PIERRE ANDRÉ – A INCRÍVEL ARTE DE SER CRIANÇA

A Árvore das Letras conversou este mês com quem podemos chamar de “uma figuraça”: um menino de um pouco mais de 50 anos. Sim, menino, a eterna criança Pierre André. A diferença dele para Peter Pan é que ele quis crescer, mas para ficar melhor disfarçado… Bem, isso ele não me disse, mas deixo aqui como um palpite.

De qualquer forma, Pierre é mais do que um amigo, é um irmão, companheiro de muuuuuuuita estrada e eu sempre o tive como um dos artistas mais inspiradores e talentosos que eu conheci até hoje. Eu tenho a sorte de conviver com ele e, por isso, por saber o quanto esse “Meu Fii” (forma carinhosa que nos chamamos sem que nem eu, nem ele sabemos quem é fii de quem e nem mesmo como isso começou), tenho a felicidade de trazê-lo mais uma vez aqui, mas em pessoa, ou melhor, em palavras para que todos possam também conhecer um pouquinho mais desse grande artista.

Vamos lá…

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Árvore das Letras: Quem é Pierre André por ele mesmo?

Pierre André: É um menino muito tímido, sério mesmo, que com 20 anos de idade resolveu fazer um cursinho de teatro para perder a timidez e se apaixonou pelas diversas artes que conheceu através e por meio do teatro. Um menino que, por acaso, há 27 anos começou a contar histórias e teve sua vida transformada a partir daí. Um menino que nunca vai deixar de ser criança, não esquecendo as responsabilidades do adulto, oculto dentro de si.

AL: Quem te conhece mais de perto tem a sensação de que você já nasceu artista. Você já apresentava essa inclinação desde criança, ou melhor, de menino pequeno, ou a arte foi se formando aos poucos dentro de você?

PA: Talvez sim, desde criança (menino pequeno). Adorava pegar meus retratos que mamãe, carinhosamente, mandava emoldurar e rabiscava-os todos. Nem ela, nem ninguém, muito menos eu, percebia que aquilo poderia ser uma manifestação de arte. Na adolescência comecei a fazer “arte excessivamente abstrata” nos cadernos e durante as aulas; depois comecei a desenhar, no olhômetro, capas de revistinhas. Mas a arte da representação mesmo começou no início da minha fase “cronologicamente” adulta.

AL: Como você iniciou no teatro? Quais foram as circunstâncias que o levaram e o que você almejava?

PA: Sem querer querendo, já meio que respondi na primeira pergunta, mas sobre o que eu almejava, definitivamente era só perder a timidez, jamais imaginava um dia subir em um palco encenando uma peça de teatro.

AL: Nesse caminho do teatro houve uma pessoa que foi responsável pela formação de muitos artistas, inclusive a sua em muitos momentos. Estou me referindo ao grande mestre Ítalo Mudado. Fale um pouco da convivência que você teve com o Ítalo e da importância que ele exerceu na sua vida enquanto artista e enquanto pessoa.

PA: Ficaria aqui horas e horas falando do mestre Mudado que, literalmente, mudou a minha vida. Quando ensaiava com ele aquele que seria meu primeiro espetáculo, me convidaram para fazer figuração em uma peça profissional de um diretor chamado Kalluh Araújo. Comentei com o Ítalo dizendo que não aceitei pois queria continuar fazendo a peça com ele. Então ele me disse que se eu não aceitasse me mandaria embora, pois eu estaria perdendo a chance de estar atuando com um diretor premiado e em meio a atores profissionais. Enfim fui, mas voltei para o grupo Intervalo, que era o grupo do Ítalo, e fui fazendo várias peças. Certa vez tentei escrever uma peça e, antes de terminar, pedi para que ele lesse. Resultado, “coisa horrorosa!”, ele disse, mas continuou dizendo que se eu quisesse escrever alguma coisa boa, teria que ler muito. Certa vez, pedi para ele dirigir uma peça infantil e ele me disse que se eu encontrasse uma muita boa ele poderia até dirigir. E de tanto ler peças infantis, e ele nunca gostava de nenhuma, resolvi tentar escrever a minha própria. E acredite, ele gostou e foi o primeiro espetáculo infantil do grupo Intervalo dirigido pelo mestre Mudado, “O Espelho Mágico”.

AL: Qual foi a sua primeira peça como ator? Fale um pouquinho de cada uma que você trabalhou e qual você tem um carinho mais especial?

