. O trabalho é gigantesco, do tamanho do prazer de criar este outro lugar e estabelecê-lo como uma nova forma de fazer e consumir literatura.
Gratidão a todos que acompanham o meu trabalho! E que a literatura nos aponte caminhos, sempre!
Saiba mais sobre a Alforria Literária clicando AQUI!
QUER SABER COMO ADQUIRIR OS LIVROS? Ficarei muito feliz! É só clicar AQUI!
“Leem muito, sabem o que estão a falar, gostam de conversar e criam um ambiente familiar…”
Sim, estes são os livreiros, muito mais do que vendedores de livros que, muitas vezes, não conhecem do seu ofício, são apenas funcionários de livrarias, quer dizer, livrarias não, loja de livros… É bem diferente!
Pois eu conheci o Sr. Demerval, da livraria 7 Arte, no lendário Ed. Maleta, em Belo Horizonte, palco de encontros memoráveis, como Carlos Drummond e Mário de Andrade, Fernando Sabino, Tarsila do Amaral e muitos outros… O Sr. Demerval não é um vendedor de livros, é o verdadeiro livreiro, às antigas, aquele que entende de literatura e do mundo dos escritores.
A diferença entre livrarias e loja de livros, ou megastores, vai muito além do retorno financeiro a curto prazo, pois estas não dependem supostamente da venda de livros. As vendas alternativas de CD’s, presentes, produtos de informática, proporcionam a tão procurada segurança, mas a troco de quase deixar os livros – o principal – em segundo plano.
A consequência disso é um misto de decepção e desilusão quando o vendedor não conhece aquele escritor ou escritora que você tanto ama, que para você é um ícone da literatura. Para quem acha que o vendedor não tem a obrigação de conhecer tudo desse universo, saiba que o livreiro conhece… Ele sabe exatamente quem é quem e jamais tomaria um escritor por escritora e vice-versa… Foi o que me aconteceu ao procurar numa dessas megastores um livro de Mia Couto…
Por isso que ao invés de me embrenhar neste mundo da disputa de egos, onde os destaques ficam para a mídia nas gôndolas bem arrumadas ou na parte dos “mais vendidos”, enquanto outros tão grandes quanto, ou mais, ficam em meio à escuridão das prateleiras – quando ficam – prefiro os Srs. Demervais, aquela conversa em meio aos livros que pulsam vida, história, variados encontros de vozes e figuras das mais simples até grandes intelectuais.
Hoje eu quero apresentar a Gabrielle Alves de Oliveira, essa estrelinha da foto que tem 10 anos. Ela é aluna do curso Vivenciando a Linguagem, Leitura e Escrita, da Árvore das Letras e faz parte da turma Alaíde Lisboa.
Depois de uma aula em que falamos de vários gatos e gatas, de como eles se parecem e manifestam personalidades e características humanas, como o heroísmo, a esperteza, a persistência e até a preguiça… (o gato Garfield que o diga…), a Gabrielle escreveu uma releitura da música História de uma Gata, de Chico Buarque de Holanda. E só ficou satisfeita depois de ilustrar a prórpia história… Quer conhecê-la? Leia abaixo!
A gata Inara
(Gabrielle Alves de Oliveira)
Era uma vez uma gata chamada Inara. Ela vivia num apartamento comendo só filé mignon ou filé de gato. A família de Inara sempre dizia a todo momento:
— Fique dentro de casa, não tome vento!
Mas quando chegou a noite, todos os gatos saíram cantando:
“Nós gatos já nascemos pobre!
Porém, já nascemos livres!
Senhor, senhora, senhorio,
Felino, não reconhecerás!”
Então, Inara voltou para casa depois dessa noite inesquecível. Mas a gatinha foi barrada na portaria. O porteiro chamava-se Luís Felipe, e falou:
— Ah, essa não é a gata do prédio, pois ela está muito suja!
