CONTADOR DE HISTÓRIA JÁ TEM FAMA DE CONTAR UNS TROÇO DIFÍCIL DE ACREDITAR, NÉ MESMO?

Hoje, dia 20 de março, é o Dia do Contador de Histórias. E como tenho muitos amigo e amigas a fazerem jus a esse dia tão lindo onde os causos ganham personagens e estes alimentam nossos sonhos, trago um deles a representar todos: Ricardo Albino, nosso querido Ric. A escolha, além do grande carinho que eu tenho por este irmão de alma, passa por mais um acontecimento digno de um contador de histórias: hoje é também o aniversário de 3 anos da Ricontar histórias, o canal do Ric no You Tube. Não por acaso, como ele mesmo diz em seu livro “Histórias de um rapidinho em quarentena”, que eu tive o privilégio de publicar aqui na Árvore das Letras, “contador de história já tem fama de contar uns troço difícil de acreditar, né mesmo?”

Por isso, em nome de todos os contadores e contadoras de histórias desse país e desse mundo, e a abençoar mais um ano do canal Ricontar, trago essa história que começa exatamente assim…

__________

Contador de história já tem fama de contar uns troço difícil de acreditar, né mesmo? Imagina só quando o sujeito que nasceu em Minas e sai da capital para passar um tempinho mais comprido com os pais na roça.

Os dias vão passando e a tal quarentena vai aumentando e deixando os parafusos da cuca meio abilolado e o menino começa a ouvir a voz de coisa sem proseado. É bicho, flor, o sol. Todo mundo ganha vida em miolo de maluco.

Aqui tem muitas árvores chamadas Cambuí  que o pai Sebastião escolheu para batizar o Sítio. Já teve inté chalana de garrafa pet com remo e tudo. Sucedeu que antes de eu subir nela de cadeira e colete pra mode não afundar, São Pedro deve de ter sentido mais que eu e decidiu suas torneiras fechar. As lagoas choraram tanto que acabaram por minguar. O passeio que eu queria não pude pilotar, dirigir a possante para um fato importante  acompanhar. Meus sobrinhos foram juntos mudas de Pau Brasil  plantar. Minha sobrinha Alice que nasceu pouco depois deixou seu umbiguinho junto da sua plantinha para adubar e ela crescer sem parar. O Felipe seu irmão, grande e desajeitado, enfiou o pé na cova e quase largou o tênis lá enterrado. A minha mãe gosta de fazer três coisas  que começam com a letra C: comida, crochê e conversar com as flores do jardim. E as belezuras parecem gostar do papo. As orquídeas estão tão metidas que ganharam até cestinhas de crochê pra descansar. 

O problema de esconder no mato é que a gente tampa na caneca e entra na comilança, já toma café da manhã pensando no cardápio do almoço, no lanche e na janta. Graças a Deus que eu não consigo subir sozinho na balança. Em época de jogos olímpicos e pandemia surgem novas modalidades e possibilidades profissionais para o mundo animal. Os miquinhos são excelentes na escalada de fio por equipe. O tucano é uma espécie de Big Brother da bicharada. Usa seu bico doce e voz rouca para colocar os adversários no paredão. Os canarinhos ensaiam para a disputa do “Animal Voice” que terá ainda a ilustre orquestra Sapônica  e o uivante lobo guará.

Os preparativos do evento que antecede as competições esportivas do Alçapão do Cambuí seguem acelerados com o trabalho constante da CSC Companhia de Sapos Construtores, um time que nunca dorme em serviço e é exemplo também na luta contra o vírus. Os verdinhos que convenceram o Sapeca a não mudar de cor estão felizes porque as lagoas agora estão lotadas e assim poderão lavar o pé, a mão e o corpo inteiro e sair da água com cheirinho de álcool em gel.

No parque aquático do vovô acontece a emocionante disputa de histórias de pescador. O Senhor Sebastião foi um dos últimos competidores a garantir presença após afirmar que foi nocauteado por uma banana após ela  ter seu coração também conhecido como umbigo da banana arrancado por ele com a mão e não com uma faca conforme as regras. Além do aposentado barbudo, o Jacaré que comeu a noite, Pinóquio, o grilo falante e Emília, a boneca de pano, prometem comparecer. Enquanto isso, as Seriemas chegam na maior gritaria para a  batalha pela  conquista de território. O Dom Ratão encara o Alma de gato ou pássaro que voa e o Manhã Eu Vô e nunca chega na hora certa no torneio de subida no telhado.

Quando a lua caipira iluminar a varanda da casa, o Tiú, a Paca, o Gavião, o Boi Bandido e o cavalo Campeão partem em busca do milho perdido. O vencedor da prova ganha um saco de fubá. A Alice disse que se o Corona já tiver morrido  vem  ver de pertinho, mas, de carro porque a pé cansa.

Ricardo Albino*, em Uns causos de quarentena, do livro “Histórias de um rapidinho em quarentena”.

________________________

Ricardo Albino, nascido e criado em Belo Horizonte, é jornalista formado em 2006, pelo Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI BH, contador de histórias formado pelo Instituto Cultural Aletria, em 2015, criador da página Ricontar Histórias, em 2017, e do canal de mesmo nome no You Tube, em 2021. Cadeirante, idealizou no canal o podcast Ricontar para unir histórias, seu amor pelo rádio, acessibilidade e inclusão.

Acompanhe o canal Ricontar no You Tube, no link: https://www.youtube.com/@ricontarhistorias9462

Forte abraço!
Até a próxima.


Descubra mais sobre Por uma literatura de identidade própria - Escrever é costurar ideias com as mãos

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

2 comentários em “CONTADOR DE HISTÓRIA JÁ TEM FAMA DE CONTAR UNS TROÇO DIFÍCIL DE ACREDITAR, NÉ MESMO?”

Deixar mensagem para Sebastião E. B. Albino Cancelar resposta