PA: Minha primeira peça foi “Drácula”, a que “fui demitido” pelo Ítalo para poder fazer. Foram tantas peças que fiz de 1991 a 2009, que precisaria de mais um bocado de horas pra falar de cada uma. Mas quero citar duas aqui. A que tenho um carinho especial é, sem dúvida, “O Espelho Mágico”, por toda a circunstância que a fez acontecer, embora eu só tenha um arrependimento: a de ter pedido ao Mestre Mudado para me deixar fazer o personagem Espelho, pois eu não tinha a experiência de ator que o personagem exigia àquela época; e só com o tempo e a própria experiência fui percebendo isso. A outra, que não por caso fiz com o entrevistador aqui em questão, foi “Vamos Acordar os Sonhos”; a propósito a última peça que fiz. Depois a contação de histórias foi ganhando cada vez mais espaço em minha vida profissional e eu tenho muito amor por essa arte maravilhosa e desafiadora. Mas todas as peças que fiz, ou quase todas, podem ser vistas aqui neste link: https://www.pierrecontacontos.com/ator

AL: Além de trabalhar como ator nas peças, você exerceu outras funções, como no trabalho da técnica: iluminação, cenário, sonoplastia. Como isso te ajudou na sua formação como artista?

PA: Fo exercendo essas atividades no grupo Intervalo, meio que pela necessidade, que fui percebendo que poderia ter dons que jamais imaginava. Aprendi e cheguei a ser elogiado por alguns erros em cena, que rapidamente tinha que improvisar algo. Como um dia que errei o foco de luz, que era pra ter sido frontal, e acendi o foco contrário, deixando o ator, que por pouco poderia ter sido o nosso entrevistador, no escuro. Mas ao perceber que o ator continuou falando o texto na penumbra, eu pensei: “olha que legal” e deixei, senão todos perceberiam que tinha sido erro do iluminador, no caso meu. Após o espetáculo, o mestre Ítalo veio se aproximando de mim, eu pedi desculpas e ele disse: “coisa horrorosa… Mas pode manter o erro a partir de agora, eu gostei”. Neste espetáculo fui apenas o operador de luz, no próximo que fui chamado para técnica, fiz a concepção de luz.

AL: Além de ator, você também atuou como diretor, produtor e dramaturgo. Fale um pouco sobre isso.

PA: Diretor e produtor foram acasos do destino, que não me arrependo de ter feito, mas eu gostava mesmo era de atuar. Como dramaturgo (nem sabia que eu era isso), escrevi somente peças de teatro infantil. Meus textos, ou quase todos, também podem ser lidos no link: https://www.pierrecontacontos.com/autor

AL: Até agora falamos sobre o Pierre André no teatro. Mas tem um lugar em que você se tornou seguramente uma das maiores referências em Belo Horizonte e até fora da cidade, que é a contação de histórias. Como foi que ela surgiu na sua vida?

PA: Comecei a contar histórias em 1997, meio que por acaso. Certo dia eu estava lendo o jornal, quando vi uma nota sobre o “VII Concurso Os Melhores Contadores de Histórias”, organizado pela BPIJBH – Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. Resolvi me inscrever. Peguei, então, uma peça de teatro que havia escrito (“A Floresta Mágica”) e fiz uma adaptação da história. Na hora da inscrição fiquei sabendo que a história não podia passar de 10 minutos. “E agora?” – pensei. Foi quando lembrei de um conto do Wood Allen, chamado: “Que Loucura!” Resolvi me inscrever, então, na categoria “texto para adultos” com esse conto. Dos vinte candidatos inscritos, três foram selecionados para a final e, para minha surpresa, eu fui um deles. No dia da final cheguei acreditando que ficarei em terceiro lugar; para mim isso já era uma grande vitória. Quando veio o resultado, acredite, eu tinha ficado em primeiro lugar. Pensei que os jurados haviam errado no resultado, mas como não sou nada bobo, fiquei caladinho, peguei meu prêmio e sai de lá feliz da vida e rapidinho, antes que mudassem de ideia.

AL: Ser ator e ser contador de histórias… Qual a diferença? Aliás, tem diferença? Como transitar entre as duas coisas?

PA: Sim, há muita diferença. Primeiro que para contar histórias quem conta não é um personagem, é a gente mesmo. No teatro são os personagens que incorporamos, deixamos eles entrarem na gente. Nele o texto tem que ser decorado ao pé da letra, salvo algumas exceções, que são usadas nas “comédias/besteiróis”. Na contação de histórias, eu pelos menos não decoro, memorizo as histórias, cujas quais entro nelas para contá-las. Minha experiência como ator, claro, me ajuda muito, pois gosto de fazer as vozes dos personagens. Então, nesses momentos me torno os personagens, mas nunca perdendo o foco do narrador que está sempre focalizado com o seu público, interagindo o tempo todo.

AL: Qual a memória mais marcante que você tem na contação de histórias e qual o seu maior sonho com esse trabalho?

PA: Sem dúvida foi quando ganhei o concurso. Porém, já trabalhando com a contação de histórias, tem vários momentos, mas jamais vou esquecer do dia que um garotinho pequenininho me disse: “Pierre André, quando eu crescer vou ser contador de história também”. E o meu maior sonho é poder me dedicar exclusivamente à minha biblioteca comunitária, não só contando histórias para as crianças da comunidade, mas, e por que não, despertando novos contadores de histórias.

