Uma vez, quando me perguntado qual a palavra que eu mais gosto de pronunciar, respondi sem hesitar: a palavra PALAVRA.
Na turma Paulina Chiziane, da Vivência Novos Autores, formada por nossos amigos e irmãos angolanos, uma proposta foi lançada: escrever, a partir da história “A grande fábrica de palavras”, de Agnés de Letrasde e Valeria Docampo, que conta a saga de um país onde as pessoas quase não falam, pois, para isso, seria preciso comprar as palavras e engoli-las para poder pronunciá-las, António Alexandre e Tome Nassapulo mostram o quanto é preciso ousar e acreditar porque, no fundo, as palavras não podem se calar.
A coragem de falar, seja pela oralidade, seja pela escrita, é matéria de fortalecimento, de justiça e de necessidade para o surgimento da consciência em que a poesia é berço que se estende, é flor que desabrocha.
António Alexandre e Tomé Nassapulo nos brinda, pois, com suas palavras: EMPATIA e ESTÁVEL.
Que tenham um ótimo despertar… (Leandro Bertoldo Silva).
ESTÁVEL
Do magro salário sobrevivo
Numa terra onde tudo é caro
Onde tudo cresce.
Do meu trabalho árduo fico desanimadamente alegre
Neste mundo de injustiça salarial.
Procuro viver dele, porém apenas sobrevivo na paz.
Ele no bolso não resiste, pois também é para os filhos e os pais.
Magro salário deixa- me em bairro escuro.
Magro salário deixa- me inseguro
Para feijão, arroz, leite, pão e açúcar.
Ah!
Continuo professor com salário estável.
Por António Alexandre
________________________
SOU UM POETA
Sou um poeta
Empunhando uma caneta
Floreio as feridas abertas
Enxergo as teias
Tecidas nas vidas alheias
Retalho corações em fatias enfartadas de dores
Saro as almas quebradas nas patias com empatia
Sem sintonia com físico recolho-me na metafísica
E vivo sonhos numa telepatia cósmica.
Por: Tomé Nassapulo
________________________
A Quarta Literária é uma ação da árvore das Letras de fomento à literatura independente.
Você também pode ser um correspondente literário. Participe da Vivência Novos Autores, um encontro on-line semanal de leitura e produção literária. Saiba mais AQUI.
Descubra mais sobre Por uma literatura de identidade própria - Escrever é costurar ideias com as mãos
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
Ver todos os posts de leandrobertoldo