ENTRE O ONTEM E O HOJE: UMA AMIZADE ATRAVESSADA PELO TEMPO

Por Leandro Bertoldo Silva

Bem ao estilo de “Meia Noite em Paris”, fiz uma viagem ao Rio de Janeiro do século XIX, onde encontrei o autor de umas certas Memórias Póstumas.

A atração fraternal foi imediata como podem perceber. Se bem que da minha parte esse sentimento já existia, mas vindo dele foi, sem dúvida, o maior presente já recebido.

 Senti-me lisonjeado, não menos surpreendido com o pedido que me fez. Talvez mais amedrontado que surpreendido, mas vá lá! Como negar? Não neguei. Qual é esse pedido ainda não posso dizer, mas prometo revelar assim que receber dele a devida autorização. Ora, calma! Não seja impaciente, não vai demorar.

Até lá, relembremos um pouco da vida e trajetória deste meu amigo, para mim o maior escritor de todos os tempos, século após século, do Brasil e do mundo: Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS.

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Imagine um garoto mulato, pobre, gago e epilético, filho de pai pintor e mãe lavadeira num Brasil colônia da segunda metade do século XIX…

Uma pessoa assim teria todas as prerrogativas de não se dar bem na vida, certo?

Nem tanto!

As tendências às vezes são só tendências e caem frente às grandes almas…

Estamos falando de Joaquim Maria Machado de Assis, para muitos (inclusive para mim) o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos mais notáveis escritores do mundo, que revolucionou as nossas letras e a nossa maneira de enxergar a vida.

Contrariando a normalidade, Machado de Assis teve uma existência relativamente estável e conheceu, em vida, o prestígio e a fama que lhe cabiam. Foi um dos fundadores, em 1897, da Academia Brasileira de Letras – ABL e eleito seu presidente vitalício. Ao morrer, em 1908, recebeu honras fúnebres de chefe de Estado.

Nada poderia contrastar mais vivamente com seu nascimento, em 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, e com sua infância de menino órfão e pobre (sua mãe morreu quando ele tinha 10 anos de idade e seu pai casou-se novamente, vindo morrer pouco tempo depois), sendo criado pela madrasta (felizmente boa, para diferenciar das histórias e contos de fadas…).

Entre nascimento e morte, Machado percorreu um duro caminho de quem se faz pelas próprias mãos – mulato pobre de subúrbio, ele se transformaria num dos mais respeitados intelectuais da corte.

Pelo que indicam os registros, Machado de Assis não frequentou a escola, embora tivesse aprendido a ler antes dos 10 anos. Ainda criança, vendeu doces na rua para ajudar a sustentar a casa. Caixeiro de uma livraria, tipógrafo e revisor foram algumas profissões que exerceu antes de se tornar jornalista e escritor.

A estabilidade econômica, porém, veio de outras fontes. Como uma boa parcela da intelectualidade brasileira da época, Machado ingressou no funcionalismo público. Chegou a fazer carreira, foi oficial-de-gabinete de ministro e diretor de órgão público. Em 1889, ano da Proclamação da República, dirigia a Diretoria do Comércio. Nessa época já era um escritor consagrado.

Costuma-se dividir a obra de Machado de Assis em duas fases bem distintas: a primeira apresenta o autor ainda preso a alguns princípios da escola romântica, sendo por isso chamado de fase romântica ou de amadurecimento; a segunda apresenta o autor completamente definido dentro das ideias realistas, sendo, portanto, chamada de fase realista ou de maturidade.

Em 1904, a vida de Machado de Assis é abalada pela morte da esposa – Carolina Augusta Xavier de Novaes – uma base sólida para a sua carreira de escritor e sua companheira por 35 anos, e de quem ele nutria um amor incondicional.

Cultuado em seu tempo (e até hoje) como escritor “clássico”, representante máximo de nossa “boa literatura”, Machado de Assis soube, como nenhum outro escritor brasileiro, revelar os meandros da alma humana e combater, pela ironia sutil, as mazelas de nossa sociedade, ainda colonial, escravocrata e autoritária.

Parece interessante?

Então veja abaixo um panorama geral para conhecer toda a brilhante trajetória de Machado de Assis – o bruxo do Cosme Velho –, algumas de suas ideias e um cronograma básico com as suas principais obras para quem quer se deliciar nessa leitura, que é um verdadeiro mergulho nas profundezas da alma pelo viés da literatura.

MACHADO DE ASSIS – O BRUXO DO COSME VELHO

1839 – Joaquim Maria Machado de Assis nasce no morro do Livramento, Rio de Janeiro, em 21 de junho, filho do pintor e dourador Francisco José de Assis (neto de escravos) e de Maria Leopoldina da Câmara (portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, nos Açores) – que viviam na condição de agregados na chácara de Maria José de Mendonça Barroso Pereira.

1854 – Cinco anos após a morte de sua mãe, seu pai se casa com a mulata Maria Inês e a família se muda para São Cristóvão. Publica seu primeiro poema, “Soneto”, no Periódico dos Pobres.