AL: Além de tudo isso, você também é escritor e possui dois livros publicados de muito sucesso, inclusive muitas escolas tanto de Minas Gerais como de outros Estados já os adotaram. Estou me referindo a “Emengarda, a barata” e “Bichos De-Versos”. Fale um pouco desses dois livros, como eles surgiram e como eles estão hoje.

PA: “Emengarda, a Barata” eu escrevi devido a um “trauma de infância”, porque quando me contaram a tradicional história da dona Baratinha, o pobre coitado do rato caiu na panela de feijão e nunca tirei isso da cabeça, e nunca fui ao teatro da dona baratinha também não. Quando comecei a contar histórias, resolvi contá-la do meu jeito, misturando a tradicional história com a cantiga, “A Barata Diz Que Tem”. Certo dia, uma aluna, Maria das Graças Augusto, do curso de contação de histórias da Aletria, onde eu dei algumas aulas sobre bonecos e contei a minha versão, pediu para contá-la e, para a minha surpresa, ela contou na formatura do curso. Rosana, a dona da escola, me disse que estava criando a editora e assim nasceu o primeiro livro comercial e em catálogo até hoje da editora Aletria. Já o motivo de como escrevi o “Bichos De-Versos”, caso consiga marcar uma entrevista com Deus, pergunte a ele e depois me diga… É o que poço dizer. Mas o livro mesmo, foi que eu trabalhava em um projeto chamado Caravana Poética, da Ana Cristina, onde eu contava muito as histórias/poemas que hoje estão no livro, mas sem pensar nisso. Certo dia, em um dos piores momentos da minha vida, em pleno tratamento de hemodiálise, Ana Cristina chega com um projeto para eu assinar. Em plena sessão eu assinei, o projeto foi aprovado e captada a verba. Eu, ainda em hemodiálise, agradeci a Ana Cristina que fez toda a produção do livro. Eu fiquei feliz com isso, claro, mas estava em completa depressão pelo que eu estava passando. Enfim, livro sendo produzido e eu aguardando o tão desejado e sonhado transplante. No dia 15 de agosto de 2012 saiu o meu transplante e no dia 12 de dezembro foi o lançamento do livro. “Emengarda, a barata”, hoje, continua na editora Aletria e o “Bichos De-Versos” infelizmente está esgotado.

AL: Você sempre gostou de ler? Como a literatura surgiu para você?

PA: Sinceramente, não. A leitura entrou de fato na minha vida a partir do momento em que o mestre Ítalo me disse: “se você quiser escrever alguma coisa boa tem que ler muito”. Ítalo Mudado mudou o meu lado leitor. A literatura posso dizer que surgiu para mim depois que comecei a contar histórias e viver, literalmente e literariamente, esse mundo.

AL: Você mantém uma biblioteca comunitária, falou dela há pouco. Como iniciou essa ação e quais as atividades são realizadas lá?

PA: No início da minha carreira de contador de histórias eu trabalhava basicamente para editoras e com isso ganhava muitos livros. Certo dia, resolvi fazer de uma parede do meu quarto uma biblioteca infantil. Enquanto planejava como colocar em prática a ideia, minha amiga Edméia Faria, idealizadora do Projeto “Leitura na Calçada”, que daria mais umas duzentas horas para falar dele, me ofereceu os livros do projeto que ela já não realizava mais. Aceitei, claro, mas a minha parede não caberia os aproximadamente 400 livros infantis que ela me deu. Tive que fazer a biblioteca na garagem. Por isso dei o nome de “Garagem de Histórias”, que ficou sendo a minha biblioteca pessoal aberta à comunidade. Com o tempo, tive que mudar de casa, hoje sem garagem, mas para não desfazer de tudo que eu já tinha adquirido, inventado e ganhado, aluguei uma loja dentro da comunidade Vila Nova Paraíso. Depois disso, registrei e hoje a “Garagem de Histórias”, que tem como razão social, “Espaço Cultural MamaPapi’s” (em homenagem aos meus pais que hoje estão no céu, mas viveram esse sonho comigo), é uma OSC. Ainda não consegui pôr em práticas as atividades que pretendo realizar lá, ou seja, as contações histórias, mediação de leitura, oficinas para todas as idades, inclusive de mediação de leitura para mamãe e papais, como incentivo para lerem para seus filhos, ganhando a atenção deles. Como tenho que pagar as contas, preciso trabalhar e, para isso, preciso estar nas escolas quase que diariamente. Então ainda não posso me dedicar como, em breve, estarei me dedicando.

AL: Você tem ideia de quantos livros você possui catalogados na biblioteca e como conseguiu montar esse acervo tão grande?

PA: Hoje tenho mais de três mil livros, a maioria infantis. E a maioria são de doações que recebo.

AL: O que você acha que é preciso para ser um bom escritor, principalmente para crianças?

PA: Acho que acima de tudo para ser um bom escritor é preciso escrever com amor. E escrevendo para criança, escreva como criança, você escreverá como gostaria de ler e ouvir.

