CANÇÃO DO CHORO

Por Mangel Faria*
(Angola)

Aventura na brisa do canto
beija a melodia do pranto
amortece o cortiço da mulher
no olhar do sopro

Fervilha no sangue da existência…
adormece no fogo das paixões
e morre
no desejo juvenil da noite

A canção do choro
matou o sabor do vento
quando viu cair as lágrimas
no fel das almas

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Mangel Faria é angolano, colaborador e integrante da turma Paulina Chiziane da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

NO MEIO DO CAMINHO

Por Leandro Bertoldo Silva

Tudo era sempre igual para o senhor Todo Dia. Sua vida desconhecia pausas e era desprovida de sorrisos. Todo ele era um endurecer de pedra. Faltava-lhe tempo de ser quem gostaria, ou nem sequer o sabia; tornara-se doente dos sentidos.

Com isso, não percebia nada além do cinza. Seus olhos desacostumaram-se das cores. O corre-corre do trabalho, das obrigações cada vez mais exigentes faziam de Todo Dia alguém a passar bem longe  da alegria das coisas valiosas. Engraçado, todas elas eram desimportantes: o cantar dos pássaros de manhã ao saldar o sol, o cheiro do dia impregnado na brisa suave das primeiras horas, o zum, zum, zum das abelhas com suas patinhas carregadas de pólen a visitar aromas, e tantas inutilidades despercebidas para o senso comum.

Porém, um dia, sem nem saber o porquê, algo o fez olhar para cima exatamente no lugar onde sempre passava com os olhos colados ao chão a procura de uma poesia perdida. Bem no alto, lá estava junto a duas espécies de flores a destacar em igual vermelho e branco uma ordem: Pare! Imediatamente, obedeceu ao imperativo daquele momento e tudo se coloriu instantaneamente. Havia encontrado seus versos:

No meio do caminho…
Bem, não havia pedras,
havia flores.

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A foto acima foi tirada durante uma caminhada. É impressionante o que está ao nosso alcance quando estamos sadios dos sentido…

Um forte abraço.
Até a próxima.

A PSICANETA

Por Ricardo Albino*

Não estou maluco! Apenas fui convidado a psicografar uma viagem ao lado da minha caneta. Ao receber o convite para visitar a cidade da escrita e rever minha letra, em princípio dei risada. Depois, fechei os olhos, segurei de leve na pontinha da pretinha, como ela gosta de ser carinhosamente chamada, e voamos do papel. Cheguei a um lugar grande e colorido. Minha letra foi me vendo e logo perguntou:

— Lembra-se de mim, Ric?

Tomei um susto! Apesar do tempão que a gente não se encontrava pessoal e manualmente, ela estava igual aos tempos de escola. Cresceu só um pouquinho. Minha mão direita suava e a minha baixinha linda tremia na folha de emoção e raiva também. Escreveu meio desgovernada porque eu a troquei pela tecla do celular. Por isso solicitei a ajuda da psicaneta para explicar que o motivo da troca foi apenas visual para que eu pudesse enxergar melhor. Aos poucos, letrinha foi se acalmando e chamou todo o alfabeto para junto de mim e de minha nova caneta de estimação, para irmos à casa fabulosa da imaginação, onde moram livros e histórias de todos os tamanhos e estilos. Livros e histórias que amam voar até os corações do mundo pelas asas da Dona Arte.

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Ricardo Albino é jornalista, escritor, contador de histórias e correspondente da Árvore das Letras.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

USAR A POESIA COMO FOCO DE MEDITAÇÃO? SIM, É POSSÍVEL!

Por Leandro Bertoldo Silva

Você já parou para pensar na delicadeza de uma poesia, no valor dos seus versos, na cadência do seu ritmo?

Se você é um leitor ou leitora sensível, apreciador ou apreciadora da arte e do belo, tenho certeza da sua resposta positiva.

