TÍTULO TEM, MAS É SEGREDO

Por Ricardo Albino

Quem cochicha, o rabo espicha! Quem não conta, ele estoura! Psiu! Cuidado com ela! Quem? A vaca amarela! Quem falar primeiro come… Sabem o que né? E alguém gritava: chega! Não aguento mais ficar calado! Como tudo sozinho! É hora da gargalhada! Vamos brincar de telefone sem fio. Eu falo no seu ouvido e você conta baixinho a fofoca para o outro espalhar até cansar! Mas diz que é segredo tá? A gente cresceu e sabe onde fomos parar? Eu conto, você conta? Nós podemos contar? Sim. Então 1 ,2 ,3 e já!

Numa cidade onde quase tudo é segredo, inclusive o nome do lugar que nem hotel tem para ninguém descobrir o maior segredo de lá! Quando eu e Patrícia fomos num casório na roça do Senhor Pedro Calado tivemos que ficar hospedados na cidade vizinha, curiosamente chamada de Boca Fechada, lembra? O evento do momento era a união do galo Segredo com a galinha Fofoca. Estranho, né? Nunca imaginei que Segredo e Fofoca fossem se bicar um dia. E você ainda percebeu nos bastidores da festança segredos dos noivos que viraram história na tv e agitaram a vizinhança, né?

Sim, lembro-me como se fosse ontem! A Fofoca toda emplumadinha colocando seu vestido de noiva e as damas de honra auxiliando. Nem nessa hora a Fofoca parava de fofocar. Contava pra todos que tinha visto o marido da vizinha com uma franguinha no cinema, falava mal da cor nova da pena da tia Cocotinha que tinha usado um tonalizante caju radiante que ficou horroroso. Não concordo, achei até bonitinho! E assim, foi falando mal da cidade inteira até ficar pronta! E olha, nunca tinha visto uma noiva tão linda!!! Estava encantadora!!!

Pois é! Eu tenho outro segredo sobre o Segredo. Na verdade, dois. O primeiro é que a verdadeira identidade dele é Chico, o Cocoricovo. Chico é galo hermafrodita. Quando as galinhas fazem greve, o bicho vira a chavinha e é obrigado a botar os ovos sem reclamar. Como prêmio, além de não virar galinhada ou molho pardo no panelão vermelhão, desfila e ganha cachê de milhão. Com o dinheiro pediu para o patrão construir um galinheiro de dois andares para o momento de relaxar. Para completar, corre em segredo de justiça um processo movido por fofoca, por calúnia e difamação. Segundo uma fonte, que pediu para ser mantida em segredo, a atual primeira dama do Galináceos Mol, conhecida como Fofoca só canta, não cacareja porque senão gagueja. Não sabemos se é fato ou fake. O casório dos segredos deu até conto e quem quiser que aumente um ponto.

Pior de tudo é que ouvi por aí que o tal galo gostosão já é casado com duas galinhas. Uma mora em Boca Fechada e a outra no município de Calados. Como ninguém pode falar nada, a coisa vai ficando por isso mesmo. E o galo só se dando bem!!!

Sabe o aconteceu quase na hora do nosso último ponto final? Quem pagou o pato na cozinha foi o porquinho que virou lombinho assado. Sem nem desconfiar daquele trem, o pai comeu seu animal de estimação, encheu o barrigão e nos contou histórias de montão!

Você sabia que…

* Texto escrito a quatro mãos entre Ricardo Albino e Patrícia Vaucher.

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Ricardo Albino é jornalista, escritor e contador de histórias. Além disso, é um grande amigo que se fez irmão. Eu tive com ele uma conversa pra lá de agradável e publico aqui em forma de entrevista para que você também possa conhecer um pouquinho do nosso querido Ric.

Árvore das Letras: Oi, Ric, que prazer poder falar com você! Conte um pouquinho da sua história, da sua infância?

Ricardo Albino: Sou natural de Belo Horizonte, tenho 45, quase 46 anos e nasci prematuro de 6 meses. Tive parada cardiorrespiratória que afetou a parte motora e a visão. Enxergo metade da vista esquerda, nada da direita, mas aprendi a ver a vida pelo lado bom e as pessoas pelo coração. Já usei aparelho nas pernas ,andador ,bengala canadense e em 1997 fui pra cadeira de rodas. Com minhas possantes, pois tive algumas até hoje, ganhei asas e voei rumo aos sonhos.

AL: De onde veio a sua escolha pelo jornalismo?