AL: Você hoje faz parte da Turma Manoel de Barros, da Vivência Novos Autores da Árvore das Letras, que é um encontro online de pessoas que gostam de ler e escrever. Fale um pouco como esse trabalho te ajuda nas suas criações e na sua escrita.

PA: Melhor coisa que me aconteceu literariamente nos últimos dois anos. Jamais me imaginava escrevendo um haicai e um texto para adultos, embora esses eu dou um jeitinho de disfarçar nos que escrevo. Uma coisa muito interessante que descobri é que as cartas, que hoje quase ninguém as escreve mais, além de nos aproximar de pessoas distantes, nos inspiram a escrever histórias, poemas e, acima de tudo, sentimentos.

AL: Qual o seu maior sonho hoje?

PA: Poder me dedicar à minha biblioteca comunitária, estando presente e conseguindo pagar as contas.

AL: Como acha que a arte pode fazer a diferença na vida das pessoas?

PA: Sendo valorizada, incentivada, respeitada e amada.

AL: Estamos terminando e gostaria de agradecê-lo, principalmente por ser essa pessoa tão inspiradora. Mas quero te fazer uma pergunta especial. Se você hoje, com toda a experiência que possui, por tantos espetáculos na bagagem, incalculáveis contações de histórias, livros, enfim, toda a sua trajetória se encontrasse com o Pierre criança louco para ser artista, que conselho daria a ele?

PA: Embora ainda seja criança, se hoje eu encontrasse com o Pierre daquela época, que ainda não era louco para ser artista, diria (pra mim mesmo): “Menino, vai ser artista. A sua cura está dentro de você, seus dons, que você não faz ideia que os têm, mas que o tornarão uma criança feliz, um pouquinho louco, mas feliz.

AL: Como as pessoas podem entrar em contato com o seu trabalho, contratar suas contações de histórias, comprar os seus livros?

PA: Só procurarem pelas redes sociais por Pierre Conta Contos ou https://www.pierrecontacontos.com

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Bem, esse é o meu amigo, irmão, parceiro nas artes, “Meu Fii” Pierre André. Espero que tenha se inspirado em suas palavras e em sua trajetória que é só um pedacinho do que percorreu e ainda percorre nesse mundo de tantas estradas e histórias para contar…

O blog da Árvore das Letras é um espaço de literatura de identidade própria. Acompanhe todos os domingos e quartas-feiras entrevistas, poesias, crônicas autorais e de colaboradores e demais conteúdos literários e arte da encadernação e produção sustentável de livros.

Para saber mais sobre a Vivência Novos Autores, clique AQUI.

Um forte abraço!
Até a próxima.

PALAVRAS

Uma vez, quando me perguntado qual a palavra que eu mais gosto de pronunciar, respondi sem hesitar: a palavra PALAVRA.

Na turma Paulina Chiziane, da Vivência Novos Autores, formada por nossos amigos e irmãos angolanos, uma proposta foi lançada: escrever, a partir da história “A grande fábrica de palavras”, de Agnés de Letrasde e Valeria Docampo, que conta a saga de um país onde as pessoas quase não falam, pois, para isso, seria preciso comprar as palavras e engoli-las para poder pronunciá-las, António Alexandre e Tome Nassapulo mostram o quanto é preciso ousar e acreditar porque, no fundo, as palavras não podem se calar.

A coragem de falar, seja pela oralidade, seja pela escrita, é matéria de fortalecimento, de justiça e de necessidade para o surgimento da consciência em que a poesia é berço que se estende, é flor que desabrocha.

António Alexandre e Tomé Nassapulo nos brinda, pois, com suas palavras:  EMPATIA e ESTÁVEL.

Que tenham um ótimo despertar…
(Leandro Bertoldo Silva).

ESTÁVEL

Do magro salário sobrevivo

Numa terra onde tudo é caro

Onde tudo cresce.

Do meu trabalho árduo fico desanimadamente alegre

Neste mundo de injustiça salarial.

Procuro viver dele, porém apenas sobrevivo na paz.

Ele no bolso não resiste, pois também é para os filhos e os pais.

Magro salário deixa- me em bairro escuro.

Magro salário deixa- me inseguro

Para feijão, arroz, leite, pão e açúcar.

Ah!

Continuo professor com salário estável.

Por António Alexandre

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SOU UM POETA

Sou um poeta

Empunhando uma caneta

Floreio as feridas abertas

Enxergo as teias

Tecidas nas vidas alheias

Retalho corações em fatias enfartadas de dores

Saro as almas quebradas nas patias com empatia

Sem sintonia com físico recolho-me na metafísica

E vivo sonhos numa telepatia cósmica.

Por: Tomé Nassapulo

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Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.

       

HAICAI A ARTE DA POESIA – QUANDO O DISCÍPULO ESTÁ PRONTO, O MESTRE APARECE

Por Leandro Bertoldo Silva

Hoje eu quero falar com vocês sobre como se deu o meu encontro, ou melhor dizendo, o meu enlace matrimonial com a poesia. Mas não é qualquer poesia, estou falando dos haicais, aqueles micro poemas que tentam captar a essência de um momento, como se fossem um flash, um instantâneo, o momento exato de uma fotografia.