1885 – Trabalha na livraria  e tipografia de Paula Brito, que edita o jornal de variedades “A Marmota Fluminense”, no qual Machado publica os poemas “Ela” e “A palmeira”. Participa das tertúlias da Sociedade Petalógica (nome derivado de “peta”, “menina”), grupo de intelectuais frequentado esporadicamente por José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo e Francisco Otaviano.

Primeiro fase – romântica

1860 – A convite de Quintino Bocaiúva, trabalha como repórter do Diário do Rio de Janeiro, órgão do Partido Liberal.

1864 – Publica “Crisálidas”, seu primeiro livro de poesias, pela editora Garnier.

1867 – É nomeado ajudante do diretor de publicações do Diário Oficial.

1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes. Publica “Contos Fluminenses” e “Falenas” (poesias).

1872 – Estreia de Machado no romance com “Ressurreição”.

1873 – É nomeado primeiro oficial da Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.

1874 – Lança em livro seu segundo romance, “A mão e a luva”, que havia saído em folhetim no jornal O Globo.

1976 – Publica “Helena”.

1878 – O Cruzeiro publica, em folhetim, o romance “Iaiá Garcia”.

Segunda fase – madura

1881 – Publicação em livro de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (que havia sido publicado em capítulos na Revista Brasileira).

1884 – Muda-se para a rua Cosme Velho, nº 18. Publica o volume de contos “Histórias sem data”.

1886 – Começa a publicar, em folhetim, o romance “Quincas Borba” (que será impresso em livro em 1891).

1888 – Recebe da Princesa Isabel a Ordem da Rosa.

1889 – É nomeado diretor da Diretoria Geral do Comércio.

1893 – Com a reforma ministerial, que transforma a Secretaria da Agricultura em Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas, Machado é nomeado diretor-geral da Viação.

1897 – Participa da fundação e é eleito presidente da Academia Brasileira de Letras.

1898 – É colocado em disponibilidade na Viação.

1899 – Lança “Dom Casmurro”.

1902 – Volta a trabalhar na Viação, agora como diretor-geral da Contabilidade.

1904 – Publicação do romance “Esaú e Jacó”. Carolina morre no dia 20 de outubro.

1908 – Morre no dia 29 de setembro, dois meses depois do lançamento do seu último romance, “Memorial de Aires”.

SUAS IDEIAS

“Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é saber amar”.

“Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e o amor com casamento”.

“O dinheiro não traz felicidade – para quem não sabe o que fazer com ele”.

“Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito”.

“Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens que de um terceiro andar”.

“Para as rosas, escreveu alguém, o jardineiro é eterno”.

“Botas… as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar”.

“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução”.

“Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas”.

“Que multidão de dependências na vida, leitor. Umas coisas nascem de outras, enroscam-se, desatam-se, confundem-se, perdem-se, e o tempo vai andando sem se perder a si”.

CRONOGRAMA BÁSICO COM AS SUAS PRINCIPAIS OBRAS

Romances

Ressureição (1872)

A Mão e a Luva (1874)

Helena (1876)

Iaiá Garcia (1878)

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Casa Velha (1885)

Quincas Borba (1891)

Dom Casmurro (1899)

Esaú e Jacó (1904)

Memorial de Aires (1908)

Contos

Contos Fluminenses (1870)

Histórias da meia-noite (1873)

Papéis avulsos (1882)

Histórias sem data (1884)

Várias histórias (1896)

Páginas recolhidas (1899)

Relíquias de Casa Velha (1906)

Contos avulsos.

*Referências:

Literatura brasileira: das origens aos nossos dias – José de Nicola.

Ler é aprender – Machado de Assis/Estadão.

Revista CULT – As magias literárias de Machado de Assis – julho/1999.

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Gostou de conhecer a história de Machado de Assis, esse grande escritor brasileiro e meu amigo? Então compartilhe esse conteúdo e ajude a divulgar essa informação, fomentar a leitura e valorizar a literatura clássica!

A propósito, que tal mencionar logo abaixo nos comentários qual obra de Machado mais lhe marcou? Se ainda não leu, é um bom momento para começar!  

Lembre-se!

COMPARTILHAR É SE IMPORTAR!

Forte abraço!
Leandro Bertoldo Silva.

ALGUMAS PALAVRAS “PARA SEMPRE AMANHÔ

Por Leandro Bertoldo Silva e Elisa Augusta de Andrade Farina

Ao longo do caminho da escrita de um livro encontramos vários “anjos da guarda”, pessoas a nos estenderem a mão ao compreenderem a importância daqueles momentos a se formarem em verdadeiras histórias nascidas de um ato de amor com as palavras.

Uma dessas pessoas a existir nesse “Para sempre, amanhã”, se fez presente logo no início de tudo: Elisa Augusta de Andrade Farina. Elisa é uma alma diferenciada que entende a essência das sensibilidades. É capaz, como diz Manoel de Barros, de “fazer uma pedra dar flor”, tamanha a sua capacidade de absorver a poesia da vida.

Além de possuir tudo que a literatura mais necessita para florescer, Elisa é minha grande amiga, alguém a fazer morada em mim de um jeito especialíssimo. Foi por tudo isso e muito mais que entreguei a ela o carinho do prefácio deste livro para que sempre possam, seja nessa ou em todas as manhãs do mundo, estarem eternizadas suas tão inspiradoras palavras.

