A MOÇA FANTASMA

Por Leandro Bertoldo Silva

Há muitos anos existia uma mulher tão linda que fazia estremecer de inveja as ricas filhas dos homens mais ricos da recém-fundada Belo Horizonte. Eu disse “filhas”? Não somente elas, mas as mães também. Estamos no ano 1899, mais precisamente no dia 1º de janeiro, na inauguração de uma das entidades recreativas mais auspiciosas da nova capital — o clube Rose, no Palácio da Liberdade, sob os cuidados de D. Ester Brandão, nada menos do que a primeira dama do Estado e, portanto, a esposa do presidente Silviano Brandão. Que festa! Belo Horizonte acabava de completar o primeiro aniversário.

A causadora de tanta inveja chamava-se Magnólia, outros a conheciam Jasmine, pela semelhança alva que possuía. De qualquer forma era mesmo uma flor cândida e pura. Não me alongarei na descrição da adorável criatura, basta saber que sua beleza cegava os homens de tal maneira que não importava serem casados. Eram atraídos como ímãs e perdiam a noção do espaço e do tempo, o que causava óbvios constrangimentos às senhoras. Na festa, até mesmo as melhores artistas de então, justamente por serem mulheres, ficavam incomodadas em perder a majestade da presença. Ora, o que valia a “Serenata”, de Schubert, até mesmo “Fantasie-Impromptu”, de Chopin ou “Dance des Sylphes”, de Berlioz tão bem executadas pelas artistas? Nada disso apagava o brilho de Magnólia (ou Jasmine).

Vale lembrar que a capital, com pouco mais de um ano, tinha uma população ainda muito escassa, aumentando sobremaneira a fama de Jasmine (ou magnólia), e o ciúme das senhoras, filhas e artistas da cidade já estavam à flor da pele. Então concluíram: Era preciso que a moça se mudasse dali, ou qualquer outra coisa que lhe fizesse desaparecer. Porém, demitir a moça de seus serviços domésticos e festivos não diminuiria sua atração ao passear pelas ruas. Fazia-se necessária uma atitude mais drástica como o caso exigia. Calma lá! Nada de violência… Isso não fazia o feitio das senhoras, donzelas e moças casadoiras da sociedade que se iniciava na capital mineira. Mas uma coisa seria a vingança perfeita: ela que cegava os homens com a sua beleza incutindo-lhes desejos e, por isso mesmo, poderia ter o namorado, noivo e esposo que quisesse, ficaria impedida de amar quem quer que fosse. Mas como? 

Bem, como dito, a população era pequena e qualquer coisa que se fizesse ficaria logo à vista de todos. Era preciso uma ocasião propícia. E ela veio: O carnaval!

Nos primeiros anos do século passado, essa festa era uma das principais realizações de rua da cidade, em que um préstito com pomposos carros de tração animal, ricamente decorados, desfilavam pelas ruas centrais da cidade, para alegria das famílias que faziam verdadeiras batalhas de confetes e atiravam das janelas das casas flores e serpentinas. Era uma grande festa, ideal para o intento de um grupo de senhoras que necessitavam que todos, principalmente os maridos, estivessem entretidos com o alarido. Nesse dia, o cortejo partiu do barracão do Congresso. Essa casa legislativa situava-se entre a rua da Bahia e a rua Tupis e a avenida Afonso Pena. O barracão referido ficava nos fundos desse prédio, lugar perfeito para atrair a moça sem riscos de serem vistas tão logo a festa ia adiante. Uma das senhoras, com a desculpa de pedir Jasmine para ir ao barracão buscar mais serpentinas, providenciou que as outras já estivessem lá quando da chegada da moça. Foi a última vez que Jasmine ou Magnólia, seja como for, fora vista, para o lamento dos homens e felicidade das mulheres… 

A moça, mantida presa nesse barracão, fora transferida na quarta-feira de cinzas para um outro cárcere ao pé da Serra do Curral, de onde só saía a noite, sem mais ter o direito de ver a luz do dia. Inocente e obediente — e não se sabe por qual razão — voltava sempre antes dos primeiros raios da manhã, de forma que toda a sua formosura foi se misturando com o negrume da noite até que a morte veio selar seu destino: tornou-se aquela que, por falta de amar e sendo filha da solidão, descia em branco desespero as mediações do bairro dos Funcionários, pois fora ela uma funcionária obediente e infeliz, a recolher os amores nascidos na iminência de se separarem para nunca mais se encontrarem. Era mesmo, como disse Carlos Drummond de Andrade: “um vapor que dissolve quando o sol rompe na Serra”.

É por isso que até hoje quem passa pelo bairro dos Funcionários em madrugadas sem neblina sente, vindo do sopé da Serra, o rastro frágil e hesitante da Moça Fantasma em um aroma característico de dama-da-noite, às vezes jasmim outras vezes magnólia, a perfumar os amores perdidos…

________________________

Pois é… Arthur Azevedo, durante sua viagem a Minas Gerais, por volta de 1902, já dizia: “Ao lado do brilho, os detritos. As ruínas de uma dúzia de velhos bairros se amontoavam no chão. Para onde iria toda essa gente?” E assim, Belo Horizonte é conhecida como a capital dos fantasmas: o Avantesma da Lagoinha, a Loira do Bonfim, Maria Papuda e tantos outros; inclusive, a Moça Fantasma que trago aqui nessa história a fazer parte do meu livro “Histórias de um certo Aarão e outros casos contados – das histórias e lendas de Belo Horizonte recontadas por um segurança que recebia, em seu serviço, a visita ilustre do fantasma de Aarão Reis”, com um tantinho assim de que quem conta um conto aumenta um ponto…. A propósito, você já viu ou conhece alguém que tenha visto algum deles? Eita… Diz aí!

Forte abraço!

Até a próxima.

