QUAL O MUNDO QUE VOCÊ QUER?

Por Leandro Bertoldo Silva

Há um tempo escrevi uma reflexão sobre a pandemia e fiquei a pensar como ele, o tempo, muda de perspectiva. O passado já não existe e o futuro ainda virá e, assim, além de acarretar uma sobrecarga no presente, faz muitas coisas se perderem, inclusive nossas responsabilidades com nós mesmos.  

Para quem escreve, excetuando os clássicos, que só são clássicos por nunca serem esquecidos, pode ser meio frustrante se sentir desatualizado ou, no mínimo, ver se tornar desimportante algo tão sério e talvez diminuído na fala dos que ainda virão. Já pensou ouvir daqui a alguns anos algo do tipo: “Ah, não liga não! Esse negócio de pandemia que o vovô fala é láááá do ‘tempo do onça’ (assim como essa expressão). Hoje não tem importância nenhuma, é só uma ‘gripezinha’”. Tomara mesmo ser uma gripezinha com o avanço da ciência… No entanto, na iminência de deixar vivo o alcance de nossos atos, devo acrescentar apenas uma pergunta ao final do escrito. Foi assim… 

Que momento vivemos! É engraçado — sim, há “graça” em tudo isso — pensar na única certeza existente: as incertezas. 

Sou do tipo de pessoa a acreditar naquele ditado: “se a vida te deu um limão, faça uma limonada”. Pois é, a vida não nos deu um limão, mas uma plantação inteira. 

Estou a falar dessa medonha pandemia que em momento algum da humanidade a história registrou algo tão surpreendente. Mas não quero dizer aqui mais do que os jornais, os especialistas e as autoridades já noticiaram; quero ir além do medo, se é possível, e pensar nisso tudo como um grande presente, uma grande oportunidade de uma mudança absurdamente necessária em nossas vidas, pelo menos na minha. 

Há tempos vivenciava uma angústia por não conseguir expressar meu sentimento ao olhar para as coisas do mundo, de como as pessoas, e até mesmo eu, iam dispondo suas vaidades, suas “certezas” e opiniões em um mundo tão superficial. De repente a felicidade passou a ser medida pela nossa popularidade, pela quantidade de “amigos” e seguidores e, depois, nem isso – bastam as curtidas, o resto não interessa. 

Em um mundo onde tudo virou marketing – e da pior espécie – ao ponto de nos vermos invadidos por uma onda de propagandas de produtos e serviços os quais sequer necessitamos ou temos interesse, em um mundo onde até os sorrisos são vendidos por uma camuflada onda de “gatilhos mentais” para capturar nossa atenção e vender felicidade de forma fácil, para não dizer mágica, a custo da inocência do desejo, vem a vida e nos obriga a parar com tudo isso e a pensar unicamente em sobreviver. 

Mas sobreviver para quê? 

Para voltar ao que era antes? Voltar ao trabalho da mesma maneira como se nada tivesse acontecido ou simplesmente termos tirado umas férias inesperadas? Voltar às enxurradas de postagens marqueteiras e à vida superficial das redes sociais? Voltar a tratar o outro como inimigo porque pensa diferente, embora também não sejamos obrigados a ser cordiais com quem nos faz mal e termos o direito de nos afastar? E por que não fazemos? Porque temos medo de sermos sinceros com nós mesmos e, por isso, suportamos o insuportável? Sabe aquele pensamento: “eu te respeito, mas isso não significa que eu preciso ser seu amigo?” Sabe aquele trabalho que você realiza porque é obrigado a ganhar dinheiro, pois se não fosse isso você não o faria? Sabe tantas outras coisas ditas e acreditadas pela verdade dos outros? 

Pois é… Para esse mundo eu não quero mais voltar. 

Quero o mundo onde eu continue a escrever, porque escrever é a minha sobrevivência, mas sem me ver preso nas correntes ocultas a me forçar a divulgar para todo mundo. Deixa-me falar uma coisa: estou a compreender que o que fazemos não é para todo mundo… Este blog não é para todo mundo, os meus livros não são para todo mundo, nem mesmo este texto é para todo mundo, mas para quem, por alguma razão, se alinha com o meu estado de espírito e com a minha forma de pensar. Pode não ser, e certamente não é, melhor e nem pior do que a de ninguém; é simplesmente minha e nossa para quem nos irmanamos. E isso basta. 

