PARTIDA E SAUDADE

Por António Alexandre

No espaço onde o vento nos chama,
Ficará na memória a linda sala e o eco suave do teu riso,
E eu, perdido entre a saudade e o drama,
Guardarei teu perfume, ainda preciso.

Partes longe, na rota dos teus saberes,
E levas contigo a luz do nosso lugar,
Fico só com o vento e os meus quereres,
Sem saber se ainda vais recordar.

O canto das tardes se cala no espaço
Onde nossas mãos falavam em segredo,
Agora só resta a sombra do teu passo.

E temo que o tempo, com seu duro enredo,
Apague o lugar do nosso abraço,
Como quem esquece um sonho por medo.

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António José Alexandre nasceu em Luanda, Angola. Graduado em Línguas, literatura e Administração pela UCAN, Mestre em linguística Aplicada pela UMA-Asunción, Doutor em Educação, na especialidade de linguistica pela faculdade Interamerica do Brasil. Membro da revista científica Minerva (Magazine of Science) www.minerva.edu.py, Professor da Fics (faculdade interamericana de Ciências sociais). Professor de língua Portuguesa, Inglês, Literatura, Psicologia da linguagem, sintaxe do português e técnicas de tradução. Autor de várias obras e artigos, escritor e poeta. Membro correspondente da academia de letras Teofilo Otoni de Minas Gerais, colunista do jornal Rol, Membro da revista multidisciplinar Núcleo do conhecimento, Editor, Mentor da Revista multidisciplinar Nelson Mandela. Atualmente Presidente do Instituto Superior de Angola (ISA).

DO ATELIÊ AOS LEITORES: QUANDO O PAPEL ENCONTRA SEU DESTINO

Por Leandro Bertoldo Silva

Quando criei a Alforria Literária como selo de publicação da Árvore das Letras em 2017 foi porque acreditava na possibilidade da existência de novos caminhos. Passaram-se 8 anos e os acontecimentos me mostraram que eu estava certo. Desde “Entrelinhas Contos mínimos”, meu primeiro livro publicado pelo selo, ao último até então “Para sempre, amanhã”, foram 6 obras, dois festivais literários, 3 anos de exposição em livrarias e espaços culturais, feiras de arte e muitos livros vendidos e enviados para várias cidades e estados do Brasil e até para Angola, sem contar outros autores publicados e antologias produzidas anualmente na Árvore das Letras.

Não sou muito adepto à palavra “resistência”, mas me rendo a ela nesse momento, porque ser um escritor independente no nosso país é tarefa onde é preciso resistir a pressões: pressão em acreditar que só é possível ser lido devidamente por meio de editoras tradicionais; pressão em achar que é o mercado quem determina o que vai ser escrito, porque se assim não for você não será visto; pressão em pensar que na vida tudo é um jogo.

Bem, eu nunca quis jogar com ninguém, não vejo a literatura como uma forma de disputa, mas como um espaço de acolhimento onde há lugar para todo mundo. Vale lembrar que se um caminho não existe, podemos construí-lo.

Foi assim a minha escolha em escrever e publicar da forma que eu acreditei ser possível: de maneira artesanal, livro a livro, capa a capa, costura a costura, através de técnicas de encadernação e papelaria fina, aprendidas, criadas, aperfeiçoadas.

Para quem pensou não ser possível transitar por caminhos assim, lembre-se de que “o mundo não se fez para pensarmos nele (pensar é estar doente dos olhos), mas para olharmos para ele e estarmos de acordo”. Pois eu sempre estive de acordo com essas palavras de Fernando Pessoa.

Estar de acordo com o que acreditamos é vibrar na sequência certa, não o certo dos outros, mas o certo para nós mesmos. Isso faz tudo acontecer de uma maneira muito além do imaginado. Tive uma prova disso ao entrar em uma livraria e me deparar com os meus livros não apenas expostos à venda, mas carinhosa e cuidadosamente em destaque em um local reservado a eles.