OUTONO DE CHOPIN

Por Cecília Andrés Caram

Gostaria de plainar acima dessas folhas outonais, em vez de craquela-las com meus passos.

Cobrem toda a terra e não me deixam brechas entre elas.

Vou devagar e longe de meus 9 amigos, entretidos com selfies, no parque da casa onde nasceu Chopin.

Tarde gelada e vento que desnuda as castanheiras. Pingos finos como fios de seda vindos enviesados das escuras nuvens não me incomodam.

As folhas são tapetes no solo polonês de Zelazowa Wola, vilarejo com 65 habitantes, perto de Varsóvia.

Apanho uma… outra… depois outra. Sinto o aroma úmido segurando algumas, as mais inteiras. Têm a mesma forma dos maples, que sempre me causam espanto e fascinação.

Entregue ao momento, começo a escutar músicas advindas das árvores.  Caminho e o som me acompanha. Demoro a assimilar o que mais me parece ser um passe de mágica: TODAS elas tocam Chopin.

Já não distingo se escuto sonata, polca ou réquiem…

Não importa. Agora predomina meu lado direito do cérebro: pura sensibilidade. Como a dele, que dizia não saber exprimir sua intimidade de outra maneira.

Vislumbro ao fundo a casinha pequena e clara, que abre as portas para nós, tão somente.

Atravesso uma ponte, prossigo. Quero deitar nas folhas, meditar. Mas urge o tempo.

Já na porta de entrada perco o fôlego ao me deparar com o último piano tocado por Chopin em sua maestria, especialmente com a mão esquerda, tendo composto desde os 8 anos de idade.

Meus olhos percorrem cada detalhe, não ficando alheia à lareira e a 2 poltronas de veludo azul-piscina junto a ela, naquela sala sob medida e pra nada mais. Qualquer móvel adicional desvirtuaria seu clima uterino, aconchegante e protetor – aliás, Chopin nascera exatamente ali em 1810.

Polonês da gema, morando em Viena e Paris, pediu à sua irmã que levasse seu coração para sua terra natal, depois que despedisse de suas músicas nesse universo.

Ela o lacrou num cristal com conhaque, e lá está ele, habitando às escondidas, numa das colunas da Igreja de Santa Cruz, em Varsóvia.

Eu rezei ali. Quis vê-lo com suas veias e partituras ali gravadas, pulando com destreza pelo teclado Pleyel.

Lembrei que seus amigos poloneses levaram e espalharam um pote de terra até seu túmulo em Paris. Assim ele dormiria no Père Lachaise, mas com terras polonesas.

Voltando à casinha, visitei todos os mini cômodos, visualizando a família de 4 irmãos, o pai professor de origem polonesa e a mãe pianista.

Fechei os olhos, colocando as sensações em minha memória.

Levando o piano em mim, recolhi algumas folhas. Aconcheguei-as  em meu cachecol. Preferi o frio e os fios do chuvisco, a não levá-las comigo.

Agora, despeço do jardim, céu escuro e clarão na alma, reconhecendo a “Heroica”, vinda das castanheiras, sendo a cada instante mais e mais desnudadas, para hibernarem nas raízes, suas seivas, até a próxima primavera.

Saindo, a igreja que batizou Chopin nos convidou a participar de uma missa. Ajoelhei. Apertei minhas folhas nas mãos e viajei pelo tempo: Chopin abandonara a religião e, já quase à morte, aos 39 anos, sofrendo de problemas respiratórios, pedira a um padre em Paris que o aceitasse como católico novamente.

Continuei absorta pela experiência vivida, setembro de 2018, espalhando as relíquias para secarem no quarto do hotel.

Em que salas de concertos e em que escolas sobrevivem mundo afora os “nocturnes”, os “etudes”, as ” sonatas”, os “preludes”, as “polonaises”, as “barcarolles”?

“Onde meu tesouro está, estará também seu coração”.

Chopin está vivo.

________________________

O outono de Chopin é uma história do livro “Terna Memória – descobrindo artistas em viagens”, da escritora Cecília Andrés Caram. A obra relata memórias de viagens da autora. As folhas da imagem foram colhidas no jardim da casa de Chopin, quando lá esteve, e carinhosamente doadas pela Árvore das Letras. A publicação do livro foi feita pelo selo Alforria Literária e é fruto da Vivência Novos Autores, uma imersão de sentimentos por meio da leitura e escrita que tem o objetivo de aprimorar a percepção literária e metafórica das histórias que lemos e ouvimos.

Para saber mais sobre a vivência, clique AQUI.

Para entrar em contato com a autora, acesse:
https://www.instagram.com/ceciliaandrescaram/

Forte abraço!

Até a próxima.

DEUS TE LIVRE, LEITOR, DE UMA IDEIA FIXA – ASSIM DISSE BRÁS CUBAS

Por Leandro Bertoldo Silva

Machado de Assis foi, se não o primeiro, sem dúvidas o principal responsável por fazer explodir em mim a vontade de escrever. Já trouxe o bruxo do Cosme Velho aqui nos primórdios desse blog. Você pode conferir um artigo dedicado a ele clicando AQUI.

Mas volto a Machado por duas razões: primeiro para dizer algo curioso para alguém que, como eu, o tenho como um dos meus pais literários.

O meu primeiro contato com o bruxo foi igual ao de muitas e muitas pessoas, ou seja, traumático. Não tinha como ser diferente. Um pré-adolescente mal saído das fraldas do ensino fundamental, não tem a mínima condição de ler e muito menos de compreender seja lá o que for de literatura clássica, ainda mais em se tratando de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Pois foi justamente esse o primeiro livro de Machado de Assis caído em minhas mãos. Quanta loucura de uma professora ou professor, já não me lembro, mas recordo das noites mal dormidas por achar a literatura um monstro horripilante a puxar-me os pés por debaixo da cama.

