ENCADERNARIA: A LOJA DA ÁRVORE DAS LETRAS QUE AGORA CABE EM SUAS MÃOS

Por Leandro Bertoldo Silva e Geane Matos

Dia 19 de setembro, às 14h30, na FLIM – Festa Literária Vale do Mucuri, na Praça Tiradentes, em Teófilo Otoni/MG, foi celebrado o lançamento do livro “Para sempre, amanhã”, publicado pela Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária.

O livro é totalmente feito à mão a partir da paixão pela escrita e pelo desejo de guardar memórias e contar nossas histórias. Afinal, escrever é costurar ideias com as mãos.

Para quem nos conhece há mais tempo, sabe que a escrita, especialmente à mão, é a grande norteadora do nosso trabalho. Não por acaso, grande parte dos nossos livros ganharam seus primeiros esboços em cadernos, blocos de anotações e, acreditem, até em guardanapos de papel. E assim irá continuar.

Por isso, ao longo dos anos viemos nos aprimorando na confecção e produção de cadernos artesanais de diferentes costuras, totalmente autorais, feitos também à mão com técnicas de colagens nas capas, o que os tornam únicos e exclusivos para que as pessoas possam ter a melhor experiência de escrita e fazer aflorar sensibilidades afetivas.

Mas isso não é tudo!

Como eles sempre fizeram muito sucesso, o que nos deixa imensamente felizes, a Árvore das Letras tem agora a ENCADERNARIA, a nossa loja virtual!

Um antigo provérbio árabe já dizia que “A pureza da escrita é a pureza da alma”.

Isso quer dizer que escrever, além de uma forma de arte, é também uma forma de libertação.

É por isso que dedicamos tanto para a abertura de um espaço onde pudesse ficar mais fácil ter acesso aos nossos livros e cadernos artesanais de forma segura e confortável a todo e qualquer momento e não apenas nas feiras e eventos, como aconteceu na FLIM e tantos outros que realizamos.

Então, para ver como ela está bonita é só clicar no link abaixo e aproveitar para conferir alguns dos cadernos e livros já disponíveis.

https://arvoredasletras.lojavirtualnuvem.com.br/

Ao longo do tempo iremos atualizando a loja e sempre teremos novidades neste espaço que já é seu. Esperamos que gostem e façam uso dele. Estamos prontos para atender sempre com um sorriso e muita alegria!

ESCREVER É COSTURAR IDEIAS COM AS MÃOS

Por Leandro Bertoldo Silva

Desde criança eu vivo em contato com o artesanato, principalmente em se tratando de linha e agulha. Cresci em meio a uma variedade de formas e cores feitas em crochê e tantas outras peças repletas de carinho e cuidado tecidas por minha mãe. Por mais diferente fosse a técnica utilizada e a arte feita, a linha e a agulha sempre estavam presentes, e muito longe de se desentenderem como no célebre Apólogo de Machado de Assis, lá na Ilha do Governador. Nas mãos de minha mãe elas sempre foram as melhores amigas e bailavam juntas.

De tanto observar aquela dança entre as duas em verdadeira comunhão quase religiosa, tornei-me também um costureiro, porém de palavras. Passei a uni-las e no lugar das correntinhas iniciais tecia frases. Com o tempo fui me aprimorando na escrita e na leitura, mas sem perder o contato físico e visual daquelas mãos de Elena ao criarem com a sua arte histórias tão fascinantes quanto as que eu lia e sonhava em confeccionar.

Assim foi por muito tempo. Mas algo interessante começou a acontecer: passei a me apaixonar não somente pelas histórias, mas pelo livro em si. Até aí tudo bem, porque geralmente os amantes da leitura têm os livros como objetos quase sagrados e os veneram com toda aquela mística do contato, do cheiro, do passar as páginas e tudo mais. Porém, no meu caso era muito além disso. Passava a existir em mim um desejo genuíno de fazê-los. Eu não queria só escrever, eu queria que os livros surgissem de minhas mãos.