Tenho o prazer de vir aqui neste espaço, na companhia de vocês, antecipar o que me foi dito. Leia a seguir o prefácio de “Para sempre, amanha”.

Obrigado, minha amiga!

PREFÁCIO DO LIVRO “PARA SEMPRE, AMANHÔ

Elisa Augusta de Andrade Farina
Presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni

A palavra é a matéria prima da Literatura. Saber usá-la, aproveitando todo o seu poder de sugestão, com originalidade e propriedade, é o objetivo do escritor. Aí residem a sua arte e o seu talento. Aproveita o poder e a originalidade que as palavras oferecem na apreensão da magia poética dos fatos, estruturando as tramas e liames de forma harmônica e estética de todo o conteúdo literário que cria. É o mundo vasto das letras e o poder da palavra.

Parabéns, Leandro, por nos presentear com mais um livro repleto de sentimentos que nos inspiram. Só quem vive sua essência e age de acordo com o que realmente tem no coração pode expressar tantos sentimentos, que tocam nossa alma de leitores, provocando reflexão nos espaços que reforçam a troca de saberes.

Convido a todos a darem um mergulho no universo criativo que o autor nos oferece. Seremos envolvidos pela singularidade contida em cada criação literária, em que o autor deixa antever a sua alma, numa transparência de asas de borboletas multicoloridas, prontas para o voo ao mundo criativo das palavras que nos deleitam.

Cada palavra traz em si um universo indefinível de significados e significantes.

A delicadeza tão peculiar do autor na sua construção literária já é sentida pela escolha do título: “Para sempre, amanhã”, que nos remete a crer que há esperança, apesar dos revezes das armadilhas cotidianas de nossas vidas.

Em seus textos extraímos a genialidade como constrói suas tramas. Suas memórias, tal qual o fio de Ariadne, são costuradas de maneira tão forte e singular, levando o leitor a embrenhar-se em suas lembranças, conduzindo-o através dos labirintos de suas “verdades” de forma mágica, adentrando seus pensamentos e sentimentos guardados nos porões de sua alma sonhadora.

Quando fala da dor, do amor, de seus medos, angústias, frustrações, das lágrimas derramadas em silêncio e também do sorriso esboçado,  quando pousa o olhar de poeta nas coisas “desimportantes”, extraindo a beleza que precisa ser revelada, só para citar alguns pontos de vista distintos, baseados em minha leitura.

Vou deixar para o leitor o prazer de encontrar em cada página que ler a sua análise, para valorizar o talento do autor nos desdobramentos literários e poéticos.

Que este livro tenha a capacidade de iluminar mentes, aquecer corações e inspirar transformação em direção a uma nova realidade do mundo literário humano e libertador.

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A campanha de pré-venda com o preço promocional está chegando ao fim. Estará aberta até o dia 17 de setembro/2025. Quem desejar adquirir, presentear e receber este livro autografado, ou durante o evento de lançamento na FLIM – Festa Literária Vale do Mucuri, em Teófilo Otoni, do dia 16 ao dia 21 de setembro/25, ou em casa, é só acessar o link abaixo e preencher o formulário.

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Forte abraço e até lá!

PROCESSO DE PRODUÇÃO “PARA SEMPRE, AMANHÔ

Por Leandro Bertoldo Silva

Escrever um livro já é algo extraordinário; confeccioná-lo é especial e encantador. Cada etapa, desde a escolha dos papéis, a furação, a costura, a cor da linha, a aplicação das guardas e capas é uma história sendo contada em tempo real a acolher outras histórias escritas anteriormente.

Nesse processo tudo é muito importante: o toque das mãos, o olhar cuidadoso, o tempo das esperas para ver unidos o sonho e a realidade. Tudo é muito mágico. Compartilho nesse vídeo um pedacinho desse sentimento e do prazer em ver nascer algo que é, ao mesmo tempo, uma obra de arte e um reflexo do próprio coração.

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Amigos leitores e leitoras, a campanha de pré-venda do livro PARA SEMPRE, AMANHÃ continua aberta. Ela irá até o dia do lançamento, 17 de setembro deste ano. Quem desejar receber o livro autografado com valor promocional no dia do evento na FLIM – Festa Literária Vale do Mucuri, em Teófilo Otoni ou mesmo em casa em qualquer cidade do Brasil, é só entrar neste link https://forms.gle/7F5WRyu7GttX7Tk28 e preencher o formulário.

Um forte abraço e até a próxima!

Leandro.

PARA SEMPRE, AMANHÃ – O NASCER DE UM NOVO LIVRO

Por Leandro Bertoldo Silva

“PARA SEMPRE, AMANHÔ é o meu novo livro, o sexto, feito pela Editora Árvore das Letras através do selo Alforria Literária.

Trata-se de uma obra que vem dialogar com as nossas memórias em uma mescla de realidade e ficção e mostrar a importância de registrar histórias.

Escrito em crônicas e contos e baseado no pensamento de Mia Couto de que “um bom livro acaba por nos empurrar para a escrita”, o livro convida não apenas à leitura, mas também ao desejo de escrever as próprias memórias.