Mas…

Sabia ser possível ir além do puramente estético ou artístico e se alinhar com algo mais sensitivo capaz de transformar a sua realidade e, consequentemente, o seu bem-estar e até a sua saúde e os seus relacionamentos? Uma maneira de ir além das palavras e conectar com a sua essência?

Pois então continue a ler este texto para conhecer uma forma diferente de se envolver com a poesia. Como? Absorvendo-a como prática meditativa.

Mas antes é preciso dizer uma coisa!

Sim, eu uso a meditação já há alguns anos em tudo que eu faço. Antes mesmo de ler ou de escrever uma história, antes de costurar um livro ou caderno ou mesmo iniciar uma aula com os meus alunos, seja presencial ou online, eu sempre reservo alguns minutos para me preparar e focar emocionalmente naquela tarefa a ser realizada.

Quem é ou já foi aluno ou aluna da Árvore das Letras sabe bem disso. É comum iniciamos os nossos encontros com a prática da meditação e do relaxamento, sejam adultos ou crianças.

Como eu disse, já vinha com essa prática há algum tempo, mas foi em um congresso de educação onde isso se fortaleceu em mim e passou a fazer parte integralmente do meu costume e a se tornar não mais algo feito de vez em quando, mas um hábito.

Na ocasião, assisti a uma palestra de um professor japonês — não por acaso — onde o mesmo relatava o fato de utilizar os primeiros instantes das aulas para meditar com os seus alunos. Era questão de cinco minutos em que todos ficavam em completo silêncio, às vezes com uma música suave de fundo, agindo como um foco de atenção — falarei sobre isso em instantes… Segundo o professor, tal exercício influenciava diretamente o comportamento dos alunos, tornando-os mais sociáveis e sensíveis ao se relacionarem uns com os outros, com significativa redução da ansiedade, stress e de qualquer comportamento violento e de conflito, aumentando a concentração, além da melhora significativa do aprendizado e das notas escolares.

Hoje, muitas escolas fazem uso dessa prática, mas o número poderia ser bem maior. Não tenho dúvidas do tamanho do benefício a ser alcançado, principalmente ao se tratar de questões como a redução da violência, tanto em relação aos próprios alunos, como em relação também aos professores.

Mas onde está a poesia?

Calma, chegaremos lá. Para isso é preciso entender primeiro o que é meditação. Embora na verdade isso seja um equívoco, porque meditação não se explica; meditação se pratica. Qualquer tentativa nesse sentido é em vão. Mas como somos ávidos por conceitos, fui atrás de uma salvação. De tantas buscas feitas, encontrei para mim o mais adequado e satisfatório e espero ser para você também.

Estava nessa busca quando, em uma livraria, meus dedos ao percorrerem uma fileira de livros em uma estante se depararam com o título: “O Melhor Guia para a Meditação”, de Victor N. Davich, um livro perfeito para quem quer reduzir o stress, para quem já pratica a meditação e quer aprender novas técnicas, ou para quem está só curioso.

Curioso… Peguei o livro e, ao folheá-lo, lá estava: “Meditação é a arte de se abrir a cada momento com consciência calma”.

Caramba! É isso!

Bem, não falarei do como o livro me foi e é útil até hoje, e lá se vão mais de 20 anos…

Tampouco do como ele desmitifica a meditação como algo transcendental e a coloca bem ao alcance de nossas mãos como pratica normal do dia a dia.

O importante é dizer sobre o foco de meditação. Lembra-se da música suave dita acima? Pois é, segundo o autor, a ideia de “parar de pensar” atribuída à meditação é algo totalmente impossível (ufa! Ainda bem!). O melhor é abrandar os pensamentos, acolhê-los, mas não retê-los. Em outras palavras, ter consciência deles e deixá-los ir. Ele faz, inclusive, alusão àquelas portas de vaivém dos filmes de Bang Bang, isto é, os pensamentos vêm e vão, assim como a nossa respiração. Quanto mais focar sua atenção em uma única coisa, mais evitará a enxurrada de pensamentos e, consequentemente, relaxamos e nos abrimos a cada momento com consciência calma. Viva! Meditamos!