Por tudo isso, faço aqui um convite: deixe-se envolver por histórias unidas à mão pela costura de um livro artesanal. Se você ainda não teve essa experiência, dê-se uma oportunidade e conheça de perto a literatura independente. Pegue, folheie, sinta o toque de um livro artesanal, a sua textura, sabendo que ali, além do valor literário de uma crônica, romance ou poesia, está a arte do artesão, do diferente, do personalizado, do tempo sem pressa… Você merece esse cuidado. É como eu sempre digo: escrever é costurar ideias com as mãos. Permita-se.

Os livros podem ser encontrados na Árvore das Letras e exclusivamente na Livraria e Cafeteria Papo Café, em Teófilo Otoni, lugar de encontros, conversas, histórias de vida e, claro, muita leitura e arte. Tudo isso bem no coração da cidade.

Não é por acaso que mantenho para mim o pensamento de Mia Couto: “O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”.

Um forte abraço e até a próxima.

QUANDO O AMOR SE FAZ LIVRO

Por Nasapulo Kapiãla

O amor de Leandro Bertoldo Silva pela literatura e pela arte de costurar livros revela uma relação profunda e quase sagrada com o ato de criar. Sua paixão pelos cadernos e livros artesanais vai além de um simples ofício manual — é uma forma de resistência poética diante da pressa do mundo digital.

Ao unir palavra e matéria, Leandro transforma o papel, o fio e a capa em símbolos de memória e sensibilidade. Cada ponto da costura parece carregar o ritmo de um verso; cada dobra, o cuidado de quem entende que o livro é um corpo vivo, um espaço onde a alma do autor e do leitor se encontram.

  Seu trabalho mostra que a literatura não está apenas nas palavras escritas, mas também no gesto de fazê-las existir fisicamente, de dar forma à imaginação com as próprias mãos. Nesse sentido, o amor de Leandro Bertoldo Silva é uma celebração do artesanato da leitura e da escrita, um tributo à beleza do tempo dedicado, ao silêncio criativo e à poesia escondida no ato de costurar sonhos em papel.

  Aquele abraço, meu kamba!

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Emílio Tomé Cinco Reis de pseudónimo literário Tomé Nasapulo Kapiãla, angolano, natural da província do Huambo, planalto central, licenciado em Geologia faculdade de ciências naturais, universidade pública, Agostinho Neto. É professor do ensino secundário do 2° ciclo do Liceu Público N° 4019 ex-IMNE de Cacuaco “24 de Junho”, lecciona a disciplina de Física e dirigente comunitário da comunidade dos Imbondeiros Cacuaco, província de Luanda.

BOTARAM A ANILHA

Por Kafala Tibah

1972, período colonial, início do fim do período colonial. O colonialismo português caiu em 1975, em Angola, onde o povo Angolano conquistou a independência nacional. Naquela altura muitos angolanos atravessaram as fronteiras dos Congos, unindo-se aos irmãos que já lá estavam na preparação militar para enfrentar os colonos para a conquista da independência. Nos bairros de Luanda, já se ouvia falar de muitos irmãos que desertaram do exército colonial, seguindo a trajectória traçada pelos outros em direcção aos Congos.

Nos musseques de Luanda, muitas crianças brincavam ao som das músicas infantis coloniais e desfrutavam diversos “kitutes” da banda comprado nos mercados daqueles bairros ou defronte as escolas, vendidos por mamãs vestidas a bessa ngana.

Saídos da escola nº 229, ali no bairro Terra Nova, que agora é chamada de Escola grande, Molépe, Man Tex, Megas e David, combinaram para defrontarem um jogo de matraquilho, alí na esplanada do Bar Rei Pelé.

Saíndo da Rua nº 23 da Comissão do Rangel, também chamado por Reordenamento do Rangel, entraram no referido bar, onde encontraram alguns adultos saboreando uma cerveja nacional. Enquanto isso, bem ao lado, se ouvia o som de música angolana, do ensaio do conjunto musical Dimba Dyá Ngola.

Molépe, dos valores que retirou furtivamente do vaso metálico onde Maria Luísa, sua mãe depositava os valores da venda do carvão comercializado em casa, foi até ao balcão do bar para trocar a moeda de dois e quinhentos (2$50), por duas moedas de 1 Escudo e uma de cinquenta centavos, pois no matraquilho somente se podia introduzir moedas de 1 Escudo.