A obra é resultado de originais primeiramente escritos à mão, originais estes sempre a me acompanhar, e posteriormente publicados no blog da Árvore das Letras, desde janeiro de 2017. É, portanto, um recolho dos textos mais lidos e comentados, além de outros inéditos, os quais ganham formatação e diagramação em uma estrutura de encadernação artesanal e inovadora, cuja capa é costurada ao miolo em uma releitura do estilo Sewn Boards Binding, dando ao livro um aspecto contemporâneo e muito elegante.

Busca-se, assim, ser uma obra de arte por dentro e por fora onde todos os amanhãs serão eternos.

O lançamento do livro acontecerá no dia 17 de setembro de 2025, na FLIM – 2ª Festa Literária Vale do Mucuri, em Teófilo Otoni/MG. Os mesmos serão entregues autografados no lançamento ou enviados pelo Correio a partir do dia 22 de setembro de 2025, após a Festa Literária.

Pelo Correio, o envio será através do sistema módico, com o encaminhamento do código de rastreamento postal.

Para adquirir o livro na pré-venda e garantir o seu exemplar autografado com o valor promocional é só clicar no link abaixo e preencher o formulário, o qual contém as informações necessárias.

https://forms.gle/7F5WRyu7GttX7Tk28

No mais, agradeço muito a sua adesão na certeza de que todos os amanhãs serão eternos.

Um forte abraço!

Leandro Bertoldo Silva.

PESSOAS NA PESSOA

Por Leandro Bertoldo Silva

Era o mesmo ritual todas as manhãs. Ao acordar e logo depois do desjejum, se preparava para ir à biblioteca. Lá o recebia o bibliotecário com um olhar inquiridor como se esperasse sempre outra pessoa.

— O que vai ser hoje, Seu…

Nunca terminava a frase. Já se passavam meses e não lhe sabia o nome.

Seu… estranhava esse comportamento e essa maneira de ser recebido como se fosse sempre outro alguém. Com o tempo passou a compreender o homem, pois a cada dia sentia-se diferente. Passou a olhar-se no espelho e a cada vez era como se sua imagem se desfocasse antes de se firmar quase imperceptivelmente alterada. Não era apenas uma ruga a denunciar a passagem do tempo ou outro indício físico a marcar-lhe mudanças, mas algo a metamorfosear os sentidos e desejos da natureza de sua alma.

Gostos culinários se alternavam, certezas e convicções desmoronavam e transfiguravam em outras antes rejeitadas. Os cabelos outrora partidos ao meio ganhavam dia a dia um penteado inédito. É como se já não tivesse filosofias, tivesse sentidos… Tudo transformava, menos o gosto pela poesia.

As mudanças se sucediam e o bibliotecário já não sabia quem recebia, embora nunca o soubera. Um dia, Seu… ao devolver um dos livros tomado por empréstimo deixou esquecido dentro dele um papel escrito à lápis- nunca usava canetas -, onde se lia:

Um certo poeta
sempre viverá em mim.
Ou melhor, em mins…

Abaixo dos versos estava escrito um nome:

Bernardo Soares.

Descobrira enfim.

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A poesia sempre nos transporta para outros lugares, muitos deles versões de nós mesmos… Quais são as suas?

Forte abraço!
Até a próxima.

O QUE FAZ ANDAR A ESTRADA?

Por Leandro Bertoldo Silva

Quem me conhece sabe: há tempos digo que a literatura de nossos irmãos africanos (e a África são muitas) é uma das vozes mais marcantes da contemporaneidade. Escritores como Pepetela, Luandino Vieira, Mia Couto, Paulina Chiziane e tantos outros, assim como Mangel Faria, Tomé Nassapulo, Antônio Alexandre, Kafala Tibah que integram hoje a minha irmandade literária na Árvore das Letras, tornaram-se meus pais e mães de referência do que mais belo é produzido em nossas letras e em nossa língua portuguesa. Ter uma crônica minha — Crônica Testamento — publicada no Jornal Pungu Ndongo, de Angola, é mais do que uma alegria, é a felicidade de uma certeza que eu, quando criança, tinha ao sonhar em ser escritor e lia de cima do pé de ameixa os meus primeiros livros. Nascia ali, entre galhos e frutos, a minha caminhada na vida.

Não por acaso tenho para mim uma frase de Mia Couto:

“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar, a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”.

E aqui estou eu neste caminho irmanado com tantos amigos e amigas das letras ao fazer da literatura a minha casa, ao abrir as suas portas e voar para além-mar, como também trazer para cá o melhor que existe lá.

Que essas estradas frutifiquem; construamos pontes ao invés de muros e façamos da literatura um único lugar sem fronteiras e distâncias, porque o que está longe se torna perto na descoberta do olhar.

Sigamos.

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Deixo aqui o meu agradecimento coletivo a Mangel Faria, António Alexandre, Tomé Nassapulo, Kafala Tibah e todos e todas irmãs e irmãos de África pela partilha e pelo convívio que estamos a construir semanalmente, não apenas pelas publicações, mas pela Vivência Novos Autores, onde, juntos fazemos a literatura frutificar.

