ESTÁ SERVIDO? ALGUNS LIVROS PARA 2025

Por Leandro Bertoldo Silva

Quem me conhece sabe o quanto os livros e a leitura são importantes para mim. Eles fazem parte da minha existência, movem meu sistema nervoso, são sangue a correrem por minhas veias e artérias e até são responsáveis pelo meu batimento cardíaco.

Exagero?

Não! sem livros eu sinto sede, sem livros eu sinto fome. Fico, inclusive, sem almoçar, mas não fico sem ler. Seria eu um dependente literário? Se for, por favor, não me curem. Prefiro, neste mundo dos avessos e dos conteúdos rasos, estar doente dos olhos, não por deixar de enxergar, mas por enxergar demais através do meu pince-nez, linhas e entrelinhas a tecerem histórias.

Não saberia dizer quantos lugares eu já visitei, por quantos países, catedrais, até oceanos eu já naveguei. Estive entre trabalhadores do mar, entre o ciúme, a loucura e a obliquidade de personagens inseguros e corajosos, subi Bahia e desci Floresta tantas vezes a caminho de um encontro marcado. Quantos fidalgos, quantas vidas secas a revelarem crimes e castigos, mas também a me levarem entre a razão e a sensibilidade às ilusões de um bosque perdido.

Minha vida é estar entre os livros, ora no exercício da escrita e muitas vezes neste prazer arrebatador da leitura.

Ao contar dos meus 7 anos de idade, quando ganhei das mãos de minha mãe o meu primeiro livro – Cinderela, depois O caso da borboleta Atíria, A ilha perdida, Menino de engenho e tantos outros -, aos meus até então 52 anos de agora, já não saberia dizer quantas páginas passaram por meus olhos. Evitarei citar nomes de autores e autoras para não cometer injustiças de esquecimento, e nem também caberia aqui, mas foram umas boas centenas sem dúvida.

O melhor é que mesmo com tudo isso, muitas são as histórias ainda não conhecidas, algumas delas a descansarem por anos nas estantes à espera de leitura. É comum ao término de um livro eu dizer: “mas como foi possível você estar aqui há tanto tempo sem que eu o tivesse lido?”

Pois é, isso acontece. O motivo? Sempre tem um livro a ser lido — às vezes dois ou três ao mesmo tempo — e alguns ficam na espera gostosa do depois e do momento mais adequado.

Por isso, neste ano resolvi fazer uma experiência: desci alguns livros dos galhos da minha árvore-biblioteca para finalmente poder lê-los, um após o outro.

Chegou o momento! E aqui, sim, vou citá-los com seus criadores; afinal, me aguardaram pacientemente.

Fiz uma pilha com eles e cheguei até a sentir a vibração de suas páginas já folheadas e namoradas. Fiquei a pensar: o que me espera em Corda bamba, da Lygia Bojunga, presente da minha madrinha literária, da Academia de Letras de Teófilo Otoni, quando nos encontramos em uma barbearia cheia de livros, ao me apresentar ao proprietário, seu amigo? O que dizer de Claro enigma, do nosso poeta maior Carlos Drummond de Andrade, uma das minhas aquisições nascidas daquela vontade de sorver poesia? E a Poesia completa de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, o meu poeta maior, e o meu grande preferido dentre eles, companheiro de memórias felizes, luzes e palco? O palhaço e o psicanalista, do Cláudio Thebas e Christian Dunker, certamente me alimentará e contribuirá muito para o meu trabalho de Biblioterapia. O Livro do Desassossego, também de Fernando Pessoa, mas através do ajudante de guarda-livros Bernardo Soares, o qual pode ser aberto aleatoriamente em qualquer página, mas que eu resolvi lê-lo do início ao fim para só depois retornar dessa forma apaixonante e algumas vezes já experimentada. Na lista também está O cão dos Baskervilles, de Sir Arthur Conan Doyle, com um clássico de Sherlock Holmes a demonstrar versatilidade de estilos. Múltipla escolha, da Lya Luft e Amor que faz o mundo girar, de Ary Quintella, representantes da nossa literatura contemporânea e histórica, as quais gosto muito. E O vermelho e o negro, de Stendhal, ao marcar a minha leitura preferida: a clássica.

Aí estão alguns dos meus livros para 2025. Há outros, alguns já lidos neste início de ano, como O corcunda de Notre Dame, do Victor Hugo, e De mãos dadas, de novo do Cláudio Thebas, porém com coautoria de Alexandre  Coimbra Amaral, ao me conduzir literalmente pela mão no momento mais delicado da minha vida até aqui… Sim, livros são fontes salvadoras a nos darem colo também! Outros ainda estão nos galhos da Árvore à espera da descida. Mas para que melhor possam saber do que se tratam estes, transcreverei a sinopse de cada um deles para, quem sabe, ter a sua companhia na leitura. Caso isso aconteça ficarei feliz. Se não, também fico feliz em poder plantar uma semente no coração de quem se prontificar e germiná-la.

