PROCESSO DE PRODUÇÃO “PARA SEMPRE, AMANHÔ

Por Leandro Bertoldo Silva

Escrever um livro já é algo extraordinário; confeccioná-lo é especial e encantador. Cada etapa, desde a escolha dos papéis, a furação, a costura, a cor da linha, a aplicação das guardas e capas é uma história sendo contada em tempo real a acolher outras histórias escritas anteriormente.

Nesse processo tudo é muito importante: o toque das mãos, o olhar cuidadoso, o tempo das esperas para ver unidos o sonho e a realidade. Tudo é muito mágico. Compartilho nesse vídeo um pedacinho desse sentimento e do prazer em ver nascer algo que é, ao mesmo tempo, uma obra de arte e um reflexo do próprio coração.

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Amigos leitores e leitoras, a campanha de pré-venda do livro PARA SEMPRE, AMANHÃ continua aberta. Ela irá até o dia do lançamento, 17 de setembro deste ano. Quem desejar receber o livro autografado com valor promocional no dia do evento na FLIM – Festa Literária Vale do Mucuri, em Teófilo Otoni ou mesmo em casa em qualquer cidade do Brasil, é só entrar neste link https://forms.gle/7F5WRyu7GttX7Tk28 e preencher o formulário.

Um forte abraço e até a próxima!

Leandro.

PAPÉIS E AFETOS

Por Leandro Bertoldo Silva

Hoje quero falar sobre uma das etapas mais importantes na confecção dos livros artesanais. Aliás, é um dos aspectos a diferenciá-los e torná-los tão especiais.

Uma das coisas essenciais na encadernação artesanal para a feitura de qualquer projeto é a escolha dos papéis. Não se trata apenas de uma mera casualidade ou escolha arbitrária, é antes uma questão de afetos. É preciso ter sentimento pelo papel. Ele deve comunicar algo em nossos corações e essa relação precisa ser recíproca, sem a qual as formas não acontecem.

Existe um verdadeiro diálogo entre o artífice e a matéria da sua criação. Pelo menos é assim que acontece comigo e meus livros costurados à mão. Nossa comunhão inicia na sutil leveza das sensações. Quando penso um livro o visualizo pronto e é possível sentir o seu toque, até mesmo o seu cheiro. Quase sempre ele existe primeiro do que o texto. É comum eu escrever já sabendo a morada das minhas palavras.

O papel é mais do que um simples suporte, é onde a história acontece. Junto dele, além do toque, está a textura, a cor a transmitir emoções muito além do conteúdo escrito.

Ter afeto pelo papel, valorizar o cuidado da sua manipulação é um gesto de carinho e respeito pelo livro, onde cultivamos uma conexão sensorial e emocional por quem o irá ler. O papel é, portanto, uma poesia silenciosa cheio de memórias.

Foi dessa forma que meu novo livro passou a existir. PARA SEMPRE, AMANHÃ é fruto desses afetos por dentro e por fora como numa espécie de fotografia, onde a materialidade do papel traz junto de si o retrato de nossas existências.

Tenho uma maneira muito particular de ver as coisas. Tudo para mim precisa fazer sentido, porque do contrário não funciona. Nada é exatamente aquilo que se mostra. Há algo maior em tudo. Se você pegar um livro e olhar para ele, verá a sua forma e nada mais. Mas, se pegar um livro artesanal e olhar atentamente sentirá, mesmo sem conhecer ainda a história ali contida, uma espécie de completude, uma emanação quase mágica. É algo sutil, mas possível de perceber. Nessa hora irá enxergar muito além de um objeto ou um caminho unilateral, mas um lugar de transcendência, uma conformidade entre autor, leitor e natureza.

Por isso gosto da artesania do livro, sem a qual me sentiria incompleto. Eu preciso “ser o livro”, sentindo-o à medida que escrevo. Assim, os papéis não são simplesmente escolhidos como não basta a uma capa ser simplesmente bonita; é preciso haver uma fusão de todos os elementos vivos, uma concepção afetuosa a originar não em mais um livro, mas algo com a potencialidade de um abraço.

