Eu me lembro… Eu me lembro… Todos iam para os bailes Brincar o carnaval
“Oh Abre alas que eu quero passar” E tantas outras marchinhas Agora querem passar, e passaram, Aqui diante dos meus olhos…
Eu gostava de ouvir Aquelas marchinhas Tocadas naqueles Fevereiros passados
Eu ficava em casa Eu e o meu caderno Não podia ir aos bailes Criança ainda
Dias de baile Dias de aproveitar Meu caderno De “anotações”
Não sabia escrever Mas anotava tudo Tudinho que eu pensava Com desenhos
Desenhava tudo que eu ouvia Pierrôs apaixonados Arlequins sempre felizes
Nunca os via, Sempre os desenhava Minha imaginação Desenhava para mim
Músicas diziam muito Não só as dos bailes De qualquer lugar De onde saíam
Rádios Televisões Banheiros Bocas dos adultos
E eu “desenhanotava” Tudo que ouvia Até os sentimentos Adorava “desenhanotar”
Desenhava Cheiros do mato O molhado Da terra molhada
O Bem-me-quer Da margarida Eu sempre desenhava Com lápis amarelo
O Mal-me-quer Com lápis branco No papel branco Ele nem aparecia
Ninguém via O Mal-me-quer Mas estava lá Desenhanotadinho
Gosto do biscoito Da tia Paulinha Desenhava também E bem anotadinho
O que eu mais gostava De desenhanotar Era o perfume Da “Flor-Cheirosa”
Nome inventado Ela tinha outro nome Eu nem sabia Se chamava Jasmin
Desenhanotando Tudo que eu gostava Eu era sempre feliz Eu com o meu caderno
Como eu amava Escrever sem saber Sem imaginar Que estava escrevendo
Hoje não desenhanoto mais Agora que sei escrever Escrevo essas lembranças Que acabei de inventar
Ah, eu me lembro Me lembro de tudinho Me lembro sim, viu!
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Pierre André e seu suposto texto de apresentação…
Vê se pode… O menino queria fazer de conta que o faz-de-conta se desfez. Vou deixar não… Pensei. E tentei desfazer essa ideia maluca dele. Ainda bem que dei conta. Agora faz de conta que eu num dô conta… Não teria escrito esses escritos para vocês.
Quero falar de mim não.
Meus textos já falam…
Descubra mais sobre Por uma literatura de identidade própria - Escrever é costurar ideias com as mãos
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Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
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