Então a gata falou:
— Ah, sem filé, sem almofada por causa da cantoria? Mas agora o meu dia a dia vai ser bem melhor com meus novos amigos fazendo muitas coisas boas, tipo virando latas, pulando de telhado em telhado e muito mais! Toda noite, eu e todos os meus amigos sairemos cantando assim:
“Nós gatos já nascemos pobre!
Porém, já nascemos livres!
Senhor, senhora, senhorio,
Felino, não reconhecerás!”
Mas vocês pensam que acabou? Ainda tem a moral da história e ela é mais ou menos assim…
“É melhor ter amigos para se divertir do que ter filé, almofada e muito mais… Agora que eu tenho amigos, posso brincar de montão a hora que eu quiser!”
E assim, Inara ficou feliz para sempre!
E você, quer conhecer mais sobre o curso, saber como escrever melhor gradativamente e com mais prazer, com mais leveza e com muito mais resultado? Clique AQUI e conheça o curso Vivenciando a Linguagem, Leitura e Escrita.
Os livros da Alforria Literária são feitos num verdadeiro processo de “artesania” e sustentabilidade. Como bem disse uma leitora (Valéria de Oliveira Alves – Belo Horizonte), “o lado estético é lindo, mas a forma de voltar a um contato mais artesanal e simples da vida é o mais maravilhoso. Como o ser humano precisa entrar em contato com a simplicidade para se reconhecer como elemento da natureza”. É o que também disse Angelo Pereira Campos – leitor e um dos revisoes do livro Janelas da Alma, também de Belo Horizonte: “é o antigo processo preservado”.
Fico feliz, como escritor e como o idealizador da Alforria Literária, pois é exatamente essa a proposta, é essa a percepção que desejo que as pessoas enxerguem nesse trabalho como caminho possível. E aqui publico também um comentário maravilhoso que, perdoando os exageros do grande amigo Jair Jr, membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, soube imaginar o meu sentimento:
“Leandro… Que maravilha! Viajei no tempo e me veio, num lampejo, o castelo de Veneza (?), e em uma das torres do lado sul o grande salão que servia de ateliê e oficina ao mestre Leonardo da Vinci, é bem ali, sozinho, dava asas à sua genialidade inventiva! Daqui posso imaginar as feições dele, idênticas às que penso ver em seu rosto feliz e sorridente como nesse instante de explosivo prazer ao dizer: ‘funciona… Funciona!!!’
Começo esta apresentação com um penamaento de Mia Couto…
“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar, a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”.
O meu nome é Leandro Bertoldo Silva e eu sou escritor independente. Sou o criador da Árvore das Letras – um espaço de linguagem, leitura e escrita – e do selo Alforria Literária pelo qual publico os meus livros.
Durante o ano de 2017 e já início de 2018, recebi alguns contatos de leitores interessados em adquirirem os meus livros “Janelas da Alma: uma tempestade íntima, um conflito, um retorno” e “Entrelinhas Contos mínimos”. Curioso que todas as pessoas, e isso já vêm acontecendo há algum tempo, querem comprar os livros diretamente comigo, embora estejam disponíveis para venda na maioria das lojas online espalhadas pela internet e em plataformas de autopublicação. Isso é totalmente compreensível, uma vez que no final o livro sai a um preço muito alto para o leitor, e estamos falando do livro físico, que é a preferência de 10 a cada 10 leitores que me procuram…
Isso reforçou o meu posicionamento e a minha escolha de ser um escritor independente, a partir do momento que, por outro lado, eu recusei a proposta de contrato de duas editoras por não achar vantagem ao analisar todas as condições, e me ver preso simplesmente ao ego de ter os meus livros expostos em livrarias.
Foi assim que ganhou força a ideia da “Alforria Literária”, um selo criado por mim e pelo qual publico os meus livros, decidido a trilhar um caminho diferente, onde eu possa assumir todas as etapas do meu trabalho – da escrita à distribuição dos livros.
