CINCO PALAVRAS MÁGICAS

Po Kafala Tibah*

Elas doam uma aurora ao deserto e plantam filosofia na rosa dos ventos o canto do rio, sobre rios que percorrem parados a infinitude dos limites do imaginário imortal. São vocábulos escolhidos nos dedos da mão suada que fazem convergir à harmonia dos sentidos nas palavras de amor que nutrem pelas pessoas que são como o vento que não para de soprar para o norte de tudo.

Sabor latino e gelatinoso brota emoções, quem sabe até sentimentos transportando gente desejando todo bem a quem se vê. O vento dança o norte de tudo que permanece vazio na descoberta vazia. Num sabor de emoções latinas?… Sentimentos de gente, a quem se não viu aquela ânsia ou abraço amigo; nem a sombra de raiz nas palavras de amor que, nesse passar de anos sem mel, adormece na mente dos seres fatigados pela falsidade do pensar e da pobre mania de sonhar.

Pelos homens, alguém se esquece de amar; oferece carinho sem espinhos, numa estrada.

O amor de fé, alheio à sã consciência de Abraão, deu luz à íris uma estrada escrita para aqueles por quem se justificou uma troca fora da dimensão normal da compreensão humana…

Na justiça dum Príncipe herdeiro, gerou-se a graça. Quem tem Jesus desfruta a tranquilidade que caracteriza o brilho Céu.

Em um verdadeiro cristão, se pode sentir o equilíbrio de paz, fluindo na sua forma de ser.

Na vida cristã brilham estrelas que, pedagogicamente, doam uma nova dimensão de ver as coisas deste mundo. Mas se tomarmos a nova personalidade de Cristo Jesus.

A marca de sustentabilidade inquestionável na vida ideal será um feito com distinção espiritual. A pedagogia na vida profissional de um professor, oferece-lhe a água da vida de um mestre que faz crescer tudo que está baseado na didáctica das ciências que levam o homem ao sucesso, sabendo que a poesia, como sendo uma das formas mais antigas e populares de arte, de todos os tempos, está recheada de sabedoria.

Com a poesia nós criamos amor, sorrimos e fizemos pessoas sorrirem; ainda que haja quem possa, lacrimejar de olhos abertos e fechados, mesmo dentro do coração de uma mulher. A poesia dá o impulso aos homens despertando seu espírito e este cria sempre algo de valor baseados nos sentimentos e a imaginação criadora. A poesia de alguma forma inspira ou encanta qualquer ser humano, particularmente aqueles que navegam em nuvens azuis e brancas. É só para ver que a fala de uma mulher sempre tem poesia, seu corpo possui a estética que se apresentam em forma de palavras, seus seios possuem uma composição formal com versos estruturados de forma harmoniosa, mas os seus olhos são marcadamente poéticos e podem gerar sucesso.

Ter êxito, bom resultado é granjear sucesso. Quando temos um resultado feliz em algo que gostamos, o prazer de gostar alcança a temperatura adversa a do gelo formando bolhas e vapor de água. Sucessos sucessivos nas sucessivas projecções da pirâmide da vida se instalam no primeiro quadrante da vida, são saindo do positivismo do eixo das ordenadas no plano cartesiano da vida almejada.

Despertar sempre cedo transporta definir objectivos nosso tempo, reunir semanalmente com pessoas mais inteligentes que nós, perguntar “por que?”, para todo “não” faz-nos navegar sem internet no sucesso.

Pousarmos na autenticidade, sermos mais sociáveis, e se abrirmos bem as mãos de recompensas pequenas para alcançarmos as grandes, e se formos determinados e perseverantes, de mente aberta e se investirmos no nosso relacionamento amoroso o sucesso se alcançará sucessivamente com resultado mais infinito.

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* Kafala Tibah é pseudónimo literário de Moisés Kafala Neto, nasceu aos 05 de Dezemro de 1962 em Luanda, onde fez o ensino primário e secundário. É Licenciado em Ciências da Educação pelo ISCED (Instituto Superior de Ciências da Educação) de Luanda, na Opção de Ensino da Matemática. É Mestre em Infomática Educativa, Doutorado em Ciências Pedagógicas, é Perito Forense e foi funcionário sénior do extinto Ministério do Ensino Superior de Angola e também Presidente do Instituo Superior Politécnico Privado do Kilamba- ISPKILAMBA. Actualmente exerce a função de Vice-Presidente para a área Científica do Instituto Superior de Angola. 