E é aqui que entra a poesia. Ainda não percebeu?

Vejamos! Se precisamos focar em algo para abrandar os nossos pensamentos, esse algo pode ser o som de um instrumento específico de uma música, assim como pode ser simplesmente a nossa respiração, ou mesmo a chama de uma vela ou um pontinho preto na parede. Se pode ser tudo isso, e sim, pode, por que não a poesia?

Ora, calma lá! Não estou dizendo das palavras, mas o que está além delas, ou seja, a sensação, ou, melhor dizendo, a sua essência.

Obviamente, toda poesia nos proporciona isso. Defendo, a respeito da poesia, em ser ela o próprio Eu e uma forma de autoconhecimento. E muitas vezes esse autoconhecimento vem a partir da apreciação da natureza, seja interna ou externa, como as árvores, os pássaros, o vento, os sons, as flores e estrelas. Passar um tempo em total conexão com esses elementos simples do dia a dia nos faz sentir o momento de um instante.

Como eu disse, toda poesia nos proporciona essas sensações, mas há uma específica que nos mantém totalmente imersos nesses sentimentos: o haicai. Já falei dele aqui neste blog, mas o menciono novamente não apenas pela sua simplicidade, mas por ser a própria expressão do autoconhecimento, uma vez ser ele a representação do agora, do momento, do instante.

E o que é tudo isso senão a prática meditativa? O abrir-se a cada momento com consciência calma?

Sim, mostrarei uma forma de usar a poesia — especificamente o haicai — como forma de meditar.

Para isso, é preciso enxergar os poemas de uma forma dinâmica e sensitiva, cuja leitura proporciona  conhecimentos de si mesmo.

Ler os poemas é um mergulho que você leva para a sua vida no dia a dia, passando por três etapas: pela leitura, não para aumentar conhecimento, mas para encontrar você mesmo na palavra; pela entrega, deixando a palavra cair no coração, aceitando-a simplesmente; gestação, que, através da entrega, faz com que a palavra germine e frutifique; e por último a contemplação, para não mais raciocinar a palavra, mas vivê-la no silêncio.

Sendo assim, vamos a um passo a passo bem simples, mas eficiente, de como você pode usar a poesia do haicai para meditar.

Primeiramente, selecione alguns haicais que já proporcionam tudo isso através da sua simplicidade. Você pode pesquisá-los na internet e copiá-los em papéis separados, ou mesmo tê-los em um livro específico.

Em seguida, abra aleatoriamente uma página do livro. Leia e desfrute cada palavra de um dos poemas, procedendo aos passos descritos: Leitura – Entrega – Gestação – Contemplação. Volte às outras páginas após se sentir satisfeito ou satisfeita com a sua reflexão e escolha outro haicai.

Uma sugestão é escolher um haicai por dia para meditar, seguindo os passos descritos. O importante é não ter pressa e abrir-se para as possibilidades…

Viva! Você acaba de meditar.

Deixarei aqui na sequência duas sugestões: uma para quem deseja ter um livro inspirador e preparado exatamente para essa prática de leitura meditativa. Refiro-me ao meu livro Relicário Pessoal – haicais, um livro com 51 haicais distribuídos em 3 partes temáticas — Tempos e esperas, Flores e cores e Vida e contemplação —, cada qual representando um verso do poema. O livro conta ainda com 17 ilustrações em fotos autorais transformadas em desenho ao estilo grafite, obedecendo a seguinte ordem: 5 ilustrações na primeira parte, 7 ilustrações na segunda parte e novamente 5 ilustrações na terceira parte, sendo 1 a cada 3 haicais, o que totaliza exatamente o mesmo número de sílabas dos poemas.

Você pode adquirir o livro diretamente comigo no WhatsApp (33)98462-7055.

