USAR A POESIA COMO FOCO DE MEDITAÇÃO? SIM, É POSSÍVEL!

Por Leandro Bertoldo Silva

Você já parou para pensar na delicadeza de uma poesia, no valor dos seus versos, na cadência do seu ritmo?

Se você é um leitor ou leitora sensível, apreciador ou apreciadora da arte e do belo, tenho certeza da sua resposta positiva.

Mas…

Sabia ser possível ir além do puramente estético ou artístico e se alinhar com algo mais sensitivo capaz de transformar a sua realidade e, consequentemente, o seu bem-estar e até a sua saúde e os seus relacionamentos? Uma maneira de ir além das palavras e conectar com a sua essência?

Pois então continue a ler este texto para conhecer uma forma diferente de se envolver com a poesia. Como? Absorvendo-a como prática meditativa.

Mas antes é preciso dizer uma coisa!

Sim, eu uso a meditação já há alguns anos em tudo que eu faço. Antes mesmo de ler ou de escrever uma história, antes de costurar um livro ou caderno ou mesmo iniciar uma aula com os meus alunos, seja presencial ou online, eu sempre reservo alguns minutos para me preparar e focar emocionalmente naquela tarefa a ser realizada.

Quem é ou já foi aluno ou aluna da Árvore das Letras sabe bem disso. É comum iniciamos os nossos encontros com a prática da meditação e do relaxamento, sejam adultos ou crianças.

Como eu disse, já vinha com essa prática há algum tempo, mas foi em um congresso de educação onde isso se fortaleceu em mim e passou a fazer parte integralmente do meu costume e a se tornar não mais algo feito de vez em quando, mas um hábito.

Na ocasião, assisti a uma palestra de um professor japonês — não por acaso — onde o mesmo relatava o fato de utilizar os primeiros instantes das aulas para meditar com os seus alunos. Era questão de cinco minutos em que todos ficavam em completo silêncio, às vezes com uma música suave de fundo, agindo como um foco de atenção — falarei sobre isso em instantes… Segundo o professor, tal exercício influenciava diretamente o comportamento dos alunos, tornando-os mais sociáveis e sensíveis ao se relacionarem uns com os outros, com significativa redução da ansiedade, stress e de qualquer comportamento violento e de conflito, aumentando a concentração, além da melhora significativa do aprendizado e das notas escolares.

Hoje, muitas escolas fazem uso dessa prática, mas o número poderia ser bem maior. Não tenho dúvidas do tamanho do benefício a ser alcançado, principalmente ao se tratar de questões como a redução da violência, tanto em relação aos próprios alunos, como em relação também aos professores.

Mas onde está a poesia?

Calma, chegaremos lá. Para isso é preciso entender primeiro o que é meditação. Embora na verdade isso seja um equívoco, porque meditação não se explica; meditação se pratica. Qualquer tentativa nesse sentido é em vão. Mas como somos ávidos por conceitos, fui atrás de uma salvação. De tantas buscas feitas, encontrei para mim o mais adequado e satisfatório e espero ser para você também.

Estava nessa busca quando, em uma livraria, meus dedos ao percorrerem uma fileira de livros em uma estante se depararam com o título: “O Melhor Guia para a Meditação”, de Victor N. Davich, um livro perfeito para quem quer reduzir o stress, para quem já pratica a meditação e quer aprender novas técnicas, ou para quem está só curioso.

Curioso… Peguei o livro e, ao folheá-lo, lá estava: “Meditação é a arte de se abrir a cada momento com consciência calma”.

Caramba! É isso!

Bem, não falarei do como o livro me foi e é útil até hoje, e lá se vão mais de 20 anos…

Tampouco do como ele desmitifica a meditação como algo transcendental e a coloca bem ao alcance de nossas mãos como pratica normal do dia a dia.

O importante é dizer sobre o foco de meditação. Lembra-se da música suave dita acima? Pois é, segundo o autor, a ideia de “parar de pensar” atribuída à meditação é algo totalmente impossível (ufa! Ainda bem!). O melhor é abrandar os pensamentos, acolhê-los, mas não retê-los. Em outras palavras, ter consciência deles e deixá-los ir. Ele faz, inclusive, alusão àquelas portas de vaivém dos filmes de Bang Bang, isto é, os pensamentos vêm e vão, assim como a nossa respiração. Quanto mais focar sua atenção em uma única coisa, mais evitará a enxurrada de pensamentos e, consequentemente, relaxamos e nos abrimos a cada momento com consciência calma. Viva! Meditamos!