É amante de literatura e membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola, desde 1989. Tem participação de trabalhos em Revistas Científicas da América Latina e em antologias poéticas. Participou em eventos internacionais sobre a cultura, particularmente no “Fenacult”. Fala fluentemente português, espanhol e kimbundo.

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ENVELHECER

Por Leandro Bertoldo Silva

O relógio soou naquela manhã diferente dos outros dias. Não pelo som, exatamente igual há tantos anos a se repetir metodicamente, mas na atmosfera daquele momento.

A sensação foi de não ter dormido, e sim de ter passado de um segundo a outro. Mal olhou para a janela escura pela noite lá de fora e, sem sequer mover um músculo e apenas piscar, o que era noite virou dia. Levou um tempo a entender tão brusca mudança na claridade do quarto. A sua volta, tudo igual: as mesmas dobras do lençol, a mesma posição das suas mãos ao tocarem de leve o travesseiro. Apenas a luz a revelar com evidência os objetos na penumbra de outrora.

 Como pôde?

Na verdade, só conseguiu entender quando, ao se levantar, o seu corpo, antes cheio de viço e elasticidade, mostrava-se agora mais enrijecido e calmo. As mãos de há pouco se apresentavam com algumas saliências de veias antes inexistentes. Ao olhar-se pelo espelho da parede, lembrou-se do retrato de Cecília, mas sem tristezas e amarguras por não dar-se às mudanças tão simples e certeiras. Havia envelhecido.

Em um brilho momentâneo tudo se assentou, assim mesmo calmo e sem excessos. Sentou-se à escrivaninha e em seu caderno de anotações curiosamente desgastado e com mais páginas preenchidas, acrescentou:

O envelhecer
é um suspiro do tempo
que descansa em mim.

E seguiu os seus dias.

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É incrível como a natureza nos ensina os caminhos da vida. A folha da imagem que ilustra essa pequena história havia acabado de se soltar em meio a tantas outras verdes e novas. Isso aconteceu no exato momento em que eu me sentei à sombra dos ramos que as sustentavam. A beleza desse acontecimento não deixou que eu o mantivesse apenas para mim…

Um forte abraço.

Até a próxima.

POR MUITOS OLHOS SOLARES

Por Patrícia Vaucher*

Hoje o dia está nublado. Mais um. Há pouco começou a chover fraquinho. Cedinho os helicópteros reiniciaram seus voos.

Recebi a ligação de uma amiga que mora longe. Preocupada com a situação, ela, cheia de dúvidas e indagações sobre a vida, questionou-me indiretamente sobre o bem e o mal. Não seria essa tragédia uma ação do bem para que a humanidade acorde? Resposta pra isso não tenho, mas percebo que esse evento está despertando muitas almas, a minha e a dela também!

Há dois dias bateu aqui em casa um casal de desabrigados. Vieram de Mathias Velho. Casa inundada, sem teto, duas filhas, muito medo e tristeza. Estão morando nas ruas. Aliás, numa avenida aqui perto em uma barraca. Tiveram uma experiência não muito boa num abrigo. Lutam por uma casa para retomarem suas vidas e abrigarem suas duas filhas que estão sob os cuidados de uma senhora. Foram avisados que terão que buscar as meninas hoje. Abrigo não querem. Têm a firmeza de quem muito lutou por seu lugar e não aceitam que as águas levem a força interior empregada no enorme esforço que fizeram na conquista de um terreno e uma casa humilde em Canoas. Com orgulho fincaram os pés no chão sem perder a esperança, na certeza de que conseguiriam a casinha alugada. A correnteza não os arrastou. Falta pouco pra conseguir o valor do aluguel, disseram-me na esperança de que eu o completasse. Perguntei sobre as habilidades deles. Faxina, pintura, fazemos qualquer coisa. Dei alguns alimentos e um celular que estava parado aqui. Retornaram para casa, digo, rua.