A segunda sugestão é para quem deseja se aventurar na escrita dos seus próprios haicais e meditar a partir deles. Para isso, tenho o E-book Haicai A Arte da Poesia – um guia passo a passo. Nele você irá encontrar, a partir de uma pequena história, o que é o haicai, a sua relação com as estações do ano e com nós mesmos, as métricas gramaticais e poéticas e, principalmente, informações para se aventurar em suas primeiras escritas e aprimorar as existentes de forma leve e com ilustrações que inspiram o fazer poético.

Você pode adquirir o E-book AQUI.

Mas ainda não acabou!

Existe uma história bem conhecida de um poeta que estava a andar na praia e a jogar estrelas do mar de volta na água. A praia estava lotada delas. Ao ser perguntado por que fazia aquilo, ele respondeu que era para salvá-las. Como a praia tinha centenas e centenas de estrelas, a pessoa disse que aquele era um trabalho inútil, pois não ia conseguir salvar todas. O poeta então se abaixou, pegou uma das estrelas do mar, a jogou de volta na água e então disse: “para essa eu fiz a diferença”.

Por que conto essa história?

Porque você pode fazer parte do Grupo Haicai a arte da poesia no WhatsApp. Neste grupo temos o desafio do 1 haicai por dia. Se todas as pessoas do mundo, e são bilhões e bilhões, escrevessem, lessem e trocassem uma poesia todos os dias, acredito que resolveríamos o conflito entre os povos. A poesia tem esse potencial pelo contato com o belo, com a harmonia da vida, porque é comprovado até pela física quântica que onde colocamos nossa atenção atraímos mais disso para nós.

Assim, no grupo, todos os dias, sem falhar um só que seja, inclusive sábados, domingos e feriados, cada pessoa que desejar pode postar 1 haicai, só um já é o suficiente. Quem ainda não os escrevem podem recebê-los como presente. O grupo conta ainda com outras ações sempre optativas como encontros de haicai esporadicamente. Todas as ações são gratuitas, porém há uma condição: a entrada no grupo é mediante a aquisição do E-book. O valor é muito acessível e é uma forma de manter o trabalho, disponibilizar o tempo, organizar os encontros quando tiver e o que mais for preciso. O link já está disponível, e caso seja do seu interesse ficarei muito feliz com a sua presença.

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Bem, espero que tenha gostado e desejo maravilhosos momentos de meditação a partir da arte da poesia.

Um forte abraço.
Até a próxima.

FUTURO INCERTO

Por António Alexandre*
(Angola)

Vejo tudo, vejo luxo no lixo.

Vejo, até hoje, bairros escuros com
crianças descalças, desnutridas e
inseguras.

Vejo buraco nas estradas e estradas no
buraco.

Sinto o cheiro da pobreza que me
circunda.

Vejo o meu futuro incerto na praia e
abraçado pelas ondas do mar.

Vejo tudo na tristeza porém vejo lá no
fundo uma certeza.

Uma luz intermitente na vindoura
firmeza.

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António Alexandre é angolano, colaborador e integrante da turma Paulina Chiziane da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

10 PERFIS LITERÁRIOS QUE VOCÊ DEVE CONHECER PARA ONTEM

Em 2017, quando iniciei esse blog, publiquei uma matéria intitulada “8 sites sobre literatura que você deve conhecer para ontem” (você pode conferir AQUI).

Pois bem, passaram-se 7 anos e me vejo novamente no desejo de publicar essa matéria, porém revisada e acrescida, não apenas de sites, mas de perfis e canais que ao longo desse tempo fui conhecendo e colecionando.

Mas não só por isso!

O caminho da literatura é amplo e muitas são as pessoas que realizam realmente um trabalho magnífico, e como é maravilhoso poder me referir a muitos como amigos e amigas.

Sim, quando publiquei pela primeira vez a matéria mencionada, não conhecia muitas das pessoas que aqui estão hoje, todas elas presentes diretamente na minha vida literária, ensinando, trocando e vibrando a mesma paixão pelas histórias, pelos livros, pelos autores e autoras. Pessoas as quais nos encontramos sempre de forma presencial, virtual, trocamos textos, dúvidas e fazemos da literatura uma festa!