Ao introduzir-se a moeda, esta ficou presa lá no interior do orifício de entrada, pelo que a massaneta do matraquilho não accionava para as bolas saírem e iniciar-se os dois jogos anunciados.

Molépe dirigiu-se ao balcão para efectuar a reclamação e foi atendido pelo empregado português transmontano que inspeccionou o matraquilhos e constatou que a massaneta encravou e disse:

– Já botaram anilha “porra pá, esses pretos”. Ó Luciano fecha a porta, ninguém sai!

Todos amigos de Molépe meteram-se em fuga mas Molépe não aceitou retirar-se pois queria o seu dinheiro de volta.

O “busugo” retirou-se da esplanada e regressou com um cabo de pvc enrolado que possuía mais ou menos 70 cm dizendo: – Tu “bás” dizer quem botou a anilha, ah! Sim tu “bás” dizer. Luciano traga um balde de “yagua” e molha esse “sacana”.

Molépe do outro lado resmungava, reclamando o 1 escudo. Luciano surgiu de surdina lançando água gelada por o dorso do “negrinho” refilão que reclamava o seu dinheiro.

O quê isso! Gritou Molépe ao sentir o frio daquela água que acabava de sair da câmara frigorífica. Luciano sorriu e de repente o “busugo” começou a chicotear Molépe que ficou com 5cinco traços bem marcados pelo cabo pvc.

Molépe chorando, gritava que queria o seu dinheiro e nada teve a ver com a tal de anilha que ele desconhecia.

Um dos empregados abriu o portão corrido para que Molépe saísse, enquanro seus amigos fora do bar o aguardavam tristemente.

Molépe saiu do bar com uma moeda de 1 Escudo e outra de cinquenta centavos no bolso tendo perdido a outra moeda de 1 escudo.

Correu pela rua 19, buscou pedras e arremeçou-as para dentro do bar, como se estivesse a lançar uma arma de arremeço e correu até a rua 23 tendo já encontrado os seus amigos. Naquele momento, alguns clientes, assim como o “biaku” correram para o interior do bar. Molépe receava dirigir-se ao mercado do Coelho para informar sobre o sucedido á sua mãe quitandeira.

Mesmo assim, Maria Luísa tomou conhecimento no dia seguinte quando a senhora Leopoldina, esposa do velho Lulú se deslocou ao mercado para fazer algumas compras para as refeições do dia. Tia Leopoldina tomou conhecimento que seu sobrinho Molépe levou uns açoites e tivera o corpo marcado através de seu neto Bernardo, amigo muito próximo de Molépe.

Maria Luísa enfureceu-se, amarrou um pano que a cobriu da cintura até abaixo do joelho. Hum! Filho da… do “biaku”! Bateu no meu filho, meu sétimo filho, criança pedida depois de cinco meninas! Filho da… esse “zakela” vai sentir o peso!- dizia Maria Luísa enfurecida. Mana Leopoldina, faz favor, diz a Melita para vir controlar o negócio, vou no Bar Rei Pelé vou já estragar tudo. “Sá” Visita, por favor controla a minha filha, por favor.

Deste modo, dona Leopoldina despediu-se de Maria Luísa, dirigindo-se para casa, pois vivia na mesma rua da Comissão do Rangel. Eram vizinhas e primas por afinidade. 

Maria Luisa era irmã de Manuel Lixa e filha da Avô Tibá que vivia na área do bairro Sambizanga denominado Santo Rosa, nome de um “pula” lisboeta, comerciante naquele bairro. A semelhança de Manuel Lixa, Maria Luísa também lutava muito, pois já havia dado umas “kabelenhas” no Kibila Tata, bandido do Marçal, onde vivera no período colonial.

Maria Luísa, mulher de grande estatura, com bastante força, era bastante ágil em dar cabeçadas em uma briga, sendo capaz de derrubar homens em uma luta. A mesma antes de se deslocar ao Bar, passou por sua casa, na rua nº 23, pois este bar era paralelo à rua nº 21. Já em sua casa, preparou se, vestindo um calção de tecido do tipo “ganga” e assim dirigiu-se para o referido bar. Já passava das 16 horas; horário de encontro de trabalhadores que ali se destacavam para saborear uma boa cerveja ou tomar um bom vinho palheto à mistura com um “sarrabulho”.