Nada tenho contra as editoras e as plataformas de autopuplicação; apenas acredito em outras possibilidades, ainda mais na realidade de hoje em que a vida exige mais consciências. Por isso, na minha natureza de enxergar propósito em tudo o que faço, estou desenvolvendo a minha própria publicação sob demanda, na qual os meus livros são impressos em papel ecológico, primeiramente a capa personalizada com tinta feita de fibras de material orgânico, mas já com o pensamento para que o miolo do livro siga o mesmo padrão – tudo a seu tempo.
Esse processo já está sendo desenvolvido através da aquisição de uma verdadeira “máquina de fazer livros”, em que a sintonia entre literatura e ecologia está presente, como se verá.
MEU PROPÓSITO LITERÁRIO
Vivemos no Brasil uma crise editorial muito grande, e essa crise não é somente financeira, mas mercadológica, eu diria, até, midiática. Isso porque a maioria das editoras tradicionais valoriza apenas o que é “vendável”. Não há problema nisso se entendermos que são empresas e, como tais, privilegiam o lucro. Mas a troco de quê? O que elas devolvem ao consumidor-leitor é que é um grande questionamento, pois basta entrarmos em livrarias para nos depararmos com uma imensa quantidade de livros traduzidos e os chamados “best-sellers”. E os novos escritores? Quase sempre ficam sem espaço. Ou escrevem o que as editoras querem vender ou possuem um alto poder de investimento, o que nem sempre é possível. As consequências são terríveis, pois isso contribui, entre outras coisas, para o sumiço de uma literatura genuinamente brasileira que ficou no passado.
O escritor moçambicano Mia Couto, em uma entrevista recente, diz que até às décadas de 60/70 a literatura brasileira ainda era vista como referência para os próprios brasileiros e para outros países, como em África, por exemplo. Ele cita Jorge Amado e todo o seu universo místico, de religiosidade, capoeira, que tem raízes africanas. Cita, ainda, em outro contexto, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Manoel de Barros, entre outros. Hoje já não há mais essas referências. Segundo ele, “chegam as novelas, mas não chegam os livros”. Ora, se não chegam os livros, não chegam os autores. E para um momento em que, através das inúmeras plataformas de autopublicação existentes, surgem a cada dia tantos “escritores”, onde eles estão? É claro que quantidade não é sinônimo de qualidade, mas em meio a tantos há de ter alguém, e esse alguém não é um só, são muitos.
É neste contexto que surge a Alforria Literária com o claro propósito de liberdade.
POR QUE ALFORRIA LITERÁRIA?
A Alforria Literária é mais do que um selo ou uma marca editorial, é um caminho que eu escolhi para mim enquanto escritor. E sabe por quê? Porque escolhi ser livre! Porque decidi assumir que eu sou, assim como você também é, criador da sua própria realidade. Se há uma expressão que possa definir a Alforria Literária, é: POR QUE NÃO?
Por que aceitar o que boa parte das pessoas diz sobre o caminho que a escrita e a carreira literária deveriam trilhar? Não posso ser o criador da minha própria experiência? Não posso eu definir o que eu quero e “como” eu quero? Sei que muitos pensarão: “porque é assim! Porque se você estiver fora das editoras e das lojas você estará fora do jogo”. Será?
‘Se milhares de pessoas estão indo por aqui, então vá por ali…’
Não me recordo onde eu li essa frase, mas ela tem para mim muito mais sentido, além de dialogar com a minha pergunta: POR QUE NÃO?
Ouço e leio constantemente variações de uma mesma versão que é a seguinte pergunta: ‘o que as editoras querem?’ É incrível como que o sistema com suas redes gigantescas nos pressionam e tenta nos convencer de que a maneira delas é mais do que a melhor, mas a única. E mais impressionante ainda é como boa parte das pessoas acreditam nisso e vai abandonando o prazer de guiar a própria vida e a própria escrita num verdadeiro desejo mimético. Passam a achar que é mais fácil adaptar ao que os outros consideram bom para elas do que tentar descobrir por si mesmas e abrir novas possibilidades e caminhos. E com isso, quantos escritores vão abdicando de um fundamento básico, ou pelo menos deveria ser, que é a total e absoluta liberdade de criar, não apenas o conteúdo, mas a forma…
Deixa eu dizer uma coisa: não há satisfação maior do que ser criador da nossa própria experiência, e a pergunta que eu faço através da Alforria Literária é absolutamente o contrário em relação à variação acima. Mais importante do que pensar de que há lugar para todos, é saber que esse lugar nunca será o mesmo.
