Por Nasapulo Kapiãla
Perguntei na vida:
Aonde andará a felicidade?
A vida respondeu:
– <<Seu endereço é a vida perfeita>>
Perguntei a mim mesmo:
Como encontrar a vida perfeita?
Uma voz tímida,
Ressoante, respondeu:
– <<Ela sedia-se nas metrópoles>>
Apressei-me,
Deixei tudo, vim a cidade.
Encontrei a vida perfeita padronizada,
Deslocada da felicidade,
Vizinha da ansiedade!
Lamuriei:
Ó, felicidade, por que se complexificas?
Vejo que não moras na realidade!
Poupei fundos de alegria, sorrisos,
Numa conta a prazo,
A fim de desejar-te boas-vindas,
Logo que chegasses!
Uma voz sussurrante em meus ouvidos segredou:
– <<Pare de resmungar, encontre-me nos sonhos!>>
Finalmente, sinto-te tão próximo!
Basta que a noite chegue,
Para que sinta-me feliz em meus sonhos!
_______________________
Emílio Tomé Cinco Reis de pseudónimo literário Tomé Nasapulo Kapiãla, angolano, natural da província do Huambo, planalto central, licenciado em Geologia faculdade de ciências naturais, universidade pública, Agostinho Neto. É professor do ensino secundário do 2° ciclo do Liceu Público N° 4019 ex-IMNE de Cacuaco “24 de Junho”, lecciona a disciplina de Física e dirigente comunitário da comunidade dos Imbondeiros Cacuaco, província de Luanda.
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Publicado por leandrobertoldo
Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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Parabéns!
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HALUBH,gratidão companheiro!
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O poema gira em torno da busca humana pela felicidade e a frustração ao não encontrá-la nas estruturas materiais da vida urbana. A voz poética questiona a própria existência e descobre que a felicidade se mostra mais no campo do sonho e do subjetivo do que no concreto.
Estrutura e forma:
O poema está organizado em blocos curtos, quase como diálogos internos (perguntas e respostas).Alterna perguntas retóricas (“Aonde andará a felicidade?”) e respostas simbólicas (“Seu endereço é a vida perfeita”), o que dá um tom de reflexão filosófica.Não há rimas fixas, prevalecendo o verso livre, característico da poesia contemporânea.
A progressão é narrativa: pergunta → busca nas cidades → frustração → refúgio no sonho.
Figuras de linguagem:
a)-Personificação:
A vida responde ao eu-lírico (“A vida respondeu”).
b)- Metáfora:
Felicidade como algo com “endereço”, “conta a prazo” ou “vida perfeita padronizada”.
c)-Ironia:
A vida perfeita da metrópole é vizinha da ansiedade, não dá felicidade.
d)-Antítese:
realidade vs. sonhos; vida perfeita vs. vida feliz.
e)-Imagens concretas:
“Poupei fundos de alegria, sorrisos” (metáfora bancária para emoções guardadas).
Sentido final:
O poema sugere que a felicidade não está nos padrões impostos (vida perfeita urbana), mas na subjetividade e no espaço íntimo do sonho, um lugar de liberdade interior.
Enquadramento histórico e social:
Contexto urbano-contemporâneo; o poema reflete experiências comuns de migração para cidades em busca de melhores condições (“vim à cidade”), realidade presente em vários países africanos, incluindo Angola.Crítica à modernidade e ao consumismo (“vida perfeita padronizada”) evoca a homogeneização urbana e a perda da autenticidade, onde cresce a ansiedade.
Influência do verso livre moderno:
segue tendências da poesia pós-independência africana, que frequentemente trata do deslocamento, da identidade e das contradições do progresso.
Dimensão universal:
embora tenha raízes no contexto angolano, o tema da busca da felicidade em meio à urbanização é global.
Como síntese o poema “A Felicidade” é um texto de reflexão existencial em linguagem simples, mas carregada de metáforas. Ele denuncia a ilusão da felicidade na vida urbana padronizada e indica que seu verdadeiro “endereço” pode estar nos sonhos, na interioridade ou na autenticidade do ser mais do que nos bens ou no status.
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Muito lindo, meu amigo!!
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