Descobri que não há nada mais triste do que o vazio.
Descobri que o vazio dói. E é uma dor tão grande, tão intensa, que só não é insuportável porque a vida é estrada contínua, sem fim, mesmo na ausência do próprio vazio.
Descobri que o vazio, mesmo triste, mesmo dor dilacerante, é uma poesia de esperança e paciência e reencontro. É preciso viver o vazio para poder preenchê-lo. E não me venha com “vai passar”, eu não quero que passe; quero que transmute, no seu tempo, em presença renovada, porque o vazio, naturalmente, não se enxerga com os olhos do corpo, mas se vislumbra com os olhos da alma.
Descobri que o vazio é triste sim, mas traz, na sabedoria do silêncio, a espera de poder existir.
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Hoje faz 15 dias que a minha mãe nos deixou. Ainda não consigo falar “morreu”. Talvez por nunca ter acreditado na morte. Não acredito nela. Porém, esse espaço que o vazio separa é um pouco do que disse acima. Poderia dizer mais, mas me calo nesse tempo de esperas.
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Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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4 comentários em “A VIDA É ESTRADA CONTÍNUA”
Meu irmão do coração e amado amigo ,o vazio da dor de preenche com a certeza de que seu amor por ela e dela por ti vive e assim sempre estará e é por esse amor que sua força vai se renovar
Meu irmão do coração e amado amigo ,o vazio da dor de preenche com a certeza de que seu amor por ela e dela por ti vive e assim sempre estará e é por esse amor que sua força vai se renovar
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Obrigado, meu querido amigo, por suas palavras e por todo o carinho.
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É isto, caro amigo: o vazio dói, mas traz a esperança nos nossos corações e alma.
Grande abraço.
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Sim, minha amiga… Muito obrigado!
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