Como eu disse naquela ocasião, eu poderia simplesmente pegar aqueles mais procurados. Mas de novo não farei isso. Primeiro, porque nem sempre os mais procurados ou famosos são os melhores. Existem muitas pérolas escondidas dentro de muitas ostras “comuns”, que, às vezes, não contam com um mar assim “tão recheado” de recursos… Foi essa a justificativa dada.

E acrescento aqui uma segunda: trago não somente o que eu conheço e uso, mas quem, juntamente comigo, é um desbravador e desbravadora dessa paixão chamada literatura; pessoas amigas, sim, amigas, que sabem do valor que é trabalhar e incentivar constantemente a presença dessa arte nas vidas das pessoas; gente incansável que pensa além de si mesmas e entregam o melhor em prol de uma causa.

E também como eu disse há 7 anos, para mim estes perfis são os melhores — hoje eu sei — e essa galera manda muito bem!

Vamos lá!

# 1 – Ler é criar asas
https://www.youtube.com/@PauloFernandeseducador

Ler é criara asas é um canal do youtube que desde 2012 realiza indicações de dicas literárias, com intuito de contribuir para pais, mães, professoras e professores na escolha de livros para crianças. Durante esses 12 anos o canal contou com diversas parcerias de editoras e ainda conta. São mais de centenas de livros, além de vídeos com temas importantes para infância e adolescência. O canal é administrado magistralmente pelo escritor, contador de histórias e ativista literário Paulo Fernandes, e atualmente os vídeos contam com a participação especial do seu filho Antônio, conhecido como Tonico Poesia, e são postados todas as segundas-feiras.

# 2 – Pierre Conta Contos
https://www.youtube.com/@PierreContaContos

Pierre Conta Contos é um canal onde o narrador aparece interagindo com o público, onde a maioria das histórias são contadas de memória e algumas são mediadas, mostrando os livros e suas imagens.

# 3 – PodContos do Pierre André
https://www.youtube.com/@PodContosdoPierreAndre

PodContos do Pierre André é um podcast onde as histórias são narradas ao pé da letra apenas com o áudio das histórias e imagens das capas dos livros, sendo algumas criadas pelo próprio autor.

# 4 – Ricontar Histórias
https://www.youtube.com/@ricontarhistorias9462

O canal Ricontar histórias nasceu em 2021 oriundo da página criada com o mesmo nome em 2017, com o objetivo de tratar de forma leve e lúdica, através da arte de contar histórias, temas como inclusão, acessibilidade, diversidade e aceitação no sentido amplo das expressões. O canal é administrado pelo escritor, jornalista e contador de histórias Ricardo Albino.

# 5 – Vira e mexe tem história
https://www.instagram.com/viraemexetemhistoria/

O Vira e mexe tem história é o canal da professora e contadora de histórias Rosi Amaral, que te convida para viajar pelo mundo da fantasia, da imaginação, da alegria e do desenvolvimento pelo gosto da leitura.

# 6 – Revista Cerrado Cultural
https://revistacerradocultural.blogspot.com

Cerrado Cultural é uma revista literária virtual de divulgação de escritores, poetas e amantes das letras e artes. Editor: Paccelli José Maracci Zahler. Todas as opiniões expressas na revista são de responsabilidade dos autores e são aceitas colaborações, bastando enviar os textos para o contato: cerrado.cultural@gmail.com.

# 7 – Infortec Lança
https://www.youtube.com/@infortec.posling

Como parte do Infortec – Núcleo de Pesquisa em Linguagens e Tecnologia, encontra-se o Infortec Lança, cuja meta principal é o lançamento de livros no âmbito da literatura, sobretudo a brasileira. Essa derivação adveio da necessidade de se dar vazão à produção literária, com lançamentos virtuais de obras de vários autores, durante o período pandêmico, tendo uma periodicidade mensal, normalmente na penúltima segunda-feira de cada mês, a partir das 19h30, via Stream Yard. Com quase três anos no ar, felizmente permaneceu e permanece após o término da pandemia. A apresentação é realizada majoritariamente por Mônica Baêta – MoBa, egressa do Cefet-MG, instituição na qual de doutorou.