Bem, antes de falar desse meu encontro, eu preciso dizer algo para vocês: muita gente fala não gostar de poesia, que acha a poesia algo difícil, quando na verdade é o oposto, ou seja, é natural gostar de poesia. Isso eu aprendi com Carlos Felipe Moisés, e eu concordo plenamente com ele, quando em um livro chamado “Poesia não é difícil”, ele desmistifica essa história de poesia inalcançável e diz que isso só existe na poesia de sala de aula, ou seja, quando as pessoas, no caso os alunos, são obrigados a entender e explicar a poesia de forma racional, de forma acadêmica, às vezes até pra ganhar uma nota, e que isso não existe, ou pelo menos não poderia existir, porque poesia não se explica, poesia se sente.

Então é dentro desse universo que eu chego aos haicais.

Existe um antigo ditado chinês que diz: “Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”.

Bem, foi mais ou menos isso que aconteceu comigo, embora não havia nenhum mestre em questão, mas sim uma ocasião muito específica e eu tive a sorte de estar no lugar certo na hora certa.

O ano era 2012. Aquele ano fora mágico em todos os sentidos. Entre algumas coisas, conheci jovens fascinantes na escola onde dava aulas, hoje todos adultos; fui convidado a integrar a Academia de Letras de Teófilo Otoni como membro correspondente, hoje ocupo a cadeira 27 como membro titular, e muitas outras coisas dignas de boas memórias. Mas uma delas marcou profundamente a minha vida e me ajudou a marcar a vida de muita gente também.

Por motivo de um projeto de leitura muito bem sucedido no qual organizei e me dediquei ao longo de todo aquele ano, fui convidado a apresentar o resultado do mesmo em um evento em Belo Horizonte chamado “Boas Práticas Educacionais”. Lá estavam os melhores projetos de escolas credenciadas de uma referida rede de ensino, desenvolvidos e executados em várias cidades do Brasil. Tudo caminhava para esse lado exclusivamente acadêmico não fosse um projeto específico a me arrebatar para outro lugar o qual não desejei mais sair, como, de fato, não saí até hoje e nem pretendo. Uma das escolas presentes desenvolveu com seus alunos a escrita de haicais, aqueles micro poemas de 3 versos e 17 sílabas. Eu já havia ouvido falar e até lido aqui e ali alguns haicais, mas, até aquele momento eu nuca tinha parado para apreciar. Apreciar…

O projeto consistia em fotografar a própria escola em ângulos sutis, como a folha de uma árvore na quadra da escola em dia de chuva, a marca do escorregador após o recreio, a caixa de giz do professor em contraste com o quadro negro ou a borracha gasta no caderno de um aluno e outros momentos do dia a dia, coisas simples do cotidiano.

Cada momento desse era ilustrado, além das fotografias transformadas em cartões postais, com os surpreendentes versos a fazer emocionar e estremecer cada parte do meu ser. Não, não estou a exagerar. O efeito que aqueles poemas causaram em mim foi algo como abrir as portas de uma nova existência. Nem mais lembrava o motivo de estar ali, embora, segundo relatos de colegas, a minha apresentação causou emoção e aplausos nas pessoas.

Mas sinceramente o meu mundo não mais pertencia àquele lugar de falas, debates acadêmicos e de universo escolar, mas sim àqueles versos que começaram a eclodir dentro de mim, da minha cabeça e do meu coração. Passei a escrever as flores, os ventos, os animais, as árvores, assim como os cheiros e os sabores. Escutei os passarinhos e senti o perfume das manhãs. Galopei em nuvens e contemplei o pôr do sol.  Observei um banco vazio em uma praça e enchi-me de versos. Tudo isso depois daquele dia memorável para mim e assim permaneço até hoje.

Não me lembro de mais nada daquele dia após o meu encontro com os haicais. Só sei que naquele exato momento eu havia encontrado um mestre. Ele me conduziu a muitos versos e eu os escrevia e publicava nas redes sociais. Daí a sair publicado o meu primeiro livro de haicais não houve muita demora. Nascia assim o Relicário Pessoal – haicais, um dos meus livros mais vendidos.

Passei a ensinar a arte do haicai para muitas pessoas entre alunos e amigos; muitos se tornando igualmente apaixonados haicaístas. O meu amor por esses pequenos versos é tamanho que anos depois do primeiro encontro, mais um tanto após o meu livro, mais um pouco ao incentivar muitas pessoas neste encontro de sílabas poéticas e gramaticais, criei com um profundo carinho um E-book chamado Haicai A Arte da Poesia. Trata-se de um guia passo a passo para quem desejar se aventurar ou se aprimorar na escrita do haicai.

Mas não é só isso!

