SOLITUDE

Por Leandro Bertoldo Silva

Crescemos ouvindo a sociedade dizer que se sentir só é uma espécie de fracasso, que devemos viver rodeados de pessoas porque se assim não for temos problemas sérios a resolver. Isso pode ser considerado até certo ponto quando a vida nos coloca em situações de verdadeiro xeque-mate, ou seja, aquela situação não tão inesperada assim, muitas vezes previsível — estava ali se quiséssemos enxergar —, mas deixamos o vento soprar, mesmo sem estar muito de acordo.

Muitas vezes, pelo medo de estar só, abrimos mão de valores não tão necessários para os outros, mas extremamente importantes para nós. Pensar nos outros é saudável, altruísta, bonito. Mas até onde pensar nos outros nos torna órfão de nós mesmos? Mas calma, muita calma! Não estou a dizer que devemos ser egoístas, embora se soubermos ser só um pouquinho não há mal nenhum nisso, muito antes pelo contrário. Esse se tornar órfão de si mesmo, algo tão negativo para a maioria, pode ser o princípio de uma liberdade, a partir do momento que passamos a também pensar em nós de uma forma um pouco diferente, mais autêntica e verdadeira, sem a necessidade da aprovação do outro o tempo todo, mesmo os mais próximos.

A vida é contraditória e, por isso mesmo, encantadora. A partir do momento que sentimos uma grande perda, passamos a ver o quão efêmera ela, a vida, é. E, por isso, ganhamos mais presença de nós. Passamos a nos acolher com mais carinho e a descobrir e redescobrir muitas coisas, inclusive a beleza da nossa solitude, essa capacidade consciente de estar só, mas sem associação de tristeza e dor.

Estar em estado de solitude é poder admitir a própria solidão como a mais linda presença. É quando olhamos o nosso interior e nos damos a oportunidades de aceitar quem somos, o que gostamos, o que queremos e não queremos, nossas forças e fraquezas e deleitar-se com isso como em um jogo da verdade onde só ela existe.

Ninguém é obrigado a concordar conosco, mas nós também não somos obrigados a concordar com o mundo.

Esse sentimento é libertador porque nem sempre estar rodeado de pessoas não nos priva da solidão. Porém, essa é um pouco diferente da outra, nossa, necessária. Àquela aprisiona, essa nos reconecta. Que aprendamos a buscar as pessoas não para fugir de nós mesmos, mas para compartilhar até onde for necessário. Que aprendamos a soltar. A vida é água que flui livremente entre os dedos e muitas vezes só temos as nossas próprias mãos.

ESPERANÇA

Por Leandro Bertoldo Silva

Quero fazer dos meus olhos mentira
Para acordar igual a um passarinho
Ouvindo ao longe, bem longe do ninho
O que o cansaço fadiga e suspira.

Oh, mar de gente, de sangue e de ira!
Torpe desejo de espúrio caminho.
Faça-me livre de seu escarninho.
Não me embandeire; seu ardil não me inspira.

E nesta febre que (se)invade – há jeito?
Saudades tenho as que me recordo
Quando, feliz, dormíamos no leito.

Há de chegar o dia em que a bordo,
Mesmo a noite sendo em meu peito,
Desta cingida nau outro me acordo.

TEMPO DE HISTÓRIAS E VIRTUDES – CONFRATERNIZAÇÃO 2024 DAS TURMAS INFANTIS DA ÁRVORE DAS LETRAS

Por Leandro Bertoldo Silva e Geane Matos
Vídeo: https://www.instagram.com/cleiton_fotografias/

A leitura é uma das melhores maneiras de salvar a humanidade e, por consequência, a nós mesmos. O motivo é muito simples: a leitura nos convida à empatia, essa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Uma vez que isso acontece por meio da catarse, da identificação e interiorização das histórias, personagens e suas abrangências de sentimentos, sejam amores ou dores, passamos a entender o outro profundamente em sua essência. É o suficiente para não mais existirem conflitos de qualquer natureza. Por conseguinte, a paz se instaura, a escuridão se finda e a luz se acende.

Ontem finalizamos as atividades das crianças das turmas Lygia Bojunga e Pierre André, da Árvore das Letras, onde mostramos como as várias virtudes trabalhadas ao longo do ano se mostraram nas histórias escolhidas e lidas por elas. Fidelidade, amor, temperança, polidez, pureza, generosidade, paciência, entusiasmo, doçura, misericórdia, responsabilidade, amizade, compaixão, perseverança, disciplina, prudência, bom humor, gratidão, simplicidade, justiça, trabalho, humildade, tolerância e coragem fizeram-se presentes no final inesperado do Mapinguari, ao ensinar o caçador a verdade da vida. João da água mostrou o caminho das flores, enquanto o Sapo Sapeca, que vivia a pular e a chorar, encontrou o motivo do sorriso. O que dizer de uma menina que engarrafava nuvens descobrir o segredo da liberdade? E o amor, um dos mais nobre sentimentos, conseguiu, através de poucas palavras e muitos silêncios, mostrar a vitória da união em um estranho país onde falar pode custar muito caro.

Agradecemos a cada criança pelo convívio-oásis e convívio-arco-íris que nos proporcionaram, ao tornar nossas semanas momentos de esperança no futuro. Obrigado a cada pai, mãe, avós, irmãos, tios e demais responsáveis pela confiança em nosso trabalho e por acreditarem em tudo isso. Como Phileas, personagem do livro “A Grande Fábrica de Palavras”, guardamos também, entre centenas de cocozinhos de cabrito e puns de coelhos, uma palavra para que desperta nosso desejo e também das crianças para o ano que vem. Sabe qual palavra é?

MAIS!!

A VIDA É ESTRADA CONTÍNUA

Por Leandro Bertoldo Silva

Descobri que não há nada mais triste do que o vazio.

Descobri que o vazio dói. E é uma dor tão grande, tão intensa, que só não é insuportável porque a vida é estrada contínua, sem fim, mesmo na ausência do próprio vazio.

Descobri que o vazio, mesmo triste, mesmo dor dilacerante, é uma poesia de esperança e paciência e reencontro. É preciso viver o vazio para poder preenchê-lo. E não me venha com “vai passar”, eu não quero que passe; quero que transmute, no seu tempo, em presença renovada, porque o vazio, naturalmente, não se enxerga com os olhos do corpo, mas se vislumbra com os olhos da alma.

Descobri que o vazio é triste sim, mas traz, na sabedoria do silêncio, a espera de poder existir.

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Hoje faz 15 dias que a minha mãe nos deixou. Ainda não consigo falar “morreu”. Talvez por nunca ter acreditado na morte. Não acredito nela. Porém, esse espaço que o vazio separa é um pouco do que disse acima. Poderia dizer mais, mas me calo nesse tempo de esperas.