Antes de continuar, permita-me um desabafo não muito carinhoso, mas necessário. A literatura é uma escada muito alta e para se chegar até o topo é preciso subir degraus. Não se lança uma criança do primeiro ao último degrau de uma só vez ao exigir a leitura de obras clássicas no inicio do ensino fundamental. Isso só serve para desconstruir leitores e fazer do aluno e aluna pessoas a odiarem os livros. Deixem, portanto, de arbitrariedade, professores e professoras. Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto, assim como Drummond, Clarice e tantos nomes maravilhosos das nossas letras, são degraus a serem subidos com calma e inteligência. Seus alunos chegarão lá naturalmente. Caso consigam terão feito o trabalho ao qual foram chamados a fazer. Fim do desabafo.

No entanto, seja pelos deuses ou deusas da literatura ou uma professora mais sensível, preparada e inteligente, fui uma das crianças resgatadas do fundo do abismo. E imagine! Logo o autor que eu tinha tanto para odiar é hoje o meu escritor de referência. E sabe qual o meu livro de cabeceira, aquele revisitado tantas e tantas vezes e assim ainda será outras tantas? Justamente! Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Como não ficar fascinado, não com um autor defunto, “mas com um defunto autor para quem a campa foi outro berço”? Imaginar um personagem voltar do além para contar as suas historias enquanto aqui vivia, além de inspirar-me outros causos e memórias, fez tudo passar a ter sentido, inclusive os capítulos outrora indecifráveis. Não, não foi de uma hora para outra, foi necessário ser conduzido, e bem conduzido, como eu disse há pouco, por uma mestra. E quando eu consegui vislumbrar tal obra de arte, eis que acontece comigo o mesmo ocorrido a Brás Cubas: uma ideia fixa! Valha-me Deus! “Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa”, assim disse Brás Cubas ao cabo do capítulo IV de suas memórias. Para saber qual é, vá, pois, ao capítulo e ao romance. Aqui expressarei a minha ideia fixa, tão fixa que convivi com ela durante anos. Tempo suficiente para sentir-me preparado, embora saiba do longo caminho a percorrer de agora em diante.

O que estou a dizer?

Aqui vai a segunda razão! Algum tempo hesitei se deveria ou não reescrever Memórias Póstumas de Brás Cubas em haicais! Aí está, sem mais nem menos. Minto, vou um pouco além para que perceba a loucura em que me meto.

Haicai é um micro poema de apenas 3 versos, ao perfazer um total de 17 sílabas gramaticais ou poéticas, sendo o primeiro verso de 5 sílabas, o segundo de 7 e o terceiro novamente de 5, salvo algumas regras permitidas pela nossa Língua Portuguesa. Ora, reescrever todo o romance em poesias minúsculas, com início, meio e fim, parece pouco se não fossem 160 capítulos, curtos na verdade, uma das características do Realismo, mas lá se vão algo em torno de 200 páginas…

Não sei quanto tempo levarei nessa empreitada, mas sei como é prazeroso um desafio literário. O melhor disso é conviver de perto com este ícone das nossas letras, lê-lo, relê-lo, ler novamente e sorver de sua pena a arte mais pura e genuína, transformando-a em algo a poder conduzir naquela escada cheia de degraus alguém a ser salvo ou salva do fundo do abismo…

Minha escrita terá outros suportes antes do livro. Aqui deixo, em vídeo, o primeiro capítulo, onde se trata do óbito do autor.

Desejo-lhe boa leitura e convido a vir comigo nesse delicioso passeio.

Forte abraço.

Até a próxima.

O TAMANHO DOS SONHOS

Por Paulo Cezar S. Ventura

Sonhos não devem ser espalhados. Só podem ser cochichados em orelhas amorosas e amigas.

Depois do acidente com o componente da banda Paralamas de Sucesso, Herbert Viana, que o deixou paralítico e matou sua esposa, os voos de ultraleve saíram de moda. Quase não se fala mais neles. Talvez a modernidade aeronáutica tenha decretado sua falência, afinal, espera-se por voos individuais com um motor às costas e propulsor nos pés, não se sabe.

Vô Ventura(eu) sempre gostou de voar. Tem mais horas de voo que urubu de meia idade e pensa em abrir uma escola de pilotagem para pássaros jovens. Se será um sucesso nunca se sabe. Os empreendedores de carteirinha sempre dizem que um bom começo é a ideia original. Mais original que isso?

O fato é que os voos foram diminuindo e hoje, para visitar a filha custa uns dois mil reais, ida e volta, mais deslocamentos aos aeroportos, mais o lanche nas horrorosas horas de espera no aeroporto de conexão, esses e outros voos se tornaram impossíveis. Voar, só em sonhos.

Já que é assim, Vô Ventura sonha e voa. A ordem dessas ações não importa: sonha e voa tanto quanto voa e sonha. Acordado e dormindo. Voos imaginários, porque o que faz, de fato, é caminhar. Não pode ver uma montanha que sonha em voar sobre ela. O problema, um grande problema: as montanhas, hoje, têm donos. As mineradoras são donas de metade delas e fecham suas entradas; os condomínios são donos da outra metade e também fecham suas entradas. A última vez que passou por debaixo de uma cerca encontrou um cão bravo e um vigia atrás dele. Ainda bem que o vigia foi esperto e mandou o cão parar. Só pegou o bolso traseiro de sua bermuda.

O que sobrou, Vô Ventura? Apenas as caminhadas urbanas e algumas caminhadas em grupo pagando um tanto pelas pousadas e pela segurança. Pagar para caminhar, é o que resta aos caminhantes de hoje. Ou simplesmente seguir pelas estradas sob o risco de atropelamentos. Cadê São Cristóvão, o padroeiro dos caminhantes? Perdeu o emprego. E nossos sonhos diminuíram de tamanho! Mas ainda são sonhos e eu os coloco do tamanho que quero.

