Por Leandro Bertoldo Silva
Sempre tive fascinação pelas coisas simples. Acho mesmo que sou um fazedor de miudezas. Não por acaso tenho por Manoel de Barros uma admiração profunda, na capacidade que ele tinha — ou tem, porque um poeta nunca morre — de construir pequenezas insignificantes. Insignificantes? Ha, ha, ha!…
Muitas vezes como escritor, busco o pequeno das coisas. Bartolomeu Campos de Queirós, outro que entendia a linguagem miúda da vida, chegou a escrever um livro cujas 45 páginas valiam por 450; uma página de leitura por um mês de reflexão, a iniciar pelo título: “Antes do Depois”. Hã?! Pois é… E ainda há quem avalia se um livro é bom se ele for grosso! Não recrimino. Esses, às vezes, são bons escoradores de porta.
De qualquer forma, gosto das histórias que nos fazem pensar, daquelas a nos puxarem o tapete. O resultado já sabemos: um belo tombo existencial.
Escrever bem não é escrever muito, assim como ler muito não equivale ao ler certo, e eu não estou a falar de ortografia e muito menos de pontuação. Aliás, a gramática é uma necessidade(?), não uma camisa de força. Haja vista Guimarães Rosa.
Como vê, tantos sãos os escritores e escritoras a nos ensinarem isso. Uma vez estava a ler repetidas vezes um mesmo livro: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Sim, sou uma espécie de (re)leitor. Quem me conhece sabe: prefiro reler um livro a lê-lo pela primeira vez. Estava nisso quando fui interpelado por um amigo:
— Por que lê tão repetidas vezes este livro?
— Porque nele estou quase a encontrar a minha liberdade.
— O que falta para isso?
— A próxima leitura.
— Não te angustia saber que pode novamente não encontrar?
— Me angustia mais achar que já encontrei…
Não houve mais perguntas.
Recomecei.
________________________
Então, aqui está mais um texto em que eu revelo uma pequena particularidade, como ler repetidas vezes um mesmo livro. Há pessoas que acham isso uma perda de tempo, afinal há tantos livros a serem lidos… Mas uma coisa é ler, outra coisa é… ler! Com você como é? Você costuma repetir leituras?
Forte abraço!
Até a próxima.
Publicado por leandrobertoldo
Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
Ver todos os posts por leandrobertoldo
Que interessante esta tua perspectiva Leandro, em reler o livro, pois muitas vezes fi-lo e pareceu-me como se fosse pela primeira vez, visto que, uma leitura vale sempre por si e a impressão que temos, quando relemos é de sempre aperecer algo de novo, que não tínhamos absorvido na primeira leitura.Força Leandro! Até a próxima semana.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Oi, Emílio!
Sim, é assim mesmo que me acontece também. É sempre uma nova história que estaremos a desvendar. Gratidão, amigo, pela leitura e pela presença, Vamos em frente!
CurtirCurtir
Tudo igual, ou seja, comigo não é diferente.
Há um parentesco com os livros e com o que leio .
Os livros são como os botões da blusa ou das calças,pois fazem falta.
Na qualidade de leitor e escrevente vejo os livros como meus filhos e são tratados carinhosamente.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Que lindo, Antônio Alexandre! Comungamos do mesmo sentimento… Gratidão!
CurtirCurtir
Nossa! Eu releio muito. Quando estou a pesquisar na minha biblioteca, sempre tiro alguns livros para reler. Já até falei disso numa crônica. Parece que sempre encontramos coisas novas, de novo! Rsrs. Um abraço, caro amigo.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Sim, minha amiga!! A releitura é se sempre uma nova história!! Gratidão!
CurtirCurtir
Sim .
Pois há sempre algo novo a entender.
E principalmente se for um livro que me cative, gosto de sentir e viajar no mundo da imaginação de aprendizados e sensações boas.
CurtirCurtido por 1 pessoa
É o que eu acho também, Sãozinha! 🙂
Gratidão pela presença, sempre!
CurtirCurtir
Sim.
Principalmente se for cativante a leitura,viajo no mundo da imaginação e novos aprendizados e sensações boas.
CurtirCurtir
Eu releio e me emociono sempre. às vezes na mesma parte, às vezes em outra que na leitura anterior não tinha me tocado. Acredito que após a primeira leitura, distanciamos do livro, seguimos nossa estrada, vivemos experiências. E ao retornamos para o livro, essas vivências dialogam com a leitura nos trazendo novas reflexões . Adorei o texto, Leandro.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Que maravilha, Rosi!
Obrigado! Eu também tenho as mesmas perspectivas suas. É assim mesmo que acontece.
Gratidão!
CurtirCurtir
Releio sempre!!! Leio de novo e de novo…
A leitura é um alimento que deve ser saboriado até a ultima gota.😊😊
CurtirCurtido por 1 pessoa
Exatamente, Simone!!
Gratidão, minha amiga!
CurtirCurtir
Ahhhhh!!!
Quando eu era pequena lá em Guiricema,
Ganhei na escola um livro,
As mais belas histórias de Lúcia Cassasanta.
Este livro me levou para “além mar “…
Lia e relia suas histórias sem cansar,
Como se fosse a primeira vez kkkkkkk
Ele iniciou o meu primeiro caso de amor com os livros.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Que ótimo, Maria!! É muito bom quando guardamos essas lembranças que nos fizeram tão bem, não é mesmo?
CurtirCurtir