Existem poesias que, por algum motivo, “pegam a gente” na primeira leitura. É quando acontece aquela velha máxima dos contadores de história: “não é você quem escolhe a história, mas a história é que te escolhe”. O mesmo, portanto, vale para a poesia.
Foi o que aconteceu comigo com essa poesia de Carlos Drummond de Andrade, e que deixo aqui para você ler e depois ouvir o quanto e como ela me tocou.
E como o mundo da poesia não é para ser nada explicado, mas sim sentido, vamos logo à ela
Forte abraço! Leandro Bertoldo Silva.
Bom dia: eu dizia à moça que de longe me sorria. Bom dia: mas da distância ela nem me respondia. Em vão a fala dos olhos e dos braços repetia bom dia a moça que estava de noite como de dia bem longe de meu poder e de meu pobre bom dia.
Bom dia sempre: se acaso a resposta vier fria ou tarde vier, contudo esperarei o bom dia. E sobre casas compactas sobre o vale e a serrania irei repetindo manso a qualquer hora: bom dia. Nem a moça põe reparo não sente, não desconfia o que há de carinho preso no cerne deste bom dia.
Bom dia: repito à tarde à meia-noite: bom dia. E de madrugada vou pintando a cor de meu dia que a moça possa encontrá-lo azul e rosa: bom dia.
Bom dia: apenas um eco na mata (mas quem diria) decifra minha mensagem, deseja bom o meu dia. A moça, sorrindo ao longe não sente, nessa alegria, o que há de rude também no clarão deste bom dia. De triste, túrbido, inquieto, noite que se denuncia e vai errante, sem fogos, na mais louca nostalgia. Ah, se um dia respondesses Ao meu bom dia: bom dia! Como a noite se mudara no mais cristalino dia!
Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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