Nele é possível entender a essência da poesia e saber o porquê é natural todos a amarem, muito diferente de achá-la difícil ou de não ter sido feita para você. Fala da natureza do haicai e a sua relação com nós mesmos, com as estações do ano, até mesmo de como usar os pequenos versos como prática de meditação. Fala de muitas outras coisas e tudo a partir de uma pequena história.

É um livrinho mágico que escrevi, como disse, com muito carinho, pensando em propagar a sutil arte da delicadeza e a força de bem-estar contida nessa poesia tão apaixonante. Se me fez tão bem eu sei que pode fazer bem também para muitas pessoas. Por isso, vou deixar aqui logo abaixo o link de onde você pode encontrar este E-book a um valor super acessível e de forma muito segura. E espero que ao adquiri-lo, caso sinta esse desejo, possa também escrever os seus versos e entrega-los ao mundo. Tenho certeza que eu algum lugar alguém se sentirá acolhido com eles e terá, quem sabe, como aconteceu comigo, sua vida transformada.

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Pessoal, acho que esse é o primeiro texto que finalizo fazendo uma venda tão direta. Sim, é uma venda, mas uma venda do bem, porque eu sei do valor contido nesse trabalho. E é natural querer oferecer aquilo que nos fez tão bem. Espero que isso chegue até você de uma forma carinhosa e muito respeitosa. O link está aqui e se for do seu desejo, seja bem-vindo, seja bem-vinda ao mundo maravilhoso do haicai, a arte da poesia.

Adquira o E-book aqui: https://chk.eduzz.com/2297573

Agradeço do fundo do coração.

Forte abraço!
Até a próxima.

CONTADOR DE HISTÓRIA JÁ TEM FAMA DE CONTAR UNS TROÇO DIFÍCIL DE ACREDITAR, NÉ MESMO?

Hoje, dia 20 de março, é o Dia do Contador de Histórias. E como tenho muitos amigo e amigas a fazerem jus a esse dia tão lindo onde os causos ganham personagens e estes alimentam nossos sonhos, trago um deles a representar todos: Ricardo Albino, nosso querido Ric. A escolha, além do grande carinho que eu tenho por este irmão de alma, passa por mais um acontecimento digno de um contador de histórias: hoje é também o aniversário de 3 anos da Ricontar histórias, o canal do Ric no You Tube. Não por acaso, como ele mesmo diz em seu livro “Histórias de um rapidinho em quarentena”, que eu tive o privilégio de publicar aqui na Árvore das Letras, “contador de história já tem fama de contar uns troço difícil de acreditar, né mesmo?”

Por isso, em nome de todos os contadores e contadoras de histórias desse país e desse mundo, e a abençoar mais um ano do canal Ricontar, trago essa história que começa exatamente assim…

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Contador de história já tem fama de contar uns troço difícil de acreditar, né mesmo? Imagina só quando o sujeito que nasceu em Minas e sai da capital para passar um tempinho mais comprido com os pais na roça.

Os dias vão passando e a tal quarentena vai aumentando e deixando os parafusos da cuca meio abilolado e o menino começa a ouvir a voz de coisa sem proseado. É bicho, flor, o sol. Todo mundo ganha vida em miolo de maluco.

Aqui tem muitas árvores chamadas Cambuí  que o pai Sebastião escolheu para batizar o Sítio. Já teve inté chalana de garrafa pet com remo e tudo. Sucedeu que antes de eu subir nela de cadeira e colete pra mode não afundar, São Pedro deve de ter sentido mais que eu e decidiu suas torneiras fechar. As lagoas choraram tanto que acabaram por minguar. O passeio que eu queria não pude pilotar, dirigir a possante para um fato importante  acompanhar. Meus sobrinhos foram juntos mudas de Pau Brasil  plantar. Minha sobrinha Alice que nasceu pouco depois deixou seu umbiguinho junto da sua plantinha para adubar e ela crescer sem parar. O Felipe seu irmão, grande e desajeitado, enfiou o pé na cova e quase largou o tênis lá enterrado. A minha mãe gosta de fazer três coisas  que começam com a letra C: comida, crochê e conversar com as flores do jardim. E as belezuras parecem gostar do papo. As orquídeas estão tão metidas que ganharam até cestinhas de crochê pra descansar. 

O problema de esconder no mato é que a gente tampa na caneca e entra na comilança, já toma café da manhã pensando no cardápio do almoço, no lanche e na janta. Graças a Deus que eu não consigo subir sozinho na balança. Em época de jogos olímpicos e pandemia surgem novas modalidades e possibilidades profissionais para o mundo animal. Os miquinhos são excelentes na escalada de fio por equipe. O tucano é uma espécie de Big Brother da bicharada. Usa seu bico doce e voz rouca para colocar os adversários no paredão. Os canarinhos ensaiam para a disputa do “Animal Voice” que terá ainda a ilustre orquestra Sapônica  e o uivante lobo guará.

