“DESENHANOTADOR ” DE LEMBRANÇAS INVENTADAS

Por Pierre André

Eu me lembro…
Eu me lembro…
Todos iam para os bailes
Brincar o carnaval

“Oh Abre alas que eu quero passar”
E tantas outras marchinhas
Agora querem passar, e passaram,
Aqui diante dos meus olhos…

Eu gostava de ouvir
Aquelas marchinhas
Tocadas naqueles
Fevereiros passados

Eu ficava em casa
Eu e o meu caderno
Não podia ir aos bailes
Criança ainda

Dias de baile
Dias de aproveitar
Meu caderno
De “anotações”

Não sabia escrever
Mas anotava tudo
Tudinho que eu pensava
Com desenhos

Desenhava tudo que eu ouvia
Pierrôs apaixonados
Arlequins sempre felizes

Nunca os via,
Sempre os desenhava
Minha imaginação
Desenhava para mim

Músicas diziam muito
Não só as dos bailes
De qualquer lugar
De onde saíam

Rádios
Televisões
Banheiros
Bocas dos adultos


E eu “desenhanotava”
Tudo que ouvia
Até os sentimentos
Adorava “desenhanotar”

Desenhava
Cheiros do mato
O molhado
Da terra molhada

O Bem-me-quer
Da margarida
Eu sempre desenhava
Com lápis amarelo

O Mal-me-quer
Com lápis branco
No papel branco
Ele nem aparecia

Ninguém via
O Mal-me-quer
Mas estava lá
Desenhanotadinho

Gosto do biscoito
Da tia Paulinha
Desenhava também
E bem anotadinho

O que eu mais gostava
De desenhanotar
Era o perfume
Da “Flor-Cheirosa”

Nome inventado
Ela tinha outro nome
Eu nem sabia
Se chamava Jasmin

Desenhanotando
Tudo que eu gostava
Eu era sempre feliz
Eu com o meu caderno

Como eu amava
Escrever sem saber
Sem imaginar
Que estava escrevendo

Hoje não desenhanoto mais
Agora que sei escrever
Escrevo essas lembranças
Que acabei de inventar

Ah, eu me lembro
Me lembro de tudinho
Me lembro sim, viu!

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Pierre André e seu suposto texto de apresentação…

Vê se pode… O menino queria fazer de conta que o faz-de-conta se desfez. Vou deixar não… Pensei. E tentei desfazer essa ideia maluca dele. Ainda bem que dei conta. Agora faz de conta que eu num dô conta… Não teria escrito esses escritos para vocês.

Quero falar de mim não.

Meus textos já falam…


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