
Por Leandro Bertoldo Silva
Obrigado por me acompanhar e ler este texto. Sou grato por isso.
Já passaram 3 meses que meti-me na cabeça, como Brás Cubas, uma ideia fixa: a de reescrever em versos o célebre romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, utilizando para isso, o haicai e suas técnicas de métricas gramaticais e poéticas.
Assim como a obra original foi escrita no século XIX em folhetim — uma pequena publicação geralmente com caráter periódico, onde se liam as novidades do mundo cultural, críticas teatrais e os mais novos capítulos dos romances, tornando conhecidos escritores como Victor Hugo, Dostoiévski, Flaubert e, claro, o nosso Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis —, essas memórias póstumas em haicais estão sendo escritas semanalmente e publicadas no You Tube; uma espécie de folhetim dos tempos modernos…
Evidentemente que há nesse exercício e esforço literário objetivos maiores, mas não nos apressemos. Por hora, publico aqui o que é o capítulo 11 do romance, onde Brás Cubas inicia sua descrição contando-nos sua infância e onde, também, percebemos toda a fina e inteligente ironia do Bruxo do Cosme Velho.
Os capítulos lá se vão a caminho, mas deixo este aqui e no final disponibilizo o vídeo do You Tube seguido de um convite.
Boa leitura.
O MENINO É PAI DO HOMEM
Aqui estamos!
Cresci naturalmente
como as magnólias.
Talvez os gatos…
Aquelas são bem quietas.
Ora, vejamos:
Desde os cinco anos
fui “menino diabo”.
Não era outra coisa.
Fui indiscreto,
traquinas e arguto.
Bem voluntarioso.
Um dia quebrei
a cabeça de uma escrava.
Motivo? Um doce.
Sim, isso mesmo!
Negara-me uma colher.
Doce de coco.
E não foi só isso.
Ainda acrescentei
mentiras à mãe.
Tudo por pirraça!
E eu tinha só seis anos…
Fui pai do homem.
Ah, o Prudêncio…
Um moleque de casa
era o meu cavalo.
Punha as mãos no chão,
recebia um cordel
como um freio.
Com uma vara
eu trepava-lhe ao dorso
e ele obedecia.
Gemia: “Ai, nonhô!”
“Cala a boca, besta!”
Assim respondia.
Esconder chapéus,
deitar rabo às pessoas,
tudo eu fazia.
Muitas façanhas,
mostras de um gênio indócil
repreendido.
À vista dos outros…
Mas meu pai em particular
dava-me beijos.
De manhã e de noite
pedia a Deus perdão
como na oração.
Mas entre um e outro
fazia grande maldade.
E meu pai sorria.
Exclamava a rir:
“Ah! brejeiro! Ah! brejeiro!”
Adorava-me.
Minha mãe era luz.
Piedosa e caseira,
mas bem bonita.
Temente ao marido,
era ele o seu deus.
Dos dois me eduquei.
Meu tio cônego
reparava o irmão
quanto aos meus costumes.
Mas, ah, o meu pai…
Iludia-se a si próprio
ao defender-me.
Esses são os pais;
vejamos então os tios
João e cônego.
João era galante,
conversa picaresca…
Era o diabo.
Tio cônego
tinha austeridade,
mas era medíocre.
Ambicioso,
tinha algumas virtudes,
mas sem essências.
Emerenciana…
Era a tia materna.
Tinha autoridade.
Mas viveu pouco
em nossa companhia.
Uns dois anos só.
Outros parentes
não merecem a pena
de ser citados.
Vulgaridade,
amor de aparências,
frouxidão e vontade.
Foi dessa terra
e mais desse estrume
que nasceu esta flor.
Bem, aí está! E aqui vai o convite para acompanhar semanalmente, às sextas-feiras, capítulo por capítulo os 160 que compõem essa grandiosa obra de Machado de Assis.
Sim! Lês-te bem! 160 capítulos reescritos em versos. É ou não é uma ideia fixa?
Forte abraço!
Até a próxima.
Descubra mais sobre Por uma literatura de identidade própria - Escrever é costurar ideias com as mãos
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Sempre prazeroso e aprendizado ler seus textos . Gratidão
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Obrigado, Antonia por sua leitura. Fico muito feliz 🙂
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