O SIGNIFICADO DA MARCA ALFORRIA LITERÁRIA
O desenho representa um pince-nez, modelo de óculos utilizado até início do século XX, que utilizava uma pinça para prender na ossatura do nariz (nez = nariz).
De modo mais direto e objetivo faz referência, ao mesmo tempo homenagem, ao grande escritor Machado de Assis (1839-1908), que utilizava um pince-nez, presente em quase todas as usas fotografias.
Indica a perspicácia característica do observador do mundo, que transcreve sua visão em forma de letra. Indica o olhar profundo que enxerga a realidade além das aparências. Enfatiza mesmo o olho, janela para o mundo, espelho da alma. Neste caso, Machado de Assis é um escritor que enxerga longe, lança luz onde havia sombras. Este é um ótimo sentido para melhor compreender a Alforria Literária.
Mas há uma complementação dessa ideia trazida pelo filósofo e psicanalista Angelo Pereira Campos que enriquece muito a Alforria Literária através de uma antiquíssmia simbologia: o Olho de Hórus.
Símbolo da divindade egípcia, Hórus, filho de Osíris. Hórus é o deus com cabeça de falcão. Não por acaso, o falcão encontra-se entre os animais de maior acuidade visual. Sua visão alcança uma pequena presa em até dois quilômetros de distância.
Os olhos de Hórus, na mitologia egípcia, sinalizam o Sol e a Lua. Trata-se de uma metáfora da luminosidade, do dia e da noite. Em batalha contra Set, Hórus perde o olho esquerdo, símbolo da Lua.
Neste caso, o olho representado na imagem da Alforria Literária é o direito, símbolo do Sol. Portanto, uma referência direta à luz, à claridade, logo, ao esclarecimento que a literatura nos ajuda a construir ao longo de nossa formação, que, claramente, dura a vida inteira. Desse mesmo modo, encontramos nestas metáforas literárias um sentido maior para a clarividência, que está a nos impulsionar para a liberdade, para a alforria.
A MÁQUINA DE LIVROS “PAULA BRITO”
O aspecto fundamental da Alforria Literária é eu ser a minha própria produção sob demanda, ou seja, eu mesmo editar e publicar os meus livros e poder enviá-los para qualquer lugar do Brasil. Para isso, foi confeccionada a minha primeira “máquina de livros”, que carinhosamente chamei de ‘Paula Brito’, em alusão a Francisco de Paula Brito, proprietário de uma livraria no antigo Lago do Rocio no século XIX, atual Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. Mulato, autodidata e oriundo de meio humilde, Paula Brito trabalhou como tipógrafo, impressor de livros e jornais, fundando a Marmota Fluminense numa época em que o analfabetismo era gigantesco em nosso país. Além disso, sua importância foi fundamental para acolher um mocinho acanhado, também mulato, brilhante e que faria história: Machado de Assis…
Essa máquina foi cuidadosamente feita com madeira de Ipê reaproveitada de sobra de demolição e guardada por muitos anos. As mãos talentosas que a moldaram são de Egídio Souza, um luthier que, para quem não sabe, é um termo derivado do francês ‘luth’, que significa ‘alaúde’. Ele dá nome ao profissional especializado em construir instrumentos de corda, tudo feito de forma artesanal, um a um. Trata-se de uma das profissões mais antigas e que já está em extinção, mas que eu tive a sorte de conhecer um e de ter se tornado um amigo. Ainda sobre o propósito das coisas, não poderia ser maior uma vez que se institui uma parceria entre a literatura e a música, sendo eu um escritor inteiramente musical.