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Amigos leitores e leitores, a campanha de pré-venda do livro PARA SEMPRE, AMANHÃ continua aberta. Ela irá até o dia do lançamento, 17 de setembro deste ano. Quem desejar receber o livro autografado com valor promocional no dia do evento na FLIM – Festa Literária Vale do Mucuri, em Teófilo Otoni ou mesmo em casa em qualquer cidade do Brasil, é só entrar neste link https://forms.gle/7F5WRyu7GttX7Tk28 e preencher o formulário.

Um forte abraço e até a próxima!

Leandro.

PEQUENAS RELÍQUIAS

Por Leandro Bertoldo Silva

Estamos em um mundo extremamente digital. Eu mesmo estou inserido nele.

Desde 2017 mantenho, como exemplo, esse blog e muitos foram os textos, de receitas a crônicas, a figurarem por aqui.

No entanto, por mais moderna a vida se torna e acaba por nos empurrar, mesmo a contra gosto, a um comportamento necessário, porém às vezes não tão desejado, eu nunca deixei de me conectar aos princípios da escrita à mão tal qual aprendemos na escola. Hoje, segundo pesquisas recentes, essa é uma habilidade em extinção e sua falta está a acarretar danos preocupantes no desenvolvimento humano.

Mas o objetivo aqui é completamente outro. Pretendo tão somente compartilhar alguns dos meus muitos cadernos, os quais utilizo desde antes de me apaixonar pelo ofício da encadernação. Hoje mais ainda, já que praticamente todos eles foram e são feitos por mim.

Funciono, assim, como uma espécie de “teste de qualidade” do meu próprio trabalho. Cada modelo feito gosto de experimentá-lo a fim de ser o primeiro a conferir a sua funcionalidade, conforto, abertura, textura e, principalmente, se é um caderno a inspirar o desejo da escrita.

Não há como deixar de mencionar o fato de muitas pessoas dizerem terem dó de usá-los por serem muito bonitos. Embora fico feliz, não posso concordar com elas, pois uma coisa sem uso é uma coisa sem alma. Sem contar que, quando um caderno se acaba, é só começar outro e aquele que acabou pode se tornar uma relíquia.

Eu faço exatamente assim. O resultado desse “teste de qualidade” é o fato de eu ter muitos cadernos. Um deles utilizo como o bom e velho diário. O iniciei na data de 11 de novembro de 2021 e como é gratificante, às vezes até chocante, ler acontecimentos de outrora. É um mergulho em si mesmo e uma oportunidade de autoconhecimento e transformação.

Parecido com o diário, tenho outro, mas com a escrita direcionada a Xavier de Novais, personagem do meu livro “Histórias de um certo Aarão e outros casos contados”. Xavier é o mensageiro das histórias do fantasma de Aarão Reis e tanto se tornou apurado nesse ofício que passou a ser também o meu ouvinte, com o combinado de guardar só para ele as linhas lidas.

Há os cadernos de intensão. São os cadernos de gratidão e de apreciação. Neles escrevo coisas de ordem positiva em relação à família, trabalho, pessoas, amigos, natureza, espiritualidade e uma infinidade de outros motivos.

Também há o meu caderno técnico. É onde eu escrevo as referências das encadernações, como modelos, tamanhos, medidas, número de folhas para cada um.

Há os cadernos de aula, de curso, de leitura, de pré-textos como pretextos de uma escrita maior e mais rebuscada.

Há um caderno eclético, onde se encontram reminiscências, autorretratos escritos, orações, colagens e desenhos.

Há os cadernos de haicais – não poderia faltar – e dois muito queridos: um no qual são escritos os originais das crônicas a se formarem no meu mais novo livro “Para sempre, amanhã” e outro a receber cartas, uma prática também muito usada por mim.

