(RE)AVALIANDO ATITUDES

Por Elisa Augusta de Andrade Farina

Ser solidário neste mundo pragmático e utilitarista é muito desgastante e muitas vezes frustrante. Nós, seres humanos, somos um universo tão complexo, tão individual, somos um amontoado de sentimentos controversos que são só nossos e ficam no recôndito de nosso “eu”.

As experiências, as dores, alegrias são únicos e nos pertencem. A verdade de nossas vidas só é conhecida por nós mesmos. Não temos a coragem de compartilhá-la com ninguém. O clímax da questão está pontuado nessa individualidade que nos faz escravos de nossas tensões e dissabores. Temos medo de nos abrir com os nossos iguais e nos fechamos qual concha, matando a confiança, fazendo morrer atitudes, sorrisos e sepultando a felicidade numa morte simbólica de sonhos, expectativas e mesmo na confiança que depositávamos em nós mesmos, enfim, na vida.

Mas, quando a vida resolve dar um baque, nos vemos ”obrigados” a (re)avaliar nossos valores. A recuperação é lenta e dolorosa, todavia capaz de promover uma verdadeira transformação interior. Aí ficamos mais atentos, matamos atitudes que nos fazem morrer por dentro para que possamos renascer.

Como bem disse Cecília Meireles: “percebemos que o caminho da dor é sempre o mais longo (…) e em alguns instantes a dor da existência se torna bem maior que a dor do insistir (…) de modo que um esplendor mágico abre sobre as tragédias um relâmpago e o coração resiste, pela força do deslumbramento”.

A nossa alma ferida necessita permanecer só para restabelecer-se e voltar a reluzir. Os amigos verdadeiros respeitam esse momento de reclusão, mas tantos outros “amigos” com as melhores das intenções insistem em reabrir a ferida que ainda não cicatrizou. Aí a dor recomeça…

Seria mágico se pudéssemos enxergar no crescimento dos que nos cercam de superação, um motivo de respeito, deixando de lado a lâmina mortífera da inveja e abrindo as portas do amor e da compreensão pela vida e para a vida. O mundo necessita que esse amor transborde nos corações para que haja luz na escuridão das almas humanas.

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Elisa Augusta de Andrade Farina é escritora, presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni – ALTO, colaboradora e integrante da turma Manoel de Barros, da Árvore das Letras.


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