OBRIGADO 2023! COM UM ALGO A MAIS.

Por Leandro Bertoldo Silva

No dia 1º de janeiro de 2023 publiquei a primeira Crônica de Domingo do ano. De lá para cá foram 53 domingos, com este, e 53 publicações entre crônicas e poesias, sem contar os textos de colaboradores, alunos e parceiros, tanto do Brasil como de África.

Quero deixar o meu muito obrigado a cada um de vocês que contribuíram, leram, comentaram e fizeram desse espaço o meu melhor lugar, porque aqui escrevi o que estava na alma, traduzi em palavras os meus anseios, as minhas alegrias e até mesmo os meus medos e angústias, porque sim, elas existem e é natural.

Lembro-me que no dia 1º de janeiro trouxe como título a frase “Esse ano eu quero o simples sem excessos”. De fato, busquei ser mais assertivo em minhas escolhas, e isso me fez ser mais seletivo também… Disse que em muitas coisas eu desejaria o menos: menos barulho, menos discurso, menos necessidade de mostrar para os olhos poderem enxergar, e citei o menino que carregava água na peneira, de Manoel de Barros, ao dizer: “os vazios são maiores e até infinitos”.

Quanta verdade, Seu Manoel!

Em anos anteriores onde fiz listas e mais listas de desejos e muitas vezes de promessas não cumpridas, em 2023 escolhi peneirar silêncios… Busquei viver cada dia sem expectativas, porém atento às possibilidades e aberto ao que a natureza me oferecesse.

E o que aconteceu?

Nunca vivi um ano tão “cheio de vazios” — os verdadeiros vazios ao preencherem tudo! Não digo em termos de quantidade de acontecimentos, mas de qualidade ao sentir na alma a importância de extrair o máximo de cada coisa.

Nesse ano tomei posse como membro titular da Academia de Letras de Teófilo Otoni, tendo como patrono o jornalista e escritor Luiz Gonzaga de Carvalho, assumindo a cadeira nº 27. Muito obrigado.

Vi cumprir uma visão que profetizei há 10 anos (rsrsrs), quando disse a então aluna Fabiene Lemos, hoje amiga querida e psicóloga brilhante, que um dia trabalharíamos juntos; e foi nesse 2023 que realizamos uma capacitação para 120 professoras da rede municipal de ensino da cidade de Águas Formosas, no Vale do Mucuri, eu com a literatura, ela com a psicologia, em parceria com o Instituto In-Cena. Pois é, Fabiene… Eu estava certo! Muito obrigado.

Nesse ano, a propósito, tal parceria com o In-Cena proporcionou algo incrível em minha vida: a minha volta ao teatro, agora como diretor e dramaturgo, ao dirigir, juntamente com minha esposa Geane Matos, o novo espetáculo infantil do grupo, sendo a primeira direção externa em 15 anos de existência da companhia.

Como se não bastasse, a peça foi inspirada no meu livro “O Menino que Aprendeu a Imaginar”, e rendeu a ele a sua segunda edição lançada no encerramento do “Sábados Literários” no Teatro Raul Belém Machado, em Belo Horizonte, junto com a pré-estreia do espetáculo. Tenho só a agradecer ao André Luiz Dias, diretor do In-Cena e coordenador geral do trabalho e a todos os artistas e equipe desse grupo maravilhoso. Muito obrigado.

E os “vazios- cheios” não pararam por aí…

Foi nesse ano que tive a oportunidade de me encontrar pessoalmente com os integrantes da turma Novos Autores, aqui da Árvore das Letras, hoje meus mais significativos amigos e amigas. O que antes eram apenas encontros virtuais, puderam se concretizar em abraços e sorrisos reais, absorvendo o melhor do calor humano de cada um: Valéria, Luzia, Paulo, Patrícia, Rosi, Maria, Regina, Elisa, Ricardo e Pierre. Até Stefhanie eu conheci. Ainda não me encontrei com Adriana e esse ano com Carolina, mas estamos a caminho. Muito obrigado.