Abaixo todas as cercas e todas as fronteiras!

________________________

O tamanho dos sonhos é uma história do livro “O encontros das improbabilidades”, do escritor Paulo Cezar S. Ventura. A obra, publicada pela Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária e parceria da Editora Rolimã, é fruto da Vivência Novos Autores, uma imersão de sentimentos por meio da leitura e escrita que tem o objetivo de aprimorar a percepção literária e metafórica das histórias que lemos e ouvimos.

Para saber mais sobre a vivência, clique AQUI.

Para adquirir o livro “O encontro das improbabilidades”, entre em contato com a autor no perfil https://www.instagram.com/paulocezarsventura/

Forte abraço!

Até a próxima.

COM A PALAVRA *

* Título da publicação especial dos discursos acadêmicos Vol. 1 – 2006-2013, da Academia de Letras de Teófilo Otoni.

Por Leandro Bertoldo Silva

Dia 07 de outubro de 2023 estarei tomando posse como membro titular da Academia de Letras de Teófilo Otoni, onde irei ocupar a cadeira nº 27, cujo patrono é Luiz Gonzaga de Carvalho.

Essa honraria veio 11 anos após a minha nomeação, na mesma Academia, de onde jamais me afastei, como membro correspondente.

Quando olho o tempo pretérito da vida, de 2012 para cá, as pessoas conhecidas a tornarem-se amigas, outras a chegarem a assumirem o seu lugar em mim e tantas coisas a poetizar caminhos escritos e versejados, vejo que tudo tem seu momento. Foi preciso amadurecer letras e prosas para poder sentir a vida e fazer brotar um novo impulso para o futuro.

O nascer do sol…

Que dia será esse?

Apostas incertas…

Sim, este ainda virá, mas o que vivo hoje é fruto destas palavras compartilhadas no dia 15 de dezembro de 2012, na sessão solene de posse, como então membro correspondente, onde, na ocasião, disse assim:

Inicialmente, quero agradecer a Deus, razão maior de todas as conquistas. Quero saudar e agradecer aos acadêmicos e confrades da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni, na pessoa do acadêmico e professor Wilson Colares da Costa e professora Elisa Augusta de Andrade Farina, presidente desta tão importante instituição. Quero externar minha mais alta gratidão à escritora e também acadêmica e amiga, Marlene Campos Vieira, de onde partiu minha indicação para ser agraciado com este título que muito me responsabiliza, e também à acadêmica e amiga Neuza Ferreira Sena, que fortaleceu e consolidou esta indicação tornando-a realidade. […]

À minha querida esposa, Geane Matos, e minha filha Yasmin Bertoldo Silva Matos, pelo amor, pelo carinho, pela força, pelas renúncias e compreensão de meu trabalho e amor pelas letras.

Por fim, agradeço a todos os meus familiares, presentes e ausentes. Mas quero agradecer especialmente e dedicar esta conquista a duas pessoas de extrema importância em minha vida. Pessoas que foram responsáveis por eu estar aqui nesse lugar de honra tão abençoado. Pessoas que se doaram, literalmente, e não mediram esforços para que eu me tornasse um ser humano digno e um homem de bem; que me ensinaram o valor do estudo, do esforço, da fé em Deus e na vida. Pessoas que, por mais que eu agradecesse, ainda ficaria em débito e que por isso, e muito mais, os tenho como heróis: meus pais – Aniel Rocha da Silva e Maria Elena Bertoldo da Silva. Pai, mãe, muito obrigado do fundo da minha alma.

Estar aqui hoje é como um sonho acordado. Esses são os melhores, pois não acabam, permanecem. Ser um acadêmico é ter o seu nome registrado para a eternidade. Olavo Bilac, quando perguntado por que os acadêmicos são chamados de imortais, em resposta ele disse “porque eles não têm onde cair mortos”, mostrando a irreverência de um grande poeta. De qualquer forma, esta condição traz a responsabilidade perene desta honraria. Talvez eu devesse proferir belos poemas ou frases memoráveis, referindo-me a alguns gigantes da literatura que me encantam tanto. Mas creio ser mais sincero e autêntico comigo mesmo e com todos se em vez de belas citações, abrir meu coração e deixar transbordar meus mais sublimes sentimentos de emoção. […]

Neste momento em que passo a integrar esta instituição como um de seus membros correspondentes, explode em mim a vontade de transformar meus escritos, artigos, contos e publicações em algo mais substancial, pois, afinal, encontro-me na presença de ilustres acadêmicos e personalidades, em sua grande maioria com obras já consolidadas e devidamente reconhecidas como parte da história literária e cultural de Teófilo Otoni. De tudo uma certeza: venho para somar. Mas certamente ganho o presente da aprendizagem e bênção de fazer parte deste seleto mundo dos escritores que tem, nesta casa, grandes representantes. Este é o sonho realizado e a oportunidade que me é dada, a qual devo honrar como um de seus filhos. É bem verdade que as oportunidades não acontecem por acaso ou de uma hora para outra. Tenho consciência que elas foram sendo construídas ao longo de muitos anos à base de muito esforço e trabalho. Essa condição, inclusive, nunca acaba; continua sendo necessário o empenho diário. E é bom que seja assim. É o lado positivo da insatisfação, do querer ir além, do não acomodar, do querer aprender por saber que, assim, podemos nos doar mais, com mais qualidade.

Muitas coisas eu ainda poderia dizer, muitas pessoas eu poderia citar, mas como se trata de um espaço predominantemente literário, deixarei que as palavras falem por mim de agora em diante.

Escrever… Dizer o que está por dentro, juntando sentimentos em palavras alucinadas, loucas, desvairadas que, quando encontradas, se acalmam. Será? Não sei… O que sei é que assim, minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.

