Por Leandro Bertoldo Silva
Esta noite, nem sei… Tenho a janela aberta
e não quero dormir para sentir a vida.
[…]
Henriqueta Lisboa
Vivia em versos quando a criança que eu havia sido residia em mim sem medo de se mudar.
Vibrava quando Deus tocava tambores no céu anunciando a festa das águas que viria lavar a terra.
Nessas ocasiões, construía imensos navios e me colocava a deslizar com eles pelas encostas das esquinas, e tudo eram sonhos de papel que naufragavam na mesma proporção dos aniversários que fazia.
A vida tinha um sabor peculiar, adocicado por completo, bem diferente do agridoce inicial e do azedume final que não me permitia entender o porquê da desesperança amarga dos mais velhos.
Logo, percebi que os sabores nos ensinam onde a vida está ancorada…
Que saudades do tempo onde os muros dos jardins nos protegiam lá de fora e de quando a ameixeira, em matrimônio com a goiabeira, sustentava em seus galhos entrelaçados o meu peso irrisório de criança, “com leveza de zéfiro levantando cortinas”, enquanto a Henriqueta, irrequieta, germinava para mim e em mim em estado de poesia.
________________________
Bem, a Crônica de Domingo de hoje é um suspiro assim bem rapidinho, desses que acontecem quando lembramos de algo que nos foi tão precioso. Às vezes, falar demais atrapalha as lembranças e é preciso dar a elas o aconchego das pausas… Mas peço, como sempre, o seu comentário carinhoso. E se desejar compartilhar também uma lembrança do seu “tempo de quintal”, do lado de dentro dos muros dos jardins, fique à vontade. Receberei com gratidão.
Forte abraço!
Até a próxima.
Descubra mais sobre Por uma literatura de identidade própria - Escrever é costurar ideias com as mãos
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
Publicado por leandrobertoldo
Sempre gostei de histórias. Os primeiros livros que li foram os clássicos “Cinderela” e o “Caso da Borboleta Atíria”, da antiga coleção vaga-lume. Hoje as coleções são mais modernas, melhoradas... Mas aqueles livros transformaram a minha vida. Lia-os de cima de um pé de ameixa, na casa de minha avó, e lá passava a maior parte do meu tempo sempre na companhia de outros livros que, com o tempo, foram ficando mais “robustos”. A partir de José Lins do Rego e seu “Menino de Engenho” fui descobrindo Graciliano Ramos, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino, Murilo Rubião... Ainda hoje continuo descobrindo escritores, muitos se tornando amigos, outros pelas páginas de seus livros, como Mia Couto, Ondjaki, Agualusa. Porém, já naquela época sabia o que queria ser. Não tinha uma formulação clara, mas sabia que queria fazer parte do mundo das histórias, dos poemas, dos romances e das crônicas, pois aquilo tudo me encantava, me tirava o chão, fazia a minha imaginação voar. Hoje sou um homem feliz; casado, eterno apaixonado e pai da Yasmin. As duas, ela e a mãe, minhas melhores histórias... Mas também sou formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/MG, com habilitação em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, sou Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, título que muito me responsabiliza e sou um homem das palavras. Mas essas palavras tiveram um começo... O meu encanto por elas fez com que eu começasse a escrever, inicialmente para mim mesmo, mas o tempo foi passando e pessoas começaram a ler o que eu produzia. Até que a revista AMAE EDUCANDO me encomendou um conto infanto-juvenil, e tal foi minha surpresa que o conto agradou! Foi publicado e correu o Brasil, como outros que vieram depois deste. Mais contos vieram e outros textos, como uma peça de teatro encenada no SESC/MG, poemas, artigos até que finalizei meu primeiro romance - Janelas da Alma - em fase de edição e encontrei uma grande paixão: os Haicais! Embora venho colecionando "histórias", como todo homem que caminha por esta vida, prefiro deixar que as palavras falem por mim, pois escrever para mim é mais do que um ofício que nos mantém no mundo. Escrever me coloca além dele... E é por isso que a minha vida, como a de um livro, vai se escrevendo – páginas ao vento, palavras ao ar.
Ver todos os posts de leandrobertoldo
E que suspiro bom!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Que bom, minha amiga! 🙂 Gratidão!
CurtirCurtir
Que lindo! Saudades da suavidade da infância!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Sim, Patrícia! Embora de uma certa forma eu ainda a sinto… 🙂
CurtirCurtir
Linda demais!
A sua lembrança de infância, momentos preciosos que não devemos esquecê-los pois nós faz muito bem.
Parabéns Leandro.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Que lindo, você põe a alma nos seus escritos, levando-nos a sentir as suas emoções como se também fizéssemos parte deles . Obrigada por compartilhar suas emoções e elas retunbaren em nossos corações!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigado, minha amiga! Fico feliz em encontrar esse lugar carinhoso…
CurtirCurtir
Verdade, minha amiga. Esses momentos se transformaram em quem somos, não é mesmo?
CurtirCurtir
A poesia é o que rega e nutre os nossos sonhos a cada dia para que eles não envelheçam!!!
Lindo demais querido amigo!! Um abraço!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Isso mesmo, minha amiga. Somos felizes por isso!
CurtirCurtir