Em casa assistindo tanta tragédia pela TV, sentia a vontade de fazer algo para ajudar. Abrigos dispensaram-me, pois os voluntários são muitos. Penso que algo surgirá no tempo certo, porque as demandas após o “incêndio” serão numerosas. Pensei então que esse casal talvez seja uma boa oportunidade de fazer minha parte. Eles não sabem, mas dou uma monitorada neles diariamente passando de carro em frente à barraca que montaram em plena avenida. Pensei muito neles, vontade de abrigá-los, dar trabalho, esperança. Pedi que me dessem o número do celular quando conseguissem um número para o aparelho que entreguei.

Tive notícias hoje. Eles vieram aqui desesperados com a situação das filhas. Têm que buscá-las até as 13 horas. Entendi tanta aflição quando me perguntaram várias vezes as horas por volta das 10:45. Vieram pedir socorro. Precisam completar o tal valor do aluguel. Combinamos que me pagariam amanhã com serviço doméstico o valor que precisam agora. Mas, não resolvo sozinha. Pedi um momento para conversar com meu marido sobre isso. Retornei com a resposta e, olhando aquelas faces acinzentadas pela dor vi um brilho iluminando os olhos como se o sol tivesse aparecido subitamente por de trás das nuvens quando disse:

— Vou confiar em vocês!

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Patrícia Vaucher é escritora, Bacharel em Administração de Empresas, pós graduada em Arteterapia e  em  Psicologia Analítica. Facilitadora de Soulcollage. Trabalhou com cerâmica artística por mais de vinte anos em atelier próprio.  Conduz grupos de mulheres através do trabalho terapêutico com argila e Soulcollage. Pesquisa o Feminino na individuação e sua influência no processo de ampliação da consciência. Reside em Porto Alegre/RS.

Um forte abraço.

Até a próxima.

MUITO ALÉM DA COSTURA

Por Leandro Bertoldo Silva

Existem alguns “bichinhos” a picar a gente, mas, diferente daqueles a nos fazerem mal, esses fazem bem. Estou a falar de um deles: o bichinho da encadernação.

Desde criança, ao passar pela adolescência e até hoje em minha fase adulta sempre gostei de cadernos.

Lembro-me de um caderno brochura, capa de papel onde tinha um desenho de um tucano em meio a folhagens coloridas. Eu tinha 7 anos. Esse caderno ficava no guarda-roupa da minha avó e era onde ela anotava números de telefones. Nunca a imagem desse caderno saiu da minha cabeça. Adorava folheá-lo e admirar a capa.

O tempo passou e até hoje difícil é entrar em uma papelaria e não sair com um Caderno e muitas canetas…

Bem, as canetas continuam, mas os cadernos amenizaram um pouco o bolso (rsrsrs) a partir do momento que passei a confeccioná-los, daí o bichinho a me picar. O interessante desse contágio do bem é que os sintomas só aumentam e cada vez mais cadernos aparecem e fazem parte do repertório da alquimia da confecção. Sim, alquimia! O organizar os materiais, como linhas, agulhas, papéis, papelão, suvelas, réguas, estiletes, berço de furação, e tantos outros apetrechos, vê-los ali dispostos e já imaginar o caderno feito, é uma prática mística para mim ao florescer, como na Idade Média, arte, ciência e magia. Sem contar que um dos principais objetivos dela é obter o elixir da vida, a fim de garantir a imortalidade. E o que é um caderno se não um lugar para se eternizar através das palavras e desenhos? Não por acaso, gosto de deixar claro: não faço cadernos; faço, antes, suportes de sonhos.

Como tudo evolui, sigo a aprimorar essa artesania e a cada dia busco aprender uma costura nova, um ponto diferente.

Para mim, o mais encantador na encadernação artesanal é ela ir muito além da costura. Existem histórias contadas por trás de cada ponto. Eu, como escritor, prezo sempre pela arte de uma boa história e a junção de tudo isso me levou à apaixonante costura copta, uma técnica combinada de beleza, elegância, versatilidade e uma tradição milenar ao resgatar a riquíssima cultura egípcia associando-a à contemporaneidade.