E já no finalzinho do ano pude estar com os “canarinhos cantores”, assim foram batizados carinhosamente pelo Ricardo Albino as crianças da turma Lygia Bojunga, em nosso trabalho presencial aqui na árvore de formação de mediadores de leitura, apresentando a história “Emengarda, a barata”, do Pierre André, com música minha e letra do Ricardo. Muito obrigado.

Nossa! Que ano maravilhoso!!

Encero aqui 2023 com o mais profundo sentimento de gratidão, pois nele encontrei o silêncio das necessárias verdades, onde o simples me levou às minhas letras, exatamente como eu havia planejado.

Obrigado por me acompanharem e lerem os textos aqui publicados. Sou grato por isso.

Vamos a outras páginas…

Mas tem mais uma coisinha!

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Chegamos, assim, à última Crônica de Domingo de 2023. Para 2024 teremos novidades. Mas como a literatura exerce também uma função crítica na sociedade, não poderia finalizar esse ano sem deixar um ponto de reflexão. Esses seis momentos memoráveis, que intercalaram lazer e trabalho, todos eles foram presenciais. Em nenhum deles foram exigidas as redes sociais para além do simples divulgar dia e hora dos eventos e, mesmo assim, tal ação está muito longe de ser única e imprescindível. Isso nos leva a duas questões tratadas como verdadeiras sentenças que muitos tentam impor, mas deixo aqui contrapontos: primeira, “quem não estiver nas redes sociais será invisível e estará fadado ao fracasso”. Será mesmo?! E segunda, “tem que estar, porque “todo mundo” está nas redes sociais”. Todo mundo quem?!

Feliz 2024.

Até a próxima.

A LENDA DO PINHEIRO DE NATAL

Conto popular, por Leandro Bertoldo Silva

Há muito, muito tempo, Em uma noite de Natal, existiam três árvores que ficavam perto de um presépio: uma oliveira, uma tamareira e um pinheiro.

Ao verem o menino Jesus nascer, as três árvores ficaram tão felizes, mas tão felizes, que resolveram, cada qual, presentear o menino oferecendo aquilo que lhes eram mais valioso.

A oliveira foi logo oferecendo ao menino Jesus as suas mais belas e suculentas azeitonas para delas extrair o mais precioso azeite.

A tamareira ofereceu ao menino as suas mais belas e doces tâmaras para delas fazer o mais delicioso suco.

O pinheiro, por sua vez, ao perceber que não tinha frutos para oferecer e muito menos qualquer outra coisa, ficou muito desapontado e triste.

Mas um anjo que passava por ali, ao ver aquela tristeza profunda do pinheiro, se aproximou e disse:

— Oh, meu gracioso pinheiro, por que está tão triste assim? Mas o que foi que aconteceu?

E o pinheiro contou ao anjo o que tinha acontecido; que havia nascido uma bela criança, e ele, como as suas amigas árvores, também queria oferecer ao menino um presente. Mas ele não tinha frutos para oferecer. Ele não podia oferecer nem mesmo a sua sombra, porque os seus galhos eram compridos e pontudos e poderiam, inclusive, machucar a pobre criança.

O anjo se compadeceu daquela tristeza e teve uma ideia!

Não falou mais nada. Subiu ao céu e foi encontrar com as suas amigas estrelas. Chegando lá, contou para elas o que estava acontecendo na terra. E pediu para que elas descessem e pousassem nos galhos do pinheiro. Assim aconteceu.

E quando as estrelas pousaram nos galhos da árvore, ela ficou toda iluminada e enfeitada.

O menino Jesus, ao abrir os olhos e ver aquela árvore tão bonita, ergueu os braços e sorriu.

E reza a lenda que foi assim que o pinheiro passou a ser considerada a árvore símbolo do Natal em todos os cantos da terra. E aquela noite passou a ser para sempre a Noite Feliz.

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Hoje é Natal!

Não poderia deixar de trazer aqui neste espaço de todos os domingos uma história que embalasse esse dia especial. Essa história não é minha; é de origem popular, mas é a minha maneira de contar e perceber em um conto aparentemente simples uma grande reflexão: dar e receber presente é algo maravilhoso, mas somos presentes na vida das pessoas?