Para quem deseja saber mais a respeito da Vivência Novos Autores e de como participar dessa construção literária, é só clicar AQUI.

Sejam todos bem-vindos e bem-vindas.

NO MEIO DO CAMINHO

Por Leandro Bertoldo Silva

Tudo era sempre igual para o senhor Todo Dia. Sua vida desconhecia pausas e era desprovida de sorrisos. Todo ele era um endurecer de pedra. Faltava-lhe tempo de ser quem gostaria, ou nem sequer o sabia; tornara-se doente dos sentidos.

Com isso, não percebia nada além do cinza. Seus olhos desacostumaram-se das cores. O corre-corre do trabalho, das obrigações cada vez mais exigentes faziam de Todo Dia alguém a passar bem longe  da alegria das coisas valiosas. Engraçado, todas elas eram desimportantes: o cantar dos pássaros de manhã ao saldar o sol, o cheiro do dia impregnado na brisa suave das primeiras horas, o zum, zum, zum das abelhas com suas patinhas carregadas de pólen a visitar aromas, e tantas inutilidades despercebidas para o senso comum.

Porém, um dia, sem nem saber o porquê, algo o fez olhar para cima exatamente no lugar onde sempre passava com os olhos colados ao chão a procura de uma poesia perdida. Bem no alto, lá estava junto a duas espécies de flores a destacar em igual vermelho e branco uma ordem: Pare! Imediatamente, obedeceu ao imperativo daquele momento e tudo se coloriu instantaneamente. Havia encontrado seus versos:

No meio do caminho…
Bem, não havia pedras,
havia flores.

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A foto acima foi tirada durante uma caminhada. É impressionante o que está ao nosso alcance quando estamos sadios dos sentido…

Um forte abraço.
Até a próxima.

PIERRE ANDRÉ – A INCRÍVEL ARTE DE SER CRIANÇA

A Árvore das Letras conversou este mês com quem podemos chamar de “uma figuraça”: um menino de um pouco mais de 50 anos. Sim, menino, a eterna criança Pierre André. A diferença dele para Peter Pan é que ele quis crescer, mas para ficar melhor disfarçado… Bem, isso ele não me disse, mas deixo aqui como um palpite.

De qualquer forma, Pierre é mais do que um amigo, é um irmão, companheiro de muuuuuuuita estrada e eu sempre o tive como um dos artistas mais inspiradores e talentosos que eu conheci até hoje. Eu tenho a sorte de conviver com ele e, por isso, por saber o quanto esse “Meu Fii” (forma carinhosa que nos chamamos sem que nem eu, nem ele sabemos quem é fii de quem e nem mesmo como isso começou), tenho a felicidade de trazê-lo mais uma vez aqui, mas em pessoa, ou melhor, em palavras para que todos possam também conhecer um pouquinho mais desse grande artista.

Vamos lá…

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Árvore das Letras: Quem é Pierre André por ele mesmo?

Pierre André: É um menino muito tímido, sério mesmo, que com 20 anos de idade resolveu fazer um cursinho de teatro para perder a timidez e se apaixonou pelas diversas artes que conheceu através e por meio do teatro. Um menino que, por acaso, há 27 anos começou a contar histórias e teve sua vida transformada a partir daí. Um menino que nunca vai deixar de ser criança, não esquecendo as responsabilidades do adulto, oculto dentro de si.

AL: Quem te conhece mais de perto tem a sensação de que você já nasceu artista. Você já apresentava essa inclinação desde criança, ou melhor, de menino pequeno, ou a arte foi se formando aos poucos dentro de você?

PA: Talvez sim, desde criança (menino pequeno). Adorava pegar meus retratos que mamãe, carinhosamente, mandava emoldurar e rabiscava-os todos. Nem ela, nem ninguém, muito menos eu, percebia que aquilo poderia ser uma manifestação de arte. Na adolescência comecei a fazer “arte excessivamente abstrata” nos cadernos e durante as aulas; depois comecei a desenhar, no olhômetro, capas de revistinhas. Mas a arte da representação mesmo começou no início da minha fase “cronologicamente” adulta.

AL: Como você iniciou no teatro? Quais foram as circunstâncias que o levaram e o que você almejava?

PA: Sem querer querendo, já meio que respondi na primeira pergunta, mas sobre o que eu almejava, definitivamente era só perder a timidez, jamais imaginava um dia subir em um palco encenando uma peça de teatro.

AL: Nesse caminho do teatro houve uma pessoa que foi responsável pela formação de muitos artistas, inclusive a sua em muitos momentos. Estou me referindo ao grande mestre Ítalo Mudado. Fale um pouco da convivência que você teve com o Ítalo e da importância que ele exerceu na sua vida enquanto artista e enquanto pessoa.