Bem ao lado, e por detrás do Bar, estava a residência onde ensaiava o conjunto “Dimba Dya Ngola”, que no momento cantavam o semba “Katolotolo”, fazendo dançar algumas crianças que apreciavam as outras a entreterem-se com o jogo da buraca, enquanto pessoas adultas passavam e davam toques dançantes à moda angolana.

– Hum! “Katolotolo”? Esse “polaco” vai me sentir, ele vai ver, vai se sentir como se tivesse “Katolotolo”! Está a brincar com quem? – dizia Maria Luisa. Ó seu “biaku” de mer… Você bateu o meu filho, porquê? Você já alguma vez “cagaste” um filho, já alguma vez sentiste a dor de “nascer”? Filho de uma vaca que não dá leite! Me explica, estou aqui para ouvir porque eu já ouvi o meu filho!- perguntou enfurecida Maria Luísa.

O “polaco” tremia e da explanada viu um polícia de raça negra de grande estatura, passando, chamou-o para acudir a situação, uma vez que o trásmontano sabia o que lhe esperava. O polícia, tratava-se do “kota” Segunda João Cosme, o agente nº 50 da PSP- Polícia de Segurança Pública, “malangino” de gema que por sinal vivia na rua onde vivia Molépe.

O polícia entrou no bar e perguntou o que se passava e Maria Luísa respondeu imediatamente, falando sem pausa.

– Mu beta mwene, mana Luísa! – dizia o polícia, chateado no seu íntimo.

GLOSSÁRIO:

bás”- pronúncia errada do cidadão português, querendo dizer “vais” do verbo haver. “Biaku, Busugo, Pula, Polaco, Zakela”- Nomes depreciativo para designar o homem branco português. (de notar que existiam essas palavras todas para que o português não se apercebesse que se falava deles e era muito utilizado na luta de clandestinidade contra o colonialismo português). “Kabelenhas”- s.f. cabeçadas, português angolano. “Katolotolo”– enfermidade provocada pelo mosquito da chicungunha “Kitutes”: s.m (Brasil) paparico; iguaria delicada. “Sarrabulho”- s.m. Prato típico angolano que consiste no guisado de miudesas de porco. Cozinha com o sangue do mesmo animal. “Mu beta mwene”, mana Luísa – (traduzido da língua nacional kimbundu- Bate-lhe mesmo, mana Luísa).

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Moisés Kafala Neto.
Pseudônimo literário: Kafala Tibah. É casado.
Nascido em Angola, no dia 05/12/62.
Profissão: professor – ⁠Professor de Análise Matemática e Álgebra e é também Criminalista.
Membro fundador da BJLA- Brigada Jovem de Literatura de Angola, possui poemas publicados em antologias tanto angolanas como brasileiras.

  • Músico Gospel, usando como nome artístico- Kafala Neto.
  • ⁠Actualmente é Vice-presidente para a área científica do Instituto Superior de Angola- ISA.

ENTRE O ONTEM E O HOJE: UMA AMIZADE ATRAVESSADA PELO TEMPO

Por Leandro Bertoldo Silva

Bem ao estilo de “Meia Noite em Paris”, fiz uma viagem ao Rio de Janeiro do século XIX, onde encontrei o autor de umas certas Memórias Póstumas.

A atração fraternal foi imediata como podem perceber. Se bem que da minha parte esse sentimento já existia, mas vindo dele foi, sem dúvida, o maior presente já recebido.

 Senti-me lisonjeado, não menos surpreendido com o pedido que me fez. Talvez mais amedrontado que surpreendido, mas vá lá! Como negar? Não neguei. Qual é esse pedido ainda não posso dizer, mas prometo revelar assim que receber dele a devida autorização. Ora, calma! Não seja impaciente, não vai demorar.

Até lá, relembremos um pouco da vida e trajetória deste meu amigo, para mim o maior escritor de todos os tempos, século após século, do Brasil e do mundo: Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS.

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Imagine um garoto mulato, pobre, gago e epilético, filho de pai pintor e mãe lavadeira num Brasil colônia da segunda metade do século XIX…

Uma pessoa assim teria todas as prerrogativas de não se dar bem na vida, certo?

Nem tanto!