Forte abraço e Feliz Natal!

Até a próxima.

É AQUI, É AQUI!

Por Leandro Bertoldo Silva

Essa semana, no dia 12 de dezembro, Belo Horizonte completou 126 anos. É a cidade que me viu nascer. Foi onde eu cresci, estudei, fiz meus melhores amigos, os quais até hoje fazem parte da minha vida; como o moço aí da foto – Pierre André – representando Aarão Reis, o construtor da então Cidade de Minas.

Pierre é um irmão, parceiro das artes e colecionamos juntos muitas vivências para contar. Reis – sim, conquistei essa intimidade de chama-lo assim, foi outro grande amigo que fiz, e juntamente com Xavier de Novais, o segurança de uma livraria, me permitiu escrever em uma deliciosa ficção histórica a história dessa cidade permeada de lendas e fantasmas.

A propósito, é sobre um deles que passo a contar agora, revelando, inclusive, sua origem. Isso pouca gente sabe!

Antes preciso dizer que o caso não é meu… Ele me foi contado por Xavier de Novais que o ouviu de Aarão Reis. Por isso, aos historiadores que se sentirem incomodados, dou-lhes uma sugestão: tão logo tenham suas existências mudadas de patamar, solicitem uma audiência com meu amigo Reis e cobre dele o que aqui vai narrado…

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Voltamos em 1897. Prestes a ser inaugurada, ainda faltava em Belo Horizonte aquele mal necessário… Aliás, não exatamente um mal, mas uma necessidade triste… A cidade precisava de um cemitério. É verdade que Belo Horizonte foi construída a partir de algumas desapropriações e que deixaram muitos moradores, após a passagem para o outro mundo, vagando a ermo pelas ruas da cidade e, por que não dizer, assustando os transeuntes. Sobre isso falarei no cabo deste relato. Por ora, digo que a Loira do Bonfim não é uma dessas assombrações, até porque, ela não fazia parte do rol dos fantasmas pioneiros da cidade, embora sua fama tenha ultrapassado muitos deles. Onde estaria, então, a ligação entre tudo isso? Nele: a razão de ser da loira e de tantos outros que ali fizeram morada, dos mais simples e humildes aos mais abastados e importantes, como Raul Soares, Olegário Maciel e até mesmo o beato holandês Padre Eustáquio. Estou me referindo ao próprio campo-santo, cujo nome traz em seu trocadilho a alcunha perfeita, se não para a sua existência, ao menos para o que vai adiante.

O Bonfim fora planejado para ser o primeiro cemitério da história da então nova capital. E como tudo na época não economizava despesas, artistas italianos recém-chegados a Belo Horizonte no fim do século XIX e início do XX foram convidados a assinarem verdadeiras esculturas artísticas sob os túmulos e mausoléus. Muitas dessas esculturas até hoje estão no local, fazendo com que o cemitério do Bonfim se tornasse um museu a céu aberto e um dos mais impressionantes do país. Difícil é encontrar quem tenha coragem de admirar tais obras, ainda mais a noite…

Bem, como eu disse, o Bonfim fora planejado para ser o primeiro cemitério da cidade. Acontece que não foi. Outra necrópole já existia na nova capital antes dessa. E a razão era lógica: muitos operários, assim como seus parentes, morreram ao longo da construção de Belo Horizonte. Onde os corpos foram enterrados? Oh, meus amigos… Há quem se lembre, já em tempos um pouco mais modernos, daquela noite de chuva torrencial. Foi tanta água, mas tanta, que crânios rolaram pelas ruas do centro da capital, passando pela avenida Afonso Pena e chegaram ao Parque Municipal, causando espanto e pânico nos moradores, na manhã do dia seguinte. A razão de macabro acontecimento? É que o local onde foram enterrados cerca de duzentos corpos ocupou o quarteirão que hoje é circundado pela avenida Amazonas e ruas São Paulo, Tupis e Rio de Janeiro. O lugar, obviamente, não existe mais. Foi ocupado por edifícios e não entrou para a história com a mesma importância do “irmão famoso”, ficando relegado ao esquecimento, pelo menos até agora. Essa história é fundamental para entender o que, na verdade, é a razão deste relato: a origem da loira misteriosa. E tudo começou naquele fim de tarde de 1895, dois anos antes da inauguração da cidade…