A costura copta ganhou esse nome por ter sido criada pelo povo Copta, uma antiga civilização cristã no antigo Egito, com a finalidade de montar os primeiros evangelhos bíblicos. Era preciso deixar as folhas presas, porém com flexibilidade para a obra ser lida com facilidade por muitos anos. Nasce, assim, uma técnica hoje vista como uma das artes mais elegantes da encadernação. Rústica, ao mesmo tempo clássica, milenar sem nunca perder a originalidade, essa forma de costura possibilita o caderno abrir 360 graus. Não há colagem, as capas são presas nos cadernos em linha trançada e deixa o visual parecido com o de correntes.

Encadernação sofisticada atravessou os tempos e hoje existe como profunda expressão artística, tamanha a variedade de cores e estilos.

Fazer cadernos é ser uma espécie de construtor de alicerces, onde histórias são edificadas; fazer um caderno já possuidor delas é preservar memórias. Quando as duas coisas se juntam, algo de muita grandeza realmente acontece.

Essa é a razão principal de um caderno existir. Por mais que a tecnologia modernizou a escrita, os cadernos acolhem sentimentos, paixões, amores, dores, sabores de uma maneira a fazer da alma de quem escreve uma certeza de ser.

Receitas, poesias, reminiscências, orações… São tantas palavras a se fazerem presentes nas folhas de papel, onde a linha e a agulha fazem um apólogo diferente ao se entenderem construtoras da eternidade.

Sejamos, pois, visionários. Tenha um caderno, encontre o seu lápis e escreva a sua história no mundo.

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A Árvore das Letras está sempre presente em eventos literários e feiras de artesanato com uma grande variedade de cadernos e livros. Também mantemos atendimentos de demanda e encomendas, além de encontros e oficinas. Entre em contato, conheça nossos trabalhos.

Um forte abraço.

Até a próxima.

HUMBI HUMBI

Por Tomé Nassapulo*
(Angola)

Na tarimba, não marimbo
Mais zimbo!

Que nem marimbondo dançando ao som da kizomba
Sem marimba.

Da Mutamba ao Balombo
Bumbando sem lombongo
Diante do ongongo!

Prolongo a minha crença no Nzambi.

Ombambi não me apanha porque bumbo
Que nem kazumbi sedento de omwenho.

Hum, humbi
É a canção que me bimbarra para as kazukutas do kimbo.

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SIGNIFICADO DE ALGUMAS PALAVRAS DO TEXTO

  • Humbi: termo pertencente a língua umbundo, uma das línguas bantu, falada pelo povo ovimbundo que habita na região centro sul de Angola, o termo refere-se a uma ave de grande voo.
  • Zimbo: Concha univalve encontrada na orla marítima que serviu de moeda no Reino do Congo.
  • Marimbondo: insecto da família dos vespídeos que apresentam ferrão em sua estrutura, utilizando o órgão como defesa perante ameaça. O termo teve uma evolução semântica em Angola nos últimos anos, para referir-se a todos aqueles que terão se aproveitado das funções governativas para açambarcar o erário público.
  • Kizomba: termo surgido a partir do Kimbundo «kuzomba» que se significa festa, divertimento. O termo evoluiu semanticamente para ritmo africano, de origem angolana, referindo-se também a dança executada ao som desse ritmo.
  • Mutamba: centro da cidade de Luanda, onde se localizam instituições públicas e comerciais.
  • Balombo: município da província litorânea de Benguela que dista da Mutamba a 627,7km.
  • Marimba: instrumento musical formada por lâminas de vidro ou metal, graduados em escala, que se percutem com martelinhos de madeira.
  • Lombongo: termo da língua umbundo que se refere a dinheiro.
  • Ongongo: termo da língua umbundo que se refere a sofrimento ou dificuldade.
  • Nzambi: termo da língua Kimbundu que se refere a Deus.
  • Ombambi: termo na língua umbundo que se refere a frio.
  • Bumbo: flexão do verbo bumbar na primeira pessoa do singular do presente indicativo, sendo que a expressão bumbar na gíria angolana é sinónimo de trabalhar duro.
  • Kazumbi: palavra formada pelo processo da derivação por prefixação «Ka+zumbi», sendo o prefixo ʽʽKaʼʼ usado como diminutivo na língua Kimbundu ou umbundo e ʽʽzumbiʼʼ surgido do Kimbundu nzúmbi, com o sentido de indivíduo morto mas que reaparece as noites, a alma do outro mundo.
  • Omwenho: termo da língua umbundo que refere-se a palavra vida.
  • Kazukuta: expressão em Kimbundo referindo-se a dança movimentada, tendo o sentido semântico de indisciplina social ou anarquia.
  • Kimbo: termo surgido do umbundo ʽʽKo imboʼʼ, referindo-se a povoado ou sanzala.                       