Obrigados a todos de coração e está dito o necessário.

Muito obrigado.

________________________

Bem, aí está. Agora, 11 anos depois, deixo aqui o convite para a solenidade de posse para membro titular, a acontecer no dia 07 de outubro, às 19 horas, na Câmara Municipal, em Teófilo Otoni. Viva as letras! Viva a literatura! Viva a ALTO!

Saudações acadêmicas.

Forte abraço!

Até a próxima.

É COMO SE

Por Patrícia Vaucher

Há momentos em que somos provocados a escrever um novo capítulo de nossas vidas. Isso surge quando o que estamos vivendo não faz mais sentido para uma alma que cresceu além dos limites impostos. Com o passar dos anos as coisas que foram vividas vão repousando suavemente no passado, encontrando seu assento. Mas vivemos montados em dias que correm, deslizam na rapidez das horas deixando escapar no movimento a paisagem que muda incessantemente cumprindo seu papel impermanente, e quando nos olhamos no espelho vemos alguém que já não é mais quem era. Esse é o ponto, essa é a hora. Hora de confrontar quem realmente está ali a nos mirar, quem é ela/ele?

Foi assim que aconteceu naquele final de inverno. Chovia muito naquela noite. Ela dormia profundamente. De repente parecia que tinha saltado da cama com uma carga extra de energia, coisa rara. Estranhou, mas não questionou, queria mesmo era aproveitar as horas para colocar em ordem os amontoados de estudos, leituras e demais afazeres do dia a dia. Correu até o banheiro jogou um pouco de água gelada nas faces. Secou o rosto e ao olhar-se viu refletida no espelho a imagem de uma mulher. Quem era ela? Parecia indagar-lhe algo. Olhou detidamente aqueles olhos misteriosos que brilhavam num tom azulado como o oceano. Não hesitou nem por um instante, mergulhou em águas profundas.

A partir dali assistiu várias cenas de sua vida como num filme. Algumas eram fiéis aos fatos, outras pareciam um pouco distorcidas, as melhores eram aquelas que contavam sua história como ela desejaria que tivesse sido. Riu, chorou, desesperou, esperançou. A cada imagem que assistia seu corpo ia se transformando e junto a ele, algo do lado de dentro também precisava se encaixar à nova forma do corpo. O processo era bastante dolorido.

Então sonhou… No sonho ela era aquela mulher do espelho. Entendia a vida de outra forma. Parecia que tudo tinha se invertido, sentia as coisas com o coração. Enxergava o mundo através das essências e não mais a partir dos olhos do ego. Entendeu que todas as coisas eram exatamente como tinham que ser e foi aí que tudo começou a fazer sentido para ela. Entendeu finalmente o verdadeiro motivo de estar viva.

Acordou sabendo que tinha sonhado com algo muito especial apesar de não lembrar muita coisa. Inconscientemente inspirada, viveu a partir daquele dia com uma enorme sensação de pertencimento, apesar da pacata vida social que levava. Nunca tinha vivido algo assim. Nada mais lhe faltava. Tampouco tinha necessidades. Sonhava em compartilhar com as pessoas sua descoberta. E deve ter sonhado muito desde então, inspirou milhares a seguirem seus corações, enfrentando seus medos, superando desafios, entusiasmados pelo simples ato de viver sonhando acordado.

Acredite! É muito mais simples do que parece, dizia ela.

________________________

Nascituro é um livro de Patrícia Vaucher, fruto da Vivência Novos Autores, uma imersão de sentimentos por meio da leitura e escrita que tem o objetivo de aprimorar a percepção literária e metafórica das histórias que lemos e ouvimos. Patrícia traz em sua obre uma interatividade inovadora: cada história é acompanhada por uma consigna, que é uma forma de promover o aprendizado e a reflexão a partir de um caminho sugerido. A consigna dessa história é a que vem a seguir:

Sonhar! Quando somos provocados a sonhar geralmente imaginamos coisas mirabolantes que gostaríamos de fazer ou possuir. Porém a vida exige mais de nós. Qual seria o verdadeiro sonho a ser sonhado?

Você pode escrever, caso queira, aqui nos comentários, ou enviar também para a autora.

Para saber mais sobre a vivência, clique AQUI.

Para adquirir o livro “Nascituro”, entre em contato com a autora no perfil https://www.instagram.com/patricia_vaucher/

Forte abraço!

Até a próxima.

SIM, EU TAMBÉM JÁ ESCREVI CARTAS DE AMOR

Por Leandro Bertoldo Silva

Como diz Fernando Pessoa:

“Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, como as outras, ridículas”.

Mas deixa claro…

“Só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas”.

Concordo tanto com Fernando Pessoa que já me dava por escrevedor de cartas de amor antes mesmo de conhecê-lo. Não porque elas eram direcionadas a alguém, pois as escrevia para que alguém tomasse posse delas e preenchesse o que faltava. Assim, andava a escrever aos ventos, às árvores, aos pássaros e algo curioso aconteceu: ninguém veio ocupar o seu lugar. Com isso, elas se perderam. Mas o tempo, seja lá o que ele for, é generoso, e no dia 18 de março do ano 2000, um mês após estar com quem estou há 23 anos, descobri que todas as cartas viraram poesia. A diferença é que elas, sim, tinham um destino: Geane Matos. Deixo aqui o que foi dito naquele dia, não sem antes uma advertência!