Isso vem mostrar que quando as coisas estão em sintonia com nossos desejos elas ganham força! A “máquina Paula Brito” está linda e já estou pronto para distribuir diretamente os meus livros que guardam outras surpresas… Um dos meus objetivos é que o livro em si, além do seu conteúdo literário — que é o meu trabalho de escritor — seja um objeto de arte digno de ser admirado e guardado.
PROCESSO DE COLAGEM
Foi realizado com muito sucesso o primeiro teste com a máquina de livros. A capa é de papel ecológico (ver detalhe) e faz parte da proposta da Alforria Literária. O projeto das capas ainda está sendo estudado para se chegar a um padrão de letras e tamanhos para a melhor apresentação possível, primando pela beleza, irreverência e elegância do exemplar. Para o teste foi utilizado no miolo o papel sulfite 75g. O utilizado no livro será o Off-set A5 75g. Utilizei uma cola especial de luthieria para fixar as folhas na lombada, o que torna o livro muito resistente.
Papel ecológico
ABORDAGEM EM ESCOLAS, EMPRESAS E FEIRAS LITERÁRIAS
Para o ano de 2018 e subsequentes farei apresentações gratuitas em escolas (públicas e particulares), empresas e feiras literárias apresentando os meus livros já dentro da proposta da Alforria Literária. Para isso, levarei, além dos livros que podem ser adquiridos no local e encomendados, a máquina “Paula Brito” para que todos conheçam o seu funcionamento a partir de uma palestra/demonstração ao vivo, seguindo o seguinte roteiro:
Minha história de como e quando aprendi a ler e a minha experiência com os primeiros livros em cima de um pé de ameixa na casa de minha avó;
Como descobri os escritores e como decidi ser um deles;
O porquê da minha escolha em ser um escritor independente;
O sonho, o porquê, a história e a confecção da máquina “Paula Brito”;
(demonstração da colagem de um livro)
Apresentação dos meus livros.
Bem, é isso! Estou pronto para fornecer os meus livros com muita qualidade e segurança, enviando-os a qualquer lugar do Brasil a um valor justo e acessível. Saiba sobre eles acessando MEUS LIVROS! E lembre-se:
O surgimento de novos talentos passa pela sua permisão de experimentar. Permita-se! Leia escritores independentes.
Quer saber mais, falar diretamente comigo, agendar uma palestra gratuita em sua escola ou empresa, ou mesmo uma roda de conversa com alunos falando sobre literatura?
Antonia mora em São Paulo; Paulo, em Belo Horizonte, assim como Luzia e Angelo, diferente de Geane e Yasmin, que moram em Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha. Marlene, Elisa e Jair estão em Teófilo Otoni, Bianca em Campinas, Ana Paula em Governador Valadares, e ainda temos Guilhermes, Letícias, Alices, Mauros, Franciscos, Rosilenes e Alexandres espalhados por todo o Brasil!
Você sente aquela vontade de ler um livro; um não, vários! Você sente que aquelas histórias irão mexer com suas emoções. Você sabe que ali, nos livros, existe um pluriverso a ser desvendado, que há mais informações do que as simples letras impressas nas folhas de papel; existe um mundo, uma época, um contexto que caracteriza a existência de cada um deles. E você quer lê-los, conhecer os seus autores.
Mas você não tem tempo…
Não tem tempo pelo trabalho que é muito. Não tem tempo pela família que precisa da sua atenção. Não tem tempo pela escola, onde você já tem que ler tantas coisas para seus trabalhos e provas. E tantos outros motivos que vão se juntando.
E principalmente?
Você sente que tirar o seu tempo para ler, irá lhe fazer perder tempo…
Talvez essa vontade de ler seja apenas uma bobagem. Talvez essas histórias sejam péssimas. Talvez você seja apenas um tolo ao achar que livros mudam pessoas e podem mudar você mesmo e fazê-lo feliz.