Esse desejo foi a pedra fundamental, não apenas do meu trabalho, mas por transformar-me em quem eu sou. Achei-me ali em meio ao emaranhado das linhas. Encontrei, se assim posso dizer, o “fio da meada” de mim mesmo e passei a puxá-lo e a existir livremente na materialidade artesanal do que é escrito.

Ora, temos aqui dois ofícios: escrever e proporcionar a experiência estética e afetiva da leitura por meio dos livros. Tanto um quanto o outro vibram na mesma sintonia e carregam o mesmo objetivo, ou seja, contar histórias. A escrita percorre o caminho da literariedade, da criação deliberada, enquanto o livro acolhe suas palavras e as protege como um pai. O livro, como as palavras, tem um momento específico de feitura, uma época, um contexto, uma ancestralidade, onde cada página nos deixa um legado de existência.

Desde as tabuletas cuneiformes dos sumérios, passando pelo desenvolvimento do tipo portátil até a emergência da revolução moderna da informação, os livros sempre estiveram presentes. Foi assim nos códices maias, nos papiros egípcios, iluminuras de manuscritos medievais, mapas da época das grandes navegações, até mesmo os clássicos infantis. E em todos eles estavam ali as mãos do artesão, daquele ser quase mágico a dar forma a tudo isso. Juntar, pois, as duas coisas, não é tarefa simples, mas possível em um mundo onde ser diferente requer coragem.

Por isso digo que acredito na escrita como um ato de liberdade e no livro como objeto vivo. O que advém desse enlace é uma nova perspectiva a inspirar novas gerações de autores e leitores a criarem e absorverem histórias com autonomia e profundidade. Esse é o meu desejo.

PEQUENAS RELÍQUIAS

Por Leandro Bertoldo Silva

Estamos em um mundo extremamente digital. Eu mesmo estou inserido nele.

Desde 2017 mantenho, como exemplo, esse blog e muitos foram os textos, de receitas a crônicas, a figurarem por aqui.

No entanto, por mais moderna a vida se torna e acaba por nos empurrar, mesmo a contra gosto, a um comportamento necessário, porém às vezes não tão desejado, eu nunca deixei de me conectar aos princípios da escrita à mão tal qual aprendemos na escola. Hoje, segundo pesquisas recentes, essa é uma habilidade em extinção e sua falta está a acarretar danos preocupantes no desenvolvimento humano.

Mas o objetivo aqui é completamente outro. Pretendo tão somente compartilhar alguns dos meus muitos cadernos, os quais utilizo desde antes de me apaixonar pelo ofício da encadernação. Hoje mais ainda, já que praticamente todos eles foram e são feitos por mim.

Funciono, assim, como uma espécie de “teste de qualidade” do meu próprio trabalho. Cada modelo feito gosto de experimentá-lo a fim de ser o primeiro a conferir a sua funcionalidade, conforto, abertura, textura e, principalmente, se é um caderno a inspirar o desejo da escrita.

Não há como deixar de mencionar o fato de muitas pessoas dizerem terem dó de usá-los por serem muito bonitos. Embora fico feliz, não posso concordar com elas, pois uma coisa sem uso é uma coisa sem alma. Sem contar que, quando um caderno se acaba, é só começar outro e aquele que acabou pode se tornar uma relíquia.

Eu faço exatamente assim. O resultado desse “teste de qualidade” é o fato de eu ter muitos cadernos. Um deles utilizo como o bom e velho diário. O iniciei na data de 11 de novembro de 2021 e como é gratificante, às vezes até chocante, ler acontecimentos de outrora. É um mergulho em si mesmo e uma oportunidade de autoconhecimento e transformação.

