Por Kaká Bertoldo*
De dentro da minha caixa posso ver sementes pretas com vermelho. Ela é linda. Mora dentro de uma casinha que parece uma gestante. Ao lado dela, penso eu, tem outra semente. Mas essa é ainda mais diferente, num formato cilíndrico e meio transparente. Ao mesmo tempo, colorido, de um azul muito estranho. Parece que tem um líquido dentro. Será que semente tem isso?
Mais adiante, avisto algo refletindo a luz do sol. Aproxime-me e quando pego essa semente corta os dedos. Posso enxergar através dela. E ao cair da minha mão estrala no chão como se fosse quebrar. Quando caiu, parou ao lado de algo marrom e retangular. Que flor diferente deve ser essa? Pelo jeito, também tem algo dentro dela. Quando balanço, faz barulho de água. Estranho mesmo, é que dela sai alguma coisa comprida. Parece um graveto seco, mas é branco. Nunca vi graveto branco.
Resolvi mudar de calçada e encontrei uma folhagem. Meio verde, meio seca. Mas essa tem muita cara de planta. Tem um caule verdinho e cheiro de folha de árvore. Só que não demorou para encontrar outra folha esquisita. Grande, colorida por fora, prateada por dentro, muito estranha. Posso ver palavras escritas nessa folha, mas como pode a Mãe Natureza escrever uma palavra?
— Eva, anda logo, minha filha. Chega de catar lixo do chão!
Minha mãe me chamou e me tirou da minha caixa. Achei que era tudo coisa da minha cabeça, mas não! Isso tudo é um mundo real onde as pessoas jogam lixo no chão.
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* Kaká Bertoldo é escritora e uma das autoras da coletânea Histórias e Versos. É integrante da turma Manoel de Barros, da Vivência Novos Autores, da Árvore das Letras.
A Árvore das Letras é uma escola-ateliê e editora sustentável de encadernação e papelaria ecológica. Valorizamos a produção e a confecção de livros e cadernos conceituais e artesanais. Oferecemos vivências presenciais e on-line para quem quer ingressar e aprimorar no mundo da escrita e da arte da palavra.
Frequentemente participamos de eventos, feiras e exposições. Entre em contato conosco e conheça melhor os nossos trabalhos.
Um forte abraço e até a próxima.
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Publicado por leandrobertoldo
Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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A vida é uma caixinha de surpresas e cabe a nós fazer dela uma arte linda,gostosa e feliz
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Sempre, meu amigo!!
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