[…] Durante algum tempo, hesitei se deveria ou não abrir esta história ao conhecimento de todos, ou melhor, estas histórias, pois foram muitas as contadas pelo meu amigo finado. Sinto-me um tanto perplexo com a possibilidade de me acharem desviado das ideias e quererem me internar num manicômio, mas como fugir à realidade de ter sido escolhido o seu ouvinte? De fato, o meu herói – pois acabou por se tornar para mim um grande herói – escolheu-me. Hesitei-me, como disse, por um bom tempo, suficiente para encher-me de coragem e perder o medo do que as pessoas poderiam dizer, o que inclui o leitor e a leitora e, respeitosamente, dar-lhes uma bela e ostentosa “banana”. Não, não estou nervoso. É apenas um desabafo íntimo. É preciso convir que uma pessoa que recebe pontualmente, como se verá, a visita de um ectoplasma ilustre, com um gosto refinado para o café e um bom papo madrugada adentro e que, além disso, vinha guardando e duvidando se deveria ou não dizer, mas louco para fazê-lo, merece um instante de vazão. Caso contradigam-me, dizendo: “você é um louco”; “fanfarrão”; “contador de histórias”, não tem importância. Medo já não tenho mais, e, a propósito desse último xingamento, devo elucidar que seria injusto, pois histórias nunca soube contá-las, embora as aprecie; eu apenas ouvia, por sinal muito bem traçadas e até diria interpretadas pelo meu amigo defunto, ou melhor, morto, pois defunto já não era mais. Antes que eu me renda à tentativa de teorizar sobre a diferença de ser defunto e ser morto, vamos às histórias… […]
Assim, Xavier de Novais, o personagem-narrador deste livro, abre estas histórias contadas por seu amigo Aarão Reis, ele mesmo: engenheiro chefe que, juntamente com alguns amigos, arquitetou a chamada “Nova Capital”, que hoje nada mais é que a nossa tão linda e formosa cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais.
Este livro, aprovado pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerias, via Lei Aldir Blanc, estará à disposição de todos nos próximos meses. Até lá, acompanhem algumas passagens em imagens e pequenas doses deste que é o meu quinto livro publicado pela Alforria Literária, da Árvore das Letras.
Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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