Parecido com o diário, tenho outro, mas com a escrita direcionada a Xavier de Novais, personagem do meu livro “Histórias de um certo Aarão e outros casos contados”. Xavier é o mensageiro das histórias do fantasma de Aarão Reis e tanto se tornou apurado nesse ofício que passou a ser também o meu ouvinte, com o combinado de guardar só para ele as linhas lidas.

Há os cadernos de intensão. São os cadernos de gratidão e de apreciação. Neles escrevo coisas de ordem positiva em relação à família, trabalho, pessoas, amigos, natureza, espiritualidade e uma infinidade de outros motivos.

Também há o meu caderno técnico. É onde eu escrevo as referências das encadernações, como modelos, tamanhos, medidas, número de folhas para cada um.

Há os cadernos de aula, de curso, de leitura, de pré-textos como pretextos de uma escrita maior e mais rebuscada.

Há um caderno eclético, onde se encontram reminiscências, autorretratos escritos, orações, colagens e desenhos.

Há os cadernos de haicais – não poderia faltar – e dois muito queridos: um no qual são escritos os originais das crônicas a se formarem no meu mais novo livro “Para sempre, amanhã” e outro a receber cartas, uma prática também muito usada por mim.

O último deles a compartilhar aqui é um caderno utilizado nos encontros da turma Manoel de Barros, o qual o chamo de escrita terapêutica, onde exercitamos a escrita de narrativas a partir da poesia criada por todos.

Cada caderno me faz ter comigo mesmo uma relação íntima. É onde eu me encontro, me faço e desfaço. É onde eu choro e também sorrio. Cada um é um amigo fiel ao receber sem questionar a minha voz, mas sem deixar de devolver as minhas próprias intenções ao ser um espelho fiel de quem eu sou.

Para você que me conhece ou quer me conhecer melhor, termino com uma definição transcrita de um desses cadernos:

Sou tudo. Sou todos.
Encontro-me em várias partes.
Sou arte.
Perco-me e acho-me em cada instante.
Sou Dante.
Fantasmas me assombram
(bons meninos vaidosos)
À procura de?
O melhor é ler-me, ver-me.
Valerá a pena?
Ah, meu amigo, decifra-me!
E se você conseguir,
Me diz.

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E você, tem o costume de escrever à mão? Gosta de cadernos, os têm guardados? Qual a sua relação com eles? Conte aqui nos comentários. Vou adorar saber.

Forte abraço!

Leandro.

ENCADERNAR É CONTAR HISTÓRIAS

Por Leandro Bertoldo Silva

Este conteúdo está disponível em áudio como forma de trabalho inclusivo da Árvore das Letras. Acesse abaixo.

Há mais de 2.500 anos, livros têm sido usados ao redor do mundo para diversos objetivos, desde religiosos, informativos, artísticos, entre outros. Códices maias, papiros egípcios, iluminuras de manuscritos medievais, as impressões de Gutenberg e Aldo Manúcio, cartografias, atlas das grandes navegações, cartilhas, livros para crianças, de cavalaria, de horas, são exemplos de um verdadeiro banquete e inspiração para a humanidade.

Por mais diversos os objetivos, uma coisa é certa: todos eles passaram pela encadernação, essa arte milenar a atravessar gerações. Não é exagero dizer, portanto, que a encadernação é uma das representatividades históricas mais importantes de que se tem notícia.

Não fosse ela, ainda hoje estaríamos a depender das pinturas rupestres feitas com ocre pelos aborígenes australianos ao representarem nas cavernas corvos e bisões.

A escrita como sistema de registro codificado, só aparece muito tempo depois, por volta do início do 4° milênio a.C., onde  começam a ser desenvolvidas as estruturas por onde esses escritos tão ricamente ornamentados ganham morada e, consequentemente, preservação e, principalmente, mobilidade. Está aí uma imensa evolução! Duvida? Imagina carregar uma caverna no bolso…

Em cada época surgiram técnicas das mais simples às mais elaboradas. Encadernadores de várias partes do mundo contribuíram com suas criações que, ao longo dos anos, foram se desenvolvendo não apenas no critério documental, mas artístico. Alguém duvida que o Corão, o livro de Kells, os livros hebraicos são considerados verdadeiras obras de arte?

