
Por Leandro Bertoldo Silva
Você consegue definir?
Imagine um mundo formado por pedaços coloridos de vidro, sendo estes refletidos por espelhos, a ocasionar, por meio de sua movimentação, imagens coloridas e diferentes em contínuas transformações…
Certamente, você associou essa descrição a um caleidoscópio, correto?
Correto. Mas não estou falando de um caleidoscópio comum, este do objeto cilíndrico, embora seja cilíndrico o mundo em que vivemos.
O que quero dizer?
Bem, imagine que você tenha olhos de vidros multifacetados, suas opções são inúmeras e o simples fato de saber que você pode mudar a realidade o fascina. Seu espírito é inquietante, corajoso e determinado, um desbravador de sentimentos que tem na palavra sua força de transformação.
Você sente as ideias fervilharem dentro de você. Sabe que o seu trabalho é libertá-las, pois o mundo depende disso e um dia o reconhecerá, mas, mesmo não reconhecendo, você precisa escrever… E cada palavra, cada frase, cada pensamento constrói uma época, um estilo, uma era…
Suas palavras ganham os livros, suas ideias ganham o mundo, às vezes aplaudidas, às vezes contestadas, e as páginas, manuseadas, se transformam num gigantesco caleidoscópio da humanidade…
Sabe do que estou falando?
Simplesmente de uma das artes mais fascinantes da humanidade, exatamente porque, como os pedacinhos de vidro que mudam o tempo todo, vai se formando nas indefinições, nos contrastes, nas inquietações… E são desses estímulos, alimentados por mentes talentosas e um profundo senso crítico e estético de sua época – e são muitas – que ela surgiu desde os primórdios de nossa descoberta: a literatura!
Essa arte magnífica, responsável por pensamentos como de Oswald de Andrade, ao afirmar, que “antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.”
E isso nos impulsiona a pensar, a refletir… E a devida inserção desses pensamentos vai, como foi, construindo nossa realidade e moldando nossa existência.
Mas deixe-me dizer uma coisa…
Você provavelmente já deve ter lido a seguinte frase atribuída à Bill Gates:
“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever — inclusive a sua própria história.”
Pois bem, uso desse pensamento para dizer que devemos, sim, ler os grandes clássicos e autores estrangeiros, assim como os seus contemporâneos, mas antes precisamos conhecer a nossa própria literatura.
Para mim, não há nada mais lindo e importante no mundo das letras do que a nossa literatura brasileira: Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto, Fernando Sabino, Manoel de Barros, João Cabral de Melo Neto, Lygia Fagundes Telles, Marina Colasanti, Murilo Rubião, Maria Clara Machado, Jorge Amado e tantos nomes que já foram referências para além-fronteiras.
Foram?!
Sim, foram! Não são mais, pelo menos como outrora.
E talvez por lerem, claro, os grandes clássicos e nunca deixarem de valorizar não apenas a própria língua, mas a própria arte em prosa e verso do seu país, tantos outros autores e autoras surgiram alcançando igualmente lugares de referência.
Sinto que vivemos hoje uma escassez de grandes escritores e escritoras, como vemos surgir em África, por exemplo. Isso muito se deve à mídia ceifadora e interesseira do comércio e à falta de verdadeiro incentivo à nossa literatura.
Mas nada está perdido!
Vemos crescer o movimento da literatura independente em nosso país, construindo caminhos sustentáveis e promissores. No entanto, para que isso possa acontecer com mais propriedade e força, há de voltarmos os olhos para o que nós produzimos.
Por isso, este texto é um guia, ou mesmo um mapa que, como tal, pode e deve ser acrescido de novos caminhos e até atalhos que as mãos e olhos deste que vos escreve porventura não mencionou.
O que eu quero dizer?
Na sequência vai uma relação da nossa história literária em obras e autores que tive o cuidado de traçar certa linha do tempo, desde o Romantismo — por ser a primeira grande ruptura com a Corte em busca de uma literatura genuinamente nossa, com espírito nacionalista — até os nossos dias. Embora bastante incompleta, é um bom começo para quem se aventurar a conhecer a melhor e mais vasta literatura do mundo: sim, a nossa! Para que eu não caia naquela velha máxima do “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”, devo dizer que sim, eu li todas as obras relacionadas aqui, e muitas delas eu revisitei, como revisito constantemente. É por isso mesmo que elas estão aqui…
Mas aqui vai um pedido, não sem antes de duas ressalvas!
A primeira é que me furtarei da responsabilidade de escrever aqui neste blog o que já se encontra facilmente em centenas de outros sites pela internet, ou seja, as considerações e resumos de cada obra. “Copiar e colar” definitivamente não… Irei simplesmente citá-las, assim como os seus autores, e inseri-las nos seus respectivos momentos históricos numa espécie de linha do tempo.
A segunda ressalva é que trago tão somente as obras lidas e apreciadas por mim em minha caminhada, o que se junta ao pedido a seguir…
Caso, porventura, tenham outros títulos que não estão mencionados na relação a seguir, fique à vontade de acrescentar nos comentários, e assim vamos aumentando essa lista que é cada vez mais infinita. No mínimo isso será um bom serviço prestado.
Vamos lá?
UM BOM COMEÇO…
ROMANTISMO
- Suspiros Poéticos e Saudades – Gonçalves de Magalhães (1836).
- A Moreninha – Joaquim Manuel de Macedo (1844).
- Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida (1854).
- Cinco Minutos – José de Alencar (1856).
- A Viuvinha – José de Alencar (1857).
- O guarani – José de Alencar (1857).
- Iracema – José de Alencar (1865).
REALISMO/NATURALISMO
- Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis (1881).
- Quincas Borba – Machado de Assis (1891)
- Dom Casmurro – Machado de Assis (1899).
- Memorial de Aires – Machado de Assis (1908).
- O Ateneu – Raul Pompeia (1888).
- O Cortiço – Aluísio Azevedo (1890).
PRÉ-MODERNISMO
- Os Sertões – Euclides da Cunha (1902).
- Triste fim de Policarpo Quaresma – Lima Barreto (1911/1915).
- Eu – Augusto dos Anjos (1912).
MODERNISMO/PÓS-MODERNISMO
- O Quinze – Raquel de Queiroz (1930).
- São Bernardo – Graciliano Ramos (1934).
- Capitães da areia – Jorge Amado (1937).
- Vidas Secas – Graciliano Ramos (1938).
- Morte e Vida Severina – João Cabral de Melo Neto (1955)
- Grande Sertão: Veredas – João Guimarães Rosa (1956).
- O Encontro Marcado – Fernando Sabino (1956).
- Quarto de despejo: diário de uma favelada – Carolina Maria de Jesus (1960).
- O Pirotécnico Zacarias – Murilo Rubião (1974).
- A hora da Estrela – Clarice Lispector (1977).
- Olhos D’Água – Conceição Evaristo (2015).
- Ponciá Vicêncio – Conceição Evaristo (2017).
Gostou de acompanhar essa evolução histórica das letras? Que tal, então, como disse acima, mencionar nos comentários quais obras e escritores fariam parte da “sua” lista? Isso irá aumentar ainda mais as indicações e o nosso panorama literário.
E lembre-se!
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Compartilhe esse conteúdo e vamos valorizar ainda mais a nossa literatura brasileira.
Forte abraço!
Descubra mais sobre Por uma literatura de identidade própria - Escrever é costurar ideias com as mãos
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Memórias Sentimentais de João Miramar – Oswald de Andrade (1924 – ainda pré-modernismo)
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Grato, meu amigo, por sua valiosa contribuição! Está anotado.
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