“Senhores, temos um problema” — sentenciou um dos homens da Comissão Construtora da Nova Capital. A reunião havia sido marcada com urgência após o trágico acidente que vitimou  um dos operários que trabalhavam sem nenhuma proteção e cuidados especiais, o que era comum naquela época. O infeliz moço caiu em uma vala, bateu com a cabeça e entrou para a história anônima como o primeiro dos duzentos mortos daquela ação em prol da modernidade. Cabe dizer que o “problema” não foi a morte do homem e muito menos da família que choraria sua ausência. Antes fora algo muito mais sério… O cemitério ainda não estava pronto e, mesmo que estivesse, haveria de ser inaugurado com figura ilustre, que fizesse jus ao alto investimento dos artistas italianos. Não seria um operário a ser plantado em hora errada. Não ficaria bem aos olhos do alto escalão e de suas famílias.

— Onde foi a queda?

— Na transversal sul, a duzentos metros da principal.

— Mais essa! Arre!

— Sugiro, senhores, calma e equilíbrio. O planejamento do Bonfim não pode ser alterado e o fato requer medidas diplomáticas.

— Diplomáticas? É um operário!

— Acalme-se. Ele tem razão. Não queremos grandes alterações, creio. Nem tampouco levantar chateações desnecessárias para com os operários e seus familiares… Já está em uma vala, certo? Que fique por lá com honras de condolências, para imprimir aos demais e aos seus nosso devido respeito. 

— Exatamente! Um gesto apenas, para uma eternidade de bons motivos de gratidão.

— Mais claro impossível! — disseram, e após acertarem os detalhes do funeral, a reunião foi encerrada.

No dia seguinte, às cinco horas da tarde, o local improvisado foi cercado, sem grandes pompas para que ficasse assim mesmo, sem importância. Afinal, as coisas sem importância são logo esquecidas. Determinou-se que ali seria onde os operários mortos e seus familiares seriam sepultados, mas que os ricos estavam proibidos de morrer, se é que me entendem… Estes esperarão por campos mais santos — o primeiro. Até lá, flores e palavras bonitas eram suficientes para aquela gente que inaugurava o primeiro desenlace da auspiciosa construção. 

Passemos adiante, mas não sem mencionar que a viúva do infeliz estava grávida, e veio dar à luz a uma menina branca como o leite que, ao crescer, tornara-se uma mulher linda, com olhos e cabelos claros, mas doente e triste. Morreu jovem, vindo a ser sepultada não na mesma cova rasa de seus pais, que já não existia, mas no emblemático Bonfim. Isso mesmo que deve ter pensado, queridos amigos… A mulher linda e triste era ela, ou melhor, é ela: a Loira do Bonfim, ou, ainda, Aurora.

Esse era seu nome, que se contrapunha à insistência de seu destino. Como dito, Aurora era linda, mas triste. Por ironia não inexplicável, nascera para a morte. Embora sua beleza a colocasse em patamares superiores a sua gente, sua ascensão social nunca era permitida, não pelas pessoas, mas antes por acontecimentos quase inacreditáveis. O amor sempre fora impossível na sua vida, apesar de todo poder sedutor que sempre manteve, mesmo depois de seu nome cair no esquecimento ao se tornar a tão assustadora aparição dos motorneiros. 

A propósito, para que saibam os amigos, não é por acaso que a loira sempre fora ligada aos veículos. Eles vitimaram seus namorados, todos eles filhos de autoridades da época, explicando, assim, seus insucessos em ascender, ainda viva, às classes privilegiadas. Cada namorado, um desastre. E não demorou muito para que Aurora sofresse uma sequência terrível de rejeições por moços que seguiam o conselho da mãe; “que se cuidem certos homens”, elas diziam.