As tendências às vezes são só tendências e caem frente às grandes almas…

Estamos falando de Joaquim Maria Machado de Assis, para muitos (inclusive para mim) o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos mais notáveis escritores do mundo, que revolucionou as nossas letras e a nossa maneira de enxergar a vida.

Contrariando a normalidade, Machado de Assis teve uma existência relativamente estável e conheceu, em vida, o prestígio e a fama que lhe cabiam. Foi um dos fundadores, em 1897, da Academia Brasileira de Letras – ABL e eleito seu presidente vitalício. Ao morrer, em 1908, recebeu honras fúnebres de chefe de Estado.

Nada poderia contrastar mais vivamente com seu nascimento, em 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, e com sua infância de menino órfão e pobre (sua mãe morreu quando ele tinha 10 anos de idade e seu pai casou-se novamente, vindo morrer pouco tempo depois), sendo criado pela madrasta (felizmente boa, para diferenciar das histórias e contos de fadas…).

Entre nascimento e morte, Machado percorreu um duro caminho de quem se faz pelas próprias mãos – mulato pobre de subúrbio, ele se transformaria num dos mais respeitados intelectuais da corte.

Pelo que indicam os registros, Machado de Assis não frequentou a escola, embora tivesse aprendido a ler antes dos 10 anos. Ainda criança, vendeu doces na rua para ajudar a sustentar a casa. Caixeiro de uma livraria, tipógrafo e revisor foram algumas profissões que exerceu antes de se tornar jornalista e escritor.

A estabilidade econômica, porém, veio de outras fontes. Como uma boa parcela da intelectualidade brasileira da época, Machado ingressou no funcionalismo público. Chegou a fazer carreira, foi oficial-de-gabinete de ministro e diretor de órgão público. Em 1889, ano da Proclamação da República, dirigia a Diretoria do Comércio. Nessa época já era um escritor consagrado.

Costuma-se dividir a obra de Machado de Assis em duas fases bem distintas: a primeira apresenta o autor ainda preso a alguns princípios da escola romântica, sendo por isso chamado de fase romântica ou de amadurecimento; a segunda apresenta o autor completamente definido dentro das ideias realistas, sendo, portanto, chamada de fase realista ou de maturidade.

Em 1904, a vida de Machado de Assis é abalada pela morte da esposa – Carolina Augusta Xavier de Novaes – uma base sólida para a sua carreira de escritor e sua companheira por 35 anos, e de quem ele nutria um amor incondicional.

Cultuado em seu tempo (e até hoje) como escritor “clássico”, representante máximo de nossa “boa literatura”, Machado de Assis soube, como nenhum outro escritor brasileiro, revelar os meandros da alma humana e combater, pela ironia sutil, as mazelas de nossa sociedade, ainda colonial, escravocrata e autoritária.

Parece interessante?

Então veja abaixo um panorama geral para conhecer toda a brilhante trajetória de Machado de Assis – o bruxo do Cosme Velho –, algumas de suas ideias e um cronograma básico com as suas principais obras para quem quer se deliciar nessa leitura, que é um verdadeiro mergulho nas profundezas da alma pelo viés da literatura.

MACHADO DE ASSIS – O BRUXO DO COSME VELHO

1839 – Joaquim Maria Machado de Assis nasce no morro do Livramento, Rio de Janeiro, em 21 de junho, filho do pintor e dourador Francisco José de Assis (neto de escravos) e de Maria Leopoldina da Câmara (portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, nos Açores) – que viviam na condição de agregados na chácara de Maria José de Mendonça Barroso Pereira.

1854 – Cinco anos após a morte de sua mãe, seu pai se casa com a mulata Maria Inês e a família se muda para São Cristóvão. Publica seu primeiro poema, “Soneto”, no Periódico dos Pobres.

1885 – Trabalha na livraria  e tipografia de Paula Brito, que edita o jornal de variedades “A Marmota Fluminense”, no qual Machado publica os poemas “Ela” e “A palmeira”. Participa das tertúlias da Sociedade Petalógica (nome derivado de “peta”, “menina”), grupo de intelectuais frequentado esporadicamente por José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo e Francisco Otaviano.

