NO MEIO DO CAMINHO

Por Leandro Bertoldo Silva

Tudo era sempre igual para o senhor Todo Dia. Sua vida desconhecia pausas e era desprovida de sorrisos. Todo ele era um endurecer de pedra. Faltava-lhe tempo de ser quem gostaria, ou nem sequer o sabia; tornara-se doente dos sentidos.

Com isso, não percebia nada além do cinza. Seus olhos desacostumaram-se das cores. O corre-corre do trabalho, das obrigações cada vez mais exigentes faziam de Todo Dia alguém a passar bem longe  da alegria das coisas valiosas. Engraçado, todas elas eram desimportantes: o cantar dos pássaros de manhã ao saldar o sol, o cheiro do dia impregnado na brisa suave das primeiras horas, o zum, zum, zum das abelhas com suas patinhas carregadas de pólen a visitar aromas, e tantas inutilidades despercebidas para o senso comum.

Porém, um dia, sem nem saber o porquê, algo o fez olhar para cima exatamente no lugar onde sempre passava com os olhos colados ao chão a procura de uma poesia perdida. Bem no alto, lá estava junto a duas espécies de flores a destacar em igual vermelho e branco uma ordem: Pare! Imediatamente, obedeceu ao imperativo daquele momento e tudo se coloriu instantaneamente. Havia encontrado seus versos:

No meio do caminho…
Bem, não havia pedras,
havia flores.

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A foto acima foi tirada durante uma caminhada. É impressionante o que está ao nosso alcance quando estamos sadios dos sentido…

Um forte abraço.
Até a próxima.

UM LIVRO NUNCA TERMINA AO VIRAR DA ÚLTIMA PÁGINA

Por Leandro Bertoldo Silva

Li uma vez uma frase de Thomas Mann.

“Longa é a viagem rumo a si próprio.

Inesperada é sua descoberta”.

Como pode algo tão curto arrebatar a nossa alma? Duas frases, nada mais além disso, ali despretensiosas (?) a tirar-me o chão e encher-me de perguntas cujas respostas ficam naquele estado latente, prontas a eclodir, mas, por alguma razão, ainda falta.

Se já teve a sensação de bastar olhar para o lado e enxergar o que supõe estar ali, mas logo vir o sentimento de “e se não estiver, como será?”, sabe bem o que quero dizer.

Será esse o motivo de eu gostar tanto de reler um livro ao ponto de preferir essa prática ao lê-lo pela primeira vez?

Seja como for, um livro nunca termina ao virar da última página…

            — Por que lê tão repetidas vezes este livro? — perguntou-me uma voz.

            — Porque nele estou quase a encontrar a minha liberdade.

            — O que falta para isso?

            — A próxima leitura.

            — Não te angustia saber que pode novamente não encontrar?

            — Me angustia mais achar que já encontrei…

E não houve mais perguntas.

Muito menos respostas.

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Muitas vezes são nas miudezas da vida que escondem enormes transformações. Espero que esse brevíssimo diálogo possa trazer frutíferas reflexões.

Estamos com turma aberta para a Vivência Novos Autores. Saiba mais clicando AQUI ou entre em contato no WhatsApp (33)98462-7055.

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Forte abraço!
Até a próxima.

BANALIDADES TRIDIMENSIONAIS

Por Patrícia Vaucher*

Chegavam animadas todas as terças-feiras ao atelier. Seria mais uma tarde de produção artística regada a conversas e desabafos. Já sabia cada detalhe dos conflitos familiares, desconfianças, angústias, queixas e mais queixas.

Isso sem contar as confidências, histórias secretas compartilhadas sigilosamente, inflamáveis. Poderiam implodir casamentos caso fossem divulgadas.

Aqueles celulares que não paravam de notificar, a tarde inteira, fofocas, solicitações dos maridos, demandas dos filhos, brigas entre vizinhos. Deixavam-me frustrada. E quando vinham com seus ipads, então! Sentia-me fracassada!

O processo criativo exige mergulho dentro de si. É uma conversa íntima que necessita tempo e espaço para acontecer.

Esse retiro interior é o local de recolhimento das imagens que compõem o mais secreto do nosso viver. É onde nascem as formas das emoções. E sim, elas querem vir ao mundo. Aliás, elas precisam vir para dar voz às dores que muitas vezes ficam abafadas, encolhidinhas num cantinho desse espaço tão escuro e assustador.

Nada disso acontecia. Nasciam figuras pré-moldadas de um imaginário social pobre e repetitivo. Silhuetas previsíveis. Objetos utilitários.

E a alma continuava ali, invisível, ignorada e esmagada por transtornos diários da vida ordinária de um feminino enfraquecido.

Aquela sombria luz prevalecia. Ficava acesa durante a aula exibindo suas cores radiantes e formas sedutoras que saltavam das telas e se transformavam, ficando tridimensionais e imortalizadas na argila.

