O TAMANHO DOS SONHOS

Por Paulo Cezar S. Ventura

Sonhos não devem ser espalhados. Só podem ser cochichados em orelhas amorosas e amigas.

Depois do acidente com o componente da banda Paralamas de Sucesso, Herbert Viana, que o deixou paralítico e matou sua esposa, os voos de ultraleve saíram de moda. Quase não se fala mais neles. Talvez a modernidade aeronáutica tenha decretado sua falência, afinal, espera-se por voos individuais com um motor às costas e propulsor nos pés, não se sabe.

Vô Ventura(eu) sempre gostou de voar. Tem mais horas de voo que urubu de meia idade e pensa em abrir uma escola de pilotagem para pássaros jovens. Se será um sucesso nunca se sabe. Os empreendedores de carteirinha sempre dizem que um bom começo é a ideia original. Mais original que isso?

O fato é que os voos foram diminuindo e hoje, para visitar a filha custa uns dois mil reais, ida e volta, mais deslocamentos aos aeroportos, mais o lanche nas horrorosas horas de espera no aeroporto de conexão, esses e outros voos se tornaram impossíveis. Voar, só em sonhos.

Já que é assim, Vô Ventura sonha e voa. A ordem dessas ações não importa: sonha e voa tanto quanto voa e sonha. Acordado e dormindo. Voos imaginários, porque o que faz, de fato, é caminhar. Não pode ver uma montanha que sonha em voar sobre ela. O problema, um grande problema: as montanhas, hoje, têm donos. As mineradoras são donas de metade delas e fecham suas entradas; os condomínios são donos da outra metade e também fecham suas entradas. A última vez que passou por debaixo de uma cerca encontrou um cão bravo e um vigia atrás dele. Ainda bem que o vigia foi esperto e mandou o cão parar. Só pegou o bolso traseiro de sua bermuda.

O que sobrou, Vô Ventura? Apenas as caminhadas urbanas e algumas caminhadas em grupo pagando um tanto pelas pousadas e pela segurança. Pagar para caminhar, é o que resta aos caminhantes de hoje. Ou simplesmente seguir pelas estradas sob o risco de atropelamentos. Cadê São Cristóvão, o padroeiro dos caminhantes? Perdeu o emprego. E nossos sonhos diminuíram de tamanho! Mas ainda são sonhos e eu os coloco do tamanho que quero.

Abaixo todas as cercas e todas as fronteiras!

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O tamanho dos sonhos é uma história do livro “O encontros das improbabilidades”, do escritor Paulo Cezar S. Ventura. A obra, publicada pela Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária e parceria da Editora Rolimã, é fruto da Vivência Novos Autores, uma imersão de sentimentos por meio da leitura e escrita que tem o objetivo de aprimorar a percepção literária e metafórica das histórias que lemos e ouvimos.

Para saber mais sobre a vivência, clique AQUI.

Para adquirir o livro “O encontro das improbabilidades”, entre em contato com a autor no perfil https://www.instagram.com/paulocezarsventura/

Forte abraço!

Até a próxima.


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