Primeiro fase – romântica

1860 – A convite de Quintino Bocaiúva, trabalha como repórter do Diário do Rio de Janeiro, órgão do Partido Liberal.

1864 – Publica “Crisálidas”, seu primeiro livro de poesias, pela editora Garnier.

1867 – É nomeado ajudante do diretor de publicações do Diário Oficial.

1869 – Casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novaes. Publica “Contos Fluminenses” e “Falenas” (poesias).

1872 – Estreia de Machado no romance com “Ressurreição”.

1873 – É nomeado primeiro oficial da Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.

1874 – Lança em livro seu segundo romance, “A mão e a luva”, que havia saído em folhetim no jornal O Globo.

1976 – Publica “Helena”.

1878 – O Cruzeiro publica, em folhetim, o romance “Iaiá Garcia”.

Segunda fase – madura

1881 – Publicação em livro de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (que havia sido publicado em capítulos na Revista Brasileira).

1884 – Muda-se para a rua Cosme Velho, nº 18. Publica o volume de contos “Histórias sem data”.

1886 – Começa a publicar, em folhetim, o romance “Quincas Borba” (que será impresso em livro em 1891).

1888 – Recebe da Princesa Isabel a Ordem da Rosa.

1889 – É nomeado diretor da Diretoria Geral do Comércio.

1893 – Com a reforma ministerial, que transforma a Secretaria da Agricultura em Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas, Machado é nomeado diretor-geral da Viação.

1897 – Participa da fundação e é eleito presidente da Academia Brasileira de Letras.

1898 – É colocado em disponibilidade na Viação.

1899 – Lança “Dom Casmurro”.

1902 – Volta a trabalhar na Viação, agora como diretor-geral da Contabilidade.

1904 – Publicação do romance “Esaú e Jacó”. Carolina morre no dia 20 de outubro.

1908 – Morre no dia 29 de setembro, dois meses depois do lançamento do seu último romance, “Memorial de Aires”.

SUAS IDEIAS

“Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é saber amar”.

“Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e o amor com casamento”.

“O dinheiro não traz felicidade – para quem não sabe o que fazer com ele”.

“Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito”.

“Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens que de um terceiro andar”.

“Para as rosas, escreveu alguém, o jardineiro é eterno”.

“Botas… as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar”.

“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução”.

“Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas”.

“Que multidão de dependências na vida, leitor. Umas coisas nascem de outras, enroscam-se, desatam-se, confundem-se, perdem-se, e o tempo vai andando sem se perder a si”.

CRONOGRAMA BÁSICO COM AS SUAS PRINCIPAIS OBRAS

Romances

Ressureição (1872)

A Mão e a Luva (1874)

Helena (1876)

Iaiá Garcia (1878)

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Casa Velha (1885)

Quincas Borba (1891)

Dom Casmurro (1899)

Esaú e Jacó (1904)

Memorial de Aires (1908)

Contos

Contos Fluminenses (1870)

Histórias da meia-noite (1873)

Papéis avulsos (1882)

Histórias sem data (1884)

Várias histórias (1896)

Páginas recolhidas (1899)

Relíquias de Casa Velha (1906)

Contos avulsos.

*Referências:

Literatura brasileira: das origens aos nossos dias – José de Nicola.

Ler é aprender – Machado de Assis/Estadão.

Revista CULT – As magias literárias de Machado de Assis – julho/1999.

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Gostou de conhecer a história de Machado de Assis, esse grande escritor brasileiro e meu amigo? Então compartilhe esse conteúdo e ajude a divulgar essa informação, fomentar a leitura e valorizar a literatura clássica!

A propósito, que tal mencionar logo abaixo nos comentários qual obra de Machado mais lhe marcou? Se ainda não leu, é um bom momento para começar!  

Lembre-se!

COMPARTILHAR É SE IMPORTAR!

Forte abraço!
Leandro Bertoldo Silva.

HAICAIS DE TATTOOS

Por Carolina Bertoldo

Excesso de amor
na falta de espaço
tinge a pele.

Frases e flores
datas, figuras, signos
corpo estampado.

Significado
para quê? Basta querer
colorir você.

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Carolina Bertoldo é escritora, estudante de pedagogia, colecionadora de livros e integrante da turma Manoel de Barros, da Árvore das Letras.