Levantou cedo. A primeira coisa que fez foi correr à janela e olhar o céu. Um sorriso lhe estampou no rosto, tão grande como a sua vontade de fazer o seu brinquedo. Correu a pegar as taquaras e afiá-las cuidadosamente enquanto verificava suas envergaduras. Em torno de si, cola, linha, papel esperava, cada qual, a sua vez de compor pelas mãos do menino-mestre a obra perfeita por onde os sonhos misturam-se à leveza dos movimentos ao fazer morada no ar. O que está a fazer, menino? Veja, pai! Estou a construir uma pipa, e ela há de voar bem alto. O pai suspirou um sorriso de pena. Não viu, filho, como está o tempo? Sim, está lindo. Lindo? Mas daqui a pouco estará a chover; o céu está completamente cinza. O céu nunca foi cinza, pai, e nunca será. Atrás do cinza sempre estará um azul. Nunca o seu coração havia sido arrebatado daquela maneira. O suspiro agora era de susto. Lembrou-se de um poeta preso ao ser questionado como conseguia escrever versos tão lindos naquele lugar sombrio, e ter como resposta o fato de simplesmente não considerar as paredes. O menino era como ele, um poeta. O pai, enquanto o filho continuava a afiar ripas, correu à escrivaninha e escreveu em seu bloco de notas:
Atrás do cinza sempre estará um azul; mira-se nele.
E foi se juntar ao menino.
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Espero que essa pequena história possa ter lhe inspirado a olhar para além das aparências…
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Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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2 comentários em “PARA ALÉM DO CINZA”
Meu amigo e amado irmão Leandro, a vida é uma aquarela e cada dia é um lindo quadro pra gente pintar com alegria como passarinhos e pipas no azul do céu a voar
Meu amigo e amado irmão Leandro, a vida é uma aquarela e cada dia é um lindo quadro pra gente pintar com alegria como passarinhos e pipas no azul do céu a voar
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Lindo, meu amigo 🙂
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