PA: Ficaria aqui horas e horas falando do mestre Mudado que, literalmente, mudou a minha vida. Quando ensaiava com ele aquele que seria meu primeiro espetáculo, me convidaram para fazer figuração em uma peça profissional de um diretor chamado Kalluh Araújo. Comentei com o Ítalo dizendo que não aceitei pois queria continuar fazendo a peça com ele. Então ele me disse que se eu não aceitasse me mandaria embora, pois eu estaria perdendo a chance de estar atuando com um diretor premiado e em meio a atores profissionais. Enfim fui, mas voltei para o grupo Intervalo, que era o grupo do Ítalo, e fui fazendo várias peças. Certa vez tentei escrever uma peça e, antes de terminar, pedi para que ele lesse. Resultado, “coisa horrorosa!”, ele disse, mas continuou dizendo que se eu quisesse escrever alguma coisa boa, teria que ler muito. Certa vez, pedi para ele dirigir uma peça infantil e ele me disse que se eu encontrasse uma muita boa ele poderia até dirigir. E de tanto ler peças infantis, e ele nunca gostava de nenhuma, resolvi tentar escrever a minha própria. E acredite, ele gostou e foi o primeiro espetáculo infantil do grupo Intervalo dirigido pelo mestre Mudado, “O Espelho Mágico”.

AL: Qual foi a sua primeira peça como ator? Fale um pouquinho de cada uma que você trabalhou e qual você tem um carinho mais especial?

PA: Minha primeira peça foi “Drácula”, a que “fui demitido” pelo Ítalo para poder fazer. Foram tantas peças que fiz de 1991 a 2009, que precisaria de mais um bocado de horas pra falar de cada uma. Mas quero citar duas aqui. A que tenho um carinho especial é, sem dúvida, “O Espelho Mágico”, por toda a circunstância que a fez acontecer, embora eu só tenha um arrependimento: a de ter pedido ao Mestre Mudado para me deixar fazer o personagem Espelho, pois eu não tinha a experiência de ator que o personagem exigia àquela época; e só com o tempo e a própria experiência fui percebendo isso. A outra, que não por caso fiz com o entrevistador aqui em questão, foi “Vamos Acordar os Sonhos”; a propósito a última peça que fiz. Depois a contação de histórias foi ganhando cada vez mais espaço em minha vida profissional e eu tenho muito amor por essa arte maravilhosa e desafiadora. Mas todas as peças que fiz, ou quase todas, podem ser vistas aqui neste link: https://www.pierrecontacontos.com/ator

AL: Além de trabalhar como ator nas peças, você exerceu outras funções, como no trabalho da técnica: iluminação, cenário, sonoplastia. Como isso te ajudou na sua formação como artista?

PA: Fo exercendo essas atividades no grupo Intervalo, meio que pela necessidade, que fui percebendo que poderia ter dons que jamais imaginava. Aprendi e cheguei a ser elogiado por alguns erros em cena, que rapidamente tinha que improvisar algo. Como um dia que errei o foco de luz, que era pra ter sido frontal, e acendi o foco contrário, deixando o ator, que por pouco poderia ter sido o nosso entrevistador, no escuro. Mas ao perceber que o ator continuou falando o texto na penumbra, eu pensei: “olha que legal” e deixei, senão todos perceberiam que tinha sido erro do iluminador, no caso meu. Após o espetáculo, o mestre Ítalo veio se aproximando de mim, eu pedi desculpas e ele disse: “coisa horrorosa… Mas pode manter o erro a partir de agora, eu gostei”. Neste espetáculo fui apenas o operador de luz, no próximo que fui chamado para técnica, fiz a concepção de luz.

AL: Além de ator, você também atuou como diretor, produtor e dramaturgo. Fale um pouco sobre isso.

PA: Diretor e produtor foram acasos do destino, que não me arrependo de ter feito, mas eu gostava mesmo era de atuar. Como dramaturgo (nem sabia que eu era isso), escrevi somente peças de teatro infantil. Meus textos, ou quase todos, também podem ser lidos no link: https://www.pierrecontacontos.com/autor

AL: Até agora falamos sobre o Pierre André no teatro. Mas tem um lugar em que você se tornou seguramente uma das maiores referências em Belo Horizonte e até fora da cidade, que é a contação de histórias. Como foi que ela surgiu na sua vida?

PA: Comecei a contar histórias em 1997, meio que por acaso. Certo dia eu estava lendo o jornal, quando vi uma nota sobre o “VII Concurso Os Melhores Contadores de Histórias”, organizado pela BPIJBH – Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. Resolvi me inscrever. Peguei, então, uma peça de teatro que havia escrito (“A Floresta Mágica”) e fiz uma adaptação da história. Na hora da inscrição fiquei sabendo que a história não podia passar de 10 minutos. “E agora?” – pensei. Foi quando lembrei de um conto do Wood Allen, chamado: “Que Loucura!” Resolvi me inscrever, então, na categoria “texto para adultos” com esse conto. Dos vinte candidatos inscritos, três foram selecionados para a final e, para minha surpresa, eu fui um deles. No dia da final cheguei acreditando que ficarei em terceiro lugar; para mim isso já era uma grande vitória. Quando veio o resultado, acredite, eu tinha ficado em primeiro lugar. Pensei que os jurados haviam errado no resultado, mas como não sou nada bobo, fiquei caladinho, peguei meu prêmio e sai de lá feliz da vida e rapidinho, antes que mudassem de ideia.

AL: Ser ator e ser contador de histórias… Qual a diferença? Aliás, tem diferença? Como transitar entre as duas coisas?