Poderia muito bem fazer várias emendas de linguagem e outras alterações para darem às palavras um estilo mais afeito ao que hoje se tornou a minha escrita. Mas iria junto a feição do sentimento o qual tive no momento em que as compus. Por isso, perdoem-me pelo que achardes ridículo, mas as manterei tal qual as fiz, pois, se assim não fosse, não seria uma carta de amor…

E assim escrevi:

Nem o sol, nem as flores ostentam maior beleza.
Por mais que tentasse dissimular, já não mais conseguiria.
Meus pensamentos me traem ao perceber que são os seus olhos e sorriso
que os conduzem a um mundo de sonhos e cores,
tal qual o sonho do artista que o induz à chama medrosa de encontros coloridos
ao coração que aquece palavras graciosas.

O que dizem os sábios a respeito das paixões?
O que dizem os cavalheiros e até mesmo os menestréis?
Cantaram as rosas de todos os corações,
viveram seus poemas de amor com doçura e imaginações,
e escreveram metáforas, lindas e inesquecíveis metáforas.

Ah, o amor…
Corda de mil nós, música de mil tons!
Renasceste de entre as linhas,
ressurgiste ébrio de encanto
e brilhaste como um arsenal de fogos induzindo o céu a chorar, feliz,
lágrimas de mil anos.

E eu, de baixo, olho, absorto em pensamentos, o céu afoguear.
E sorrio como uma criança ao imaginar, inocente, um corpo de mulher,
lívido de alvura e livre a voar…
Até se encontrar com as águas,
até se misturar com o mar.

________________________

Essas palavras foram entregues em um cartão há 23 anos (o mesmo da foto), um mês após nosso encontro, o qual esperei por 10 anos que acontecesse… Hoje temos 21 anos de casados.

E você, já escreveu cartas de amor?

Forte abraço!

Até a próxima.

MINHAS COSTURAS DE PALAVRAS

Por Elisa Augusta de Andrade Farina

Palavras para mim são o poder criativo pelo qual me expresso.

Sou costureira das palavras…

Pego um papel em branco e vou medindo, alinhavando as frases, remendando afetos, bordando palavras…

Assim, vou costurando rimas nos versos que serão poemas.

Se as palavras que brotam em minha mente não manifestam o que sinto, corto-as imediatamente com a exatidão das minhas mãos, como tesouras afiadas.

Olho no entorno… Procuro uma fita métrica para medir meus pensamentos. Eles fluem pela força criadora de minha vontade.

Vejo o céu na sua imensidão…

O brilho que apreendi é como um tecido valioso que precisa de minha habilidade para moldar o modelo a ser confeccionado.

Corto as palavras que não condizem com o modelo desejado. Alinhavo, alfineto, meço de novo os pensamentos… Agora sim, o meu modelo ganha forma, força, emoção, que se traduzem pela vontade de fazer diferente com coesão, determinação e amor.

Vou costurando a peça almejada que vai se transformando na habilidade criativa da minha intenção poética.

Olho satisfeita para minha peça…

Está da maneira que sonhei… Impecável, bela, ressalta toda a força da magia poética que me impulsiona a tecer e costurar palavras…  Missão inspiradora de uma alma livre e sonhadora…

________________________

Elisa Augusta de Andrade Farina, professora, filósofa, escritora, contadora de histórias, cronista e poetisa teófilo-otonense é graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, com pós-graduação em Docência do Ensino Superior pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri e Membro fundadora da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 6 e atual presidente. Em 2018, recebeu do Governo de Minas Gerais a Comenda Teófilo Otoni, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados na área da Educação e Cultura no Vale do Mucuri.

“Minhas costuras de palavras” é um dos textos que dá título ao seu mais recente livro publicado pela Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária. O livro é mais um fruto da Vivência Novos Autores, uma imersão de sentimentos por meio da leitura e escrita que tem o objetivo de aprimorar a percepção literária e metafórica das histórias que lemos e ouvimos.

Para saber mais sobre a vivência, clique AQUI.

Para adquirir o livro “Minhas costuras de palavras” e entrar em contato com a autora clique no perfil https://www.instagram.com/elisafarina2/

Forte abraço!

Até a próxima.

EXERCÍCIO CRIATIVO (AINDA SEM TÍTULO)

Por Leandro Bertoldo Silva

Será possível a um personagem sair do livro e manter com o seu autor momentos de conversa acerca da vida, da morte, de questões existenciais? Calma! Não se trata de paranormalidade, muito menos de psicografia. Ora, Xavier, você é um personagem, não uma entidade. Não se pode confundir o fato de ter tido longos colóquios com o fantasma de Aarão Reis – o livro em questão – com fenômenos do espírito aqui onde você é um interlocutor por meio de cartas em diário. Ou de um diário em cartas? Isso ainda veremos. Seja como for, sim, é possível, e trata-se de uma fusão interessante a fazer de nossas conversas momentos de mais puro esquecimento, esses momentos da liberdade da alma em princípio de estado.

Como é doce o não ter que ser. Pensávamos assim, Xavier. Queríamos não ter que ser sempre, entregar-nos a nós mesmos como as flores se entregam ao orvalho sem trocas e sem medos. Sempre tivemos a visão desse encontro, lembra? Ora éramos a flor, ora o orvalho, como ora éramos o escritor, ora o personagem, sem preferências ou escolhas a destruírem os versos existentes “entre o anelo e o suspiro”, como dizia aquela poesia guardada em um naco de memória. Já era noite e toda noite era assim: preparávamos-nos, eu e você, para esquecer, nunca dormir. No esquecimento não há sonhos – essa arrogância do pensamento. Isso já era eu a achar ou você? A essa altura já não sabíamos. Não importa. Calávamos um para o outro no momento exato do esquecimento, fragrância milimétrica de tempo entre o estar acordado e o começar a dormir. Pronto, já foi. O barulho recomeça e o sonho invade os nossos pensamentos.

Boa noite, Xavier. Amanhã voltamos a nos escrever. A partir de agora teremos uma longa conversa.

Xavier de Novais aos 22 anos, época em que mantinha longas conversas com o fantasma de Aarão Reis.