Em fins do século XVIII, o mercado de livros ganhou ainda mais notoriedade agora não com a hegemonia dos livros religiosos, mas também obras clássicas ao lado da ficção de entretenimento. Eram livros muito bem produzidos e de encadernações luxuosas. Todo esse conhecimento foi e ainda é migrado para a produção artesanal de cadernos e muitos são os artesãos que se empenharam e se empenham nessa arte. Cada corte, cada ponto, cada costura repassadas e criadas são histórias sendo contadas. As técnicas são tão variadas quanto a criatividade de quem as realiza.

O melhor da encadernação é quando começamos a fazer os nossos próprios projetos! Estes da ilustração são cadernos em que utilizei algumas técnicas juntas, como a costura francesa, porém aparente, com a abertura tipo Copta a partir da estrutura do Sewn Boards Binding, que é o início da encadernação capa presa. Tudo isso com a nossa tradicional arte da decoração com recortes e colagens.

O resultado é um caderno extremamente elegante, contemporâneo e atraente pelas suas cores e infinitas possibilidades de gramaturas, tipos de papel e combinações. Perfeitos para escrita de memórias, escrita terapia, receitas, poesias, Bullet Journal e muito, muito mais.

Eu como escritor independente sempre desejei que os livros, mais do que o valor literário, pudessem ser vistos, eles mesmos, como objetos de arte. Por isso, escolhi produzi-los e confeccioná-los. Daí para os cadernos foi apenas um passo a partir de fundamentos de uma arte que está longe de acabar, mesmo com o advento da tecnologia. Basta lembrar novamente do princípio, onde muitos dos documentos, iluminuras, livros históricos produzidos pelos escribas em séculos passados, até hoje só existem graças a maior “tecnologia” da existência humana: a escrita à mão.

Portanto, deixo a seguinte reflexão: mesmo que um caderno e um lápis custem um pouco mais de dez centavos, como sugeriu Bob Grinde em uma de suas célebres frases, vale a pena comprá-los e escrever ideias e histórias que valham milhões.

BIBLIOTERAPIA E ENCADERNAÇÃO TÊM A VER?

Por Leandro Bertoldo Silva

Biblioterapia e encadernação têm a ver?

Só tem! Biblioterapia é uma forma de cuidar das emoções por meio das histórias literárias. Uma das maneiras de potencializar esse encontro em nós é a prática da dinamização. Um excelente recurso para isso é a escrita à mão, tamanha sua capacidade de libertação dos sentimentos. E é aí que entra a encadernação. Escolher um caderno que combine com você, que tenha a sua personalidade ajuda muito nesse processo.

Vamos explicar melhor!

Um dos componentes biblioterapêuticos existentes é a catarse. Trata-se de uma reação inconsciente do indivíduo considerada uma espécie de limpeza profunda seguida de um estado de leveza que gera um sentimento de alívio.

É possível alcançar esse estado de catarse ao entrarmos em contato com uma poesia, um conto, uma crônica. É por esse motivo, inclusive, que muitas histórias nos fazem chorar, rir e, a partir delas, nos identificamos com personagens, sensações e situações vividas.

Mas não fica por aí…

Para tudo isso acontecer de forma ainda mais profunda, é salutar exteriorizar essas percepções. É onde a escrita exerce profundamente o seu papel transformador, porque, além de movimentar áreas do cérebro e estimular a criatividade, escrever à mão é também uma forma de demonstrar carinho e guardar lembranças. Essa prática tem muito a dizer sobre o que somos e como enxergamos o mundo, a partir do momento que a nossa caligrafia reflete não apenas a nossa personalidade, como nossa trajetória e até mesmo aquilo que sentimos.

