QUAIS MALAS VOCÊ CARREGA?

Por Leandro Bertoldo Silva

Você Já parou para pensar no quanto nos prendemos na vida? Prendemo-nos a relacionamentos não desejados, a trabalhos insatisfatórios, a pensamentos inadequados, a crenças que nem são nossas… Somos carcereiros de nós mesmos. E mais! Somos acumuladores disso tudo e a nossa existência é um depósito emocional. Jorge que o diga.

Quem é Jorge?

Jorge é um personagem que escrevi. Tenho uma história íntima com ele, mas um dia eu conto. Por hora, basta saber que é um jovem publicitário a viver as pressões implacavelmente impostas a todos: a necessidade quase obrigatória de sermos perfeitos. Até a felicidade é uma obrigação! Amargurado e cansado, resolve sair em uma viagem de férias porque não a tirava há muito tempo, para aliviar sua angústia. No caminho do aeroporto, se depara com um acidente e isso mudará completamente a sua vida.

Essa é a síntese do meu livro Janelas da Alma, escrito e publicado em 2018. Em uma passagem, Jorge nos faz questionar sobre o peso das coisas e a necessidade atribuída a elas, ou melhor, temos necessidade delas? Novamente voltamos ao questionamento inicial. Ele me tocou profundamente ao relatar o episódio da mala e ao me fazer questionar sobre a liberdade e o pertencimento das coisas.

O que vai na sequência foi dito por ele ao longo do capítulo 3 ao andar pelas ruas após uma noite memorável. Nada demais se ele não tivesse perambulando para cima e para baixo carregando uma mala. Uma mala…

Assim disse ele:

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A mala era tudo o que eu possuía naquele momento. Não passava pela minha cabeça a vontade de voltar para casa. Estranho sentir que todo o meu mundo, conquistas, pertences estavam devidamente resumidos dentro daquele objeto quadrado meio abaloado. Mais estranho ainda era sentir que o pouco que eu tinha me incomodava bastante. Como as coisas nos pesam! E que coisas? Roupas, sapatos, escova e pasta de dentes… Somos presos a tão pouco! Nada me impedia de deixá-la ali mesmo onde estava e seguir a minha vida sem ela. Ao mesmo tempo, tudo me impedia… Ideia estúpida essa de acharmos que as coisas nos pertencem, principalmente, porque não é assim que acontece. Somos nós que pertencemos às coisas, pois elas não têm vontades nem desejos de nós. Se as deixarmos em qualquer canto, elas ficam tranquilamente e não sentem a falta que nós sentimos delas. Se entrarem na vida de outras pessoas, entram com a mesma indiferença com a qual saem da nossa. Elas são livres, desapegadas, enquanto nós somos presos, acorrentados a uma vida de ilusões. Arrasto a mala como um preso arrasta uma bola de ferro e se alguém a rouba ainda seria capaz de perder a vida na tentativa de reaver minha prisão, não abrindo mão do meu fardo e das minhas mazelas.

As ruas já estavam cheias. Gente se esbarrando, olhares sumidos, perdidos cada qual em interesses próprios sem sinal de um afeto comum. Um mundo lotado de singularidades e ausências se confundia comigo mesmo que via nos rostos das pessoas marcas do tempo esgotado e às vezes sem sentido algum. Era assim que eu estava. Andando sem sentido, sem direção, sem vontade. Somente a mala, incômoda, que me prendia a nada. Tudo estranho. Sensação de estar onde não deveria. Pensava que naquele momento outra pessoa deveria estar ocupando aquele espaço que meu corpo ocupava e, contrariamente, eu deveria estar ocupando em outro lugar o espaço que, naquele instante, outro me furtava. Tudo é uma questão de momentos. E a vida passa sem pensarmos nela. Apenas passa como a dor quando nos acostumamos com sua presença, embora não percebamos os estragos em nossa alma causados pelas ausências. Foi assim que cheguei à porta de um café e me dei conta de que não comia havia muitas horas.

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Bem, fiquemos por aqui. Deixemos Jorge e seus dilemas. Sim, ele entrará no café e encontrará por lá algo magnífico. Você pode ler, se desejar, continuar a sua saga em busca de… Ora, você saberá.

Por hora, deixo apenas um questionamento trazido por meu amigo, uma vez que somos acumuladores de coisas e muitas vezes essas coisas nem são palpáveis, mas sim moradoras em nossos corações: afinal, elas nos pertencem ou somos nós a pertencermos a elas?

Ótima reflexão para você.

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Bem, se chegar a alguma conclusão, ou não, deixe aqui nos comentários.

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Um forte abraço!
Até a próxima.


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4 comentários em “QUAIS MALAS VOCÊ CARREGA?”

  1. Ah Jorge! Você e sua Mala!!
    “Janelas da alma” é um livro sensacional e Leandro Bertoldo em sua sensibilidade e potencialidade descritiva, nos conduz para dentro dessa mala de objetos sentimentais! Quanto peso desnecessário seguimos carregando dentro de nossas malas? E arrastando-as por largos anos?! Jorge não é o único!
    Muito boa reflexão! Para cada um de nós!
    Um forte abraço amigo Leandro!!

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  2. Meu amigo irmão Leandro,a vida nos deu a opção de escolher o tipo de mala que vamos carregar: lembrei da mala sem alça,da sem rodinhas,da sem alça e sem rodinhas , teoricamente a mais pesada e a qual só carrega quem tem capacidade de levar tal peso e por fim ,as bagagens de mão, supostamente mais leves . Porém, já é sabido por nós que o peso das malas da estrada da vida é distribuído exatamente de acordo Com a força de quem carrega para aprendizado no cumprir da missão.Nos resta agradecer ,aprender e tentar fazer que todo peso de qualquer mala fique mais leve

    Curtido por 1 pessoa

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