
Por Patrícia Vaucher
Há momentos em que somos provocados a escrever um novo capítulo de nossas vidas. Isso surge quando o que estamos vivendo não faz mais sentido para uma alma que cresceu além dos limites impostos. Com o passar dos anos as coisas que foram vividas vão repousando suavemente no passado, encontrando seu assento. Mas vivemos montados em dias que correm, deslizam na rapidez das horas deixando escapar no movimento a paisagem que muda incessantemente cumprindo seu papel impermanente, e quando nos olhamos no espelho vemos alguém que já não é mais quem era. Esse é o ponto, essa é a hora. Hora de confrontar quem realmente está ali a nos mirar, quem é ela/ele?
Foi assim que aconteceu naquele final de inverno. Chovia muito naquela noite. Ela dormia profundamente. De repente parecia que tinha saltado da cama com uma carga extra de energia, coisa rara. Estranhou, mas não questionou, queria mesmo era aproveitar as horas para colocar em ordem os amontoados de estudos, leituras e demais afazeres do dia a dia. Correu até o banheiro jogou um pouco de água gelada nas faces. Secou o rosto e ao olhar-se viu refletida no espelho a imagem de uma mulher. Quem era ela? Parecia indagar-lhe algo. Olhou detidamente aqueles olhos misteriosos que brilhavam num tom azulado como o oceano. Não hesitou nem por um instante, mergulhou em águas profundas.
A partir dali assistiu várias cenas de sua vida como num filme. Algumas eram fiéis aos fatos, outras pareciam um pouco distorcidas, as melhores eram aquelas que contavam sua história como ela desejaria que tivesse sido. Riu, chorou, desesperou, esperançou. A cada imagem que assistia seu corpo ia se transformando e junto a ele, algo do lado de dentro também precisava se encaixar à nova forma do corpo. O processo era bastante dolorido.
Então sonhou… No sonho ela era aquela mulher do espelho. Entendia a vida de outra forma. Parecia que tudo tinha se invertido, sentia as coisas com o coração. Enxergava o mundo através das essências e não mais a partir dos olhos do ego. Entendeu que todas as coisas eram exatamente como tinham que ser e foi aí que tudo começou a fazer sentido para ela. Entendeu finalmente o verdadeiro motivo de estar viva.
Acordou sabendo que tinha sonhado com algo muito especial apesar de não lembrar muita coisa. Inconscientemente inspirada, viveu a partir daquele dia com uma enorme sensação de pertencimento, apesar da pacata vida social que levava. Nunca tinha vivido algo assim. Nada mais lhe faltava. Tampouco tinha necessidades. Sonhava em compartilhar com as pessoas sua descoberta. E deve ter sonhado muito desde então, inspirou milhares a seguirem seus corações, enfrentando seus medos, superando desafios, entusiasmados pelo simples ato de viver sonhando acordado.
Acredite! É muito mais simples do que parece, dizia ela.
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Nascituro é um livro de Patrícia Vaucher, fruto da Vivência Novos Autores, uma imersão de sentimentos por meio da leitura e escrita que tem o objetivo de aprimorar a percepção literária e metafórica das histórias que lemos e ouvimos. Patrícia traz em sua obre uma interatividade inovadora: cada história é acompanhada por uma consigna, que é uma forma de promover o aprendizado e a reflexão a partir de um caminho sugerido. A consigna dessa história é a que vem a seguir:
Sonhar! Quando somos provocados a sonhar geralmente imaginamos coisas mirabolantes que gostaríamos de fazer ou possuir. Porém a vida exige mais de nós. Qual seria o verdadeiro sonho a ser sonhado?
Você pode escrever, caso queira, aqui nos comentários, ou enviar também para a autora.
Para saber mais sobre a vivência, clique AQUI.
Para adquirir o livro “Nascituro”, entre em contato com a autora no perfil https://www.instagram.com/patricia_vaucher/
Forte abraço!
Até a próxima.
Descubra mais sobre Por uma literatura de identidade própria - Escrever é costurar ideias com as mãos
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Quando nos propomos a crescer, vamos percebendo que as velhas roupagens já não nos servem.mais! É aí que entendemos que um.outro ser renasceu em.nós! Parabéns Patrícia Vaucher e Leandro Bertoldo pela partilha de mais um.banquete Literário!
Um afetuoso abraço!
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Gratidão, Valéria! Que lindo e verdadeiro comentário!
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Patrícia, que interessante! Pode parecer mesmo bem simples, mas que o processo é doloroso, isso é. A mim me pareceu difícil olhar minha imagem no espelho e não pedir perdão. Durante uma meditação precisei encontrar meu olhar bem na minha frente. E foi ali que com alegria e dor que descobri o que aquela pessoa esperava da vida. Amei seu texto! Parabéns e obrigada pela reflexão que ele me causou.
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