Dito isso, você bem pode escrever em qualquer lugar, até mesmo em guardanapos… Mas eu garanto que a experiência será completamente outra se você escrever em um caderno especialmente reservado para isso. Duvida? Experimente beber o melhor dos vinhos em um copo de plástico… É exatamente essa a correlação.

Se essa sintonia entre o escrever à mão e o caderno se faz presente, imagina escrever em um caderno feito por você! Na nossa vivência de Biblioterapia e Arte, na Tenda Literária, na Árvore das Letras, você pode confeccionar o seu próprio, dando ainda mais sentido a sua escrita. Separar os papéis, as cores das linhas para combinar, furar, costurar e decorar torna-se um complemento das descobertas vividas nas histórias lidas e nos momentos de fala e escuta afetuosa.

Neste mês de fevereiro estaremos a promover mais um encontro presencial de Biblioterapia e Arte, onde associaremos a leitura, a importância da palavra e do que verbalizamos, a escrita e a confecção de um caderno artesanal onde você poderá expressar toda a sua individualidade e compartilhar esse momento com outras pessoas.

Caso você não more em Padre Paraíso, mas gostaria de apoiar o projeto Biblioterapia e Arte na Tenda, entre em contato.

Você também pode clicar AQUI e ter mais informações.

Será um prazer falar com você!

Forte abraço e até a próxima!

CADERNOS CHEIOS DE HISTÓRIA

Por Leandro Bertoldo Silva

Vestido, toalha de mesa, cortinas e… cadernos.
A chita, chamada originalmente de chint na Índia, com suas estampas florais, galhos e folhagens, espalhou-se rapidamente pela Europa, vindo parar em nosso continente, especialmente no Brasil como moeda de troca com os atravessadores de escravos.

A produção da chita em nosso país, entretanto, sofreu inicialmente impedimentos de Portugal, sendo proibida pela rainha Maria I, que determinou o desmonte dos teares brasileiros e seus envios àquelas terras.

No entanto, o algodão brasileiro chegou a abastecer as indústrias inglesas e sua produção se espalhou pela colônia, sendo que em Minas Gerais os tecidos fabricados eram tão bons que chegavam a ser enviados a outras capitanias. Com isso, apesar do alvará proibitivo da rainha, os mineiros continuaram tecendo, mesmo que clandestinamente.

Com o domínio de Napoleão na Europa e sendo o Brasil já a capital do império, a família real portuguesa se viu obrigada a fugir ao Brasil e, com isso, veio a permissão legal de produzir tecidos que eram feitos nas “chitarias”. Logo a chita se transformou em “tecido do povo”, sendo Minas Gerais um dos seus maiores produtores.

No Vale do Jequitinhonha a chita ganhou fortes significados na arte e cultura com um longo caminho pela frente e a Árvore das Letras não poderia deixar de usá-la em seu trabalho de encadernação.

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Que história, não é mesmo?

Hoje quis trazê-la aqui neste espaço para deixar dois convites para você!

Este ano estaremos levando uma das representatividades da arte do Vale do Jequitinhonha para a 35ª Feira Nacional de Artesanato, em Belo Horizonte, e muitos dos nossos cadernos e livros estarão por lá. Está aí uma ótima oportunidade para conferir de perto esse trabalho que fazemos com tanto carinho e empenho. Apareça por lá, será um grande prazer encontrar você. Não faltarão histórias para contar e coisa bonita para ver, levar, dar de presente. Vai ser uma festa!

E você pode acompanhar também nossas produções e outras histórias desse maravilhoso mundo dos livros e da encadernação em nosso perfil no Instagram. Visite-nos em @arv.das.letras.

Forte abraço!
Até a próxima.

MUITO ALÉM DA COSTURA

Por Leandro Bertoldo Silva

Existem alguns “bichinhos” a picar a gente, mas, diferente daqueles a nos fazerem mal, esses fazem bem. Estou a falar de um deles: o bichinho da encadernação.