Vamos lá e ótima escolha.

CORDA BAMBA (LYGIA BOJUNGA)

Lygia Bojunga se aventura pelas veredas da imaginação infanto-juvenil e arma sobre o jovem e respeitável público a lona de seu circo de surpreses e encantamento, apresentando-lhe esta CORDA BAMBA, através da qual Maria, filha de equilibristas, e ela mesma artista de circo, resolve viajar para dentro de si mesma. Viver na corda bamba — é como o imaginário popular define a existência de quem tem que enfrentar desafios diários para sobreviver. Assim caminha Maria em busca de seu próprio equilíbrio, abrindo as portas do passado e recompondo-se dos dramas que marcaram sua infância circense.

CLARO ENIGMA (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

“E como ficou chato ser moderno. / Agora serei eterno”, escreveu Drummond em um poema do livro Fazendeiro do ar, de 1954. Mas esse distanciamento da atitude poética modernista — com tudo que ela continha de euforia, rebeldia e otimismo — vinha de antes. Mais precisamente, deste Claro enigma, publicado em 1951, quando o autor se aproximava dos 50 anos de idade. Daí a obra ser considerada um marco de sua maturidade filosófica e poética. Os recursos da poesia moderna passam a conviver com formas fixas, entre elas os sonetos, e com esquemas de rimas e metros clássicos na língua portuguesa, como a redondilha, o decassílabo e o alexandrino. O tom jocoso, muitas vezes presente nos livros anteriores, se trona aqui predominantemente grave e elevado. Como a contradição dos termos no título do livro já sugere, Drummond não buscava um simples retorno à ordem. Um sentido de incompletude, de insolvência, presente em vários poemas, corrói qualquer ilusão de estabilidade. Claro enigma demonstra, acima de tudo, qual a naturalidade, longe de representar um ponto de vista fixo e seguro, recoloca em outro patamar as inquietações e angústias da juventude.

POESIA COMPLETA DE ALBERTO CAEIRO (FERNANDO PESSOA)

Alberto Caeiro configura uma verdadeira revolução na trajetória de Fernando Pessoa. O heterônimo, que surgiu em março de 1914, quando Pessoa tinha 25 anos, se consagrou pelo estilo singular e bucólico, capaz de aliar pelos aparentemente opostos como simplicidade e profundidade. Em versos que surpreendem pela clareza, Caeiro nos conduz por um universo composto de pedras, árvores, flores e montanhas, e defende que as sensações provocadas pelo contato com a natureza são indiscutivelmente superiores ao pensamento lógico e racional.

O PALHAÇO E O PSICANALISTA (CLÁUDIO THEBAS E CHRISTIAN DUNKER)

Se de médico e louco todo mundo tem um pouco, de psicanalista e palhaço todo mundo tem um pedaço. Christian Dunker e Cláudio Thebas abordam neste livro, com bom humor e profundidade, um tema comum para ambos os ofícios: como escutar os outros? Como escutar a si mesmo? E como a escuta pode transformar pessoas? Mesclando experiências, testemunhos, casos e reflexões filosóficas, os autores compartilham o que aprenderam sobre A ARTE DA ESCUTA, um tema tão urgente no mundo atual, onde ninguém mais se escuta.

LIVRO DO DESASSOSSEGO (FERNANDO PESSOA)

O narrador principal das centenas de fragmentos que compõe este livro é o “semi-heterônimo” Bernardo Soares. Ajudante de guarda-livros em Lisboa, ele escreve sem encadeamento narrativo claro e sem uma noção de tempo definida. Os temas não deixam de ser adequados a um diário íntimo: a elucidação de estados psíquicos, a descriação das coisas através dos efeitos que elas exercem sobre a mente, reflexões sobre a paixão, a moral, o conhecimento. Nesta nova edição, o pesquisador Richard Zenith estabelece nova ordem, acrescenta trechos recentemente descobertos e descarta outros que só depois da digitalização do acervo do autor puderam ser corretamente compreendidos — a caligrafia difícil dava margem a inúmeros equívocos. “O que temos aqui não é um livro, mas sua subversão e negação”, escreveu Zenith na introdução. Livro fundamental para a compreensão da extensa influência de Pessoa na criação da noção contemporânea de indivíduo, suas páginas revelam o gênio de um autor no seu auge.