# 8 – Academia de Letras de Teófilo Otoni – ALTO https://www.youtube.com/@academiadeletrasdeteofiloo9599

Canal da Academia de Letras de Teófilo Otoni, onde são divulgadas as ações da Academia, como sessões solenes, lançamentos de livros, lives literárias, saraus, concursos e salas de leitura, envolvendo seus membros titulares e correspondentes por todo o Brasil e em outros países.

# 9 – Canal do Grupo de contadores de histórias da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte – BPIJBH
https://www.youtube.com/watch?v=I_FFw5Jldl4&t=1743s

O canal do Grupo de contadores de histórias da BPIJBH é recente e tem a intenção de postar sempre as historias que são contadas durante os encontros. O primeiro vídeo conta a história da criação do grupo. Vale a pena conhecer.

# 10 – Árvore das Letras
https://www.youtube.com/@arvoredasletras

Não poderia terminar essa lista sem mencionar o próprio canal da Árvore das Letras no You Tube, claro!!! Nele são vinculados conteúdos literários como histórias, entrevistas, crônicas, contos, poesia, cartas, dicas, de forma a trabalhar a questão inclusiva a partir de vídeos áudios ampliando, assim, o acesso a todos os públicos.

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E então, gostou da lista?

Você, certamente, conhece alguém que adoraria conhece-la também!

Então, como disse há 7 anos e volto a dizer,  compartilhe esse artigo e deixe a literatura “navegar” por outros mares…

Ah, e se tiver alguma indicação, escreva aqui nos comentários para que eu procure conhecer e divulgar aqui no blog! 

Um forte abraço!

Até a próxima.

DESAPEGO

Por Rosi Amaral*

Eis que numa manhã,
veio uma brisa leve
trazendo a seguinte certeza:
Amanhã não seremos mais eu e você.

Alguém me dirá: já ouvi isso…
Eu mesma direi: já fiz essa promessa…
mas a brisa continua dizendo:
Amanhã não seremos mais eu e você.

O dia passa lentamente.
As lembranças cirandam ao meu redor,
zombando da brisa:
– Ela mente, ela mente…
mas a brisa da tarde continua trazendo:
Amanhã não seremos mais eu e você.

A noite apaga o sol
e traz uma música
que embalou nosso amor.
Bailo com as lembranças…
Mas a brisa noturna continua trazendo:
Amanhã não seremos mais eu e você.

O sono me embriaga.
Sozinha na cama
ao lado de um travesseiro vazio
ouço ao longe um sussurro…
A brisa da madrugada confirma:
Hoje não somos mais eu e você.

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*Rosi Amaral é escritora e contadora de histórias e integrante da turma Manoel de Barros, da Vivência Novo Autores.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

PARA ALÉM DO CINZA

Por Leandro Bertoldo Silva

Levantou cedo. A primeira coisa que fez foi correr à janela e olhar o céu. Um sorriso lhe estampou no rosto, tão grande como a sua vontade de fazer o seu brinquedo. Correu a pegar as taquaras e afiá-las cuidadosamente enquanto verificava suas envergaduras. Em torno de si, cola, linha, papel esperava, cada qual, a sua vez de compor pelas mãos do menino-mestre a obra perfeita por onde os sonhos misturam-se à leveza dos movimentos ao fazer morada no ar. O que está a fazer, menino? Veja, pai! Estou a construir uma pipa, e ela há de voar bem alto. O pai suspirou um sorriso de pena. Não viu, filho, como está o tempo? Sim, está lindo. Lindo? Mas daqui a pouco estará a chover; o céu está completamente cinza. O céu nunca foi cinza, pai, e nunca será.  Atrás do cinza sempre estará um azul. Nunca o seu coração havia sido arrebatado daquela maneira. O suspiro agora era de susto. Lembrou-se de um poeta preso ao ser questionado como conseguia escrever versos tão lindos naquele lugar sombrio, e ter como resposta o fato de simplesmente não considerar as paredes. O menino era como ele, um poeta. O pai, enquanto o filho continuava a afiar ripas, correu à escrivaninha e escreveu em seu bloco de notas:

Atrás do cinza
sempre estará um azul;
mira-se nele.