Desde criança, ao passar pela adolescência e até hoje em minha fase adulta sempre gostei de cadernos.

Lembro-me de um caderno brochura, capa de papel onde tinha um desenho de um tucano em meio a folhagens coloridas. Eu tinha 7 anos. Esse caderno ficava no guarda-roupa da minha avó e era onde ela anotava números de telefones. Nunca a imagem desse caderno saiu da minha cabeça. Adorava folheá-lo e admirar a capa.

O tempo passou e até hoje difícil é entrar em uma papelaria e não sair com um Caderno e muitas canetas…

Bem, as canetas continuam, mas os cadernos amenizaram um pouco o bolso (rsrsrs) a partir do momento que passei a confeccioná-los, daí o bichinho a me picar. O interessante desse contágio do bem é que os sintomas só aumentam e cada vez mais cadernos aparecem e fazem parte do repertório da alquimia da confecção. Sim, alquimia! O organizar os materiais, como linhas, agulhas, papéis, papelão, suvelas, réguas, estiletes, berço de furação, e tantos outros apetrechos, vê-los ali dispostos e já imaginar o caderno feito, é uma prática mística para mim ao florescer, como na Idade Média, arte, ciência e magia. Sem contar que um dos principais objetivos dela é obter o elixir da vida, a fim de garantir a imortalidade. E o que é um caderno se não um lugar para se eternizar através das palavras e desenhos? Não por acaso, gosto de deixar claro: não faço cadernos; faço, antes, suportes de sonhos.

Como tudo evolui, sigo a aprimorar essa artesania e a cada dia busco aprender uma costura nova, um ponto diferente.

Para mim, o mais encantador na encadernação artesanal é ela ir muito além da costura. Existem histórias contadas por trás de cada ponto. Eu, como escritor, prezo sempre pela arte de uma boa história e a junção de tudo isso me levou à apaixonante costura copta, uma técnica combinada de beleza, elegância, versatilidade e uma tradição milenar ao resgatar a riquíssima cultura egípcia associando-a à contemporaneidade.

A costura copta ganhou esse nome por ter sido criada pelo povo Copta, uma antiga civilização cristã no antigo Egito, com a finalidade de montar os primeiros evangelhos bíblicos. Era preciso deixar as folhas presas, porém com flexibilidade para a obra ser lida com facilidade por muitos anos. Nasce, assim, uma técnica hoje vista como uma das artes mais elegantes da encadernação. Rústica, ao mesmo tempo clássica, milenar sem nunca perder a originalidade, essa forma de costura possibilita o caderno abrir 360 graus. Não há colagem, as capas são presas nos cadernos em linha trançada e deixa o visual parecido com o de correntes.

Encadernação sofisticada atravessou os tempos e hoje existe como profunda expressão artística, tamanha a variedade de cores e estilos.

Fazer cadernos é ser uma espécie de construtor de alicerces, onde histórias são edificadas; fazer um caderno já possuidor delas é preservar memórias. Quando as duas coisas se juntam, algo de muita grandeza realmente acontece.

Essa é a razão principal de um caderno existir. Por mais que a tecnologia modernizou a escrita, os cadernos acolhem sentimentos, paixões, amores, dores, sabores de uma maneira a fazer da alma de quem escreve uma certeza de ser.

Receitas, poesias, reminiscências, orações… São tantas palavras a se fazerem presentes nas folhas de papel, onde a linha e a agulha fazem um apólogo diferente ao se entenderem construtoras da eternidade.

Sejamos, pois, visionários. Tenha um caderno, encontre o seu lápis e escreva a sua história no mundo.

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A Árvore das Letras está sempre presente em eventos literários e feiras de artesanato com uma grande variedade de cadernos e livros. Também mantemos atendimentos de demanda e encomendas, além de encontros e oficinas. Entre em contato, conheça nossos trabalhos.

Um forte abraço.

Até a próxima.