Os preparativos do evento que antecede as competições esportivas do Alçapão do Cambuí seguem acelerados com o trabalho constante da CSC Companhia de Sapos Construtores, um time que nunca dorme em serviço e é exemplo também na luta contra o vírus. Os verdinhos que convenceram o Sapeca a não mudar de cor estão felizes porque as lagoas agora estão lotadas e assim poderão lavar o pé, a mão e o corpo inteiro e sair da água com cheirinho de álcool em gel.

No parque aquático do vovô acontece a emocionante disputa de histórias de pescador. O Senhor Sebastião foi um dos últimos competidores a garantir presença após afirmar que foi nocauteado por uma banana após ela  ter seu coração também conhecido como umbigo da banana arrancado por ele com a mão e não com uma faca conforme as regras. Além do aposentado barbudo, o Jacaré que comeu a noite, Pinóquio, o grilo falante e Emília, a boneca de pano, prometem comparecer. Enquanto isso, as Seriemas chegam na maior gritaria para a  batalha pela  conquista de território. O Dom Ratão encara o Alma de gato ou pássaro que voa e o Manhã Eu Vô e nunca chega na hora certa no torneio de subida no telhado.

Quando a lua caipira iluminar a varanda da casa, o Tiú, a Paca, o Gavião, o Boi Bandido e o cavalo Campeão partem em busca do milho perdido. O vencedor da prova ganha um saco de fubá. A Alice disse que se o Corona já tiver morrido  vem  ver de pertinho, mas, de carro porque a pé cansa.

Ricardo Albino*, em Uns causos de quarentena, do livro “Histórias de um rapidinho em quarentena”.

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Ricardo Albino, nascido e criado em Belo Horizonte, é jornalista formado em 2006, pelo Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI BH, contador de histórias formado pelo Instituto Cultural Aletria, em 2015, criador da página Ricontar Histórias, em 2017, e do canal de mesmo nome no You Tube, em 2021. Cadeirante, idealizou no canal o podcast Ricontar para unir histórias, seu amor pelo rádio, acessibilidade e inclusão.

Acompanhe o canal Ricontar no You Tube, no link: https://www.youtube.com/@ricontarhistorias9462

Forte abraço!
Até a próxima.

O TOCADOR DE SILÊNCIOS

Por Leandro Bertoldo Silva

Todo silêncio é música em

estado de gravidez.

Mia Couto

Desferir é fazer vibrar… Vibrar o silêncio de nós próprios é alcançar o voo perfeito do que desejamos.

            Tinha chegado ao máximo da execução que pensava poder possuir. Tocava acariciando as cordas do seu violino retirando delas o som preferido dos anjos e dos deuses. Mas, mesmo com os frenéticos aplausos, sabia que não havia alcançado a música que desejava. Isso só aconteceu quando, num dia de descuido, roubaram-lhe o instrumento, e ele, despojado do que sustentava sua ilusão, passou a tocar no ar, ouvindo, inalterado no silêncio, a essência de suas notas. Tornara-se música…

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Hoje não há comentários. Deixo que o silêncio fale…

Se ainda não é inscrito aqui no blog, se inscreva e aproveite tudo o que temos a oferecer nesse maravilhoso mundo pelas palavras.

Um forte abraço!
Até a próxima.

QUAIS MALAS VOCÊ CARREGA?

Por Leandro Bertoldo Silva

Você Já parou para pensar no quanto nos prendemos na vida? Prendemo-nos a relacionamentos não desejados, a trabalhos insatisfatórios, a pensamentos inadequados, a crenças que nem são nossas… Somos carcereiros de nós mesmos. E mais! Somos acumuladores disso tudo e a nossa existência é um depósito emocional. Jorge que o diga.

Quem é Jorge?

Jorge é um personagem que escrevi. Tenho uma história íntima com ele, mas um dia eu conto. Por hora, basta saber que é um jovem publicitário a viver as pressões implacavelmente impostas a todos: a necessidade quase obrigatória de sermos perfeitos. Até a felicidade é uma obrigação! Amargurado e cansado, resolve sair em uma viagem de férias porque não a tirava há muito tempo, para aliviar sua angústia. No caminho do aeroporto, se depara com um acidente e isso mudará completamente a sua vida.

Essa é a síntese do meu livro Janelas da Alma, escrito e publicado em 2018. Em uma passagem, Jorge nos faz questionar sobre o peso das coisas e a necessidade atribuída a elas, ou melhor, temos necessidade delas? Novamente voltamos ao questionamento inicial. Ele me tocou profundamente ao relatar o episódio da mala e ao me fazer questionar sobre a liberdade e o pertencimento das coisas.