E é aqui que entra a poesia. Ainda não percebeu?

Vejamos! Se precisamos focar em algo para abrandar os nossos pensamentos, esse algo pode ser o som de um instrumento específico de uma música, assim como pode ser simplesmente a nossa respiração, ou mesmo a chama de uma vela ou um pontinho preto na parede. Se pode ser tudo isso, e sim, pode, por que não a poesia?

Ora, calma lá! Não estou dizendo das palavras, mas o que está além delas, ou seja, a sensação, ou, melhor dizendo, a sua essência.

Obviamente, toda poesia nos proporciona isso. Defendo, a respeito da poesia, em ser ela o próprio Eu e uma forma de autoconhecimento. E muitas vezes esse autoconhecimento vem a partir da apreciação da natureza, seja interna ou externa, como as árvores, os pássaros, o vento, os sons, as flores e estrelas. Passar um tempo em total conexão com esses elementos simples do dia a dia nos faz sentir o momento de um instante.

Como eu disse, toda poesia nos proporciona essas sensações, mas há uma específica que nos mantém totalmente imersos nesses sentimentos: o haicai. Já falei dele aqui neste blog, mas o menciono novamente não apenas pela sua simplicidade, mas por ser a própria expressão do autoconhecimento, uma vez ser ele a representação do agora, do momento, do instante.

E o que é tudo isso senão a prática meditativa? O abrir-se a cada momento com consciência calma?

Sim, mostrarei uma forma de usar a poesia — especificamente o haicai — como forma de meditar.

Para isso, é preciso enxergar os poemas de uma forma dinâmica e sensitiva, cuja leitura proporciona  conhecimentos de si mesmo.

Ler os poemas é um mergulho que você leva para a sua vida no dia a dia, passando por três etapas: pela leitura, não para aumentar conhecimento, mas para encontrar você mesmo na palavra; pela entrega, deixando a palavra cair no coração, aceitando-a simplesmente; gestação, que, através da entrega, faz com que a palavra germine e frutifique; e por último a contemplação, para não mais raciocinar a palavra, mas vivê-la no silêncio.

Sendo assim, vamos a um passo a passo bem simples, mas eficiente, de como você pode usar a poesia do haicai para meditar.

Primeiramente, selecione alguns haicais que já proporcionam tudo isso através da sua simplicidade. Você pode pesquisá-los na internet e copiá-los em papéis separados, ou mesmo tê-los em um livro específico.

Em seguida, abra aleatoriamente uma página do livro. Leia e desfrute cada palavra de um dos poemas, procedendo aos passos descritos: Leitura – Entrega – Gestação – Contemplação. Volte às outras páginas após se sentir satisfeito ou satisfeita com a sua reflexão e escolha outro haicai.

Uma sugestão é escolher um haicai por dia para meditar, seguindo os passos descritos. O importante é não ter pressa e abrir-se para as possibilidades…

Viva! Você acaba de meditar.

Deixarei aqui na sequência duas sugestões: uma para quem deseja ter um livro inspirador e preparado exatamente para essa prática de leitura meditativa. Refiro-me ao meu livro Relicário Pessoal – haicais, um livro com 51 haicais distribuídos em 3 partes temáticas — Tempos e esperas, Flores e cores e Vida e contemplação —, cada qual representando um verso do poema. O livro conta ainda com 17 ilustrações em fotos autorais transformadas em desenho ao estilo grafite, obedecendo a seguinte ordem: 5 ilustrações na primeira parte, 7 ilustrações na segunda parte e novamente 5 ilustrações na terceira parte, sendo 1 a cada 3 haicais, o que totaliza exatamente o mesmo número de sílabas dos poemas.

Você pode adquirir o livro diretamente comigo no WhatsApp (33)98462-7055.

A segunda sugestão é para quem deseja se aventurar na escrita dos seus próprios haicais e meditar a partir deles. Para isso, tenho o E-book Haicai A Arte da Poesia – um guia passo a passo. Nele você irá encontrar, a partir de uma pequena história, o que é o haicai, a sua relação com as estações do ano e com nós mesmos, as métricas gramaticais e poéticas e, principalmente, informações para se aventurar em suas primeiras escritas e aprimorar as existentes de forma leve e com ilustrações que inspiram o fazer poético.

Você pode adquirir o E-book AQUI.

Mas ainda não acabou!