Quero o mundo onde a obrigação de trabalhar não destrua o prazer que o trabalho me traz e nem mesmo faça parte da minha vida; onde as pessoas entendam o meu jeito de fazer as coisas. Pode até não ser o delas, e está tudo bem. 

Quero o mundo onde eu tenha menos amigos virtuais e mais amigos reais. O mundo onde a tecnologia seja usada a meu favor e não o contrário. O mundo o qual não seja preciso me afastar das pessoas para dizer o quanto gosto delas e futuramente eu me arrepender de não tê-lo feito. Quero um mundo tão diferente… 

Sabe o que mais penso de tudo isso? 

Para esse mundo poder existir eu precisarei resignificar dentro dele quem eu sou ou quem eu fui. Não é ele a mudar, mas eu na minha ignorância de me fechar em meus medos por achar não dar conta dos desafios que é não pertencer a lugares, relacionamentos, formas de trabalho há muito perdidas por não mais acreditar dessa ou daquela maneira. 

E aqui está a “graça”, não hilária, mas da permissão de sermos autênticos e fazermos diferente, pois, embora a palavra mudança traga calafrios gigantescos em nossos corações, nos colocamos nessa situação de ter nela a única forma de salvar a nós mesmos e os outros, nos olhando de verdade e transformando as incertezas em possibilidades. 

E VOCÊ, QUAL O MUNDO QUE VOCÊ QUER? 

E aqui acrescento a pergunta a tornar essa reflexão universal e duradoura, a considerar a vitória da ciência. Passado tudo isso e a olhar para você, mas olhar bem, em qualquer tempo e em qualquer lugar, responda: é esse o mundo que você quis? 

** Grato novamente pela sua leitura. E se gostou desse texto, lembre-se de curtir, compartilhar, comentar. São ações muito simples, mas grandiosas para mim.

Forte abraço!

2 comentários em “QUAL O MUNDO QUE VOCÊ QUER?”

  1. Caro Don Quixote.
    A pandemia nos trouxe medos diferentes, além do natural medo da morte, que todos temos. Veio o medo da perda de pessoas queridas. Nesses dois anos de pandemia perdi uns cinco amigos diretos e muitos conhecidos, amigos e parentes de amigos. Nem foi possível chorar por eles. Não tiveram aquele velório com vigília noturna e café quente (até mesmo uma cachacinha) para nos esquentar durante a madrugada. Velório é aquele em que a gente encontra velhos amigos e parentes há muito não vistos e ficamos nos falando sobre os velhos tempos.
    Agora temos medo da tosse do vizinho, do abraço apertado da amiga que nos abraçava sempre que nos via e do chamego gostoso de primos e primas. Este medo moderno, contemporâneo, é assustador. Veio para ficar? O que temos a aprender com ele? Será que aprendemos?
    Alguns dizem que trouxe a solidariedade. Será? A solidariedade existe onde sempre existiu: entre os iguais na dor. A pandemia não nos trouxe a solidariedade social, organizacional, institucional. Se aqueles que deveriam divulgar, difundir e espalhar a solidariedade pelos quatro cantos e, com exemplos, dar atenção e apoio aos que mais necessitam, sonegam vacinas a crianças e afirmam que cloroquina, condenada no mundo inteiro, é melhor que vacina, quem nos acudiria?
    Aumentaram as desigualdades sociais, os preços foram às alturas em nome de uma internacionalização de custos, o desmatamento aumentou em demasia, mortes de indígenas, negros e população LGTBQ+ bateram recordes, violência doméstica cresceu, o custo do sistema político antidemocrático mais que duplicou, o agronegócio acumula lucros enquanto a fome aumenta. A boiada passa, enfim, como sugeriu o ex-ministro.
    O que aprendemos, então? Aprendemos que a dor continua solitária.

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    1. Caro amigo Paulo Cezar S. Ventura! Obrigado por seu comentário riquíssimo e pela oportunidade de continuar aprendendo com sua sabedoria e sensibilidade. Seja o que for, estamos no limiar de mudanças. Que tenhamos todos discernimento.

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