A FELICIDADE

Por Nasapulo Kapiãla

Perguntei na vida:
Aonde andará a felicidade?
A vida respondeu:
– <<Seu endereço é a vida perfeita>>

Perguntei a mim mesmo:
Como encontrar a vida perfeita?
Uma voz tímida,
Ressoante, respondeu:
– <<Ela sedia-se nas metrópoles>>

Apressei-me,
Deixei tudo, vim a cidade.
Encontrei a vida perfeita padronizada,
Deslocada da felicidade,
Vizinha da ansiedade!

Lamuriei:
Ó, felicidade, por que se complexificas?
Vejo que não moras na realidade!
Poupei fundos de alegria, sorrisos,
Numa conta a prazo,
A fim de desejar-te boas-vindas,
Logo que chegasses!

Uma voz sussurrante em meus ouvidos segredou:
– <<Pare de resmungar, encontre-me nos sonhos!>>

Finalmente, sinto-te tão próximo!
Basta que a noite chegue,
Para que sinta-me feliz em meus sonhos!

_______________________

Emílio Tomé Cinco Reis de pseudónimo literário Tomé Nasapulo Kapiãla, angolano, natural da província do Huambo, planalto central, licenciado em Geologia faculdade de ciências naturais, universidade pública, Agostinho Neto. É professor do ensino secundário do 2° ciclo do Liceu Público N° 4019 ex-IMNE de Cacuaco “24 de Junho”, lecciona a disciplina de Física e dirigente comunitário da comunidade dos Imbondeiros Cacuaco, província de Luanda.


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4 comentários em “A FELICIDADE”

  1. O poema gira em torno da busca humana pela felicidade e a frustração ao não encontrá-la nas estruturas materiais da vida urbana. A voz poética questiona a própria existência e descobre que a felicidade se mostra mais no campo do sonho e do subjetivo do que no concreto.

    Estrutura e forma:

    O poema está organizado em blocos curtos, quase como diálogos internos (perguntas e respostas).Alterna perguntas retóricas (“Aonde andará a felicidade?”) e respostas simbólicas (“Seu endereço é a vida perfeita”), o que dá um tom de reflexão filosófica.Não há rimas fixas, prevalecendo o verso livre, característico da poesia contemporânea.

    A progressão é narrativa: pergunta → busca nas cidades → frustração → refúgio no sonho.

    Figuras de linguagem:

    a)-Personificação:

    A vida responde ao eu-lírico (“A vida respondeu”).

    b)- Metáfora:

    Felicidade como algo com “endereço”, “conta a prazo” ou “vida perfeita padronizada”.

    c)-Ironia:

    A vida perfeita da metrópole é vizinha da ansiedade, não dá felicidade.

    d)-Antítese:

    realidade vs. sonhos; vida perfeita vs. vida feliz.

    e)-Imagens concretas:

    “Poupei fundos de alegria, sorrisos” (metáfora bancária para emoções guardadas).

    Sentido final:

    O poema sugere que a felicidade não está nos padrões impostos (vida perfeita urbana), mas na subjetividade e no espaço íntimo do sonho, um lugar de liberdade interior.

    Enquadramento histórico e social:

    Contexto urbano-contemporâneo; o poema reflete experiências comuns de migração para cidades em busca de melhores condições (“vim à cidade”), realidade presente em vários países africanos, incluindo Angola.Crítica à modernidade e ao consumismo (“vida perfeita padronizada”) evoca a homogeneização urbana e a perda da autenticidade, onde cresce a ansiedade.

    Influência do verso livre moderno:

    segue tendências da poesia pós-independência africana, que frequentemente trata do deslocamento, da identidade e das contradições do progresso.

    Dimensão universal:

    embora tenha raízes no contexto angolano, o tema da busca da felicidade em meio à urbanização é global.

    Como síntese o poema “A Felicidade” é um texto de reflexão existencial em linguagem simples, mas carregada de metáforas. Ele denuncia a ilusão da felicidade na vida urbana padronizada e indica que seu verdadeiro “endereço” pode estar nos sonhos, na interioridade ou na autenticidade do ser mais do que nos bens ou no status.

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