Existe uma história bem conhecida de um poeta que estava a andar na praia e a jogar estrelas do mar de volta na água. A praia estava lotada delas. Ao ser perguntado por que fazia aquilo, ele respondeu que era para salvá-las. Como a praia tinha centenas e centenas de estrelas, a pessoa disse que aquele era um trabalho inútil, pois não ia conseguir salvar todas. O poeta então se abaixou, pegou uma das estrelas do mar, a jogou de volta na água e então disse: “para essa eu fiz a diferença”.

Por que conto essa história?

Porque você pode fazer parte do Grupo Haicai a arte da poesia no WhatsApp. Neste grupo temos o desafio do 1 haicai por dia. Se todas as pessoas do mundo, e são bilhões e bilhões, escrevessem, lessem e trocassem uma poesia todos os dias, acredito que resolveríamos o conflito entre os povos. A poesia tem esse potencial pelo contato com o belo, com a harmonia da vida, porque é comprovado até pela física quântica que onde colocamos nossa atenção atraímos mais disso para nós.

Assim, no grupo, todos os dias, sem falhar um só que seja, inclusive sábados, domingos e feriados, cada pessoa que desejar pode postar 1 haicai, só um já é o suficiente. Quem ainda não os escrevem podem recebê-los como presente. O grupo conta ainda com outras ações sempre optativas como encontros de haicai esporadicamente. Todas as ações são gratuitas, porém há uma condição: a entrada no grupo é mediante a aquisição do E-book. O valor é muito acessível e é uma forma de manter o trabalho, disponibilizar o tempo, organizar os encontros quando tiver e o que mais for preciso. O link já está disponível, e caso seja do seu interesse ficarei muito feliz com a sua presença.

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Bem, espero que tenha gostado e desejo maravilhosos momentos de meditação a partir da arte da poesia.

Um forte abraço.
Até a próxima.

BANALIDADES TRIDIMENSIONAIS

Por Patrícia Vaucher*

Chegavam animadas todas as terças-feiras ao atelier. Seria mais uma tarde de produção artística regada a conversas e desabafos. Já sabia cada detalhe dos conflitos familiares, desconfianças, angústias, queixas e mais queixas.

Isso sem contar as confidências, histórias secretas compartilhadas sigilosamente, inflamáveis. Poderiam implodir casamentos caso fossem divulgadas.

Aqueles celulares que não paravam de notificar, a tarde inteira, fofocas, solicitações dos maridos, demandas dos filhos, brigas entre vizinhos. Deixavam-me frustrada. E quando vinham com seus ipads, então! Sentia-me fracassada!

O processo criativo exige mergulho dentro de si. É uma conversa íntima que necessita tempo e espaço para acontecer.

Esse retiro interior é o local de recolhimento das imagens que compõem o mais secreto do nosso viver. É onde nascem as formas das emoções. E sim, elas querem vir ao mundo. Aliás, elas precisam vir para dar voz às dores que muitas vezes ficam abafadas, encolhidinhas num cantinho desse espaço tão escuro e assustador.

Nada disso acontecia. Nasciam figuras pré-moldadas de um imaginário social pobre e repetitivo. Silhuetas previsíveis. Objetos utilitários.

E a alma continuava ali, invisível, ignorada e esmagada por transtornos diários da vida ordinária de um feminino enfraquecido.

Aquela sombria luz prevalecia. Ficava acesa durante a aula exibindo suas cores radiantes e formas sedutoras que saltavam das telas e se transformavam, ficando tridimensionais e imortalizadas na argila.

No final do dia, a pobre alma desincorporada mais uma vez voltava pra casa, oculta, incógnita, inexplorada. Perdia mais uma vez a oportunidade de se mostrar ao mundo e revelar segredos que poderiam acalmar os corações explosivos daquelas mulheres.

Acessar conteúdos interiores exige coragem, determinação e até um pouco de maturidade. Isso não se faz com a ponta dos dedos.

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Patrícia Vaucher é Bacharel em Administração de Empresas, pós graduada em Arteterapia e  em  Psicologia Analítica. Facilitadora de Soulcollage. Trabalhou com cerâmica artística por mais de vinte anos em atelier próprio.  Conduz grupos de mulheres através do trabalho terapêutico com argila e Soulcollage. Pesquisa o Feminino na individuação e sua influência no processo de ampliação da consciência..

Patrícia é integrante da Turma Lygia Fagundes Telles, da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

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Forte abraço!
Até a próxima.