A VIDA DE UM ESCRIBA

Por Leandro Bertoldo Silva
Fonte: Livro: uma história viva.

Escrever à mão sempre foi uma arte, principalmente entre os séculos VII e XV, quando estava em evidência o trabalho dos escribas, monges que trabalhavam nos scriptoruim monásticos.

Os escribas tinham de ser capazes de copiar obras em latim, grego e hebraico, quer as compreendessem ou não, e ainda estarem familiarizados com a tecnologia da escrita a fim de garantir que as linhas saíssem retas e as letras exatamente do mesmo tamanho.

Vale lembrar que naquela época não existia a imprensa, de modo que os livros, como a Bíblia, por exemplo, eram totalmente copiados à mão, tornando-se, assim, verdadeiras obras de arte.

Esperava-se que os escribas fossem competentes em uma série de estilos de escrita. Durante os séculos XII e XIII, copiar tornou-se uma atividade profissional, cada vez mais desempenhada por especialistas, sendo que na Europa de língua alemã, a cópia de manuscritos cresceu consideravelmente no século anterior à invenção da imprensa.

Os escribas geralmente copiavam de três a quatro páginas por dia, tamanho o cuidado com as letras que eram altamente elaboradas, o que nos faz imaginar o tempo que levou para as bibliotecas monástica serem formadas. Era comum monges viajarem de um mosteiro a outro copiando livros para as suas próprias bibliotecas.

Porém, para satisfazer a crescente demanda, foi introduzido o sistema de pecia (“peça” em latim), no qual diferentes partes do mesmo texto eram confiadas a copistas contratados, possivelmente leigos, que trabalhavam dentro e fora dos mosteiros.

A imagem acima é uma iluminura de um manuscrito inglês do século XI (Cambridge, Corpus Christi College MS 389, fólio Iv), na qual mostra São Jerônimo trabalhando em sua escrivaninha. Ele está sentado em uma cadeira alta, que permite que os pés fiquem pendentes ou talvez apoiados em uma plataforma; o contato prolongado com as pedras frias do assoalho de um mosteiro não era aconselhável. Por trás de São Jerônimo, uma cortina foi amarrada para que entre mais luz enquanto ele trabalha (geralmente, os monges escreviam apenas durante o dia, porque as velas eram muito caras e sua luz muito fraca). Seu trabalho repousa inclinado sobre um atril coberto de tecido. Escrever nesse ângulo significa que o escriba não tinha de segurar a pena verticalmente: se o fizesse, a tina podia escorrer com muita rapidez. As páginas já receberam linhas, provavelmente traçadas com um perfil de chumbo. Na mão direita, São Jerônimo segura uma pena, na qual resta pouco da pluma. Na mão esquerda ele segura uma faca, um instrumento de múltiplos usos para os escribas, usada para manter o pergaminho firmemente ancorado à superfície de cópia, para apontar as penas ou para raspar tinta seca do pergaminho, como um apagador. A correção de erros, às vezes, era feita com auxílio de uma lâmina ou pedra-pomes. Na imagem, São Jerônimo não está copiando, mas compondo um texto, enquanto a pomba que representa o Espírito Santo paira acima de sua cabeça, fornecendo-lhe inspiração.

Aqui está um pedacinho dessa arte fascinante, onde os escribas eram escritores imersos numa vida de estudo e contemplação.

Hoje, mesmo com toda tecnologia, escrever à mão é abrir-se para o novo e uma forma de demonstrar carinho e guardar lembranças, além de muitos outros benefícios que sempre evidenciaremos por aqui.

E você, costuma escrever à mão?

_______________________

A Árvore das Letras é uma escola-ateliê e editora sustentável de encadernação e papelaria ecológica. Valorizamos a produção e a confecção de livros e cadernos conceituais e artesanais. Oferecemos vivências presenciais e on-line para quem quer ingressar e aprimorar no mundo da escrita e da arte da palavra.

Frequentemente participamos de eventos, feiras e exposições. Entre em contato conosco e conheça melhor os nossos trabalhos.

Um forte abraço e até a próxima.


Descubra mais sobre Por uma literatura de identidade própria - Escrever é costurar ideias com as mãos

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

4 comentários em “A VIDA DE UM ESCRIBA”

  1. Tenho o costume ainda de escrever à mão somente para estudo, para elaborar resumos. Ou ainda cartas para pessoas especiais, coisa que ando fazendo pouco ultimamente. Gostei muito da história e da análise da figura, não a conhecia. Parabéns pelo trabalho.

    Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário