BREVE CARTA À ANNE FRANK

Por Leandro Bertoldo Silva

Querida Anne Frank. Hoje é o meu aniversário. 04 de agosto de 2023. Exatamente no mesmo dia que há 79 anos foi o pior momento da sua vida. Fecho os olhos e tento imaginar o horror daquele acontecimento em que os soldados da Schutzstaffel, do Partido Nazista alemão, juntamente com outros policiais invadiram o anexo secreto na rua Prinsengracht, 263, em Amsterdã, e descobriram onde estava escondida há 2 anos com sua família e amigos, levando-os para os campos de concentração de Auschwitz e posteriormente a Bergen-Belsen naquela segunda guerra mundial, onde veio a nos deixar. A liberdade estava tão perto! Foi por tão pouco, meu Deus… Como o medo deve ter paralisado a sua alma! Você tinha apenas 15 anos… Pois vim ao mundo 28 anos depois desse dia terrível ao da descoberta. Ao saber disso fiquei muito triste, principalmente porque essa data sempre foi uma celebração para mim. Como pode um dia ser tão pavoroso para alguns e tão maravilhoso para outros?

Sabe, Anne, tenho comigo um sentimento estranho. Desde quando soube disso, mesmo nascido em outro país tão distante do seu e em outra época, sinto-me com uma espécie de dívida, não histórica, mas minha mesmo, pessoal, de transmutar esse dia em luz. Redimir um ato o qual não provoquei ou sequer participei – assim espero e imploro – torna-se um compromisso a fim de não destruir a minha humanidade. As daqueles militares foram destruídas, como cada vida ceifada pelo ódio obediente e inexplicável; outras tantas foram condenadas como a sua.

Desculpe, Anne, por fazer desse 04 de agosto de hoje — o meu 04 de agosto — sorrisos, tão diferente do seu de lamentos e perdas e choros e sombras. Mas sabe de uma coisa? São neles, nos sorrisos, a morada de fazer do meu destino o melhor a cada dia. E não digo isso por mim, mas por você e por cada pessoa abandonada na sua dignidade de existir, independente de tempo e espaço. Venho nesse 04 de agosto a servir, a fazer o bem a quem necessitar, a reconstruir almas e oferecer possibilidades. Toda a minha vida tem sido assim.

Anne Frank, se for possível, perdoe a minha felicidade. Em troca dou ao mundo, principalmente pela palavra, a qual você tão bem conhece, a minha entrega e o meu servir.

Respeitosamente,

Leandro Bertoldo Silva.


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10 comentários em “BREVE CARTA À ANNE FRANK”

  1. Nem é preciso dizer que estou aos prantos com sua breve carta para Ane. Nunca consegui conhecer essa história tão trágica, mas que pelo bom hábito de escrever cartas pudemos conhecer. E é isso: transformar em bem o que dói e em sorriso o que foi lágrima. Parabéns meu amigo, pelo aniversário e pela sensibilidade impressionantes!

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