PA: Sim, há muita diferença. Primeiro que para contar histórias quem conta não é um personagem, é a gente mesmo. No teatro são os personagens que incorporamos, deixamos eles entrarem na gente. Nele o texto tem que ser decorado ao pé da letra, salvo algumas exceções, que são usadas nas “comédias/besteiróis”. Na contação de histórias, eu pelos menos não decoro, memorizo as histórias, cujas quais entro nelas para contá-las. Minha experiência como ator, claro, me ajuda muito, pois gosto de fazer as vozes dos personagens. Então, nesses momentos me torno os personagens, mas nunca perdendo o foco do narrador que está sempre focalizado com o seu público, interagindo o tempo todo.

AL: Qual a memória mais marcante que você tem na contação de histórias e qual o seu maior sonho com esse trabalho?

PA: Sem dúvida foi quando ganhei o concurso. Porém, já trabalhando com a contação de histórias, tem vários momentos, mas jamais vou esquecer do dia que um garotinho pequenininho me disse: “Pierre André, quando eu crescer vou ser contador de história também”. E o meu maior sonho é poder me dedicar exclusivamente à minha biblioteca comunitária, não só contando histórias para as crianças da comunidade, mas, e por que não, despertando novos contadores de histórias.

AL: Além de tudo isso, você também é escritor e possui dois livros publicados de muito sucesso, inclusive muitas escolas tanto de Minas Gerais como de outros Estados já os adotaram. Estou me referindo a “Emengarda, a barata” e “Bichos De-Versos”. Fale um pouco desses dois livros, como eles surgiram e como eles estão hoje.

PA: “Emengarda, a Barata” eu escrevi devido a um “trauma de infância”, porque quando me contaram a tradicional história da dona Baratinha, o pobre coitado do rato caiu na panela de feijão e nunca tirei isso da cabeça, e nunca fui ao teatro da dona baratinha também não. Quando comecei a contar histórias, resolvi contá-la do meu jeito, misturando a tradicional história com a cantiga, “A Barata Diz Que Tem”. Certo dia, uma aluna, Maria das Graças Augusto, do curso de contação de histórias da Aletria, onde eu dei algumas aulas sobre bonecos e contei a minha versão, pediu para contá-la e, para a minha surpresa, ela contou na formatura do curso. Rosana, a dona da escola, me disse que estava criando a editora e assim nasceu o primeiro livro comercial e em catálogo até hoje da editora Aletria. Já o motivo de como escrevi o “Bichos De-Versos”, caso consiga marcar uma entrevista com Deus, pergunte a ele e depois me diga… É o que poço dizer. Mas o livro mesmo, foi que eu trabalhava em um projeto chamado Caravana Poética, da Ana Cristina, onde eu contava muito as histórias/poemas que hoje estão no livro, mas sem pensar nisso. Certo dia, em um dos piores momentos da minha vida, em pleno tratamento de hemodiálise, Ana Cristina chega com um projeto para eu assinar. Em plena sessão eu assinei, o projeto foi aprovado e captada a verba. Eu, ainda em hemodiálise, agradeci a Ana Cristina que fez toda a produção do livro. Eu fiquei feliz com isso, claro, mas estava em completa depressão pelo que eu estava passando. Enfim, livro sendo produzido e eu aguardando o tão desejado e sonhado transplante. No dia 15 de agosto de 2012 saiu o meu transplante e no dia 12 de dezembro foi o lançamento do livro. “Emengarda, a barata”, hoje, continua na editora Aletria e o “Bichos De-Versos” infelizmente está esgotado.

AL: Você sempre gostou de ler? Como a literatura surgiu para você?

PA: Sinceramente, não. A leitura entrou de fato na minha vida a partir do momento em que o mestre Ítalo me disse: “se você quiser escrever alguma coisa boa tem que ler muito”. Ítalo Mudado mudou o meu lado leitor. A literatura posso dizer que surgiu para mim depois que comecei a contar histórias e viver, literalmente e literariamente, esse mundo.

AL: Você mantém uma biblioteca comunitária, falou dela há pouco. Como iniciou essa ação e quais as atividades são realizadas lá?

PA: No início da minha carreira de contador de histórias eu trabalhava basicamente para editoras e com isso ganhava muitos livros. Certo dia, resolvi fazer de uma parede do meu quarto uma biblioteca infantil. Enquanto planejava como colocar em prática a ideia, minha amiga Edméia Faria, idealizadora do Projeto “Leitura na Calçada”, que daria mais umas duzentas horas para falar dele, me ofereceu os livros do projeto que ela já não realizava mais. Aceitei, claro, mas a minha parede não caberia os aproximadamente 400 livros infantis que ela me deu. Tive que fazer a biblioteca na garagem. Por isso dei o nome de “Garagem de Histórias”, que ficou sendo a minha biblioteca pessoal aberta à comunidade. Com o tempo, tive que mudar de casa, hoje sem garagem, mas para não desfazer de tudo que eu já tinha adquirido, inventado e ganhado, aluguei uma loja dentro da comunidade Vila Nova Paraíso. Depois disso, registrei e hoje a “Garagem de Histórias”, que tem como razão social, “Espaço Cultural MamaPapi’s” (em homenagem aos meus pais que hoje estão no céu, mas viveram esse sonho comigo), é uma OSC. Ainda não consegui pôr em práticas as atividades que pretendo realizar lá, ou seja, as contações histórias, mediação de leitura, oficinas para todas as idades, inclusive de mediação de leitura para mamãe e papais, como incentivo para lerem para seus filhos, ganhando a atenção deles. Como tenho que pagar as contas, preciso trabalhar e, para isso, preciso estar nas escolas quase que diariamente. Então ainda não posso me dedicar como, em breve, estarei me dedicando.