Xavier de Novais nasceu em Belo Horizonte no dia 13 de abril de 1952. Teve uma infância generosa, alternando entre estudar na cidade e passar férias na roça. Brincou na rua, colheu café, andou a cavalo e pegou bicho-de-pé. Seu primeiro trabalho, logo após os primeiros anos da adolescência, foi como segurança de uma livraria, lugar onde o seu gosto pelos livros ganhou contornos expressivos. Lia de tudo, do clássico ao contemporâneo. Sempre teve uma predileção por duas obras: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, e “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes. O momento em que conviveu com o fantasma de Aarão Reis nos encontros na livraria narrados no livro “Histórias de um certo Aarão e outros casos contados – das histórias e lendas de Belo Horizonte recontadas por um segurança que recebia, em seu serviço, a visita ilustre do fantasma de Aarão Reis”  o fez se apaixonar pelas narrativas e acontecimentos, vindo a ingressar, em 1975, no curso de História na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Em 1979, já formado, conseguiu um cargo de professor substituto em uma conceituada escola da capital mineira. Seu sucesso com os alunos foi imediato. Porém, ao receber o convite da direção da escola para se tornar professor titular, Xavier se casa e resolve se mudar com a esposa, com quem vem a ter uma filha, para o Vale do Jequitinhonha em busca de qualidade de vida, deixando para trás as loucuras da cidade grande sem, no entanto, deixar de amá-la. Apenas sente que sua vida pede outras estradas. Na nova cidade de Águas Vermelhas, atua como professor de História em uma escola na qual foi uma das lideranças na sua construção, onde veio a se aposentar. Hoje, aos 71 anos, vive em um sitio na mesma região do Vale. Não colhe mais café. Ao invés disso, navega em um barco a remo em um lago próximo. Continua andar a cavalo, mas sem pegar bicho-de-pé.

________________________

Bem, aqui está o embrião do que pode vir a ser uma história ou até mesmo se tornar um livro. Mas não decidirei isso sozinho, é preciso ter o consentimento de Xavier. Andamos a conversar por meio de cartas que vez ou outra, caso ele autorize, publicarei aqui neste blog. Mas quero pedir a você um grande favor! Suponhamos que ele consinta e que eu resolva deixar público essas conversas em uma obra, qual título você sugeriria?

No mais, obrigado por sua leitura e atenção. Aguardo sua sugestão.

Forte abraço!

Até a próxima.

TÍTULO TEM, MAS É SEGREDO

Por Ricardo Albino

Quem cochicha, o rabo espicha! Quem não conta, ele estoura! Psiu! Cuidado com ela! Quem? A vaca amarela! Quem falar primeiro come… Sabem o que né? E alguém gritava: chega! Não aguento mais ficar calado! Como tudo sozinho! É hora da gargalhada! Vamos brincar de telefone sem fio. Eu falo no seu ouvido e você conta baixinho a fofoca para o outro espalhar até cansar! Mas diz que é segredo tá? A gente cresceu e sabe onde fomos parar? Eu conto, você conta? Nós podemos contar? Sim. Então 1 ,2 ,3 e já!

Numa cidade onde quase tudo é segredo, inclusive o nome do lugar que nem hotel tem para ninguém descobrir o maior segredo de lá! Quando eu e Patrícia fomos num casório na roça do Senhor Pedro Calado tivemos que ficar hospedados na cidade vizinha, curiosamente chamada de Boca Fechada, lembra? O evento do momento era a união do galo Segredo com a galinha Fofoca. Estranho, né? Nunca imaginei que Segredo e Fofoca fossem se bicar um dia. E você ainda percebeu nos bastidores da festança segredos dos noivos que viraram história na tv e agitaram a vizinhança, né?

Sim, lembro-me como se fosse ontem! A Fofoca toda emplumadinha colocando seu vestido de noiva e as damas de honra auxiliando. Nem nessa hora a Fofoca parava de fofocar. Contava pra todos que tinha visto o marido da vizinha com uma franguinha no cinema, falava mal da cor nova da pena da tia Cocotinha que tinha usado um tonalizante caju radiante que ficou horroroso. Não concordo, achei até bonitinho! E assim, foi falando mal da cidade inteira até ficar pronta! E olha, nunca tinha visto uma noiva tão linda!!! Estava encantadora!!!

Pois é! Eu tenho outro segredo sobre o Segredo. Na verdade, dois. O primeiro é que a verdadeira identidade dele é Chico, o Cocoricovo. Chico é galo hermafrodita. Quando as galinhas fazem greve, o bicho vira a chavinha e é obrigado a botar os ovos sem reclamar. Como prêmio, além de não virar galinhada ou molho pardo no panelão vermelhão, desfila e ganha cachê de milhão. Com o dinheiro pediu para o patrão construir um galinheiro de dois andares para o momento de relaxar. Para completar, corre em segredo de justiça um processo movido por fofoca, por calúnia e difamação. Segundo uma fonte, que pediu para ser mantida em segredo, a atual primeira dama do Galináceos Mol, conhecida como Fofoca só canta, não cacareja porque senão gagueja. Não sabemos se é fato ou fake. O casório dos segredos deu até conto e quem quiser que aumente um ponto.

Pior de tudo é que ouvi por aí que o tal galo gostosão já é casado com duas galinhas. Uma mora em Boca Fechada e a outra no município de Calados. Como ninguém pode falar nada, a coisa vai ficando por isso mesmo. E o galo só se dando bem!!!

Sabe o aconteceu quase na hora do nosso último ponto final? Quem pagou o pato na cozinha foi o porquinho que virou lombinho assado. Sem nem desconfiar daquele trem, o pai comeu seu animal de estimação, encheu o barrigão e nos contou histórias de montão!

Você sabia que…

* Texto escrito a quatro mãos entre Ricardo Albino e Patrícia Vaucher.