O que vai na sequência foi dito por ele ao longo do capítulo 3 ao andar pelas ruas após uma noite memorável. Nada demais se ele não tivesse perambulando para cima e para baixo carregando uma mala. Uma mala…

Assim disse ele:

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A mala era tudo o que eu possuía naquele momento. Não passava pela minha cabeça a vontade de voltar para casa. Estranho sentir que todo o meu mundo, conquistas, pertences estavam devidamente resumidos dentro daquele objeto quadrado meio abaloado. Mais estranho ainda era sentir que o pouco que eu tinha me incomodava bastante. Como as coisas nos pesam! E que coisas? Roupas, sapatos, escova e pasta de dentes… Somos presos a tão pouco! Nada me impedia de deixá-la ali mesmo onde estava e seguir a minha vida sem ela. Ao mesmo tempo, tudo me impedia… Ideia estúpida essa de acharmos que as coisas nos pertencem, principalmente, porque não é assim que acontece. Somos nós que pertencemos às coisas, pois elas não têm vontades nem desejos de nós. Se as deixarmos em qualquer canto, elas ficam tranquilamente e não sentem a falta que nós sentimos delas. Se entrarem na vida de outras pessoas, entram com a mesma indiferença com a qual saem da nossa. Elas são livres, desapegadas, enquanto nós somos presos, acorrentados a uma vida de ilusões. Arrasto a mala como um preso arrasta uma bola de ferro e se alguém a rouba ainda seria capaz de perder a vida na tentativa de reaver minha prisão, não abrindo mão do meu fardo e das minhas mazelas.

As ruas já estavam cheias. Gente se esbarrando, olhares sumidos, perdidos cada qual em interesses próprios sem sinal de um afeto comum. Um mundo lotado de singularidades e ausências se confundia comigo mesmo que via nos rostos das pessoas marcas do tempo esgotado e às vezes sem sentido algum. Era assim que eu estava. Andando sem sentido, sem direção, sem vontade. Somente a mala, incômoda, que me prendia a nada. Tudo estranho. Sensação de estar onde não deveria. Pensava que naquele momento outra pessoa deveria estar ocupando aquele espaço que meu corpo ocupava e, contrariamente, eu deveria estar ocupando em outro lugar o espaço que, naquele instante, outro me furtava. Tudo é uma questão de momentos. E a vida passa sem pensarmos nela. Apenas passa como a dor quando nos acostumamos com sua presença, embora não percebamos os estragos em nossa alma causados pelas ausências. Foi assim que cheguei à porta de um café e me dei conta de que não comia havia muitas horas.

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Bem, fiquemos por aqui. Deixemos Jorge e seus dilemas. Sim, ele entrará no café e encontrará por lá algo magnífico. Você pode ler, se desejar, continuar a sua saga em busca de… Ora, você saberá.

Por hora, deixo apenas um questionamento trazido por meu amigo, uma vez que somos acumuladores de coisas e muitas vezes essas coisas nem são palpáveis, mas sim moradoras em nossos corações: afinal, elas nos pertencem ou somos nós a pertencermos a elas?

Ótima reflexão para você.

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Bem, se chegar a alguma conclusão, ou não, deixe aqui nos comentários.

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Um forte abraço!
Até a próxima.

SONHOS

Por Tomé Nassapulo*
(Angola)

Sonho perdido em mim.
Despido, de alma inglória,
Incorporando uma natureza desprovida de requintes da carne.

Sem cerne, sonhei recebendo sermão,
Aí Senhor dono de mim
Em pele de servidão!

Sofri na solidão sonhada,
Apunhalado de sentimentos de orfandade.
Deambulante,
Senti-me indigente,
Que nem só sobrinho em sua vida vivente.

Sem perdão,
Procurei amparo
Excluído em meu sonho sonhado.

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* Tomé Nassapulo é de Angola e é correspondente literário da Árvore das Letras.

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Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.

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UM LIVRO NUNCA TERMINA AO VIRAR DA ÚLTIMA PÁGINA

Por Leandro Bertoldo Silva

Li uma vez uma frase de Thomas Mann.

“Longa é a viagem rumo a si próprio.

Inesperada é sua descoberta”.

Como pode algo tão curto arrebatar a nossa alma? Duas frases, nada mais além disso, ali despretensiosas (?) a tirar-me o chão e encher-me de perguntas cujas respostas ficam naquele estado latente, prontas a eclodir, mas, por alguma razão, ainda falta.

Se já teve a sensação de bastar olhar para o lado e enxergar o que supõe estar ali, mas logo vir o sentimento de “e se não estiver, como será?”, sabe bem o que quero dizer.

Será esse o motivo de eu gostar tanto de reler um livro ao ponto de preferir essa prática ao lê-lo pela primeira vez?

Seja como for, um livro nunca termina ao virar da última página…

            — Por que lê tão repetidas vezes este livro? — perguntou-me uma voz.

            — Porque nele estou quase a encontrar a minha liberdade.

            — O que falta para isso?

            — A próxima leitura.

            — Não te angustia saber que pode novamente não encontrar?

            — Me angustia mais achar que já encontrei…

E não houve mais perguntas.

Muito menos respostas.

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Muitas vezes são nas miudezas da vida que escondem enormes transformações. Espero que esse brevíssimo diálogo possa trazer frutíferas reflexões.

Estamos com turma aberta para a Vivência Novos Autores. Saiba mais clicando AQUI ou entre em contato no WhatsApp (33)98462-7055.

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Forte abraço!
Até a próxima.