O último deles a compartilhar aqui é um caderno utilizado nos encontros da turma Manoel de Barros, o qual o chamo de escrita terapêutica, onde exercitamos a escrita de narrativas a partir da poesia criada por todos.

Cada caderno me faz ter comigo mesmo uma relação íntima. É onde eu me encontro, me faço e desfaço. É onde eu choro e também sorrio. Cada um é um amigo fiel ao receber sem questionar a minha voz, mas sem deixar de devolver as minhas próprias intenções ao ser um espelho fiel de quem eu sou.

Para você que me conhece ou quer me conhecer melhor, termino com uma definição transcrita de um desses cadernos:

Sou tudo. Sou todos.
Encontro-me em várias partes.
Sou arte.
Perco-me e acho-me em cada instante.
Sou Dante.
Fantasmas me assombram
(bons meninos vaidosos)
À procura de?
O melhor é ler-me, ver-me.
Valerá a pena?
Ah, meu amigo, decifra-me!
E se você conseguir,
Me diz.

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E você, tem o costume de escrever à mão? Gosta de cadernos, os têm guardados? Qual a sua relação com eles? Conte aqui nos comentários. Vou adorar saber.

Forte abraço!

Leandro.

CADERNOS CHEIOS DE HISTÓRIA

Por Leandro Bertoldo Silva

Vestido, toalha de mesa, cortinas e… cadernos.
A chita, chamada originalmente de chint na Índia, com suas estampas florais, galhos e folhagens, espalhou-se rapidamente pela Europa, vindo parar em nosso continente, especialmente no Brasil como moeda de troca com os atravessadores de escravos.

A produção da chita em nosso país, entretanto, sofreu inicialmente impedimentos de Portugal, sendo proibida pela rainha Maria I, que determinou o desmonte dos teares brasileiros e seus envios àquelas terras.

No entanto, o algodão brasileiro chegou a abastecer as indústrias inglesas e sua produção se espalhou pela colônia, sendo que em Minas Gerais os tecidos fabricados eram tão bons que chegavam a ser enviados a outras capitanias. Com isso, apesar do alvará proibitivo da rainha, os mineiros continuaram tecendo, mesmo que clandestinamente.

Com o domínio de Napoleão na Europa e sendo o Brasil já a capital do império, a família real portuguesa se viu obrigada a fugir ao Brasil e, com isso, veio a permissão legal de produzir tecidos que eram feitos nas “chitarias”. Logo a chita se transformou em “tecido do povo”, sendo Minas Gerais um dos seus maiores produtores.

No Vale do Jequitinhonha a chita ganhou fortes significados na arte e cultura com um longo caminho pela frente e a Árvore das Letras não poderia deixar de usá-la em seu trabalho de encadernação.

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Que história, não é mesmo?

Hoje quis trazê-la aqui neste espaço para deixar dois convites para você!

Este ano estaremos levando uma das representatividades da arte do Vale do Jequitinhonha para a 35ª Feira Nacional de Artesanato, em Belo Horizonte, e muitos dos nossos cadernos e livros estarão por lá. Está aí uma ótima oportunidade para conferir de perto esse trabalho que fazemos com tanto carinho e empenho. Apareça por lá, será um grande prazer encontrar você. Não faltarão histórias para contar e coisa bonita para ver, levar, dar de presente. Vai ser uma festa!

E você pode acompanhar também nossas produções e outras histórias desse maravilhoso mundo dos livros e da encadernação em nosso perfil no Instagram. Visite-nos em @arv.das.letras.

Forte abraço!
Até a próxima.

MUITO ALÉM DA COSTURA

Por Leandro Bertoldo Silva

Existem alguns “bichinhos” a picar a gente, mas, diferente daqueles a nos fazerem mal, esses fazem bem. Estou a falar de um deles: o bichinho da encadernação.