E foi se juntar ao menino.

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Espero que essa pequena história possa ter lhe inspirado a olhar para além das aparências…

Se gostou, curta, comente, compartilhe. É uma pequena ação que faz muita diferença e é muito valiosa para mim.

Forte abraço!
Até a próxima.

PEQUENA LIBERDADE

Por Kafala Tibah*
(Angola)

Em prosa…

Quando, atrás, vislumbramos o passado vital do cristal humano, por intermédio do seu natural espelho retrovisor, percebemos a fragilidade humana à sombra de uma Pequena Liberdade, pregada numa miragem inumana; deciframos, igualmente, o valor nevéo ou renidente da sua mémoria, quando o seu frio acende a inospitabilidade de uma cínica saudade vazia de liberdade.

Lá longe da minha visão, vai um ido 1977. Convencido. Frio. Núveo. Por lá, uma Mulherona, Angola, vinha até mim a crescer, em passos de caracol tímido, mas com um sonho lesto, que nem a de uma formiga num morro de salalé*… Esta mulherona, já contava, como uma flor de pequena liberdade, no olhar da indiferença humana, a idade dos seus dois anitos: De 11 de Novembro de 1975! Ao abraço obstrito de um Sol tórrido. Pintada com uma nuvem cheia de makas** personalizadas…

Molépe, um muzanga*** com sonho das lapizeiras. Ficar encostado aos estudos. Parecia já alguém que mais gosta de uma pequena liberdade. Gostava mais assim da sua vida. Nesse lado, todo mundo lhe reconhece muito forte. Mas nesta vez, caiu. E de que naneira?… Começou tostar os sentimentos. Começou amar nesse pavimento escorregadio…

A paixão, no seu olhar cínico-amoroso, tinha um nome: Naty.

Naty era filha de Xico Toyo. Electricista de base, na empresa de electricidade de Angola — SMAE.

Linda jovem. Um lírio em pessoa! Cabelo era aquele. Sem carapinhado. Liso.

Naquele tempo, já estudava 6ª classe, na escola Ngola Nzinga. Molépe era aluno da 8ª classe, no Liceu Ngola Kilwanji.

Os dois alunos eram do período da manhã. De regresso a casa, encontravam-se no Largo da Independência. Juntos iam, em passos de tartaruga, presos em sonhos jovens. Aproveitavam a rara oportunidade para conversar e de quando em vez, abraçavam-se em pensamento de rosas. De quando em vez, distraídos, davam-se as mãos a caminhar. Era sempre assim. E como gasolina próxima do fogo, a paixão acendeu a porta de uma declaração de amor… Muita coisa Naty parecia não entender. Mas nem sempre a pequena liberdade é interpretável à luz dum flash. Eram muitas palavras novas a encantar a virgindade dos seus ouvidos. E ela estava a começar a gostar. Ela sorria. E Molépe a via encostada a uma doçura de bom astral. Tudo para quanto orava. Naquele sorriso contido em dentinhos, artisticamente branco como a fuba**** das pedras do Kwanza Sul.

18H00. Molépe preparava-se. Depois de chegar da escola, restava-lhe uma vontade insuportável de voltar encontrar a Naty. O coração apertava-lhe o desejo em chama. De bombeiro, só restava-lhe mesmo a sombra de Naty ao seu lado… E assim aconteceu.