AL: Você tem ideia de quantos livros você possui catalogados na biblioteca e como conseguiu montar esse acervo tão grande?

PA: Hoje tenho mais de três mil livros, a maioria infantis. E a maioria são de doações que recebo.

AL: O que você acha que é preciso para ser um bom escritor, principalmente para crianças?

PA: Acho que acima de tudo para ser um bom escritor é preciso escrever com amor. E escrevendo para criança, escreva como criança, você escreverá como gostaria de ler e ouvir.

AL: Você hoje faz parte da Turma Manoel de Barros, da Vivência Novos Autores da Árvore das Letras, que é um encontro online de pessoas que gostam de ler e escrever. Fale um pouco como esse trabalho te ajuda nas suas criações e na sua escrita.

PA: Melhor coisa que me aconteceu literariamente nos últimos dois anos. Jamais me imaginava escrevendo um haicai e um texto para adultos, embora esses eu dou um jeitinho de disfarçar nos que escrevo. Uma coisa muito interessante que descobri é que as cartas, que hoje quase ninguém as escreve mais, além de nos aproximar de pessoas distantes, nos inspiram a escrever histórias, poemas e, acima de tudo, sentimentos.

AL: Qual o seu maior sonho hoje?

PA: Poder me dedicar à minha biblioteca comunitária, estando presente e conseguindo pagar as contas.

AL: Como acha que a arte pode fazer a diferença na vida das pessoas?

PA: Sendo valorizada, incentivada, respeitada e amada.

AL: Estamos terminando e gostaria de agradecê-lo, principalmente por ser essa pessoa tão inspiradora. Mas quero te fazer uma pergunta especial. Se você hoje, com toda a experiência que possui, por tantos espetáculos na bagagem, incalculáveis contações de histórias, livros, enfim, toda a sua trajetória se encontrasse com o Pierre criança louco para ser artista, que conselho daria a ele?

PA: Embora ainda seja criança, se hoje eu encontrasse com o Pierre daquela época, que ainda não era louco para ser artista, diria (pra mim mesmo): “Menino, vai ser artista. A sua cura está dentro de você, seus dons, que você não faz ideia que os têm, mas que o tornarão uma criança feliz, um pouquinho louco, mas feliz.

AL: Como as pessoas podem entrar em contato com o seu trabalho, contratar suas contações de histórias, comprar os seus livros?

PA: Só procurarem pelas redes sociais por Pierre Conta Contos ou https://www.pierrecontacontos.com

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Bem, esse é o meu amigo, irmão, parceiro nas artes, “Meu Fii” Pierre André. Espero que tenha se inspirado em suas palavras e em sua trajetória que é só um pedacinho do que percorreu e ainda percorre nesse mundo de tantas estradas e histórias para contar…

O blog da Árvore das Letras é um espaço de literatura de identidade própria. Acompanhe todos os domingos e quartas-feiras entrevistas, poesias, crônicas autorais e de colaboradores e demais conteúdos literários e arte da encadernação e produção sustentável de livros.

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Um forte abraço!
Até a próxima.

UM LIVRO NUNCA TERMINA AO VIRAR DA ÚLTIMA PÁGINA

Por Leandro Bertoldo Silva

Li uma vez uma frase de Thomas Mann.

“Longa é a viagem rumo a si próprio.

Inesperada é sua descoberta”.

Como pode algo tão curto arrebatar a nossa alma? Duas frases, nada mais além disso, ali despretensiosas (?) a tirar-me o chão e encher-me de perguntas cujas respostas ficam naquele estado latente, prontas a eclodir, mas, por alguma razão, ainda falta.

Se já teve a sensação de bastar olhar para o lado e enxergar o que supõe estar ali, mas logo vir o sentimento de “e se não estiver, como será?”, sabe bem o que quero dizer.

Será esse o motivo de eu gostar tanto de reler um livro ao ponto de preferir essa prática ao lê-lo pela primeira vez?

Seja como for, um livro nunca termina ao virar da última página…

            — Por que lê tão repetidas vezes este livro? — perguntou-me uma voz.

            — Porque nele estou quase a encontrar a minha liberdade.

            — O que falta para isso?

            — A próxima leitura.

            — Não te angustia saber que pode novamente não encontrar?

            — Me angustia mais achar que já encontrei…

E não houve mais perguntas.

Muito menos respostas.

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Muitas vezes são nas miudezas da vida que escondem enormes transformações. Espero que esse brevíssimo diálogo possa trazer frutíferas reflexões.

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Forte abraço!
Até a próxima.