No final do dia, a pobre alma desincorporada mais uma vez voltava pra casa, oculta, incógnita, inexplorada. Perdia mais uma vez a oportunidade de se mostrar ao mundo e revelar segredos que poderiam acalmar os corações explosivos daquelas mulheres.

Acessar conteúdos interiores exige coragem, determinação e até um pouco de maturidade. Isso não se faz com a ponta dos dedos.

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Patrícia Vaucher é Bacharel em Administração de Empresas, pós graduada em Arteterapia e  em  Psicologia Analítica. Facilitadora de Soulcollage. Trabalhou com cerâmica artística por mais de vinte anos em atelier próprio.  Conduz grupos de mulheres através do trabalho terapêutico com argila e Soulcollage. Pesquisa o Feminino na individuação e sua influência no processo de ampliação da consciência..

Patrícia é integrante da Turma Lygia Fagundes Telles, da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

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Forte abraço!
Até a próxima.

COMO NASCE UM LIVRO!

Por Leandro Bertoldo Silva

Você já parou para pensar qual o caminho que um livro percorre até chegar em suas mãos?

Bem, tudo parte de um princípio, ainda mais os livros da Árvore que são ecológicos e sustentáveis. É comum aos escritores considerarem os seus livros como filhos e, como tais, precisam ser concebidos. Sim, um livro nasce da cabeça de seu autor. É a concepção originária. Sem ela nenhuma etapa seguinte existirá. Siga a sequência que os nossos livros são feitos e se delicie com o que tanto defendemos: “a liberdade de ser do seu jeito”!

Eu tenho uma particularidade! É comum eu fazer os meus primeiros esboços à mão. É a minha forma de sentir a escrita de maneira completa, que antes é preciso ser minha para só depois ser dos outros. Escrever à mão, além de movimentar as áreas do cérebro e estimular a criação e a criatividade, é também uma forma de demonstrar carinho e guardar lembranças. Mesmo com a tecnologia, há muitos escritores que ainda escrevem os seus livros à mão. Eu sou um deles. Se você é escritor ou escritora, como é com você?

Em seguida a história é reescrita no computador. É o meu primeiro namoro com o texto já o percebendo em formas mais elaboradas. É onde há cortes, mudanças e aconchego com as palavras.

Aqui inicia a artesania do livro, ou, como queira, a alquimia do que é imaginado ao que é palpável. Após o livro ser escrito, digitado, revisado, formatado e diagramado — o que vai aí alguns meses e até anos — é o momento da impressão feita com cuidado e carinho, afinal ele está vindo ao mundo. No caso da Árvore, os livros são impressos em folhas soltas.

Uma vez impresso, entra em cena pela primeira vez a “Paula Brito”, nossa prensa de madeira. Por que do nome “Paula Brito”? Você pode saber lendo AQUI. É ela que dá suporte à cola na lombada do livro para que a mesma seja preparada para a furação.

Uma vez colada, a lombada é demarcada com 14 furos, usando, para isso, uma furadeira de mão com broca bem fininha para facilitar a passagem da agulha para receber a linha com cera de abelha.

Todos os processos são especiais, mas é na costura que eu mais sinto o livro nascendo em minhas mãos. Nesse momento sou o escritor, mas também o artesão; o genitor e o parteiro ao unir pensamentos às palavras que ganham formas palpáveis.

Como todo recém-nascido, é preciso agasalhá-lo. É aí que entra a capa com papel ecológico. É o segundo momento da “Paula Brito”, que faz o seu trabalho originário de prensar. O livro fica na prensa por aproximadamente 3 a 4 horas, até que união capa-lombada seja um verdadeiro enlace matrimonial de arte e palavras.

E para dar ao livro sua identidade visual e seu lugar no mundo de forma ainda mais autêntica, fazemos o acabamento com materiais alternativos, utilizando componentes metálicos, superposição de imagens e o que a criatividade permitir, fazendo do livro em si um objeto de arte.

Sabemos que um livro nasceu quando é entregue às mãos dos leitores. Essa é a cereja do bolo, o grande momento da vida do criador e da sua criatura.
De nada adianta ser escrito, colado, costurado, prensado, publicado se em algum lugar uma pessoa não abri-lo e lê-lo. É na leitura que ele se faz, que se coloca na condição de existir. Enquanto isso não acontece, o livro é só um objeto qualquer. Mas quando é aberto, lido e saboreado, o sopro da vida invade a suas páginas.

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Bem, é assim que nasce um livro aqui na Árvore das Letras. Espero que tenha gostado dessa sequência e convido para conhecer todos os outros livros que, como esse, surgiram assim, de um pensamento, de um sonho, de uma vontade e de uma costura…

Clicando AQUI você encontra todos eles. Que tal dar uma passadinha por lá?

Saiba, também, sobre as nossas Vivências Literárias

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Forte abraço!
Até a próxima.