Como podia ser tão diferente? Desde criança se mostrava o oposto dos outros miúdos. Na verdade isso era sentível na gestação. Nas consultas médicas, se as outras mães relatavam um comportamento tal, o menino, ainda em formação, apresentava-se já na morada do qual. Não por acaso nasceu sorrindo… Ao crescer queria tudo diferente. Preferia pistache a doces, não gostava de balas; na escola, na hora do recreio, preferia os livros na biblioteca — esse comportamento de livros o perseguiu a vida toda. Inclusive, o encontrou em um poema: “O menino que carregava água na peneira”. Ficou encantado! Afinal, aquele tal de Manoel o entendia. Descrevera tudo com tanta clareza! E a sua mãe era igualzinha à mãe do menino. Passou a ser chamado de “o menino dos despropósitos”.
Ao crescer continuou a encher os vazios e a fazer pedras dar flor. Não se via no lugar de todo mundo. Se todo mundo ia por ali ele ia por aqui, e não importava com os falatórios, continuava a desenhar pipas no céu.
Os anos passaram e aquele menino já era um velhinho – não gostava da palavra “idoso”; era velho mesmo e sentia orgulho disso. Rodeado de filhos, netos, sobrinhos e afilhados, reuniu-os todos para se despedir. Foi assim, ao som de canções e brindar de copos, inclusive os dele, logo após o fim da festa, ele se sentou e fechou os olhos pela última vez tão feliz, tão sereno, tão despropositado. Estava na hora de ser árvore, estrela não.
Algum tempo depois, um de seus bisnetos, outro garotinho a receber o nome de Manoel, encontrou nos guardados do avô um papelzinho todo dobrado com marcas do tempo. Ao abri-lo lá estava o segredo dos despropósitos. Nele lia-se:
São muitos caminhos. Façam suas escolhas. SUAS escolhas…
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A vida é uma grande tela em branco para ser pintada… O tempo todo. Quais são as suas cores?
Forte abraço! Até a próxima.
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Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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4 comentários em “A VIDA TEM A COR QUE VOCÊ PINTA”
Que lindo texto, Leandro! Parabéns!
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Obrigado, minha amiga 🙂
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Pinte o sete sempre que puder, pois a arte da vida é fazer da vida uma arte
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É isso aí, meu amigo. Esse sempre foi o seu lema 🙂
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