12 DE JUNHO

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Por Leandro Bertoldo Silva

Imagem: arte Geane Matos Mandalas

Sempre fui otimista,

mesmo nas piores ocasiões.

– Zélia Gattai –

Apresentou-se ao marido de manhã com uma decisão tomada:

            — Quero me descasar com você.

            A sentença seca e inesperada fez com que Eduardo fingisse demorar-se numa risada incrédula, porém nervosa. Tal atitude era a tentativa de defender-se daqueles olhos órfãos de carinho que o miravam profunda e serenamente.

            — O que está querendo dizer? — indagou ainda na retaguarda, já imaginando dissabores.

            — O que você ouviu. Quero me descasar.

            Num instante, lembrou-se do que vinha acontecendo, ou melhor, do que não vinha acontecendo em suas vidas, do tanto que estavam distantes – quase dois estranhos dentro de casa e fora dela – e sabia que isso, um dia, pediria enfrentamento. Mas assim, sem avisar?

Logo, o ego-semprismo compareceu à inesperada reunião trazendo o costumeiro ataque e, sem esperar ou sequer tentar mudar os óculos, lançou a pergunta:

            — Existe outra pessoa?

            — Sim.

            O chão parecia ter sido tirado de seus pés. Seu corpo todo tremeu, seus olhos embaçaram. Sentando para disfarçar o indisfarçável, quis saber quem era. A esposa, sem contra-ataques, mantendo a serenidade no rosto e até um carinho nos olhos, disse, pausadamente, como se estivesse lendo uma missiva: que era alguém que a entendia, que era capaz de adivinhar seus pensamentos e desejos antes mesmo de os terem, que entendia que nada estava garantido e que, por isso, enxergava-a e cuidava dela como uma preciosidade que não queria perder, ocupando, assim, o seu lugar em seu coração; uma pessoa, enfim, que a fazia sentir o lado prazeroso e leve do encontro.

            Parecia não acreditar no que ouvia. Os sentimentos se misturavam entre cólera e desespero. Num impulso, bateu com os punhos na cama, gritando para aliviar o que o explodia:

            — O nome! Diga-me o nome!

            A mulher, já com as lágrimas nos olhos que insistiam em demonstrar afeto, respondeu ao marido, deixando-se chorar:

            — Eduardo.

            Ao dizer o seu nome, tirou debaixo do travesseiro uma folhinha de calendário e lhe entregou. Nela, estava a data bem marcada de vermelho: 12 de junho, dia dos namorados…

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