O CÃO DOS BASKERVILLES (SIR ARTHUR CONAN DOYLE)

Entre as aventuras de Sherlock Holmes, poucas atingiram o nível de popularidade de O cão dos Baskervilles, várias vezes filmado. Mais que uma história de detetive, é uma profunda incursão no terror — e assim tem sido encarada pelos inúmeros leitores, que releem incansavelmente estas páginas magistralmente elaboradas. Neste romance, além da perfeita caracterização dos personagens e de sua psicologia, Sir. Arthur Conan Doyle preocupou-se em criar toda uma atmosfera de pavor e mistério. O cão gigantesco, que parece saído do próprio inferno para executar a maldição dos Baskervilles, é uma criação verdadeiramente inesquecível. Por as vez, Sherlock Holmes tem de lançar mão de toda a sua capacidade de raciocínio e dedução para encontrar a solução do enigma. A velha mansão, a paisagem lúgubre e desolada, o perigoso pântano, tudo contribui para situar o jovem herdeiro dos Baskervilles num ambiente de pesadelo. Ao apaixonar-se pela irmã do naturalista Stapleton, está ele, sem saber, envolvendo-se ainda mais numa trama sinistra. Do pântano chegam os uivos do cão, que, à noite, ronda ameaçadoramente a casa, cercado de uma luz sobrenatural. A qualquer momento, o último dos Baskervilles sucumbirá ao peso da maldição, enquanto Sherlock Holmes, que deveria salvá-lo, estranhamente não dá sinal de presença. O cão dos Baskervilles é leitura imprescindível para os iniciados no gênero.

MÚLTIPLA ESCOLA (LYA LUFT)

A vida é um cenário com um palco e com muitas portas, e diversas maneiras de encarar esse jogo: como um trajeto, um naufrágio, um poço, uma montanha. Somos, em parte, resultado das nossas próprias decisões. Em Múltipla escolha, Lya Luft pondera sobre alguns mitos enganosos da nossa cultura, que, embora criados por nós, dificultam nossa tarefa existencial. Os homens desde sempre criaram mitos para explicar o que não poderiam entender: nascimento e morte; nossos impulsos mais sombrios; o desejo de eternidade. No entanto, Lya Luft mostra que muitos desses mitos fundadores se modificaram na nossa sociedade moderna e faz neste ensaio uma profunda reflexão sobre o que ela chama de “nossos enganos”, os mitos modernos criados para abafar a angústia e disfarçar a futilidade do nosso dia a dia. Um exemplo disso é a suposta liberdade que alcançamos. Longe de uma sociedade livre, somos, nessa nossa cultura impositiva tão cheia de obrigações, prisioneiros padecendo do que a autora chama de síndrome do “ter de”. Da busca pela eterna juventude à ética na política, passando pelas transformações de família, Lya Luft mostra quanto estamos enredados em práticas opressoras e que é importante assumir as rédeas de nossa vida e o caminho da nossa sociedade e cultura.

AMOR QUE FAZ O MUNDO GIRAR (ARY QUINTELLA)

Cento e cinquenta anos se passaram desde que Anita Garibaldi se tronou heroína de dois mundos. O tempo, longe de apagar sua memória, se encarrega de engrandecê-la. Neste texto forte de Ary Quintella, a filha do tropeiro da pequena Laguna vai crescendo como se fosse uma bola de neve capaz de encher, com sua vida, uma das mais belas páginas da história. Amor e guerra ocupando o mesmo espaço e o mesmo tempo, eis a curta e eterna trajetória de Anita Garibaldi.

O VERMELHO E O NEGRO (STENDHAL)

Publicado em 1830, O Vermelho e o Negro é apontado como um dos pioneiros do realismo mundial. Nesta obra-prima, Stendhal nos apresenta Julien Sorel, um humilde carpinteiro cheio de ambições, entre as quais integrar o Exército de Napoleão. Seu sonho, no entanto, cai por terra junto com o império napoleônico. A partir daí, sua luta pela ascensão é impulsionada por um misto de engenhosidade, carisma e hipocrisia, o que de fato faz com que Sorel passe a viver com a burguesia e a aristocracia. Nesse novo mundo, sua vida se transforma em uma torrente impelida pelo amor, pela traição e pelo espírito de vingança.

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Bem, aí estão alguns dos livros a serem lidos por mim neste ano. Espero que eu tenha contribuído um pouco para o seu interesse e que eles os incentivem também à leitura. Escreva nos comentários se já leu algum deles e o que achou. Se quiser, indique outros de sua escolha e vamos ampliando essa grande paixão pelos livros e seus autores e autoras.

Forte abraço e até a próxima.


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2 comentários em “ESTÁ SERVIDO? ALGUNS LIVROS PARA 2025”

  1. Este livro que você leu do sr Conan, da série de livros Sherlock Holmes, é um dos meus favoritos de todo esse universo de mistério! Até o momento, neste ano, li apenas um livro pela falta de tempo, sendo ele O Manifesto do Partido Comunista. Ganhei alguns livros de presente da escritora Aghata Cristie e estou muito ansiosa para ler! Acho que você gostaria de sua escrita!

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