Por Leandro Bertoldo Silva
(Agradecimento especial a Adriana Freitas por compartilhar conosco uma vivência)
As histórias contidas em um livro vão muito além dele. Quando um autor escreve, ele nem imagina onde suas criações e personagens podem chegar e o que podem causar na vida das pessoas.
O maravilhoso livro De Carta em Carta, de Ana Maria Machado, uma das maiores e mais queridas escritoras brasileiras, com as lindas ilustrações de Nelson Cruz, protagonizou em nosso Clube de Leitura uma linda história de amor entre a realidade e a ficção.
Antes de contar, deixe-me falar do livro.
De Carta em Carta narra a comovente história de um avô e de um neto ao possuírem em comum muitas semelhanças: a teimosia, a implicância e o fato de não saberem ler e nem escrever.
O avô, Seu José, era um velho jardineiro; Pepe, um neto briguento e malcriado, não gostava de ir à escola.
Seu José e Pepe viviam a se desentender. Um dia, Pepe, ao sair de casa, chega à Praça dos Escrevedores, e lá conhece Seu Miguel, um dos escrevedores que trabalha na praça e transforma as palavras ditadas em palavras escritas em folhas de papel.
Pepe então tem a ideia de pedir a Seu Miguel para escrever uma carta ao seu avô e dita verdadeiros xingamentos. E assim começa uma intensa troca de cartas entre o avô e o neto.
Acontece que Seu Miguel sabia bem as palavras que o destinatário precisava ouvir…
Bem, não vou contar toda a história do livro, até porque não tirarei a bela surpresa do final! Mas contarei o desmembramento a partir dela.
Em nosso Clube de Leitura temos a prática de sempre buscarmos algo além do livro. Chamamos essa prática de transposição literária, isto é, a partir de cada enredo propomos alguma ação para fazer a leitura ganhar mais sentido. Como o grupo é bastante heterogêneo geograficamente, combinamos de escrever cartas uns para os outros e enviá-las por Correio, coisa obviamente rara nos dias de hoje.

Assim, uma das integrantes do grupo relatou a dúvida de sua filha em querer saber como uma carta era postada.
— Venha, vou lhe apresentar o Correio.
Uma vez lá, o carteiro estranhou aquela ação. Afinal, aquilo ainda existia? Pessoas a se corresponderem por cartas? Ao falar sobre o livro e explicar a proposta, aconteceu algo incrível! O carteiro achou aquela história tão linda, mas tão linda, e ele, o qual nunca havia escrito uma carta na vida ou provavelmente não o fazia há muito tempo, escreveu uma para e esposa e a postou com o intuito de chegar a sua própria casa. Segundo relato da nossa amiga, dias mais tarde, vinda do próprio carteiro, a esposa veio a chorar de emoção. E o melhor? Ele continua a lhe enviar cartas… Tudo isso por causa de um livro!
Não vou me estender, não é necessário… Só quero dizer algo muito sério: é isso o que a literatura faz. Quando me refiro ser ela uma das formas de salvar o mundo não estou a exagerar. É a mais pura realidade.
Essa história dentro da história termina aqui. A do carteiro com sua esposa continua. E quantas ainda estão por vir só na espera de alguém abrir um livro e ler?
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Caso tenha gostado dessa história e se interessado no nosso Clube de Leitura, saiba que você pode fazer parte dele. É só enviar uma mensagem. Terei o maior prazer em conversar com você.
Forte abraço!
Até a próxima.
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Eu aprendi que existem histórias que a gente escreve para contar e outras que a gente conta para escrever,pois a reação de quem nos escuta vai gerar novas histórias na gente pra contar
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Linda reflexão, meu amigo! Concordo plenamente com você 🙂
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Gostei da ideia da carta. E já estou querendo participar do clube de leitura. Como será? Um abraço.
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Que maravilha, Maria Francisca!! Entrarei em contato com você 🙂
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Achei a história muito interessante!
O nosso sítio está cada vez mais rico.
Parabéns !
Não chorei ,mas tive uma lágrima no canto do olho de tanta emoção.
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Gratidão, meu amigo! São histórias reais que a literatura nos proporciona…
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