DESPEDIDA

_A vida é sempre a mesma para todos_rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente_(Florbela Espanca)

Por Leandro Bertoldo Silva, do livro Entrelinhas Contos mínimos

Levantou cedo. Era seu último domingo naquela casa de roça em que viveu desde que nasceu. Planejara, com o irmão mais novo, fazer tudo como de costume para sua despedida. O irmão, com uma tristeza n’alma, nada dizia, só acompanhava. Subiram em árvores, comeram frutas do pé, deitaram na rede e escutaram os passarinhos, correram na chuva e caçaram borboletas quando o sol sorriu trazendo o arco-íris. Andaram a cavalo, comeram bolo de fubá e guardaram as migalhinhas para pescar…

A tarde já findava quando, na beira do lago, o irmão mais novo, quebrando o silêncio do dia, perguntou para o irmão mais velho por que ele estava indo embora. Ante a resposta de que era para ganhar muito dinheiro, ele ainda quis saber para quê. Após jogar a última isca na água, veio a derradeira resposta: “para um dia ter uma vida tranquila”. E não houve mais perguntas…

*A múcica abaixo é Clair de lune, de Claude Debussy. Ela foi minha fonte de inspiração para esse mini conto. Ouçam como é linda!

 


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