Então, você não lê.
Você acredita nesses pensamentos. Você se sente bem quando seu amigo do trabalho diz, estressado, que está muito ocupado – ufa, não é só você, mesmo dizendo sempre que gostaria que com você “fosse diferente”. Você se identifica com a situação de que os afazeres domésticos lhe tomam toda disposição para fazer o que tanto gosta, assim como os compromissos que sempre existem. E você passa dias, semanas, meses… falando para você mesmo que está certo, que gostaria tanto de ler, mas não tem condições.
Será mesmo?
“Não”! Uma voz dentro de você, meiga e amável, cochicha em seus ouvidos: “Não, isso tudo está muito, muito errado…!” E você revigora a sua vontade primeira. Você acredita na leitura e, acima de tudo, você acredita em você! Sabe que o tempo é você quem faz, que a falta dele não existe, existe é a falta de prioridade, e que se colocar entre as suas prioridades a leitura, ela terá a sua hora, como a novela das sete, o bate-papo com os amigos, o futebol no fim de semana, até o banho do cachorro…
Então você começa de novo!
Antonia mora em São Paulo; Paulo, em Belo Horizonte, assim como Luzia e Angelo, diferente de Geane e Yasmin, que moram em Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha. Marlene, Elisa e Jair estão em Teófilo Otoni, Bianca em Campinas, Ana Paula em Governador Valadares, e ainda temos Guilhermes, Letícias, Alices, Mauros, Franciscos, Rosilenes e Alexandres espalhados por todo o Brasil!
Você sente aquela vontade de ler um livro, e pensa… “ler é tão maravilhoso! E outra voz pergunta…
“E se existisse uma forma de ler de uma maneira mais organizada, relacionando as leituras por critérios de objetivos e importância em determinado momento da vida? E se essas leituras pudessem ser compartilhadas ao mesmo tempo sem que uma se sobreponha à outra?”
Um sorriso se estampa em seu rosto…
“Uma incentivando a outra numa atitude contagiante que fosse se espalhando naquele sentimento gostoso de vitória e objetivo concluído, cujo investimento fosse somente a certeza de que o mundo necessita de mais leitores como você e, como consequência, de mais cultura, de mais refinamento?”
Você está feliz, porque percebe que literatura não é matéria didática, é arte, e das maiores, o que proporciona a elevação moral, social e espiritual das pessoas, pois nela encontramos nossas histórias, nossas origens, anseios, valores, desejos e uma infinidade de coisas que nos levam às conquistas que sempre sonhamos. Nela, nos tornamos seres humanos construtores de pensamentos e produtores de novas sempre possíveis realidades.
E sua alma se abre…
Porque essa possibilidade EXISTE! E não é uma só… Através dela você pode criar a sua e se transformar no leitor ou na leitora que sempre quis ser! Você se sente bem porque acaba de se tornar um(a) NOVO(A) LEITOR(A)!
Viu? Mas continue a ler para conhecer uma maneira muito prática de repartir o seu tempo de leitura de forma a ler muito, muito mais, dentro das suas possibilidades.
Isso por quê?
Bem, se você também é um amante da leitura deve ficar meio em dúvida às vezes com tantos livros que gostaria de ler, mas que o tempo castiga nosso adorado desejo de viver em meio às páginas.
Mas, olha! Planejamento é tudo, e é o que devemos fazer, pois ele é muito necessário, ainda mais nos dias corridos de hoje. Devo dizer que não existe um método ou uma cartilha a ser seguida. Cada qual é cada qual e cada um sabe, melhor do que ninguém, onde os calos apertam, ou melhor, do seu dia a dia.
O que vou escrever aqui funciona comigo dentro da minha rotina e escolhas. Sou escritor e professor e a leitura é matéria-prima do meu trabalho. Tenho tantos livros para ler quanto são as estrelas no céu…! Por isso, faço uma divisão de três modalidades de leitura:
LEITURA DE ENTRETENIMENTO;
LEITURA DE PESQUISA;
LEITURA DE REFERÊNCIA.