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Tomé Nassapulo é angolano, poeta, colaborador e integrante da turma Paulina Chiziane da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

CANÇÃO DO CHORO

Por Mangel Faria*
(Angola)

Aventura na brisa do canto
beija a melodia do pranto
amortece o cortiço da mulher
no olhar do sopro

Fervilha no sangue da existência…
adormece no fogo das paixões
e morre
no desejo juvenil da noite

A canção do choro
matou o sabor do vento
quando viu cair as lágrimas
no fel das almas

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Mangel Faria é angolano, colaborador e integrante da turma Paulina Chiziane da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.

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NO MEIO DO CAMINHO

Por Leandro Bertoldo Silva

Tudo era sempre igual para o senhor Todo Dia. Sua vida desconhecia pausas e era desprovida de sorrisos. Todo ele era um endurecer de pedra. Faltava-lhe tempo de ser quem gostaria, ou nem sequer o sabia; tornara-se doente dos sentidos.

Com isso, não percebia nada além do cinza. Seus olhos desacostumaram-se das cores. O corre-corre do trabalho, das obrigações cada vez mais exigentes faziam de Todo Dia alguém a passar bem longe  da alegria das coisas valiosas. Engraçado, todas elas eram desimportantes: o cantar dos pássaros de manhã ao saldar o sol, o cheiro do dia impregnado na brisa suave das primeiras horas, o zum, zum, zum das abelhas com suas patinhas carregadas de pólen a visitar aromas, e tantas inutilidades despercebidas para o senso comum.

Porém, um dia, sem nem saber o porquê, algo o fez olhar para cima exatamente no lugar onde sempre passava com os olhos colados ao chão a procura de uma poesia perdida. Bem no alto, lá estava junto a duas espécies de flores a destacar em igual vermelho e branco uma ordem: Pare! Imediatamente, obedeceu ao imperativo daquele momento e tudo se coloriu instantaneamente. Havia encontrado seus versos:

No meio do caminho…
Bem, não havia pedras,
havia flores.

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A foto acima foi tirada durante uma caminhada. É impressionante o que está ao nosso alcance quando estamos sadios dos sentido…

Um forte abraço.
Até a próxima.

A PSICANETA

Por Ricardo Albino*

Não estou maluco! Apenas fui convidado a psicografar uma viagem ao lado da minha caneta. Ao receber o convite para visitar a cidade da escrita e rever minha letra, em princípio dei risada. Depois, fechei os olhos, segurei de leve na pontinha da pretinha, como ela gosta de ser carinhosamente chamada, e voamos do papel. Cheguei a um lugar grande e colorido. Minha letra foi me vendo e logo perguntou:

— Lembra-se de mim, Ric?

Tomei um susto! Apesar do tempão que a gente não se encontrava pessoal e manualmente, ela estava igual aos tempos de escola. Cresceu só um pouquinho. Minha mão direita suava e a minha baixinha linda tremia na folha de emoção e raiva também. Escreveu meio desgovernada porque eu a troquei pela tecla do celular. Por isso solicitei a ajuda da psicaneta para explicar que o motivo da troca foi apenas visual para que eu pudesse enxergar melhor. Aos poucos, letrinha foi se acalmando e chamou todo o alfabeto para junto de mim e de minha nova caneta de estimação, para irmos à casa fabulosa da imaginação, onde moram livros e histórias de todos os tamanhos e estilos. Livros e histórias que amam voar até os corações do mundo pelas asas da Dona Arte.

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Ricardo Albino é jornalista, escritor, contador de histórias e correspondente da Árvore das Letras.

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