Desde criança, ao passar pela adolescência e até hoje em minha fase adulta sempre gostei de cadernos.

Lembro-me de um caderno brochura, capa de papel onde tinha um desenho de um tucano em meio a folhagens coloridas. Eu tinha 7 anos. Esse caderno ficava no guarda-roupa da minha avó e era onde ela anotava números de telefones. Nunca a imagem desse caderno saiu da minha cabeça. Adorava folheá-lo e admirar a capa.

O tempo passou e até hoje difícil é entrar em uma papelaria e não sair com um Caderno e muitas canetas…

Bem, as canetas continuam, mas os cadernos amenizaram um pouco o bolso (rsrsrs) a partir do momento que passei a confeccioná-los, daí o bichinho a me picar. O interessante desse contágio do bem é que os sintomas só aumentam e cada vez mais cadernos aparecem e fazem parte do repertório da alquimia da confecção. Sim, alquimia! O organizar os materiais, como linhas, agulhas, papéis, papelão, suvelas, réguas, estiletes, berço de furação, e tantos outros apetrechos, vê-los ali dispostos e já imaginar o caderno feito, é uma prática mística para mim ao florescer, como na Idade Média, arte, ciência e magia. Sem contar que um dos principais objetivos dela é obter o elixir da vida, a fim de garantir a imortalidade. E o que é um caderno se não um lugar para se eternizar através das palavras e desenhos? Não por acaso, gosto de deixar claro: não faço cadernos; faço, antes, suportes de sonhos.

Como tudo evolui, sigo a aprimorar essa artesania e a cada dia busco aprender uma costura nova, um ponto diferente.

Para mim, o mais encantador na encadernação artesanal é ela ir muito além da costura. Existem histórias contadas por trás de cada ponto. Eu, como escritor, prezo sempre pela arte de uma boa história e a junção de tudo isso me levou à apaixonante costura copta, uma técnica combinada de beleza, elegância, versatilidade e uma tradição milenar ao resgatar a riquíssima cultura egípcia associando-a à contemporaneidade.

A costura copta ganhou esse nome por ter sido criada pelo povo Copta, uma antiga civilização cristã no antigo Egito, com a finalidade de montar os primeiros evangelhos bíblicos. Era preciso deixar as folhas presas, porém com flexibilidade para a obra ser lida com facilidade por muitos anos. Nasce, assim, uma técnica hoje vista como uma das artes mais elegantes da encadernação. Rústica, ao mesmo tempo clássica, milenar sem nunca perder a originalidade, essa forma de costura possibilita o caderno abrir 360 graus. Não há colagem, as capas são presas nos cadernos em linha trançada e deixa o visual parecido com o de correntes.

Encadernação sofisticada atravessou os tempos e hoje existe como profunda expressão artística, tamanha a variedade de cores e estilos.

Fazer cadernos é ser uma espécie de construtor de alicerces, onde histórias são edificadas; fazer um caderno já possuidor delas é preservar memórias. Quando as duas coisas se juntam, algo de muita grandeza realmente acontece.

Essa é a razão principal de um caderno existir. Por mais que a tecnologia modernizou a escrita, os cadernos acolhem sentimentos, paixões, amores, dores, sabores de uma maneira a fazer da alma de quem escreve uma certeza de ser.

Receitas, poesias, reminiscências, orações… São tantas palavras a se fazerem presentes nas folhas de papel, onde a linha e a agulha fazem um apólogo diferente ao se entenderem construtoras da eternidade.

Sejamos, pois, visionários. Tenha um caderno, encontre o seu lápis e escreva a sua história no mundo.

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A Árvore das Letras está sempre presente em eventos literários e feiras de artesanato com uma grande variedade de cadernos e livros. Também mantemos atendimentos de demanda e encomendas, além de encontros e oficinas. Entre em contato, conheça nossos trabalhos.

Um forte abraço.

Até a próxima.