PARA SEMPRE AS MÃOS DE MINHA MÃE

Por Leandro Bertoldo Silva

Hoje descobri
que a ausência não é o fim;
é um “até ali”!

Onde meus olhos
não podem ainda enxergar,
sinto sua presença.

Ela é tão doce,
tão cheia de poesia,
que mal cabe em mim.

Mas não me importo!
Quero mais que transborde,
em flores de ti.

Suave perfume…
Leve-me a navegar
não em ondas de dor.

Mas na fragrância
do agradecimento
de suas virtudes.

Deixo-me sorrir
quando minhas lágrimas
banham memórias.

Deixo-me chorar
sem a tristeza da dor.
Não há dor; há céu.

Como o infinito
carregado de nuvens,
lá a encontro.

Qual sentimento,
que dos olhos da terra,
não necessita.

Vejo-te aqui
dentro de minhas lembranças.
Eterno remanso.

E o suave
frescor de sua alma
me acaricia.

Sinto o toque.
São as mãos de minha mãe
A dar-me vida.

UMA VIA SEM SENTIDO

Por António Alexandre *

O respeito pelos adultos tinha qualidade.

Os adultos do tempo dos meus ancestrais olhavam para as crianças com outra realidade.

Hoje os adultos representam para muitas crianças uma ameaça.

Hoje vejo os adultos comendo tudo, levando tudo e até põem a mão na massa.

Hoje vejo o adulto convocando ódio, miséria e intolerância.

Ah! Como estou numa via sem sentido em plena independência?

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António Alexandre é professor e poeta angolano e colaborador da Árvore das Letras.

A Árvore das Letras é uma escola-ateliê e editora sustentável de encadernação e papelaria ecológica. Valorizamos a produção e a confecção de livros e cadernos conceituais e artesanais. Oferecemos vivências presenciais e on-line para quem quer ingressar e aprimorar no mundo da escrita e da arte da palavra.

Frequentemente participamos de eventos, feiras e exposições. Entre em contato conosco e conheça melhor os nossos trabalhos.

Um forte abraço e até a próxima.

A VIDA DE UM ESCRIBA

Por Leandro Bertoldo Silva
Fonte: Livro: uma história viva.

Escrever à mão sempre foi uma arte, principalmente entre os séculos VII e XV, quando estava em evidência o trabalho dos escribas, monges que trabalhavam nos scriptoruim monásticos.

Os escribas tinham de ser capazes de copiar obras em latim, grego e hebraico, quer as compreendessem ou não, e ainda estarem familiarizados com a tecnologia da escrita a fim de garantir que as linhas saíssem retas e as letras exatamente do mesmo tamanho.

Vale lembrar que naquela época não existia a imprensa, de modo que os livros, como a Bíblia, por exemplo, eram totalmente copiados à mão, tornando-se, assim, verdadeiras obras de arte.

Esperava-se que os escribas fossem competentes em uma série de estilos de escrita. Durante os séculos XII e XIII, copiar tornou-se uma atividade profissional, cada vez mais desempenhada por especialistas, sendo que na Europa de língua alemã, a cópia de manuscritos cresceu consideravelmente no século anterior à invenção da imprensa.

Os escribas geralmente copiavam de três a quatro páginas por dia, tamanho o cuidado com as letras que eram altamente elaboradas, o que nos faz imaginar o tempo que levou para as bibliotecas monástica serem formadas. Era comum monges viajarem de um mosteiro a outro copiando livros para as suas próprias bibliotecas.

Porém, para satisfazer a crescente demanda, foi introduzido o sistema de pecia (“peça” em latim), no qual diferentes partes do mesmo texto eram confiadas a copistas contratados, possivelmente leigos, que trabalhavam dentro e fora dos mosteiros.

A imagem acima é uma iluminura de um manuscrito inglês do século XI (Cambridge, Corpus Christi College MS 389, fólio Iv), na qual mostra São Jerônimo trabalhando em sua escrivaninha. Ele está sentado em uma cadeira alta, que permite que os pés fiquem pendentes ou talvez apoiados em uma plataforma; o contato prolongado com as pedras frias do assoalho de um mosteiro não era aconselhável. Por trás de São Jerônimo, uma cortina foi amarrada para que entre mais luz enquanto ele trabalha (geralmente, os monges escreviam apenas durante o dia, porque as velas eram muito caras e sua luz muito fraca). Seu trabalho repousa inclinado sobre um atril coberto de tecido. Escrever nesse ângulo significa que o escriba não tinha de segurar a pena verticalmente: se o fizesse, a tina podia escorrer com muita rapidez. As páginas já receberam linhas, provavelmente traçadas com um perfil de chumbo. Na mão direita, São Jerônimo segura uma pena, na qual resta pouco da pluma. Na mão esquerda ele segura uma faca, um instrumento de múltiplos usos para os escribas, usada para manter o pergaminho firmemente ancorado à superfície de cópia, para apontar as penas ou para raspar tinta seca do pergaminho, como um apagador. A correção de erros, às vezes, era feita com auxílio de uma lâmina ou pedra-pomes. Na imagem, São Jerônimo não está copiando, mas compondo um texto, enquanto a pomba que representa o Espírito Santo paira acima de sua cabeça, fornecendo-lhe inspiração.

Aqui está um pedacinho dessa arte fascinante, onde os escribas eram escritores imersos numa vida de estudo e contemplação.

Hoje, mesmo com toda tecnologia, escrever à mão é abrir-se para o novo e uma forma de demonstrar carinho e guardar lembranças, além de muitos outros benefícios que sempre evidenciaremos por aqui.

E você, costuma escrever à mão?

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A Árvore das Letras é uma escola-ateliê e editora sustentável de encadernação e papelaria ecológica. Valorizamos a produção e a confecção de livros e cadernos conceituais e artesanais. Oferecemos vivências presenciais e on-line para quem quer ingressar e aprimorar no mundo da escrita e da arte da palavra.

Frequentemente participamos de eventos, feiras e exposições. Entre em contato conosco e conheça melhor os nossos trabalhos.

Um forte abraço e até a próxima.