Funciona mais ou menos assim:
LEITURA DE ENTRETENIMENTO
É a que eu faço pelo meu bel prazer (não que as outras não sejam). É a leitura do divertimento puro, do deleite, sem maiores compromissos do que a apreciação da arte literária. Aqui incluo contos, romances, poesias, etc. Costumo realizar essa leitura de segunda à quinta-feira logo após o horário de almoço, mais especificamente de 13h:00 até 13h:45, que é quando estou em sala de aula esperando meus alunos chegarem. Obviamente, a sala está pronta, matéria preparada, equipamentos checados e, assim, posso me entregar e desfrutar dos personagens e versos…
LEITURA DE PESQUISA
É a que eu realizo quando estou escrevendo um livro, seja ele de contos ou romance. Um escritor é um contador de histórias e precisa estar atento a tantas histórias já contadas por aí. Isso nos ajuda a estarmos mais presentes, sintonizados com a nossa época, com os gostos e preferências do nosso tempo, sem dizer que um escritor é antes de tudo um pesquisador da sua própria arte. Essa leitura eu a faço às sextas-feiras na parte da tarde, que é o dia de planejar toda a semana que virá, inclusive minha escrita diária.
LEITURA DE REFERÊNCIA
É a leitura dos grandes autores, daqueles que me dizem mais profundamente, seja em termos de estilo, seja em termos de ideias. Aqui estão os escritores da literatura clássica e contemporânea. Como diz Mia Couto (um dos meus escritores de referência), “os escritores nascem de outros escritores”, e é exatamente assim que acontece. Para essa leitura eu reservei os fins de semana, não todo, claro, pois também tenho uma vida social e familiar que é tão importante quanto. Mas para um leitor sempre sobra um tempinho…
Bem, como disse, não há um modelo a ser seguido. O importante é que cada um encontre o seu jeito, seja ele qual for, pois deixar de ler é algo que não devemos, tanto porque, como disse Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”.
Se você gostou, aproveite para divulgar este artigo para aquele amigo ou amiga que, como você, ama a leitura e tem vontade de ler muitas coisas, mas, no entanto, esbarra na “falta de tempo”.
Vamos lá?
Ah, e já que estamos em companhia de leitores, aproveito para indicar os meus dois livros – um romance e um de contos curtos. “Janelas da Alma: uma tempestade íntima, um conflito, um retorno”, e “Entrelinhas Contos mínimos”. Saiba sobre eles clicando AQUI
Você já leu O Menino do Dedo Verde, do acadêmico francês Maurice Druon?
Se sim, para você é uma obra infantil ou adulta? Se não, tanto para você quanto para quem leu vale muito a pena a reflexão publicada na orelha da 57ª edição – Rio de Janeiro, da José Olympio, de 1996.
Bem, a edição vem demonstrada como literatura infanto-juvenil, mas posso lhe assegurar que este é um dos deliciosos casos que a classificação pouco importa, pois tanto crianças, quanto jovens ou adultos são arrebatados para um mundo onde Tistu, o personagem dessa história, nos coloca de frente a uma enxurrada de pensamentos…
Nessa referida edição é onde se encontra a reflexão mencionada que o crítico José Geraldo Nogueira Moutinho (1933-1991), uma das grandes personalidades literárias do Vale do Paraíba, publicou na Folha de São Paulo em junho de 1973.
Na época, estando eu com então 1 ano de idade, não podia sequer imaginar que 44 anos depois iria encontrar, tanto nestas palavras quanto na obra em si de Maurice Druon, um livro que é exatamente, sem pôr nem tirar, tudo o que Moutinho diz.