Dias depois, resolveram ir ao cine Ngola para assistir a um filme romántico. Nesse filme, o personagem principal tratava a sua amada de Pequena Liberdade.

Naquele dia, depois do filme, de regresso a casa, Molépe propós uma paragem e, Naty, sem se pronunciar, parou num lugar onde se sentia apenas o canto do luar encapsulado. Os prédios do Kaputo vomitavam sua sombra escura. 19H00. As horas passavam a reboque de um tic-tac natural e silente. O jovem num arrojo singular soltou o eflúvio do desabroxar do canto de rosa a declaração de amor, resultante da inspiração do que viu no filme “A PEQUENA LIBERDADE”. Abraçou Naty e, seguidamente, experimentou-lhe o primeiro longo e virgem beijo da sua vida, revelando para ela:

“És a grande Pequena Libedade procurada pela humanidade falha. Mas eu não sou falho. Estou ao teu lado. Assim sinto-me a viver. Feliz. Apenas ao teu lado. Oh, parte do meu corpo! Minha vida. O outro lado do meu coração”. Molépe, num canto pausado de amor, declamava o calor duma motivação eclíptica.

E Naty, que nunca conhecera o sabor dum beijo ou o canto de uma poesia, como a alegria duma flor de porcelana envolvida em manto pluvial, bebia também o sentir da sua primeira vez em beijo lustral… Foi a raíz de um longo mais de quinze minutos em beijo. Era uma doce primeira vez. Uma pequena primeira liberdade latente. Parecia-lhe que toda primeira vez sabe a cansaço. Sentia-se exausta. E, então, disse:

“Mor, sinto algo, como electricidade na minha coluna. Me solta! Isso é o quê? – perguntou ela. Electrocutada. Sem norte… Pracecia uma otária envolvida num sentimento latente. Assexual…

Molépe respondeu, carinhosamente, beijando o seu pescoço continuamente e dizendo:

“É o que sinto por ti. Feliz por sentir o calor do teu corpo e a radiação milagrosa vinda tua boca lustral. Ela mudou a minha temperatura. Ai!… se este mundo podesse ver essa grande pequena liberdade que sinto contigo. Um amor, fora do deserto, a acordar na boca das flores. A tua boca… agora minha pequena liberdade”.

Em verso…

Proibidos…

Amores escondidos
no ventre
dos ventos em asas de tempestade
num incêndio de amor
em banho-maria

Que ponta de iceberg na noite!

Sol não acende
ascende ao prumo do amor atado…

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* salalé – linguagem angolana, que significa formigueiro; toca em morro de areia onde vivem as formigas.

** makas­ – Palavra da língua kimbundu, que significa: conversa, assunto, problema.

*** muzanga – Palavra da língua kimbundu, que significa jovem.

**** fuba – farinha de mandioca cozida ao lume (formando uma pasta que se saboreia com peixe ou carne com molho).

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Kafala Tibah é angolano e integrante da turma Paulina Chiziane.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

AMANHECER

Por Leandro Bertoldo Silva

Era o mesmo ritual todas as manhãs. Ao acordar, antes mesmo de dar bom dia a quem estivesse por perto, precisava desanoitecer de si. O sol com seus raios ainda mornos espreguiçava-se no terreiro, onde o miúdo, ao senti-lo em seu rosto,  começava a metamorfosear os seus sentidos. Ia borboleteando aos poucos em ritmo de asas tão pequenas em companhia dos pássaros já ávidos em felizes despertar. Só depois nascia-lhe a voz após longo sorver de ar e um largo sorriso no rosto.

Agora sim — dizia sempre ao arrematar sua fala em poesia:

Cheiro da manhã

ao som dos passarinhos

me faz ser dia.

Amanhecia.

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Bem, esse é o meu amanhecer, aquele vivido todas as manhãs ao sair para caminhar nas primeiras horas do dia. Muitas poesias me surgem nesses momentos e eu, claro, as registro em meu caderno de haicais. Mas e você? Como é o seu despertar?

Forte abraço!
Até a próxima.