Sou de Belo Horizonte e amo minha cidade. Acabei de publicar um livro com histórias de BH contadas pelo fantasma de Aarão Reis, que foi aprovado pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. Mas foi nesta pequena cidade de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, que fiz nascer a Árvore das Letras e junto dela a Alforria Literária. E é daqui que todos os meus livros autorais, na escrita e na forma, são distribuídos para todo o Brasil. Clique em Alforria Literária para conhecer.
Se estiver passando pelo Vale, venha conhecer Padre Paraíso, a Árvore, a Alforria Literária, as prensas de madeira – as chamadas “Paula Brito” – e toda a arte que floresce nessa terra que se tornou a casa de tantos que aqui chegaram e mesmo dos que saíram, pois, como diz a famosa referência, “quem bebe a água da biquinha, não passa da igrejinha”.
E já que está por aqui, aproveite para ler o conto mínimo “Para lá desse quintal”, inspirado na tranquilidade de todos os Vales que moram em nosso interior.
Quando a pátria que temos não a temos perdida por silêncio e por renúncia até a voz do mar se torna exílio e a luz que nos rodeia é como grades.
– Sophia de Mello Breyner Andresen –
Ilustração: Adilson Amaral
Para lá desse quintal, sempre houve uma noite infinita. Contudo, agora que o transpôs, não sabia se deveria. Talvez fosse melhor imaginá-la pelo rádio ao debruçar-se sobre a mesa a ouvir aquela música e deixar-se fazer dela – a noite – o que as suas lágrimas sugerissem.
Mas a curiosidade o abateu como estrelas cadentes a viajarem em excessos. Era evidente a sua felicidade na simples-cidade em que vivia: meiga, pequena, pacata, protegida dos adereços que tornam cheios os nossos pensamentos.
E quão mais confortável era a vida pouca neste quintal vazio que o tempo ainda não preenchera…
Tudo era tão cheio de nada a sua volta, que a falta, além de não se fazer presente, apresentava-se como possibilidades. Um banho quente em noite fria era um bálsamo de abundância! O que dizer da velha bicicleta que o ajudava a vencer a longa distância entre a casa e a escola e ainda emprestava-lhe a suave carícia do vento?
Mas o menino cresceu…
E o quintal não mais lhe cabia. Não se arrependia de ter desejado o infinito, mas de tê-lo deixado ser ilusão…
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Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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