PARA ALÉM DO CINZA

Por Leandro Bertoldo Silva

Levantou cedo. A primeira coisa que fez foi correr à janela e olhar o céu. Um sorriso lhe estampou no rosto, tão grande como a sua vontade de fazer o seu brinquedo. Correu a pegar as taquaras e afiá-las cuidadosamente enquanto verificava suas envergaduras. Em torno de si, cola, linha, papel esperava, cada qual, a sua vez de compor pelas mãos do menino-mestre a obra perfeita por onde os sonhos misturam-se à leveza dos movimentos ao fazer morada no ar. O que está a fazer, menino? Veja, pai! Estou a construir uma pipa, e ela há de voar bem alto. O pai suspirou um sorriso de pena. Não viu, filho, como está o tempo? Sim, está lindo. Lindo? Mas daqui a pouco estará a chover; o céu está completamente cinza. O céu nunca foi cinza, pai, e nunca será.  Atrás do cinza sempre estará um azul. Nunca o seu coração havia sido arrebatado daquela maneira. O suspiro agora era de susto. Lembrou-se de um poeta preso ao ser questionado como conseguia escrever versos tão lindos naquele lugar sombrio, e ter como resposta o fato de simplesmente não considerar as paredes. O menino era como ele, um poeta. O pai, enquanto o filho continuava a afiar ripas, correu à escrivaninha e escreveu em seu bloco de notas:

Atrás do cinza
sempre estará um azul;
mira-se nele.

E foi se juntar ao menino.

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Espero que essa pequena história possa ter lhe inspirado a olhar para além das aparências…

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Forte abraço!
Até a próxima.

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