Um dos acidentes, talvez o pior deles, aconteceu no segundo semestre de 1915. A Capital ainda era pequena, com pouco mais de quarenta e cinco mil habitantes. Em um domingo de outubro, um jovem de vinte anos, então namorado de Aurora, foi vítima de um grande desastre. Na volta de uma romaria cívica em Caeté, o infeliz rapaz se curvou para fora do vagão em que estava sentado, possivelmente para ver alguém conhecido, no exato momento em que o trem passou pela caixa d’água da ferrovia. Ele literalmente perdeu a cabeça, mas dessa vez, não por Aurora, se é que me entende.

Outros infortúnios se sucederam, mas para o relato não descambar para o grifo do sensacionalismo, tão querido por alguns programas jornalísticos da modernidade, fiquemos por aqui, no entanto, sem deixar de dizer que a essa altura o Bonfim já recebia os seus moradores eternos, sendo um deles, ou melhor, uma delas, a própria Aurora. Ainda que não fosse da estirpe senhorial, ela ganhou por condolência o direito de ser ali sepultada, tornando-se, já naquele tempo, a Loira do Bonfim.

Mal sabiam as autoridades que esse apelido faria história e que essa história ultrapassaria os tempos. E mais do que isso: o fato de darem a ela a comiseração de ser enterrada no segundo cemitério da cidade tido como o primeiro, fez com que Aurora assumisse, já na condição de fantasma, uma espécie de cargo advocatício daquelas duzentas almas de outrora.

Posso novamente até ver as caras de espanto ao lerem este relato… Mas na verdade, meus amigos, Aurora se apropriou de sua nova alcunha para vingar o descaso e o preconceito sofridos pelos seus ao serem sepultados em um cemitério esquecido. E para mostrar sua indignação, escolheu somente os homens como forma de protesto, passando a fazer o que todos já sabem, ou seja, pedir antes aos motorneiros, depois aos taxistas, para a levarem até os portões do Bonfim e os deixarem apavorados ao adentrar o cemitério desaparecendo, mas não antes sem dizer por duas vezes a sentença que por anos pensaram ser indicação do lugar para onde queria ir. Mas o que nunca se soube — pelo menos não até agora — é que na verdade a loira Aurora estava, e está, indicando outra coisa. Sua intenção sempre foi mostrar o local onde corpos de duzentas almas construtoras da cidade deveriam estar enterrados.

Por isso, se você é mulher ou homem sensível e romântico, nada tem a temer. Mas se você é daqueles machistas, patriarcais, é bom se cuidar. Isso se não quiser, como aconteceu com uma das vítimas da loira, enlouquecer, ser internado e passar todo o resto da vida repetindo sem parar: “é aqui, é aqui!”.

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Obrigado por me acompanhar e ler essa história. Sou grato por isso. Fica aqui a minha homenagem a Belo Horizonte, essa cidade tão amada e o meu agradecimento aos primeiros moradores do antigo arraial do Curral del Rey, aos operários que construíram anonimamente a nova capital e aos fantasmas que povoaram e povoam essa cidade.

Essa e outras histórias você encontra no livro Histórias de um certo Aarão e outros casos contados – das histórias e lendas de Belo Horizonte recontadas por um segurança que recebia, em seu serviço, a visita ilustre do fantasma de Aarão Reis.

Se gostou e quiser adquirir o livro, é só clicar AQUI e fazer o seu pedido. Aproveite que essa semana está em promoção de aniversário até dia 31 de dezembro! 🙂

Forte abraço!

Até a próxima.

MINHA INFÂNCIA

Por Maria de Almeida
Integrante da Vivência Novos Autores

Quando eu era criança

Pequena lá em Guiricema,

Brincadeira não faltava

Pique, queimada e gangorra

Histórias que Dona Hermínia contava.

.

Pegava capa de coco

Pra escorregar morro a baixo

Tomava banho de bica

E nadava no riacho.

.

Meu pai sempre contava história

Aprendida ou inventada

Guardei elas comigo

E hoje conto pras criançadas.

.

Nossa mangueira exuberante

Dava manga sem parar

Onde brincava, escondia e conversava

E tinha gangorra pra balançar.

.