Ricardo Albino: Ser jornalista era um grande sonho e nasceu aos 6 anos de idade por amar os esportes, a música, o rádio e a escrita. Na infância até a adolescência era narrador de jogo de botão e corridas de autorama, jogos de vôlei e queimada com os vizinhos. Cheguei a jogar também como goleiro ajoelhado. Participei de shows de calouros e peças de teatro na escola. Em festa junina fui até um balão. Sempre amei cantar e decorar escalação de times e seleções. Ainda na época escolar, fiz uma montagem da Escolinha do professor Raimundo na qual fiz papel do próprio e ganhei o prêmio de melhor redação da turma com o livro “Vida de um repórter” . Estudei em escolas com menos alunos em sala, o chamado ensino especial até o segundo ano do ensino médio e no terceiro ano fui pra escola regular integrada. Estudei em casa sozinho para o vestibular, passei em 2002 e durante 4 anos gravei as aulas para escutar e passar o conteúdo pra o caderno depois. Em 2006 formei e criei um blog. Em 2010, no hospital Sarah em BH ,na educação física e aula de artes, além de fazer alguns esportes paraolímpicos , escrevi programa de rádio e duas peças de teatro.

AL: Quando você percebeu que era um contador de histórias e quis se profissionalizar nessa arte?

Ricardo Albino: Foi na roça, em 2009, quando criei a primeira história para minha sobrinha que pediu uma história pra dormir, em que nós, eu e ela fossemos personagens. Cada noite, inventava novos personagens e aventuras da Bia e do tio Ric.
Em 2015 fiz o curso de contadores de histórias do Instituto Cultural Aletria e dois anos depois criei a página “Ricontar Histórias” no Facebook. Em 2021 veio o canal no YouTube. Brinco que a contação de histórias é minha pós de jornalismo.

AL: Você tem um estilo muito peculiar de escrita. Você escreve como quem conta de fato uma história. Como é isso?

Ricardo Albino: Meu jeito de escrever eu encontrei nas crônicas. Texto mais curto, de linguagem leve, bem humorada e que se encaixa bem na contação de histórias.
Eu digo atualmente que não me sinto mais jornalista e nem um escritor, mas sempre um ouvinte e criador de histórias que me ensinam que a verdadeira acessibilidade e inclusão nascem dos bons sentimentos.

AL: Você tem dois livros publicados que nós brincamos ao falar que são os dois irmãos: “Histórias de um rapidinho em quarentena” e “Antologia da psicaneta – calmaria sem ponto final”. Apresente cada um deles pra gente.

Ricardo Albino: Meu primeiro livro foi escrito entre 2019 e 2021 no período da pandemia de COVID que passei Com meus pais em isolamento na roça. Quando voltamos para BH, após um ano e meio, conheci o seu trabalho e publicamos pela árvore das Letras o “Histórias de um Rapidinho em Quarentena”. Depois participei do curso de Linguagem, Leitura e Escrita, que hoje é o Novos Autores, onde convivi com os amigos da minha família calmaria. Toda segunda feira a noite havia um encontro e novas vivências e descobertas da arte do viver e conviver comigo e com o outro através da escrita e da liberdade de emoções. Assim nasceu a “Antologia da psicaneta – calmaria sem ponto final”.

AL: Conte um pouquinho sobre o seu processo criativo.

Ricardo Albino: Sobre o meu processo criativo eu tento escrever de uma maneira simples, leve e que leitor, em cada história lida, sinta como se eu estivesse ao lado dele contando aquela história ou buscando nele, sendo eu um ouvinte, motivação, inspiração, alegria e calmaria para o coração. Gosto muito de criar a noite e pela manhã e busco inspiração na simplicidade do amor pela vida.

AL: Que recado você deixa para quem tem o sonho de escrever?

Ricardo Albino: Para você que tem o sonho de escrever e ainda não sabe como começar pense que a arte da vida é fazer da vida uma arte e a arte da escrita é uma constante declaração de amor do pensamento para o coração.

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“Título tem, mas é segredo” é uma das histórias do livro “Antologia da psicaneta – calmaria sem ponto final”, do escritor, jornalista e contados de histórias Ricardo Albino. A obra, publicada pela Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária, é fruto da Vivência Novos Autores, uma imersão de sentimentos por meio da leitura e escrita que tem o objetivo de aprimorar a percepção literária e metafórica das histórias que lemos e ouvimos, e ainda aplicar técnicas criativas e afetivas na produção de narrativas e poesias.

Para saber mais sobre a vivência, clique AQUI.

Para adquirir os livros do Ricardo Albino, entre em contato com o autor no perfil https://www.instagram.com/ricardoflavioalbino/

Visite, também, a sua página no You Tube

https://www.youtube.com/@ricontarhistorias9462

Forte abraço!

Até a próxima.


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