________________________

Ricardo Albino é jornalista, escritor e contador de histórias. Além disso, é um grande amigo que se fez irmão. Eu tive com ele uma conversa pra lá de agradável e publico aqui em forma de entrevista para que você também possa conhecer um pouquinho do nosso querido Ric.

Árvore das Letras: Oi, Ric, que prazer poder falar com você! Conte um pouquinho da sua história, da sua infância?

Ricardo Albino: Sou natural de Belo Horizonte, tenho 45, quase 46 anos e nasci prematuro de 6 meses. Tive parada cardiorrespiratória que afetou a parte motora e a visão. Enxergo metade da vista esquerda, nada da direita, mas aprendi a ver a vida pelo lado bom e as pessoas pelo coração. Já usei aparelho nas pernas ,andador ,bengala canadense e em 1997 fui pra cadeira de rodas. Com minhas possantes, pois tive algumas até hoje, ganhei asas e voei rumo aos sonhos.

AL: De onde veio a sua escolha pelo jornalismo?

Ricardo Albino: Ser jornalista era um grande sonho e nasceu aos 6 anos de idade por amar os esportes, a música, o rádio e a escrita. Na infância até a adolescência era narrador de jogo de botão e corridas de autorama, jogos de vôlei e queimada com os vizinhos. Cheguei a jogar também como goleiro ajoelhado. Participei de shows de calouros e peças de teatro na escola. Em festa junina fui até um balão. Sempre amei cantar e decorar escalação de times e seleções. Ainda na época escolar, fiz uma montagem da Escolinha do professor Raimundo na qual fiz papel do próprio e ganhei o prêmio de melhor redação da turma com o livro “Vida de um repórter” . Estudei em escolas com menos alunos em sala, o chamado ensino especial até o segundo ano do ensino médio e no terceiro ano fui pra escola regular integrada. Estudei em casa sozinho para o vestibular, passei em 2002 e durante 4 anos gravei as aulas para escutar e passar o conteúdo pra o caderno depois. Em 2006 formei e criei um blog. Em 2010, no hospital Sarah em BH ,na educação física e aula de artes, além de fazer alguns esportes paraolímpicos , escrevi programa de rádio e duas peças de teatro.

AL: Quando você percebeu que era um contador de histórias e quis se profissionalizar nessa arte?

Ricardo Albino: Foi na roça, em 2009, quando criei a primeira história para minha sobrinha que pediu uma história pra dormir, em que nós, eu e ela fossemos personagens. Cada noite, inventava novos personagens e aventuras da Bia e do tio Ric.
Em 2015 fiz o curso de contadores de histórias do Instituto Cultural Aletria e dois anos depois criei a página “Ricontar Histórias” no Facebook. Em 2021 veio o canal no YouTube. Brinco que a contação de histórias é minha pós de jornalismo.

AL: Você tem um estilo muito peculiar de escrita. Você escreve como quem conta de fato uma história. Como é isso?

Ricardo Albino: Meu jeito de escrever eu encontrei nas crônicas. Texto mais curto, de linguagem leve, bem humorada e que se encaixa bem na contação de histórias.
Eu digo atualmente que não me sinto mais jornalista e nem um escritor, mas sempre um ouvinte e criador de histórias que me ensinam que a verdadeira acessibilidade e inclusão nascem dos bons sentimentos.

AL: Você tem dois livros publicados que nós brincamos ao falar que são os dois irmãos: “Histórias de um rapidinho em quarentena” e “Antologia da psicaneta – calmaria sem ponto final”. Apresente cada um deles pra gente.

Ricardo Albino: Meu primeiro livro foi escrito entre 2019 e 2021 no período da pandemia de COVID que passei Com meus pais em isolamento na roça. Quando voltamos para BH, após um ano e meio, conheci o seu trabalho e publicamos pela árvore das Letras o “Histórias de um Rapidinho em Quarentena”. Depois participei do curso de Linguagem, Leitura e Escrita, que hoje é o Novos Autores, onde convivi com os amigos da minha família calmaria. Toda segunda feira a noite havia um encontro e novas vivências e descobertas da arte do viver e conviver comigo e com o outro através da escrita e da liberdade de emoções. Assim nasceu a “Antologia da psicaneta – calmaria sem ponto final”.

AL: Conte um pouquinho sobre o seu processo criativo.

Ricardo Albino: Sobre o meu processo criativo eu tento escrever de uma maneira simples, leve e que leitor, em cada história lida, sinta como se eu estivesse ao lado dele contando aquela história ou buscando nele, sendo eu um ouvinte, motivação, inspiração, alegria e calmaria para o coração. Gosto muito de criar a noite e pela manhã e busco inspiração na simplicidade do amor pela vida.

AL: Que recado você deixa para quem tem o sonho de escrever?

Ricardo Albino: Para você que tem o sonho de escrever e ainda não sabe como começar pense que a arte da vida é fazer da vida uma arte e a arte da escrita é uma constante declaração de amor do pensamento para o coração.

________________________

“Título tem, mas é segredo” é uma das histórias do livro “Antologia da psicaneta – calmaria sem ponto final”, do escritor, jornalista e contados de histórias Ricardo Albino. A obra, publicada pela Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária, é fruto da Vivência Novos Autores, uma imersão de sentimentos por meio da leitura e escrita que tem o objetivo de aprimorar a percepção literária e metafórica das histórias que lemos e ouvimos, e ainda aplicar técnicas criativas e afetivas na produção de narrativas e poesias.

Para saber mais sobre a vivência, clique AQUI.

Para adquirir os livros do Ricardo Albino, entre em contato com o autor no perfil https://www.instagram.com/ricardoflavioalbino/

Visite, também, a sua página no You Tube

https://www.youtube.com/@ricontarhistorias9462

Forte abraço!

Até a próxima.