Na verdade, acredito que ele traduz exatamente o que os que leram a obra tiveram a oportunidade de conferir. E para aqueles que ainda não tiveram essa oportunidade, transcrevo aqui o que lá se foram tantos anos e ainda se mantém absolutamente atual…
Vamos lá…
Um acontecimento a destacar
A propósito d’O MENINO DO DEDO VERDE o crítico paulista Nogueira Moutinhoescreveu na Folha de São Paulo a seguinte crônica:
Trata-se de um dos acontecimentos, não direi literários, mas poéticos, do ano, o lançamento deste livro de Maurice Druon, traduzido por um dos mais completos conhecedores da linguagem lírica no Brasil, Dom Marcos Barbosa. O fato do monge beneditino, recriador em nosso idioma do Pequeno Príncipe, haver se dedicado a verter esse outro texto, já é uma espécie de garantia prévia no tocante à sua qualidade, ao seu lirismo, à sua lição de poesia e de verdade. Maurice Druon, embora acadêmico e autor de romances históricos, nada perdeu de flexibilidade, de gratuidade lírica, não se deixou esclarecer nem emburguesar pelos títulos, lauréis e outras prendas da velhice. É capaz de articular um relato nesse dificílimo idioma que adultos e crianças entendem, os primeiros, é claro, se não matarem em si o espírito de infância, isto é, o espírito de poesia.
Livro para reler ao longo dos anos, se termos a sorte de descobri-lo na idade cronológica certa; livro para meditar em toda a sua riqueza, se já o recebemos adultos.
O paralelo com o récit hoje clássico de Saint-Exupéry não é exagerado. Dom Marcos, que verteu a ambos para o nosso idioma, confessa que só deu pela semelhança quando terminou o trabalho e se pôs a refletir criticamente sobre o livro. De fato, o Pequeno Príncipe pertence a uma mitologia; Tistu, o menino do dedo verde está, ao contrário, preso às contingências sociológicas do mundo em que existimos. O primeiro é intemporal, o segundo é filho da era da poluição, de agressividade e do desentendimento. Sua missão é justamente despoluir, humanizar, reintroduzir a poesia num universo do qual ela se encontra exilada.
Sobre um mundo cinza e enlutado, Tistu deixa impressões digitais misteriosas que suscitam o reverdecimento e a alegria. Tão apaixonante quanto o Pequeno Príncipe, sua tarefa é mais urgente e mais original. Druon foi capaz de criar um símbolo rico de conotações e de apelos, um significante símbolo cujo significado jaz um pouco em cada leitor, capaz de florescer ao descobrir-se também possuidor de um polegar verde.
Segundo a explicação do velho jardineiro, Bigode, ao menino, “o polegar verde é invisível. A coisa se passa dentro da pele: é o que se chama um talento oculto. Só um especialista é que descobre. Ora, eu sou um especialista. Garanto que você tem polegar verde”. E à pergunta atônita de Tistu o jardineiro prossegue: “Ah! é uma qualidade maravilhosa, um verdadeiro dom do Céu. Você sabe: há sementes por toda parte. Não só no chão, mas nos telhados das casas, no parapeito das janelas, nas calçadas das ruas, nas cercas e nos muros. Milhares e milhares de sementes que não servem para nada. Estão ali esperando que um vento as carregue para um jardim ou para um campo.”
A simbologia quase evangélica deste pequeno livro faz dele realmente um acontecimento a destacar entre a massa dos lançamentos literários. Cremos estar presenciando o retorno do Pequeno Príncipe: como nas fábulas antigas, se disfarça como Tistu, para só revelar sua verdadeira identidade aos que como ele possuem o polegar verde.”
(Folha de S. Paulo, junho de 1973)
Maravilhoso, não?
Então é assim: se você é um dos felizardos que já leu este livro de verdades e encantos, de flores e cheiros, não importa quanto tempo tenha, se muito ou pouco, se dê a oportunidade de reler agora com ainda mais atenção no momento atual que estamos passando, não apenas no nosso país, mas em toda humanidade…
Se você ainda não leu, nem é preciso dizer, um mundo de emoções, descobertas e verdades o espera…
E não se esqueça! Adoraria saber o que você achou da obra. Entre em contato, comente, recomende…