No casamento da minha prima

Teve uma grande festança

Eu contei muitas histórias

Pros moços, pras moças e pras crianças.

.

Não posso esquecer

Da semana das crianças

Merenda gostosa, presentes e brincadeiras

Tinha passeios e muitas danças.

.

Notícias, músicas e telenovelas

Era no rádio que ouvia

Cantava e decorava

E nunca mais esquecia.

(O meu amado)

.

Quando já era mocinha

Fui pro internato estudar

Foi onde aprendi muitas coisas

Mas não podia namorar.

.

Para progredir na vida

muita gente lá deixou

Veio para cidade grande

Pros filhos ser doutor.

E poder estudar,

As pessoas venderam os terrenos

E saíram de lá.

.

Espalharam Brasil afora

Em um monte de lugar,

Com o coração cheio de vontade

De um dia pra lá voltar.

.

A internet é coisa boa

Que veio pra nos ajudar

Foi por meio dela

Que ajuntou as pessoas de lá.

.

Uma ideia brilhante

Que meu irmão deixou brilhar

Fez no facebook um grupo,

Dos amigos ex-moradores de lá.

.

Muita gente gostou

E é uma grande emoção

O encontro dos amigos

Relembrando as histórias

Que trazem no coração.

.

Por isso vou te dizer

Se tem algo importante

É essa tal de infância,

Pois gente grande que sou

Nunca deixo de ser criança.

O MENINO É PAI DO HOMEM

Por Leandro Bertoldo Silva

Obrigado por me acompanhar e ler este texto. Sou grato por isso.

Já passaram 3 meses que meti-me na cabeça, como Brás Cubas, uma ideia fixa: a de reescrever em versos o célebre romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, utilizando para isso, o haicai e suas técnicas de métricas gramaticais e poéticas.

Assim como a obra original foi escrita no século XIX em folhetim — uma pequena publicação geralmente com caráter periódico, onde se liam as novidades do mundo cultural, críticas teatrais e os mais novos capítulos dos romances, tornando conhecidos escritores como Victor Hugo, Dostoiévski, Flaubert e, claro, o nosso Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis —, essas memórias póstumas em haicais estão sendo escritas semanalmente e publicadas no You Tube; uma espécie de folhetim dos tempos modernos…

Evidentemente que há nesse exercício e esforço literário objetivos maiores, mas não nos apressemos. Por hora, publico aqui o que é o capítulo 11 do romance, onde Brás Cubas inicia sua descrição contando-nos sua infância e onde, também, percebemos toda a fina e inteligente ironia do Bruxo do Cosme Velho.

Os capítulos lá se vão a caminho, mas deixo este aqui e no final disponibilizo o vídeo do You Tube seguido de um convite.

Boa leitura.

O MENINO É PAI DO HOMEM

Aqui estamos!
Cresci naturalmente
como as magnólias.

Talvez os gatos…
Aquelas são bem quietas.
Ora, vejamos:

Desde os cinco anos
fui “menino diabo”.
Não era outra coisa.

Fui indiscreto,
traquinas e arguto.
Bem voluntarioso.

Um dia quebrei
a cabeça de uma escrava.
Motivo? Um doce.

Sim, isso mesmo!
Negara-me uma colher.
Doce de coco.

E não foi só isso.
Ainda acrescentei
mentiras à mãe.

Tudo por pirraça!
E eu tinha só seis anos…
Fui pai do homem.

Ah, o Prudêncio…
Um moleque de casa
era o meu cavalo.

Punha as mãos no chão,
recebia um cordel
como um freio.

Com uma vara
eu trepava-lhe ao dorso
e ele obedecia.

Gemia: “Ai, nonhô!”
“Cala a boca, besta!”
Assim respondia.

Esconder chapéus,
deitar rabo às pessoas,
tudo eu fazia.

Muitas façanhas,
mostras de um gênio indócil
repreendido.

À vista dos outros…
Mas meu pai em particular
dava-me beijos.

De manhã e de noite
pedia a Deus perdão
como na oração.

Mas entre um e outro
fazia grande maldade.
E meu pai sorria.

Exclamava a rir:
“Ah! brejeiro! Ah! brejeiro!”
Adorava-me.

Minha mãe era luz.
Piedosa e caseira,
mas bem bonita.

Temente ao marido,
era ele o seu deus.
Dos dois me eduquei.

Meu tio cônego
reparava o irmão
quanto aos meus costumes.

Mas, ah, o meu pai…
Iludia-se a si próprio
ao defender-me.

Esses são os pais;
vejamos então os tios
João e cônego.

João era galante,
conversa picaresca…
Era o diabo.

Tio cônego
tinha austeridade,
mas era medíocre.

Ambicioso,
tinha algumas virtudes,
mas sem essências.

Emerenciana…
Era a tia materna.
Tinha autoridade.

Mas viveu pouco
em nossa companhia.
Uns dois anos só.

Outros parentes
não merecem a pena
de ser citados.

Vulgaridade,
amor de aparências,
frouxidão e vontade.

Foi dessa terra
e mais desse estrume
que nasceu esta flor.

Bem, aí está! E aqui vai o convite para acompanhar semanalmente, às sextas-feiras, capítulo por capítulo os 160 que compõem essa grandiosa obra de Machado de Assis.

Sim! Lês-te bem! 160 capítulos reescritos em versos. É ou não é uma ideia fixa?

Forte abraço!

Até a próxima.

O ABRAÇO CHEGOU

Por Leandro Bertoldo Silva e Ricardo Albino

Sabe aquelas amizades que parecem existir de anos ou mesmo de vidas?

Explico!

Eu e Ricardo Albino, nosso querido Ric, fomos apresentados por outro amigo em comum (e coloca amigo nisso), Pierre André. Conheci Ricardo em uma oficina de contação de histórias e mediação de leitura que eu e o Pierre ministramos, e nos conhecemos já adultos.

Porém, algo estranho acontecia, porque fomos descobrindo, eu e o Ric, momentos de criança em comum. Não apenas brincávamos com os mesmos brinquedos, como construíamos as mesmas cenas com eles. Assim foi com o autorama e principalmente com o jogo de botão, em que jogávamos sozinhos, mas sem deixar de fazer o barulho da torcida, confeccionar bandeiras dos clubes, elaborar todo o campeonato.

O mesmo se estendeu aos programas que assistíamos, como o Sítio do Picapau Amarelo e outros. Enfim, eu não tenho dúvidas de que eu e Ric já nos conhecíamos desde meninos e brincamos muito juntos, só não havíamos dado conta disso, pelo menos até então.

O mais engraçado é que essa amizade cresceu virtualmente até que aconteceu o primeiro abraço real recentemente, uma vez que eu moro hoje em Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, e ele em Belo Horizonte. Porém, em uma ida minha a BH, deixo o Ric dizer como foi…

Depois de muito tempo morando em outra casa, finalmente o abraço do Ric com o Leandro chegou ! Foram dois livros, um stand ops, uma Turma do Golaço, parceria musical, um ano de calmaria e alguns outros desde que nascemos, imaginando como seria esse dia.

Se a gente voltasse a ser criança estaria junto até agora jogando botão, correndo no autorama, assistindo o Sítio do Picapau Amarelo na televisão.

Quem sabe até com seu pó de Pirlimpimpim, a gente não fazia a seleção de 1982 voltar a jogar bola e ganhar um canequinho?

Vamos jogar tapão, fazer teatro na casa do vizinho? O nosso abraço tão esperado veio acompanhado do de Geane, esposa do Lelê, e agora eu fico aqui imaginando como será o de yasmin, sua filha.

O nosso abraço que chegou dobrado e multiplicado em forma de calmaria vai voar nos palcos ao som de cantoria.

Quando isso acontecer, sorria! Afinal, estaremos juntos todo santo dia, com o coração cheio de amor e alegria.

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Pois é, fica assim registrado esse momento. Ao Ric deixo minha gratidão por essa amizade tão bonita e real. Ainda faremos muita parceria por aí. E a todos deixo um abraço e a certeza de que ter amigos vale a pena…

Forte abraço!

Até a próxima.